quinta-feira, 22 de setembro de 2022

A DESONESTIDADE ESTÁ GENERALIZADA – ATÉ NO … XADRÊZ!

Sven Magnus Øen Carlsen - 31 anos - é um grande mestre de xadrez norueguês, campeão mundial de xadrez clássico desde 2013; foi campeão mundial de xadrez rápido em 2014, 2015 e 2019 e campeão mundial de xadrez ‘blitz’ nos anos de 2009, 2014, 2017, 2018 e 2019.

Nunca nenhum jogador de xadrez teve o ranking numérico que ele tem/teve (uns 2.882 pontos, o que quer que isso seja….eh eh eh). Dizem dele, numa só frase: JÁ GANHOU TUDO O QUE HÁ PARA GANHAR NO XADRÊZ.

Como o seu título mundial só é colocado em disputa a cada dois anos (nessa ocasião ele defronta, numa série de 12 partidas, o vencedor dum torneio de 8 candidatos, que jogam contra contra todos, ‘a 2 voltas’ como no futebol…éh éh éh) Carlsen ocupa o seu tempo a participar em vários torneios de XADRÊS (que normalmente ganha) e em torneios de xadrez ‘rápido’ e xadrez ‘blitz – ultra rápido’(que actualmente se disputam ‘on-line’, por motivos económicos).

Num desses torneios de xadrez rápido, perdeu recentemente um jogo com um americano (Hans Niemann – 19 anos – 49º do ranking mundial com 2.680 pontos).

Carlsen withdrew from the tournament the next day, announcing his decision in a cryptic tweet containing a vídeo o Portuguese football manager José Mourinho saying:

"If I speak, I'm in big trouble, and I don't want to be in big trouble."

E mais ninguém lhe conseguiu arrancar uma palavra sobre o assunto.

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Acontece que o americano (não obstante a sua tenra idade) parece ser um vigarista emérito, tendo sido apanhado a fazer batota no xadrez on-line (!). Em sua defesa, diz que já não o faz – mas essa não parece ser a opinião do campeão mundial Carlsen.

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Num torneio de xadrez rápido actualmente em curso (16 concorrentes, que jogam todos contra todos, para depois, os 8 primeiros se defrontarem 2 a 2, a ‘eliminar’) Carlsen teve que jogar contra Niemann.

Foi o jogo mais rápido de sempre (mesmo para xadrez rápido foi…’muita rápido’! éh éh éh):

O americano começou, movendo um peão, Carlsen moveu um cavalo, o americano moveu outro peão e Carlsen abandonou (perdendo o jogo e colocando-se ‘off-line’). E nada mais disse.

Neste momento terminou a fase de ‘todos contra todos’ e Carlsen ficou ‘de longe, em 1º’ (não obstante a sua derrota com o americano…que foi a sua única derrota). Seguem-se agora partidas entre os 8 melhores (a eliminar) até se apurar o vencedor do torneio.

Pode acontecer que o americano consiga encontrar Carlsen nas partidas a eliminar. Ninguém sabe o que Carlsen fará.

Mas o americano Hans Niemann não parece estar em bons lençóis…éh éh éh!

O torneio acaba no domingo e chama-se ‘The Julius Baer Generation Cup’ on-line chess.

O XADRÊZ É DIFERENTE DA POLÍTICA…OS ALDRABÕES NÃO TÊM SEMPRE SUCESSO .

A culpa e a incompetência

Não há anteriores governos, nem guerra, nem pandemia que justifiquem o estado de coisas. Nada justifica a incompetência, a falta de visão e a ausência de sentido prático da vida.


Em Portugal, o início do ano lectivo é um desastre.

É normal.

Há dezenas de anos que se sabe que as aulas começam mal.

Que há horários por preencher.

Obras por acabar.

Professores precários a mais.

Professores obrigados a viajar dezenas de quilómetros ou a mudar de residência.

Alunos sem professores ou com programas incompletos.

Alunos sem manuais à disposição e sem cantinas capazes de funcionar.

E alunos obrigados a percorrer, todos os dias, muitos quilómetros.

Este ano, mais uma vez, há milhares de “furos” nos horários e nos programas.

É normal.

Há dezenas de anos que se sabe que as condições de alojamento dos estudantes universitários são deficientes, caras e pouco confortáveis.

Há dezenas de anos que se sabe que a oferta de quartos pelas entidades públicas, as universidades, os institutos, as autarquias ou o ministério, é reduzida e muito insuficiente.

Já se sabia isto há trinta anos, quando os estudantes eram 150.000.

Continua a saber-se agora, que são mais de 400.000 e com uma situação infinitamente mais grave, de molde a que muitos estudantes deixem de estudar, que muitos candidatos desistam e que muitas famílias renunciem a essa possibilidade.

Nas últimas décadas, os progressos do ensino superior foram colossais. Isso pode medir-se em números de estudantes, de professores, de cursos, de licenciaturas e de doutoramentos.

E também em acesso das mulheres às carreiras docentes e à investigação.

Mas não tenhamos dúvidas que se poderia ter ido muito mais longe, que alguns ensinos poderiam ser de muito mais qualidade e que os cursos poderiam ser muito mais exigentes para a ciência.

Que outros ensinos poderiam ser mais virados para a vida prática, a empresa e o emprego.

Que a desigualdade social poderia ser menor e que o mérito poderia ser um critério nas regras de acesso e de progressão.

Que muitas pessoas poderiam chegar aos estudos superiores se tivessem o benefício de uma acção escolar com meios e mais eficiente.

Mais uma vez, as autoridades consideram que o medíocre é aceitável, o mau é passageiro, o suficiente é uma utopia e o bom é impossível.

Cada um pensa que o seu ano, este ano, é melhor do que os anos dos outros, os anos anteriores.

Todos se contentam com a mediocridade e convidam os cidadãos a fazer o mesmo.

É tanto assim que se acha aceitável que ainda haja milhares de situações como as acima descritas.

Ano após ano, a situação oscila entre o mau e o péssimo, facilmente se considera o medíocre como razoável.

Nunca é bom nem muito bom.

