Líderes do retalho e de outras grandes empresas cotadas em Bolsa escalam na tabela de ordenados, atingindo os seis dígitos. Na TV, ninguém bate Cristina Ferreira, com €216,6 mil por mês. Entre as estrelas de futebol, Draxler, que chegou agora ao Benfica, recebe €583 mil mensais. Marcelo ganha 58 vezes menos.
Enquanto os portugueses perdem poder de compra, há uma minoria que resiste à sucessiva quebra de salários – especialmente os gestores de topo das maiores empresas cotadas em Bolsa, com remunerações mensais até aos seis dígitos. O recordista é Pedro Soares dos Santos, à frente do grupo Jerónimo Martins (que detém os supermercados Pingo Doce).
Em 2021, recebeu €3.075.000, ou seja, 262,6 vezes mais do que os trabalhadores da empresa (segundo a análise de 2021 da Deco) e 161,7 vezes acima da remuneração média anual (€19.054 em 2021, divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística, INE). As contas são fáceis: se dividirmos a sua remuneração anual (salário fixo e prémios) por 14 meses, chegamos ao ordenado mensal bruto (antes dos descontos de impostos) de €219.642.
Só entre 2016 e 2021, o seu salário mais do que duplicou. “Estava muito abaixo dos seus congéneres europeus”, diz à SÁBADO fonte oficial da empresa. Por isso mesmo, “ao longo dos últimos cinco anos, foi delineada uma evolução salarial que permitisse uma maior aproximação à prática do mercado europeu”, prossegue.
Além de presidente do conselho de administração, Pedro Soares dos Santos é administrador delegado e o único com funções executivas na Jerónimo Martins. Os €3,08 milhões que recebeu em 2021 foram, aliás, os únicos milhões gastos com a comissão executiva de um dos 50 maiores retalhistas mundiais. Porque a comissão executiva é ele. E estes são alguns dos fatores – mas não os únicos – que o fazem ter o maior salário do principal índice da Bolsa, justifica a empresa.
Rede de supermercados em expansão
Uma remuneração que tem vindo a crescer à medida dos resultados do grupo: entre 2010 e 2020, as vendas mais do que duplicaram, ultrapassando os €20 mil milhões em 2021; o número de colaboradores aumentou mais de duas vezes, com a criação de mais de 64 mil postos de trabalho, e a capitalização bolsista cresceu 100%
O volume de trabalho é intenso, não se limitando a Portugal. Desde que viveu na Polónia, pela primeira vez, entre 1998 e 2000, Pedro Soares dos Santos visita o país uma vez por mês (é a geografia além fronteiras que mais pesa nas contas do grupo, já que 75% da faturação se faz no estrangeiro). Passa outros sete dias a cada 30 na Colômbia (mercado em expansão). Quando está em Portugal, duas semanas por mês, entra no gabinete às 8h e a partir das 9h começa as reuniões de trabalho.
Quem ganha acima de 1 milhão
No ano passado, as 15 empresas do PSI pagaram mais de 20 milhões de euros aos seus presidentes executivos. E seis dos 14 CEOs receberam mais de 1 milhão de euros: ao ranking liderado por Pedro Soares dos Santos seguem-se Miguel Stilwell (EDP e EDP Renováveis), Andy Brown (Galp), Cláudia Azevedo (Sonae), João Castello Branco (Semapa, que em maio deste ano deu lugar a um novo CEO, Ricardo Pires) e António Redondo (Navigator).
Em todas estas empresas, os salários são decididos por uma comissão de vencimentos que analisa centenas ou milhares de documentos enviados por vários departamentos e múltiplos indicadores.
Começando pelo presidente da Galp, o britânico Andy Brown: em 2021, além dos €1,236 milhões pagos ao líder, que assumiu a presidência em fevereiro, a petrolífera teve de arranjar-lhe casa. O presidente não tinha morada em Portugal e esse foi um dos benefícios que a Galp lhe deu: €887.803,03 de remuneração fixa e €348.617,35 em “outros” (a SÁBADO pediu à Galp para os discriminar, mas a petrolífera não esclareceu). É nestes “outros” que estão incluídas regalias, como o subsídio de habitação.
Os administradores executivos da Galp recebem, além disso, carro (com combustível, manutenção e seguros), telemóvel, iPad, computador portátil, seguros de saúde, de vida e de acidentes profissionais. No total, estes benefícios correspondem a 5% a 10% da remuneração.
