sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Portugal inconsequente

A História não terá remédio senão focar-se neste insuperável case study: a propaganda levou de enxurrada um país que em sete anos, empobreceu, envelheceu e pede esmola na cauda da Europa.

14 set 2022, Maria João Avillez, ‘Observador’

1 Sete anos é muito tempo. Em política é mais: o erro e a sua irreversibilidade ampliam a noção do tempo, desdobrando-o. Parecem mais anos porque nada aconteceu Se eu os abrisse como se fossem uma caixa ou uma gaveta, não encontrava nada lá dentro. Sete anos despidos politicamente: Portugal para quê e como? Nunca houve resposta (Haverá erro mais irreversível?)

Anos mudos, ausentes dos sinais de transformação ou mudança: vontade reformista prioritariamente focada no crescimento económico; redução do Estado a uma dimensão humana, funcional e confiável; falta de entendimento político sobre a importância de pastas – fulcrais e transversais – como Saúde, Educação, Justiça, sempre mal entregues com os indecentes resultados que se conhecem. (repararam que passou a ser perigoso nascer em Portugal porque pode não haver onde? Que na abertura das aulas, esta semana, não havia (!) os professores necessários? Que sete anos socialistas depois, a Justiça continua ancorada na sua brutal, paralisante ineficácia?)

Bottom of Form

Sete anos onde visivelmente se foi esbatendo a autoridade do Estado, e visivelmente aumentou a decadência das instituições. Haverá noção mais deformada de “ serviço público” do que a que vigora hoje no país? A Saúde vai ter um CEO (um quê?), as Finanças iriam precisar de um jornalista em vez de um competente servidor público (como aliás bem sabemos existirem no Terreiro do Paço).

2 Que pode um historiador dizer amanhã sobre a marca socialista deixado no país nestes sete anos? Que poderá reter do que foi feito para interromper o humilhante ciclo da mendigagem à porta da “Europa” se justamente nada foi feito? Vem dinheiro, pede-se mais tempo; dão-nos tempo, volta-se a pedir mais dinheiro. Sete anos sem um avanço, um trunfo, uma ideia, uma reforma – do Estado, da Administração Publica, da Segurança Social… –; sete anos onde se partiu muito para fora e se nasceu pouco cá dentro; onde se morreu estranhamente mais do que ditaria a Covid por dura que tivesse sido; onde ardeu uma considerabilíssima parte do território nacional que voltou a arder três meses depois e novamente quatro anos depois, deixando uma outra tristíssima herança de mortos: difícil de esquecer e impossível de aceitar; sete anos onde sobretudo sempre se preferiu remediar – normalmente tarde e mal – e pouco ou nada prevenir. Correndo atrás dos problemas e deitando desordenadamente dinheiro para cima deles, sem resolver a sério nenhum. Vejam-se os enredos com os combustíveis, o fatal atraso da intervenção governamental na Segurança Social; o abusivo passe de mágica das pensões onde nos afogamos em algarismos que mudam todos os dias. (Passos Coelho só não morre a rir porque é um patriota). Sete anos ocupados por doses astronómicas de propaganda inversamente proporcional à utilidade nacional que (não) tiveram. Os socialistas fizeram a festa (deles) com a propaganda. Talvez os tais historiadores quando contarem estes anos, não tenham outro remédio senão focarem-se neste insuperável case study. A propaganda levou de enxurrada um país que em sete anos, empobreceu, envelheceu e mora hoje na cauda da Europa (onde pede esmola).

Exagero? Nem por isso. Mencionem-me uma coisa boa, nacionalmente relevante, patrioticamente decisiva. Há? Houve?

Mais: sete anos depois há uma maioria absoluta mas não há um governo. O que existe é um carrocel de feira onde entram e saem amigos sem serventia política. Entram porque são hoje indispensáveis escudos-protectores. Governarem ou não, é secundário. Lá esta a maioria absoluta para os salvar (e nos enterrar a nós).

4 Nas suas diferentes encarnações os governo socialistas de António Costa tiveram sempre a bênção de Belém. Um mistério. Marcelo esteve sempre lá (mesmo quando o Presidente da República pensava que o país achava que ele não estava, o país percebia que estava). Sobrevivendo ontem o governo aconchegado num salvífico casamento com as extremas esquerdas ou estando hoje instalado numa realidade paralela, o Chefe de Estado abençoa.

Só que agora, sete anos depois, começa a fazer pena. Tudo faz pena: a maior parte dos governantes e o que eles dizem, e o que eles fazem; a irresponsabilidade, a arrogância, os falhanços, a prosápia. Um longo fracasso ao qual o Chefe de Estado se quis juntar. Até hoje. Porquê?

5 O desastre teve, tem, o pior e simultaneamente o mais inexplicável dos resultados: o da inconsequência. Aconteça o que acontecer não há consequências. Seja em que domínio ou área for, não se tiram consequências. Portugal país inconsequente: quem realmente se aflige, se revolta, vem para a rua, vai para os jornais, se associa e denuncia, se junta, ou grita face ao estouro do SNS? Obrigando grávidas a percorrer dezenas (centenas?) de incertos quilómetros para poder trazer o seu filho ao mundo com a segurança que o Estado lhe garante, ou fazendo esperar longos meses um doente grave por uma cirurgia? E para além dos velozes registos dos telejornais que associações de pais, que pais e mães, que famílias, se ouviram reclamar contra a falta de professores no início do ano lectivo como se tal data fosse uma surpresa ou um imprevisto?

Que consequências tem tirado a sociedade civil sobre o que se decide em seu nome? Sobre o modo como o país não é governado? Sobre a corrida para o abismo do empobrecimento? Que fazem de relevante, interventivo, actuante, associações e demais grupos de cidadãos sobre o estado das coisas? Sobre o desrespeito, as más maneiras, o insulto fácil, o “tudo ser permitido”… outro desastre ocorrido nestes anos. Que pensam as nossas elites sobre a facilidade com que o socialismo vigente actua (duvidosamente) em matéria de direitos e liberdades, garantindo pouco e abusando muito? Não tiram consequências, não se afligem, não se importam, não se envergonham? Como convivem com a sua própria demissão do país? Consentindo desta forma – amavelmente silenciosa e afavelmente não incomodativa – que os seus filhos não tenham hoje os salários que merecem e amanhã as pensões de reformas com que contam? ( a menos que emigrem, mas pode dizer-se pior de uma pátria?)

Não. Não pode.

6 Falando de associações, é com gosto que evoco a Sedes, presidida por Álvaro Beleza, a quem aliás felicitei num recente programa televisivo. A Sedes fez um Congresso, pediu reflexão, obteve diversos contributos, construiu uma bela síntese, apresentou um plano económico, ofereceu-o ao país. Não é todos os dias.

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Só vejo uma vantagem:

Os muçulmanos ilegais que chegam ao nosso país, vão-se embora para os países europeus mais ricos, logo que podem...

..E Portugal é dos países mais seguros para se viver (não obstante as ‘tropelias’ – por vezes criminosas – dos ciganos e dos ‘gangs’ de africanos naturalizados).

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