Nem sequer suficiente.

Ou antes, satisfatório, para as autoridades, é quando se pode demonstrar que “este ano” estamos melhor do que no “ano passado”.

A ideia de que a maior parte das deficiências do início de ano escolar se podem tratar ou evitar faz parte das utopias que já nem sequer se desejam.Há anos, talvez dezenas, que o Serviço Nacional de Saúde revela insuficiências notórias.

Muitos serviços e centros de saúde acabam por praticar a desigualdade, mesmo sem querer, mesmo sem saber.

Faltam médicos e especialistas em numerosos serviços e centros de saúde. Faltam médicos de família para centenas de milhares de cidadãos.

Faltam ainda mais enfermeiros.

Muitos médicos e enfermeiros deixam o SNS para os hospitais privados.

Muitos outros deixam o país para o estrangeiro.

A formação de médicos está sempre aquém do necessário.

As condições de acesso para pacientes e doentes são muitas vezes, mesmo muitas, deploráveis e inaceitáveis.

As filas de espera para consultas e cirurgias, mas também para exames e análises, são enormes, de semanas a meses.

A eficiência das urgências é muitas vezes abaixo dos critérios mínimos.

As condições de espera nas salas, nas recepções e nos corredores são geralmente miseráveis de desconforto para quem está aflito ou inquieto.

Também aqui, na saúde pública, se fizeram melhoramentos enormes!

Temos números de médicos muito satisfatórios, entre os mais elevados da Europa.

Tanto a despesa pública como a privada não cessam de aumentar.

Mesmo assim, as filas de espera são inacreditáveis, sobretudo num país com números elevados de médicos e enfermeiros.

Mesmo assim, há serviços que fecham por falta de pessoal.

Mesmo assim é possível acontecer o que está agora diante de nós: todas as semanas, todos os meses, maternidades e hospitais anunciam a suspensão de nascimentos e de internamentos de urgência!

É esta uma das mais escabrosas situações existentes na saúde em Portugal ou em qualquer sector da vida social, perante a qual dirigentes políticos e sanitários são capazes de alegar com problemas estruturais e causas longínquas, recusando as suas responsabilidades e ficando satisfeitos com qualquer melhoria, mesmo provisória, mesmo temporária, mesmo insignificante.Saúde e educação!

Dois bons exemplos, talvez os melhores, do que é a incapacidade de gestão, a deficiência de previsão, a falta de planeamento e a ausência de espírito prático e realista.

Os governos sucedem-se na elaboração de estratégias a longo prazo, de planos integrados, de reformas estruturais, de políticas sustentáveis e de programas de recuperação e resiliência, assim como na criação de grupos de acção, de conselhos consultivos e de observatórios, todos de enorme sabedoria, mas sem qualquer noção das responsabilidades, de sentido prático e de espírito realista.

Sabe-se que a gestão, boa ou má, é quase sempre também uma questão política.

O tratamento das questões de saúde e de educação depende muito das opções políticas, da ideia que se deve ter do público e do privado, do centralismo ou da autonomia, da política ou da tecnocracia, da ciência ou do social.

Mas, a partir de ideias esclarecidas, de programas aceites, de leis aprovadas e de enquadramento definido, é a capacidade de gestão responsável que surge no primeiro plano.

Na educação e na saúde, sobretudo nos casos referidos, nas filas de espera, na desigualdade social, na ausência de equipamentos, na descoordenação de instituições, na falta de pessoal e na absurda incapacidade de previsão e planeamento, o estado actual é deplorável. Sem desculpas.

Não há anteriores governos, nem guerra, nem pandemia que justifiquem o estado de coisas.

Nada justifica a incompetência, a falta de visão e a ausência de sentido prático da vida.

Público, 17.9.2022

António Barreto


Arriscam-se a ver ‘por um canudo’ o ‘subsídio anual’ que o governo sucialista dá aos ‘amigos’…


terça-feira, 20 de setembro de 2022

Um Chefe neste estado

Em vez de Isabel II, temos Segundo Marcelo. É esse o seu cognome, porque passa a vida a comentar insignificâncias.

José Diogo Quintela

Como português, não posso dizer que tenha ficado impressionado com as imagens das cerimónias fúnebres da Rainha Isabel II. Ver a quantidade incrível de pessoas disponíveis para ficarem 13 horas numa fila, ao frio e à chuva, só para passarem perto de uma defunta e voltarem para casa de mãos a abanar, só é estranho para quem não costuma recorrer ao nosso SNS.

(Mesmo o percurso que o caixão da monarca fez pelo Reino Unido – de Balmoral para o palácio de Holyroodhouse, daí para a catedral de St Giles, depois para Buckingham, Westminster e, finalmente, para Windsor – fez lembrar o périplo de uma grávida portuguesa hoje em dia até encontrar um hospital que a aceite).

O que terá levado tantos milhares de britânicos a deslocarem-se de propósito a Londres, só para assistirem ao funeral de Isabel II? Homenagem, como os comentadores avançam? Não creio. Julgo que vieram foi certificar-se que a sua Rainha está mesmo morta e que nunca mais os voltará a fazer passar vergonhas, como sucedeu ao longo dos últimos 70 anos.

Até o silêncio sepulcral durante o cortejo fúnebre, sem que alguém se atreva a proferir um som, deve-se ao medo irracional de acordar a falecida. Os ingleses estão aterrorizados com a hipótese de Isabel II voltar a ocupar o lugar de Chefe de Estado, com a falta de jeito que sempre a caracterizou.