No ano passado, a comissão de remunerações da Galp reuniu-se seis vezes e definiu o valor de outro cheque: a compensação a Carlos Gomes da Silva, cujo mandato como presidente só terminaria no fim do ano. Para sair antes (em fevereiro), o gestor recebeu €3,75 milhões.
Saídas de peso
Na EDP, os cheques preparados para a saída do ex-presidente António Mexia e de João Manso Neto, que liderava a EDP Renováveis, tiveram valores mais baixos. No caso de Mexia, que durante 14 anos liderou a empresa, a EDP comprometeu-se a pagar €800 mil por ano durante três anos (até 2023), para que o gestor não exerça funções na concorrência. No total, Mexia terá direito a €2,4 milhões, pagos semestralmente.
Já para Manso Neto, o acordo de não concorrência previa o pagamento de €560 mil por ano. Terá demorado uma semana a aceitar a proposta. Ainda recebeu a primeira tranche, mas acabou por devolvê-la quando Paulo Fernandes, vice-presidente do conselho de administração da Altri e presidente da Cofina (dona da SÁBADO) o desafiou para liderar a empresa de energias renováveis Greenvolt.
A seguir, Manso Neto rasgou o contrato de não concorrência que tinha assinado. “A EDP entendeu que tinha que devolver tudo e ele devolveu”, diz uma fonte próxima do gestor, que em março restituiu à EDP €233.800 líquidos. De acordo com os relatórios oficiais da empresa, a este valor somou, em maio, €5.548,39 que tinham sido creditados no seu Plano Poupança Reforma. Pelo menos em 2021, a aposta compensou: recebeu €766.660.
Atualmente, EDP e EDP Renováveis têm o mesmo CEO, Miguel Stilwell de Andrade, o segundo gestor mais bem pago do PSI. Aos 46 anos, recebeu, em 2021, €1,854 milhões. “Estas empresas são hoje líderes globais no setor da energia e têm presença em 29 mercados, dos quais 14 representam expansões concretizadas durante o mandato do atual presidente executivo”, diz à SÁBADO fonte oficial da elétrica.
Na base da tabela remuneratória dos grandes gestores está António Rios Amorim. O presidente Corticeira Amorim, controlada pela família mais rica do País, recebeu €239.309,1 de salário fixo em 2021 (€17.129 brutos por mês). A sua remuneração variável foi igual à dos trabalhadores do grupo: €500, uma “gratificação excecional” que, segundo o Relatório e Contas da empresa, foi atribuída aos colaboradores admitidos até 30 de setembro de 2021 em empresas totalmente detidas pelo Grupo. O bónus veio na sequência dos bons resultados em contexto de pandemia.
Campeões da banca
O peso da remuneração variável tem vindo a aumentar, segundo Fernando Neves de Almeida, sócio da consultora Boyden Portugal. No caso do PSI, foi na Sonae, liderada por Cláudia Azevedo, que os prémios foram maiores (corresponderam a 68% do salário da filha de Belmiro de Azevedo); seguiram-se as remunerações dos presidentes da Navigator (56%), REN (53%), EDP, EDP Renováveis (50%) e Jerónimo Martins (50%), todos com pelo menos metade do salário dependente do cumprimento das metas definidas.
Entre as empresas analisadas pela SÁBADO, o Santander é quem prevê maior generosidade nos bónus: apesar de a compensação variável não poder, geralmente, ultrapassar os 100% da retribuição fixa, este limite pode ser “aumentado extraordinariamente até ao máximo de 200% se tal for aprovado pelos acionistas”.
O presidente do Santander é o único líder das cinco maiores instituições financeiras que em 2021 recebeu mais de €1 milhão. No total, a Pedro Castro e Almeida foi atribuída uma remuneração de €1,5 milhões de euros: ao salário fixo de €539 mil junta-se uma remuneração variável que será parcialmente diferida até 2027 (e que ainda pode descer se não cumprir os objetivos).
Em segundo lugar está o habitual campeão salarial da banca, o presidente do BCP – em 2021 Miguel Maya recebeu €947 mil. Estes dois bancos foram, aliás, os únicos que no ano passado aumentaram as remunerações dos seus gestores. No Santander, os 14 administradores receberam, em 2021, €6,5 milhões, mais €1,88 milhões que no ano anterior. Já no BCP a administração teve, no total, um aumento de €430 mil.