A sua sobriedade, a ausência de intervenção na vida política britânica, a imparcialidade, a modéstia, a contenção, tudo isso deixou traumas profundos num povo que gostava de ter tido uma Rainha mais espampanante. Por exemplo, digamos que havia eleições numa Ex-colónia inglesa, vamos supor o Zimbabué, com grandes irregularidades eleitorais a beneficiarem o partido no poder desde a década de 70. Imaginemos que a Rainha visitava o país e dava uma entrevista. Quer dizer, não era bem uma entrevista, eram umas declarações à queima-roupa mal lhe estendiam um microfone à frente. Nesse depoimento, alguém acha que a Rainha ia ter a presença de espírito para comparar as dúvidas sobre a legitimidade de umas eleições organizadas por uma ditadura, com a discussão política dentro do partido democraticamente eleito para governar o Reino Unido? Reconhecemos em Isabel o à vontade para largar ali duas ou três larachas de grande impacto institucional? Claro que não. A Rainha não teria esse jogo de cintura. Na improbabilidade de agraciar os jornalistas com algumas palavras, o mais certo seria a Rainha limitar-se a cumprimentar as pessoas, evitando meter-se em assuntos sobre os quais, acharia ela, enquanto representante máxima de um país, se deveria abster de comentar. E perdendo a oportunidade de, através de uma comparação estapafúrdia, propiciar bons momentos televisivos aos perplexos públicos zimbabuense e britânico.

É por nunca mais terem de aturar a sisuda reserva institucional da sua monarca que os ingleses estão aliviados. Talvez agora lhes calhe em sorte um Rei mais descontraído que faça insinuações sobre consumos de substâncias ilícitas por parte de militares hospitalizados, ou, ao arrepio da Constituição, dê instruções públicas ao Governo, ou recomende aos seus súbditos que se esforcem para não adoecer em Agosto. Alguém que não se esconda atrás, nem de normas arcaicas sobre a separação de poderes, nem de conceitos reaccionários como sentido do Estado, e se pronuncie livremente sobre desacatos em feiras agrícolas, o papel da oposição, um certame internacional dedicado à informática, colonoscopias do próprio, o desempenho de secretários de Estado ou a táctica da selecção nacional de futebol.

É essa a grande vantagem do republicanismo sobre a monarquia. Uma Rainha não se escolhe, atura-se. Já um Presidente, é seleccionado, pelas suas qualidades, de entre o escol. Em vez do circo das charretes, missas cantadas, vénias, soldadinhos de chumbo, pajens de calções de veludo, temos a seriedade de um representante eleito pelo povo. Em vez de Isabel II, temos Segundo Marcelo. É esse o seu cognome, porque passa a vida a comentar insignificâncias. “Segundo Marcelo, o acidente na descida do viaduto Duarte Pacheco deveu-se a uma mancha de óleo na via da direita que, agravada pela chuva miudinha que se fez sentir às primeiras horas do dia, se transformou numa mistela escorregadia que prejudicou a travagem do pesado que se dirigia ao Marquês de Pombal. Não há, de acordo com o Presidente, indícios de excesso de velocidade”.

https://observador.pt/

uma forma original de enriquecer.

O caso que opôs o juiz Francisco Marcolino ao Estado português no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (cf. aqui) é um caso exemplar da corrupção que grassa no sistema de justiça português.

Em 2010, o juiz Marcolino era juiz do Tribunal da Relação do Porto quando se candidatou ao lugar de inspector judicial na sua cidade natal, Bragança, em regime de comissão de serviço - um lugar onde lhe competia avaliar os juízes do tribunal da cidade.

O Conselho Superior da Magistratura (CSM) atribuiu-lhe o lugar, só que o juiz Marcolino se esqueceu de comunicar ao CSM um pequeno detalhe que terá motivado o seu interesse pelo lugar. É que no tribunal de Bragança ele era o autor de vários processos judiciais contra várias pessoas e ficava agora numa situação inaceitável de conflito de interesses, a saber, ele iria avaliar os juízes que julgavam os casos em que ele próprio era parte.

Um dos seus irmãos [o mais novo, com quem ele mantinha um diferendo por causa do seu avião] e uma juíza [Paula Sá, identificada no processo pelas iniciais de dois dos seus outros apelidos, Ramos Nunes, com quem ele mantinha um diferendo por questões de avaliação judicial] fizeram queixa ao CSM.

E o CSM nomeou um inspector para inspeccionar o inspector Marcolino.

O inspector do CSM confirmou que o inspector Marcolino se aproveitava da sua situação para pressionar os juízes em Bragança. No momento da inspecção, o juiz Marcolino tinha nada menos do que oito processos judiciais a correr contra terceiros no tribunal de Bragança.

Vários juízes já tinham pedido escusa dos processos envolvendo o inspector Marcolino para não correrem o risco de decidir contra ele e serem penalizados por ele nas suas carreiras. E havia um caso em que um juiz decidiu a favor do inspector Marcolino, atribuindo-lhe uma indemnização de 25 mil euros. Naturalmente, este juiz teve boa nota na avaliação do inspector Marcolino.

O juiz Francisco Marcolino tinha descoberto uma forma original de enriquecer através do sistema de justiça - pôr acções judiciais por tudo e por nada a quem lhe aparecesse pela frente, com os respectivos pedidos de indemnização, e depois usar a sua condição de inspector judicial para pressionar os juízes a decidirem a seu favor.

O inspector do inspector Marcolino concluiu que o juiz Marcolino tinha violado o seu dever de lealdade ao esconder do CSM informação relevante para a sua nomeação como inspector judicial em Bragança e também concluiu que ele tinha violado o seu dever de reserva ao pronunciar-se publicamente sobre a sua colega, a juíza Paula Sá.

O inspector Marcolino foi condenado pelo CSM a pagar uma multa, suspenso por seis meses das funções de inspector judicial e mandado regressar ao Tribunal da Relação do Porto, fazendo surgir uma nova originalidade na justiça portuguesa, desta vez da parte do CSM, a saber: o juiz Marcolino não era competente para julgar juízes, mas continuava competente para julgar cidadãos, que passaram a ser uma espécie de carne para canhão nas mãos do juiz.

O juiz Marcolino recorreu da decisão do CSM para o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), o qual negou qualquer razão ao juiz Marcolino, e confirmou a decisão do CSM.

Não confiando nem no CSM nem no STJ, o juiz Marcolino pôs um processo no TEDH contra o Estado português - na realidade, contra duas das mais altas instâncias da justiça portuguesa, o CSM e o STJ. O juiz Marcolino, sendo juiz de um tribunal superior do país, mostrava assim que ele próprio não confiava na justiça portuguesa, deixando no ar a pergunta legítima: Como é que o cidadão comum há-de confiar?

O juiz queixava-se de que, em todo o processo, lhe tinham sido violados, nada mais nada menos, que  os seguintes direitos: o direito a um processo equitativo (artº 6º da CEDH, cf. aqui); o direito à liberdade de expressão (artº10º); o direito à protecção da vida privada (art 8º); o direito a um duplo grau de jurisdição (artº 2º do Protocolo nº 7 anexo à CEDH); o direito à legalidade (artº 7º); o direito a um recurso efectivo (artº 13º); e o direito à não-discriminação (artº 14º). Claro que, a todas estas queixas, o juiz Marcolino acrescentava um sólido pedido de indemnização a ser-lhe pago pelo Estado português.

O juiz Marcolino esqueceu-se que Estrasburgo não é Bragança - uma das diferenças sendo que em Estrasburgo não há caciques -, e o TEDH, em Junho de 2021, numa decisão por unanimidade de sete juízes, rejeitou todas as queixas do juiz Marcolino. Dos muitos direitos de cuja violação o juiz Marcolino se queixava, o TEDH não lhe reconheceu nem um.

Neste momento do processo (Junho de 2021) aquilo que sobressaía era a falta de julgamento (para dizer o mínimo) do juiz Marcolino, uma falta de julgamento que não é uma falta menor num juiz de um tribunal superior do país - o Tribunal da Relação do Porto onde, além de juiz-desembargador, o juiz Marcolino desempenhava também as funções de presidente da primeira secção criminal.

O juiz punha processos por atacado aos seus conterrâneos (mas não só aos seus conterrâneos, cf. aqui) com o objectivo de enriquecer ilicitamente através dos respectivos pedidos de indemnização.  O juiz candidatara-se ao lugar de inspector judicial do tribunal da sua cidade natal para poder pressionar os juízes a decidirem a seu favor, e sem ter informado o CSM da situação de conflito de interesses em que se encontrava. O juiz falava mal em público da sua colega Paula Sá, que o denunciou. O juiz ameaçara com uma pistola o irmão mais novo que também o denunciou (cf. aqui). O irmão mais novo queixou-se mesmo ao CSM de ter sido agredido pelo juiz e pelo outro irmão, ficando com a cara num estado lastimável (cf. aqui). O juiz recorreu para o Supremo das sanções que lhe foram impostas pelo CSM e o Supremo virou-lhe as costas. O juiz recorreu depois para o TEDH que também lhe virou as costas. Enfim, o juiz não confiava nas decisões das mais altas instâncias da justiça portuguesa de que ele próprio fazia parte.

Tanta falta de julgamento (para dizer o mínimo) num juiz-desembargador - a segunda mais alta categoria da magistratura -, é impressionante. Mas a maior falta de julgamento viria a ocorrer este mês e não foi do juiz Marcolino.

Na realidade, em face deste currículo invejável, a que se acrescenta o facto de ele ser publicamente conotado com o partido do Governo (cf. aqui) - e muito provavelmente só por isso -, este mês, o juiz Marcolino foi promovido pelo CSM à mais alta categoria da magistratura - a de juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça (cf. aqui).

Posted by Pedro Arroja

Fernando de Medina Maciel Almeida Correia

Há muitos problemas, mas…

- Manuel Salgado é o principal suspeito? "Isso é confirmado pela própria PJ".  20 Abril, 2021 TSF

O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina


- Câmara de Lisboa enviou, por e-mail, os nomes, moradas e outros dados pessoais de três organizadores de uma manifestação anti-Putin à embaixada russa em Lisboa e ao Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia. 10 de Junho de 2021 Publico.

Um aldrabão compulsivo, que tudo fará para se manter no poder, custe o que custar!

“Aproximou-se do Partido Socialista aquando dos Estados Gerais para uma Nova Maioria, iniciativa de António Guterres, em 1995. Nos anos seguintes, já depois da vitória de Guterres nas legislativas, participa no Conselho Nacional de Educação. Inicia a sua vida profissional em 1998, como economista num instituto do Ministério do Trabalho, até que o ministro Eduardo Marçal Grilo o chama para consultor do Grupo de Trabalho do Ministério da Educação na Presidência Portuguesa da União Europeia, em 1999. É daí que vai, um ano depois, para o gabinete de António Guterres. Primeiro como assessor para as áreas da Educação e da Ciência, depois com a Economia, até à demissão do primeiro-ministro e líder socialista, em 2002. Em 2003 ingressou como economista na Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.

Em 2005, com o regresso do PS ao governo, José Sócrates nomeou-o Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, sendo Ministro do Trabalho José Vieira da Silva, onde se dedicou à reforma da Formação Profissional, à reforma do Código do Trabalho, ao primeiro Acordo de médio prazo sobre a evolução do salário mínimo nacional e ao lançamento e coordenação do programa Novas Oportunidades.[1][1] Contrariando expectativas que, dentro e fora do PS o catapultavam para Ministro após as eleições legislativas de 2009, transitou com Vieira da Silva para o Ministério da Economia onde assumiu a Secretaria de Estado da Indústria e Desenvolvimento com responsabilidade de gestão dos fundos comunitários.

Eleito deputado em 2011 nas listas do PS de Sócrates foi vice-presidente do grupo parlamentar do PS,[1] sendo líder da bancada Carlos Zorrinho. Durante esse período integrou a Comissão de Acompanhamento da Troika, representando a oposição socialista junto do Ministro das Finanças Vítor Gaspar.[1]

Em 2013 o então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, incluiu Fernando Medina, como número dois, na lista para a autarquia da capital, convite esse que foi interpretado como um sinal de que o presidente não ficaria até ao fim, visando assegurar que o leme de Lisboa continuaria em mãos socialistas (uma vez que o até aí número dois, Manuel Salgado, sendo oriundo da Esquerda, não era (nem é) militante do PS). Ao aceitar o convite, manifestou o seu afastamento face ao líder do seu partido, António José Seguro, e ao líder da bancada parlamentar, Carlos Zorrinho.[1]

Tal como se especulava, António Costa viria a abandonar o mandato como presidente da Câmara de Lisboa — na sequência da sua eleição para secretário-geral do PS — e Medina assumiu o cargo de presidente da Câmara Municipal de Lisboa a 6 de Abril de 2015.[1]

Em 2017, Fernando Medina vence as eleições autárquicas e consagra-se novamente como Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, embora não obtendo a maioria absoluta, com 42% dos votos. Fez depois uma coligação com o Bloco de Esquerda.[5] Entre 2017 e 2021 foi presidente do conselho metropolitano da Área Metropolitana de Lisboa.