Cristina e o ordenado “galáctico”
No mundo da televisão generalista, que este mês marca a rentrée com novidades na grelha, ninguém bate o ordenado de Cristina Ferreira – “galáctico”, segundo a imprensa especializada. Desde o fim do verão de 2020, que a diretora de entretenimento e ficção da TVI, também acionista, de 45 anos (feitos esta semana, a 9 de setembro), ganha €216,6 mil brutos por mês (€2,6 milhões anuais divididos por 12 meses, porque tem um contrato de prestação de serviços, ou seja, recebe através de uma das suas empresas).
Não esconde as férias em iates e os acessórios de luxo (malas a €5.000), cujas imagens publica no seu Instagram com 1,5 milhões de seguidores. Página que também serve de montra para os seus posts que, em 2015, já custavam €4.500 (cada) aos anunciantes. Hoje em dia, segundo fontes contactadas pela SÁBADO, os valores podem ascender aos €100 mil por post.
Contudo, a pressão das audiências e a perda para a SIC não a têm beneficiado. Mais: enfrenta uma batalha judicial com a estação de Paço de Arcos, que lhe moveu um processo por quebra de contrato (vigorava até novembro de 2022).
O anúncio da transferência para a TVI – onde, aliás, começou a carreira ao lado de Manuel Luís Goucha – aconteceu com estrondo, a 17 de julho de 2020. Dois meses depois, a SIC, que lhe pagava €1 milhão por ano, processou-a, pedindo uma indemnização de €20,3 milhões. A SÁBADO tentou obter esclarecimentos por parte do gabinete de comunicação da TVI e da agente que a representa, Inês Mendes da Silva, que não quiseram prestar declarações.
Neste meio, a agente tem vindo a tornar-se uma peça-chave para a negociação de salários com as direções de programas das televisões. Porque muitas vezes o próprio não tem noção do seu valor de mercado – habitualmente são os representantes que o valorizam.
Beatriz Lemos, CEO da Glam (a agenciar atores e apresentadores há 20 anos) explica o processo à SÁBADO: “É muito raro fechar uma negociação em apenas uma reunião, pois há sempre vários temas a tratar, projetos novos a serem discutidos e integrados nesse contrato e, talvez, seja essa a parte mais demorada. A mais sensível – se é que podemos usar esse adjetivo – são as condições salariais.”
Normalmente, fecham-se contratos em duas reuniões. Em situações mais delicadas, e que podem implicar uma transferência de canal, a especialista fala em três reuniões, “pois estão mais variáveis a ser discutidas”, diz a especialista.
Apresentadores de TV em escalões
No caso de Manuel Luís Goucha, o segundo mais bem pago da TV (€50 mil por mês), o interlocutor é o marido Rui Oliveira. Este período joga a seu favor, já que o antigo rei das manhãs – agora lidera as tardes, superando a concorrente Júlia Pinheiro da SIC que ganha €25 mil brutos por mês –, está prestes a terminar contrato.
Alexandre Lencastre
António Pedro Cerdeira
Cristina Ferreira
José Eduardo Moniz, diretor-geral da TVI, quer segurá-lo mas nada está garantido, pelo menos oficialmente. Quando contactado pela SÁBADO, Rui Oliveira responde através da secretária uma curta declaração: “A partir de dia 1 de janeiro de 2023, o Manuel Luís Goucha é livre de escolher o seu futuro.” Poderá querer dizer continuidade ou uma reforma dourada aos 67 anos no seu monte no Alentejo – a Herdade da Pesqueirinha, perto de Monforte.
Quem mais ganha são os apresentadores do day time (período diurno), porque asseguram várias horas em antena e fazem a ponte para o horário nobre (hora do jantar). Ao vencimento mensal que, em média, oscila entre os €8 mil e os €20 mil brutos por mês, somam-se os extras por ações comerciais, como microespaços de publicidade inseridos no formato. Por exemplo, Cristina Ferreira ganhava €500 por cada, quando fazia as manhãs da SIC; já nas últimas galas do Big Brother, que conduziu na TVI, o valor de cada promo escalou aos €5.000.
Neste domínio, Fernando Mendes dá cartas no acesso ao horário nobre. Várias fontes da RTP contactadas pela SÁBADO reforçam que o apresentador do clássico O Preço Certo atrai publicidade para a estação pública. As marcas querem ficar associadas ao formato, que fideliza um público envelhecido, com mais de uma década de emissões contínuas – sendo o de maior longevidade da televisão. E as audiências provam que não está gasto, ficando à frente da concorrência.
Por tudo isto, o campeão das 19h lidera a tabela remuneratória, ex aequo com Catarina Furtado: €20 mil brutos por mês. Mais €12.366 do que recebe o presidente da RTP, Nicolau Santos, cuja remuneração está definida por lei e publicada nos relatórios e contas da estação pública. Em contraponto, um técnico da casa ganha, em média, entre €1.200 e €1.400 líquidos por mês, consoante o escalão.
Internamente, na RTP ninguém contesta o que vale o apresentador de 59 anos. Já foi aliciado pela TVI e pela SIC, mas tem rejeitado. A estação dá-lhe estabilidade, sem mexidas para outros projetos porque é neste que se sente bem, disse em entrevistas.
Há diferenças em relação à colega de 50 anos, e que são apontadas nos corredores por várias fontes ouvidas pela SÁBADO. Catarina Furtado está menos tempo em antena e Fernando Mendes “trará o triplo da publicidade”, comenta-se. Quem já trabalhou com ela explica à SÁBADO que não é bem assim: a apresentadora “dá prestígio” à RTP e, em estudos de mercado, o seu nome associa-se a credibilidade e confiança. Isto nota-se nas marcas que a procuram (Sacoor, por exemplo).
Seja como for, o conselho de administração da RTP (que aprova as remunerações) não comenta os números, quando questionado pela SÁBADO. Fonte oficial diz apenas: “Nunca revelamos valores de contratos, dependem do perfil, horário e periodicidade de cada programa e não do género dos profissionais que os apresentam.” A Comissão de Trabalhadores (CT) contrapõe: “Os valores de salários das estrelas da RTP são contratos de ‘artista’, fora do âmbito da tabela salarial e negociados sem interferência dos Órgãos Representativos dos Trabalhadores.”
No patamar dos €10 mil brutos por mês, a meio da tabela, estão Tânia Ribas de Oliveira (A Nossa Tarde) e Jorge Gabriel (Praça da Alegria). Tal como Fernando Mendes, Jorge Gabriel reafirma a estabilidade e, sem falar de valores, explica à SÁBADO: “Estou na RTP há 21 anos, com contratos de dois anos sucessivamente. Nunca me falharam no vencimento, ouvem a minha opinião e não me obrigam a fazer nada que colida com a minha dignidade profissional.”
Atores sem exclusividade
Já lá vai o tempo em que as televisões tinham uma vasta galeria de caras exclusivas, isto é, atores que mesmo sem aparecerem no ecrã eram pagos principescamente. Caso de Alexandra Lencastre na TVI, onde recebia €16 mil brutos se trabalhasse e metade quando parada. Em 2020, transitou para a SIC mas em regime de avença: recebe ao projeto. Quando faz novelas, como a última Por Ti, cujas gravações terminaram em junho, passa, todos os meses, um recibo de €14 mil a que acresce o IVA.
Se fizer uma emissão em direto, como a de Estamos em Casa (junho de 2022), ganha à parte – mais precisamente €3,5 mil por conduzir três horas de direto. Somam-se as publicidades a suplementos e aparelhos auditivos em contratos de um ano e nunca por menos de €75 mil cada.
Ricardo Azedo, da agência Charlie, é quem a representa, escusando-se a falar de cachês. Outro agenciado da Charlie é António Pedro Cerdeira, de 52 anos, que vai protagonizar a nova novela da SIC em horário nobre, com estreia prevista para 6 de outubro e apresentada nesta terça-feira (6 de setembro). Fará de diplomata casado com Vanda Corte Real (vilã interpretada pela musa brasileira Luana Piovani).
A SÁBADO apurou que o vencimento do ator é de €9 mil por mês e será pago em moldes idênticos aos de Alexandra Lencastre. O próprio não comenta o que ganha, mas refere à SÁBADO a importância da agente à mesa das negociações. “Não tenho jeito com números, ela ajuda-me porque tem firmeza e distanciamento. Gosto de trabalhar e considero-me afortunado. O dinheiro não é, de todo, o principal objetivo.”