Em 2020, a mandado do Governo Português, foi intermediário das negociações com os grevistas de fome do movimento "Sobreviver a Pão e Água".[6]

Em Junho de 2021, Medina enfrentou pedidos de demissão como resultado da decisão de sua administração, em Janeiro de 2021, de compartilhar com as autoridades russas as informações pessoais de pelo menos três dissidentes russos baseados em Lisboa. Medina respondeu rejeitando sua renúncia e, em vez disso, desculpando-se pelo que ele descreveu originalmente como um "erro burocrático".[8] Posteriormente, as autoridades municipais admitiram que desde 2011 a prefeitura de Lisboa compartilhava regularmente informações pessoais de activistas de direitos humanos, incluindo nomes, números de identificação, endereços de residência e números de telefone de vários regimes repressivos, incluindo Angola, China e Venezuela. O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, qualificou a prática como "profundamente lamentável", e declarou que todos merecem que os seus direitos fundamentais sejam respeitados num país democrático.[9]

A 30 de Março de 2022, tomou posse como ministro das Finanças do XXIII Governo Constitucional.

É casado com Stéphanie Sá da Silva (filha do antigo ministro da Agricultura Jaime Silva), jurista, que foi directora jurídica da TAP (2014-2022). Curioso emprego da mulher…

wikipédia.


Corte de 445 milhões nas pensões. No governo de José Sócrates!

Fernando de Medina Maciel Almeida Correia, Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, depois Secretario de Estado da Indústria e Desenvolvimento com responsabilidade de gestão dos fundos comunitários.

… Este novo regime de mobilidade do governo do PS é, na verdade, uma espécie de manual para despedir milhares de trabalhadores com inevitáveis consequências para agravamento do desemprego.

Ofensiva que se alargou a aprofundou com o ataque às carreiras, com o agravamento das condições de aposentação e do valor das reformas, no aumento dos descontos para a ADSE, ao mesmo tempo que, pelo sétimo ano consecutivo se impõe a diminuição dos salários reais.

O que se conhece da proposta de Orçamento de Estado para 2007 revela já bem a intensidade do ataque dirigido contra os trabalhadores da Administração Pública central, regional e local, sobre quem caem a mais importante fatia das medidas de restrição orçamental que atingem de forma drástica o seu poder de compra, os seus direitos e a estabilidade do emprego.

Está por apurar o significado e a real intenção do que se esconde por detrás do corte de 445 milhões de euros, nas despesas com pessoal, quando se veio dizer que a diminuição líquida de trabalhadores da Administração no próximo ano se situava à volta dos 5 900 trabalhadores.

É necessário que o governo explique se esta verba não é, como pensamos, uma das medidas ocultas para colocar 100 000 trabalhadores já no próximo ano na bolsa de mobilidade especial, dando um passo significativo em direcção à reivindicação do grande capital de forçar ao abandono e despedir 200 000 trabalhadores da função pública.

Mas o Orçamento de Estado de 2007 não é apenas um orçamento contra os trabalhadores da Administração Pública é também um Orçamento que vai continuar a travar a recuperação económica e o desenvolvimento do país e a aprofundar as injustiças sociais e regionais….

https://www.pcp.pt/por-uma-administracao-publica-ao-servico-das-populacoes-do-pais

Portugal retira candidatura de João Leão a director do Mecanismo Europeu de Estabilidade.

Os socialistas portugueses tem o entendimento (saloio é obvio) que os estrangeiros e principalmente aqueles que estão na CE connosco, que não estão atentos ás personagens que o PS lhes quer impingir, como competentes, quando é tudo ao contrário!Convém não esquecer que este Sr. aquando de ministro das finanças DEU um subsidio á sua faculdade, a Madrassa do PS, também conhecido como ISCTE, um subsidio astronómico, para ele quando regressasse ir gerir, etc.…

“Os dois países com candidatos, Portugal e Luxemburgo, acordaram retirar os candidatos por nenhum ter conseguido obter a maioria qualificada para director-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade.

Portugal retirou a candidatura de João Leão ao cargo de director-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade, informa o Ministério das Finanças. Este recuo foi concertado com o Luxemburgo que também tirou da corrida o seu Ex-ministro das Finanças, Pierre Gramegna. Esta decisão resulta da constatação de que nenhum dos dois candidatos conseguiu obter a maioria qualificada de 80% dos votos que é necessária para a escolha do director geral deste mecanismo de financiamento criado após a crise do euro.

O ministro de Estado e das Finanças, João Leão, durante uma conferência de imprensa, sobre medidas de mitigação do aumento dos preços dos combustíveis, no Ministério das Finanças, em Lisboa, 4 de março de 2022. MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

https://observador.pt/2022/09/20/portugal-retira-candidatura-de-joao-leao-a-diretor-do-mecanismo-europeu-de-estabilidade/

Câmara de Lisboa acusa Estado de défice de 15 milhões de euros com transferência da área da Educação.

Carlos Moedas acusa Estado de défice de 15 milhões na transferência de recursos necessários na área da Educação. E quer delegação “total” de competências para as autarquias.

A câmara municipal deveria ter um papel de delegação de poderes total em relação à educação, tanto no 1.º, 2.º e 3.º ciclos, como no secundário […]. Se queremos descentralizar a educação, então descentralizemos no seu todo para as autarquias, porque são elas que conhecem melhor a cidade e as pessoas”, defendeu o presidente da Câmara de Lisboa. Carlos Moedas acusou mesmo o Estado de falhar na transferência dos recursos necessários, com “um défice de 15 milhões de euros”.