Lurdes Santos, a sua agente, reforça: “O valor do António é reconhecido e temos chegado sempre e facilmente a um consenso.” Em concreto, sobre a novela, houve duas reuniões (com ele, a agente, o diretor financeiro do projeto e o diretor de produção) e o acordo firmou-se à terceira, por telefone.
O ator grava 12 horas diárias, das 8h às 20h, e desloca-se pelos seus meios (carro) de casa (perto de Sintra) aos locais de gravações (Costa de Caparica e Setúbal), prescindindo do transporte que a produtora SP Televisão disponibiliza ao elenco.
Cantores na estrada
Os tempos de pandemia foram particularmente difíceis para a classe artística, que viu contratos cancelados sobretudo no verão – época alta de concertos nas aldeias, pagos por municípios ou freguesias.
José Eduardo Moniz, diretor-geral da TVI, quer segurá-lo mas nada está garantido, pelo menos oficialmente. Quando contactado pela SÁBADO, Rui Oliveira responde através da secretária uma curta declaração: “A partir de dia 1 de janeiro de 2023, o Manuel Luís Goucha é livre de escolher o seu futuro.” Poderá querer dizer continuidade ou uma reforma dourada aos 67 anos no seu monte no Alentejo – a Herdade da Pesqueirinha, perto de Monforte.
Quem mais ganha são os apresentadores do day time (período diurno), porque asseguram várias horas em antena e fazem a ponte para o horário nobre (hora do jantar). Ao vencimento mensal que, em média, oscila entre os €8 mil e os €20 mil brutos por mês, somam-se os extras por ações comerciais, como microespaços de publicidade inseridos no formato. Por exemplo, Cristina Ferreira ganhava €500 por cada, quando fazia as manhãs da SIC; já nas últimas galas do Big Brother, que conduziu na TVI, o valor de cada promo escalou aos €5.000.
Neste domínio, Fernando Mendes dá cartas no acesso ao horário nobre. Várias fontes da RTP contactadas pela SÁBADO reforçam que o apresentador do clássico O Preço Certo atrai publicidade para a estação pública. As marcas querem ficar associadas ao formato, que fideliza um público envelhecido, com mais de uma década de emissões contínuas – sendo o de maior longevidade da televisão. E as audiências provam que não está gasto, ficando à frente da concorrência.
Por tudo isto, o campeão das 19h lidera a tabela remuneratória, ex aequo com Catarina Furtado: €20 mil brutos por mês. Mais €12.366 do que recebe o presidente da RTP, Nicolau Santos, cuja remuneração está definida por lei e publicada nos relatórios e contas da estação pública. Em contraponto, um técnico da casa ganha, em média, entre €1.200 e €1.400 líquidos por mês, consoante o escalão.
Internamente, na RTP ninguém contesta o que vale o apresentador de 59 anos. Já foi aliciado pela TVI e pela SIC, mas tem rejeitado. A estação dá-lhe estabilidade, sem mexidas para outros projetos porque é neste que se sente bem, disse em entrevistas.
Há diferenças em relação à colega de 50 anos, e que são apontadas nos corredores por várias fontes ouvidas pela SÁBADO. Catarina Furtado está menos tempo em antena e Fernando Mendes “trará o triplo da publicidade”, comenta-se. Quem já trabalhou com ela explica à SÁBADO que não é bem assim: a apresentadora “dá prestígio” à RTP e, em estudos de mercado, o seu nome associa-se a credibilidade e confiança. Isto nota-se nas marcas que a procuram (Sacoor, por exemplo).
Seja como for, o conselho de administração da RTP (que aprova as remunerações) não comenta os números, quando questionado pela SÁBADO. Fonte oficial diz apenas: “Nunca revelamos valores de contratos, dependem do perfil, horário e periodicidade de cada programa e não do género dos profissionais que os apresentam.” A Comissão de Trabalhadores (CT) contrapõe: “Os valores de salários das estrelas da RTP são contratos de ‘artista’, fora do âmbito da tabela salarial e negociados sem interferência dos Órgãos Representativos dos Trabalhadores.”
No patamar dos €10 mil brutos por mês, a meio da tabela, estão Tânia Ribas de Oliveira (A Nossa Tarde) e Jorge Gabriel (Praça da Alegria). Tal como Fernando Mendes, Jorge Gabriel reafirma a estabilidade e, sem falar de valores, explica à SÁBADO: “Estou na RTP há 21 anos, com contratos de dois anos sucessivamente. Nunca me falharam no vencimento, ouvem a minha opinião e não me obrigam a fazer nada que colida com a minha dignidade profissional.”
Atores sem exclusividade
Já lá vai o tempo em que as televisões tinham uma vasta galeria de caras exclusivas, isto é, atores que mesmo sem aparecerem no ecrã eram pagos principescamente. Caso de Alexandra Lencastre na TVI, onde recebia €16 mil brutos se trabalhasse e metade quando parada. Em 2020, transitou para a SIC mas em regime de avença: recebe ao projeto. Quando faz novelas, como a última Por Ti, cujas gravações terminaram em junho, passa, todos os meses, um recibo de €14 mil a que acresce o IVA.
Se fizer uma emissão em direto, como a de Estamos em Casa (junho de 2022), ganha à parte – mais precisamente €3,5 mil por conduzir três horas de direto. Somam-se as publicidades a suplementos e aparelhos auditivos em contratos de um ano e nunca por menos de €75 mil cada.
Ricardo Azedo, da agência Charlie, é quem a representa, escusando-se a falar de cachês. Outro agenciado da Charlie é António Pedro Cerdeira, de 52 anos, que vai protagonizar a nova novela da SIC em horário nobre, com estreia prevista para 6 de outubro e apresentada nesta terça-feira (6 de setembro). Fará de diplomata casado com Vanda Corte Real (vilã interpretada pela musa brasileira Luana Piovani).
A SÁBADO apurou que o vencimento do ator é de €9 mil por mês e será pago em moldes idênticos aos de Alexandra Lencastre. O próprio não comenta o que ganha, mas refere à SÁBADO a importância da agente à mesa das negociações. “Não tenho jeito com números, ela ajuda-me porque tem firmeza e distanciamento. Gosto de trabalhar e considero-me afortunado. O dinheiro não é, de todo, o principal objetivo.”
Lurdes Santos, a sua agente, reforça: “O valor do António é reconhecido e temos chegado sempre e facilmente a um consenso.” Em concreto, sobre a novela, houve duas reuniões (com ele, a agente, o diretor financeiro do projeto e o diretor de produção) e o acordo firmou-se à terceira, por telefone.
O ator grava 12 horas diárias, das 8h às 20h, e desloca-se pelos seus meios (carro) de casa (perto de Sintra) aos locais de gravações (Costa de Caparica e Setúbal), prescindindo do transporte que a produtora SP Televisão disponibiliza ao elenco.
Cantores na estrada
Os tempos de pandemia foram particularmente difíceis para a classe artística, que viu contratos cancelados sobretudo no verão – época alta de concertos nas aldeias, pagos por municípios ou freguesias.
Após dois anos de compasso de espera, os cantores voltaram à estrada. Em julho e agosto, não havia terra que não anunciasse os cabeças de cartaz, com Tony Carreira a marcar pontos, chegando a cobrar por concerto mais de €50 mil, segundo o portal Base que divulga contratos públicos.
Draxler do Benfica à frente
Nas remunerações do futebol, o francês Mbappé lidera. Renovou o contrato este verão com o Paris Saint-Germain e passou a ser o jogador mais bem pago do Mundo: €4,3 milhões líquidos por mês.
Entre os portugueses, Cristiano Ronaldo continua à frente, apesar de ter vindo a perder protagonismo no Manchester United (foi suplente em quatro jogos no início desta época), recebendo €1,3 milhões de euros por mês. É dos mais bem pagos da Liga inglesa, atrás de Kevin de Bruyne (€2 milhões) e Haaland (€1,8 milhões), avançados do Manchester City.
CR7 ganha mais do dobro de João Félix, que recebe cerca de €600 mil líquidos por mês no Atlético de Madrid, numa lista que em Espanha é liderada por Piqué (Barcelona), com €1,2 milhões por mês.
Outros portugueses com grandes salários são Bernardo Silva (€750 mil), Rúben Dias (€585 mil) e João Cancelo (€400 mil), todos do Manchester City. Em França, Vitinha (PSG) recebe €250 mil euros por mês e Renato Sanches (Lille) embolsa €170 mil. Já Rafael Leão, estrela do AC Milan, recebe €155 mil líquidos por mês, mas o clube italiano quer renovar-lhe o contrato e triplicar-lhe o ordenado, podendo em breve passar a ganhar cerca de 450 mil.