À margem da inauguração da Escola Básica Teixeira de Pascoais, na freguesia de lisboeta de Alvalade, o presidente da Câmara de Lisboa disse que o país funcionaria muito melhor se tivesse “uma verdadeira descentralização na área da Educação”, considerando que as competências das autarquias locais deveriam ir além da realização de obras no edificado escolar e da contratação dos assistentes operacionais, passando a ter também a responsabilidade de contratar os professores.

“Tenho muita pena que seja apenas este o papel das câmaras municipais”, frisou o social-democrata, referindo que falta clareza no processo de descentralização de competências da administração central para as autarquias locais, nomeadamente nas áreas da educação e da saúde, pelo que o município de Lisboa “não está contente” com a actual situação, que cria “uma grande confusão aos munícipes, que é: quem faz o quê?”.

Carlos Moedas indicou que a transferência de competências criou um problema financeiro na Câmara de Lisboa, uma vez que “o Estado, ao descentralizar, não deu os recursos necessários, porque só nestes três anos, desde 2019, faltaram 15 milhões de euros”.

“Nos últimos três anos, temos um défice de 15 milhões de euros em relação àquilo que o Estado deu em termos de despesas correntes com aquilo que nós investimos e, nos últimos cinco anos, investimos mais de 60 milhões de euros na construção e naquilo que são os equipamentos”, apontou

Questionado sobre a negociação com o Governo, o autarca explicou que o processo negocial é contínuo, mas admitiu que “essa negociação não está a correr bem” em relação à descentralização, porque a Câmara de Lisboa está em défice. “Tudo o que é para educação não tenho problema que seja a câmara que avance e não tenho problema de dizer aos lisboetas que temos um ‘deficit’ em relação àquilo que é este investimento, porque eu vou fazê-lo na mesma”, assegurou o social-democrata, reforçando que o Estado deve dinheiro ao município de Lisboa, porque “deveria estar a garantir os recursos e não está”.

Ressalvando que a negociação com o Governo é feita ao nível da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), Carlos Moedas insistiu que “para Lisboa não está a funcionar”.

“Obviamente, o país olha-se no seu todo, mas Lisboa é uma situação muito particular. Temos 139 escolas que estão sob a responsabilidade de tudo o que é obra e manutenção na câmara municipal, temos mais de dois mil funcionários não docentes e, portanto, é uma responsabilidade muito grande e ela exige recursos elevados”, declarou o presidente da câmara, assegurando que irá continuar a lutar pela transferência dos recursos necessários por parte do Estado.

Apesar de a Câmara de Lisboa estar em ‘deficit’, porque os recursos transferidos pelo Estado “não chegam”, o autarca realçou que o mais importante é continuar a intervir, dando como exemplos a retirada de amianto em 13 escolas da cidade e o investimento em “mais de 18 projectos” no edificado escolar. “É ir mudando as coisas, mesmo que não se consiga fazer tudo. Mas, conseguimos, da parte da câmara, substituir-nos, no fundo, ao Estado central”, garantiu.

Em 18 de Julho, a ANMP e o Governo chegaram a acordo quanto à transferência de competências da administração central para os municípios, depois de uma polémica que motivou a contestação de diversos autarcas ao processo de descentralização por considerarem as verbas insuficientes, principalmente nas áreas da saúde e da educação.

A aprovação do acordo, no Conselho Geral da ANMP, foi subscrita por PS, PSD e independentes e teve o voto contra da CDU (coligação PCP/PEV). Após esse acordo, o social-democrata Carlos Moedas considerou que o Governo propôs às autarquias “uma meia descentralização, indefinida e inconsequente”, defendendo que “o país precisa de mais” do que o acordo.

https://eco.sapo.pt/2022/09/19/camara-de-lisboa-acusa-estado-de-defice-de-15-milhoes-de-euros-com-transferencia-da-area-da-educacao/

Samarcanda, o aviso de Modi a Putin: "Muitas crises, pare a guerra"

Índia preocupada, o czar: "Queremos a paz, mas Kiev não negocia", mas na cúpula asiática não recebeu nenhum apoio convincente.

https://www.lastampa.it/esteri/2022/09/17/news/samarcanda_lavvertimento_di_modi_a_putintroppe_crisi_stop_alla_guerra-8840939/?ref=ST-PW-F-3

A Suécia está se tornando insuportável.

ESTOCOLMO — “Helg seger”.

Essas duas palavras, ditas por Rebecka Fallenkvist , uma figura da média de 27 anos e política dos Democratas Suecos, o partido de extrema-direita que conquistou 20% nas eleições gerais da Suécia na semana passada, causaram arrepios em todo o país. Não é a frase, que é estranha e significa “vitória de fim de semana”. É o som: a uma letra de “Hell seger”, a tradução sueca da saudação nazi “Sieg Heil” e o grito de guerra dos nazi suecos por décadas.

A Sra. Fallenkvist foi rápida em repudiar quaisquer associações nazi. Ela pretendia declarar o fim de semana vitorioso, disse ela, mas as palavras saíram na ordem errada. Talvez isso seja verdade. Mas a declaração estaria inteiramente de acordo com o partido que Fallenkvist representa, que, após um crescimento constante, provavelmente terá um papel importante no próximo governo.

Para a Suécia, um país que pretende ser um bastião da social-democracia, tolerância e justiça, é um choque. Mas talvez não devesse ser. Em constante ascensão na última década, a extrema direita sueca lucrou com as crescentes desigualdades do país, fomentando uma obsessão pelo crime e uma antipatia pelos migrantes. Seu avanço marca o fim do excepcionalismo sueco, a ideia de que o país se destacava moral e materialmente.

Não há dúvida sobre as origens nazi do partido. Os Democratas Suecos foram criados em 1988 a partir de um grupo neonazi chamado BSS, ou Keep Sweden Swedish, e dos 30 fundadores do partido , 18 tinham filiações nazi, segundo o historiador e ex-membro do partido , Tony Gustaffson . Alguns dos fundadores até serviram na Waffen SS de Hitler.

Passo a passo, o partido mudou sua imagem – em 1995 os uniformes eram proibidos – mas a ideologia central permaneceu: os imigrantes deveriam ser persuadidos a voltar para casa, a cultura sueca deveria ser protegida e nem os judeus nem os indígenas sami deveriam ser considerados “verdadeiros suecos” . ” Nem mesmo o craque Zlatan Ibrahimovic conseguiu a aprovação do partido, apesar de ter nascido no país e ser o maior artilheiro da seleção. As posturas da atual direção, que tem buscado higienizar a reputação do partido, são igualmente preocupantes.

Veja Linus Bylund, chefe de gabinete do partido no Parlamento sueco. Em uma entrevista em 2020, ele declarou que os jornalistas do serviço público nacional de rádio e televisão deveriam ser “punidos” se suas reportagens fossem tendenciosas. Tais pessoas, ele afirmou anteriormente, seriam “ inimigos da nação ”. A proximidade com o poder não suavizou seus pontos de vista. No dia seguinte à recente eleição, um repórter perguntou a ele o que ele esperava agora. “ Jornalista-rugby ”, ele respondeu.

Jimmie Akesson, líder do partido, também surpreendeu a audiência da televisão em meados de fevereiro quando se recusou a escolher entre Joe Biden e Vladimir Putin. É uma peça com a posição acomodatícia do partido em relação à Rússia: o Parlamento sueco estava tão preocupado com um jornalista que trabalhava no escritório do partido e teve contato com a inteligência russa que negou o credenciamento de jornalista. Adicione uma coorte de representantes mais processados ​​por crimes do que qualquer outro, campanhas organizadas de trolls contra oponentes e até tentativas de minar a fé no sistema eleitoral, e você tem a imagem de um partido profundamente desagradável.

Mesmo assim, a ascensão dos Democratas Suecos é uma impressionante história de sucesso da direita. O partido entrou no Parlamento em 2010 com pouco mais de 5% dos votos – mas, sob a liderança de Akesson, construiu uma organização nacional eficiente. Mais do que dobrou sua participação nos votos em 2014 e, depois que a Suécia admitiu mais de 160.000 refugiados sírios, cresceu ainda mais nas eleições de 2018. Mas é nesta votação que os democratas suecos garantiram um avanço procurado com impressionantes 20,6 por cento dos votos, superando o conservador Moderaterna, que foi o segundo maior partido da Suécia por mais de 40 anos. Agora, apenas o Partido Social Democrata, o partido histórico do governo da Suécia, tem mais apoio.

Essa ascensão monumental se deve às mudanças dramáticas na vida sueca nas últimas três décadas. Outrora um dos países economicamente mais igualitários do mundo, a Suécia viu a privatização de hospitais, escolas e casas de repouso, levando a um notável aumento da desigualdade e a uma sensação de profunda perda. A ideia da Suécia como uma terra de oportunidades iguais, a salvo das pragas da extrema esquerda ou extrema direita, desapareceu. Esse sentimento coletivo obscuro estava esperando por uma resposta política – e os democratas suecos foram os mais bem-sucedidos em fornecê-la. Era melhor nos bons velhos tempos, dizem, e as pessoas acreditam neles. De volta aos chalés vermelhos e macieiras, à lei e à ordem, às mulheres sendo mulheres e homens sendo homens.

Por abrir esta porta, os grandes partidos têm a si mesmos a culpa. Aos poucos, os partidos tradicionais adotaram o ponto de vista e a retórica sobre crime e imigração do Partido Democrata Sueco – mas essa estratégia não recuperou nenhum voto. Pelo contrário, parece ter ajudado a extrema direita. Em pouco mais de 12 anos, os Democratas Suecos conseguiram competir com os Social Democratas pelos eleitores da classe trabalhadora, com o Moderaterna pelo apoio aos empresários e com o Partido do Centro entre a população rural.

A mídia também é culpada. Numa tentativa de proteger os valores democráticos tradicionais suecos, a grande mídia muitas vezes evitou e cancelou funcionários e simpatizantes dos Democratas Suecos, especialmente nos primeiros anos do partido. Mas agora parece que essa resposta realmente pode ter tido o efeito oposto. Indivíduos que se inclinam para os democratas suecos por várias razões se sentiram estigmatizados: alguns não foram convidados para reuniões de família e, em alguns casos, até perderam seus empregos . Isso não apenas alimentou a auto-imagem do partido como mártir, mas também alimentou ainda mais lealdade entre seus apoiantes.

Pode-se argumentar que os partidos tradicionais tiveram sua parte na criação da tempestade perfeita. O partido social-democrata nomeou os democratas suecos como seu principal inimigo na campanha eleitoral, tornando outras alternativas quase invisíveis no debate público. Nós ou eles, era a estratégia. Muitos, predominantemente suecos do sexo masculino, escolheram os democratas suecos. Quanto a um partido conservador como o Moderaterna, eles viram seus eleitores abandoná-los pelos democratas suecos e, assim, o Moderaterna reagiu enfatizando as semelhanças entre os dois partidos até chegar a um ponto em que se tornou difícil distinguir qualquer diferença.

O resultado agora é fácil de ver. Os sociais-democratas, embora sejam o maior partido, são incapazes de formar um governo. Em vez disso, um bloco conservador, liderado por Ulf Kristersson, do Moderaterna, tentará assumir o cargo – desde que tenha o apoio dos democratas suecos. Efetivamente um fazedor de reis, o partido é agora um dos partidos de extrema-direita de maior sucesso na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

É uma verdade aterrorizante. Mas devemos ter em mente que a maioria da população do país não está entre os democratas suecos. Essas pessoas querem soluções para problemas reais – como um aumento preocupante de tiroteios relacionados a gangues e drogas em várias cidades – sem recorrer a jogos de culpa étnica e à difamação da cultura “não sueca”. Como democrata liberal, nunca aprovarei um partido que celebra seu sucesso com referências à ideologia nazi de Hitler, não importa a afirmação de que apenas por pura coincidência a exclamação “Helg Seger” foi apenas uma letra além de um grito de guerra nazi.