Em Portugal, destaca-se o alemão Draxler, que joga no Benfica e ganha €583,3 mil limpos por mês. O seu clube, PSG, paga 80% do salário. O restante (€116,6 mil/mês) é assegurado pelo clube dos encarnados.
Já o português mais bem pago num dos três grandes clubes é Pepe (FC Porto), com €227 mil euros mensais, seguindo-se João Mário (Benfica), com €215,8 mil. Também no Benfica, Rafa ganha €140 mil por mês. No Sporting, Pedro Gonçalves recebe €101,3 mil mensais e Trincão €100 mil (embora grande parte do salário seja pago pelo Barcelona, o seu atual clube).
Titulares de cargos públicos
Afastados dos salários milionários estão os ministros, deputados e dirigentes dos partidos, por serem titulares de cargos públicos. Assim atestam as últimas declarações de rendimentos, que os próprios entregaram ao Tribunal Constitucional (TC), em 2022, conforme a lei, e a SÁBADO consultou.
São opções de carreira, que o diga Luís Montenegro que viu os rendimentos baixarem desde que assumiu a presidência do PSD, a 4 de julho passado. Desde então, ganha €5.135 brutos por mês.
Na declaração entregue pelo próprio no TC há dias, e referente a 2021, indica €97.875 de rendimentos brutos de trabalho independente, decorrentes dos serviços de advocacia em nome individual. Acrescem €100.893 de rendimentos profissionais, comerciais e industriais. Tudo somado, em 2021 Luís Montenegro recebeu €198.768 brutos.
A 30 de junho último, em vésperas de ser eleito no 40.º congresso nacional do PSD, suspendeu a inscrição na Ordem dos Advogados. A advocacia pode, de facto, ser uma profissão rentável, se o profissional ganhar nome e tiver uma boa carteira de clientes.
Dos 30 mil inscritos na Ordem, muitos têm entre 25 a 35 anos e ganham entre €1.000 e €1.500 líquidos, por mês, baseados em oficiosas (defesas pagas pelo Estado a pessoas carenciadas). Ao fim de 10 a 15 anos de experiência, os bem-sucedidos atingem €3.500 líquidos por mês. Em termos de honorários, o valor mais comum é de €70 à hora mas pode ascender aos €300.
Neste contexto, o bastonário da Ordem, Luís Menezes Leitão abdicou da remuneração inerente ao cargo (cerca de €6.000 brutos) e manteve a de professor catedrático na Faculdade de Direito de Lisboa (cerca de €4.000 brutos). Além das aulas, continua a exercer advocacia porque, em seu entender, o bastonário não deve ser funcionário da Ordem, mas fazer vida de advogado.
Luis Montenegro
Marcelo Rebelo de Sousa
Nuno Melo
O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, outrora colega de Luís Menezes Leitão, ganha uma remuneração base de €7.722,10 prevista na lei. Juntam-se as despesas de representação (€3.088,84), mas depois dos descontos para impostos (€5.155,90) leva para casa €5.268,93.
O vencimento do chefe de Estado serve de referência ao primeiro-ministro. António Costa recebe o correspondente a 75% do ordenado do Presidente (dita a lei n.º 4/85). Na sua última declaração, entregue ao TC em maio de 2022, regista €7.300 de rendimentos prediais, três imóveis (dois em Lisboa e um no concelho de Lagoa) e está prestes a adquirir outro (“promitente comprador” escreve).
Nuno Melo, líder do CDS, é um apaixonado por carros antigos. Tem 17 enumerados na sua declaração no TC (como Morris Minor Station, o MG MGA 1600 ou Renault 4 GTL). “Vou declarar mais três. Nunca fugi com um cêntimo”, diz à SÁBADO.
No fim da tabela está André Ventura, líder do Chega, que regista no TC €48.473 (rendimento bruto de trabalho dependente em 2021, enquanto deputado em exclusividade). Ou seja, todos os meses, recebe cerca de €2.900 líquidos. “É a minha única fonte de rendimento. Tenho andado a propor cortes salariais nos titulares de cargos públicos, por isso não sou remunerado como líder do partido”, explica à SÁBADO.
Com Carlos Torres