Elisabeth Asbrink é autora de “ 1947: Where Now Begins ”, “ Made in Sweden: 25 Ideas That Created a Country ” e “And in Wienerwald the Trees Remain”.

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Rui Moreira, o “perfeito imbecil” e a cultura de ódio

Não é um político desprovido de qualidades, mas como tem uma vaidade maior do que a ponte da Arrábida acha que tudo lhe é permitido.


João Miguel Tavares


Se quisermos ser altivos e conformistas em relação aos problemas do futebol, podemos sempre utilizar o argumento antropológico: as grandes manifestações desportivas foram habilmente inventadas pelo Homo sapiens para substituir as guerras tribais, através da criação de um novo tipo de confronto físico com regras claras e controladas, que permite encontrar um vencedor sem necessidade de derramamento de sangue. Portanto, quando vemos um estádio cheio de adrenalina e testosterona, devemos estar preparados para cenas de relativa selvajaria, e aceitar essas manifestações de irracionalidade como uma compensação para velhíssimos actos de violência brutal, que assim são sublimados através de insultos à mãe do árbitro. Tirando a mãe do árbitro, toda a gente fica a ganhar.

Há muita verdade neste argumento antropológico. Mas, ainda assim, ambiciono ser mais do que um cavernícola no século XXI. Portanto, tenho muita dificuldade em me conformar com aquilo que vejo semana após semana no mundo do futebol português, seja crianças obrigadas a despir camisolas (porque o seu equipamento não combina com as cores de determinada bancada), o apedrejamento de carros de treinadores, as cuspidelas a famílias ou a polémica jornalístico-desportiva em torno das flash-interviews. É tudo demasiado feio, porco e mau, e isso dá-me a volta à tripa, ao ponto de eu estar há alguns anos a fazer um esforço genuíno para me afastar de um desporto que adorei a minha vida toda.

Por isso, geralmente fico caladinho no meu canto, a resmungar com os meus botões, porque isto aqui é o PÚBLICO, não é A Bola. Até que surge aquele momento – e surge imensas vezes – em que os políticos decidem entrar em campo, e o tema do futebol irrompe subitamente na minha pequena área. Aconteceu de novo este fim-de-semana, quando o presidente da Câmara do Porto e o vice-presidente do Conselho Superior do Futebol Clube do Porto – ambos chamados Rui Moreira – decidiram, imagine-se, criticar uma pergunta feita por um jornalista da Sport TV numa flash-interview com o jogador Taremi.

A crítica saiu nestes termos a Rui Moreira, na sua página pessoal de Facebook: a dita pergunta (sobre a expulsão de Taremi no jogo com o Atlético de Madrid) foi “uma provocação abjecta” por parte de um “pseudo-repórter” que se portou como um “perfeito imbecil”. As sábias palavras de António Costa sobre os ministros continuarem a ser ministros mesmo à mesa do café também se aplica a presidentes da câmara e às suas redes sociais. Rui Moreira não é um político desprovido de qualidades, mas como tem uma vaidade maior do que a ponte da Arrábida acha que tudo lhe é permitido. E como ambiciona suceder a Jorge Nuno Pinto da Costa à frente do FC Porto, não se importa de ostentar o seu fanatismo portista, até porque acha que lhe poderá trazer dividendos no futuro.

    • Como ambiciona suceder a Jorge Nuno Pinto da Costa à frente do FC Porto, não se importa de ostentar o seu fanatismo portista, até porque acha que lhe poderá trazer dividendos no futuro

Tenho dificuldades em perceber como é que alguém pode ser impecavelmente polido nos paços do concelho e orgulhosamente neanderthal no comentário desportivo. Mas sei onde é que reside o pecado original: no vergonhoso concubinato entre futebol e política, que não há maneira de acabar neste país. A ridícula polémica das flash-interviews já envolveu a deputada do PS Cláudia Santos, enquanto presidente do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, e atinge agora Rui Moreira. Esta mistura despudorada de futebol, jornalismo e política só serve para uma coisa: agravar uma cultura de ódio que envenena há décadas este país

https://www.publico.pt/2022/09/19/opiniao/opiniao/rui-moreira-perfeito-imbecil-cultura-odio-2021136.

Famílias primeiro, truques depois?

O aumento das pensões e a crise na habitação em análise neste Linhas Vermelhas em podcast, com Mariana Mortágua e Cecília Meireles

Os cálculos apresentados pelo Governo sobre as contas da Segurança Social dão o tiro de partida para mais uma emissão do Linhas Vermelhas. Segundo a deputada bloquista, agora é certo que o "truque" do Governo foi desmontado e "vai haver um corte" nas pensões, depois de "garantir aos portugueses que a sustentabilidade se conseguia com emprego e salários, em vez de cortes e congelamentos". Cecília Meireles recorda as palavras de António Costa em Junho passado, ao anunciar o "aumento histórico das pensões", para agora resultar, segundo a Ex-deputada do CDS, num corte de mil milhões de euros nas pensões depois de "antecipar um aumento". "Eu não consigo perceber como é que alguém consegue confiar nestas contas", diz Cecília Meireles. O Linhas Vermelhas foi emitido na SIC Notícias a 19 de Setembro.

Um debate de ideias sobre temas nacionais e internacionais. Na SIC Notícias à segunda-feira, com Mariana Mortágua e Cecília Meireles, e à quarta, com Miguel Morgado e Pedro Delgado Alves.

https://sicnoticias.pt/podcasts/linhas-vermelhas/2022-09-20-Familias-primeiro-truques-depois--12fc7b9d

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Tenho cancro terminal. Uma planta está a ajudar-me a enfrentar a morte.

Regar o bambu, por mais simples que fosse, conectou-me com uma parte nuclear da minha antiga identidade e mostrou-me que ainda podia ser um cuidador.

David Meyers

19 de Setembro de 2022,

Eu e a minha esposa não costumamos ter plantas em casa. Tudo o que está dentro de vasos acaba por ser regado a mais ou a menos. Depois de ter sido diagnosticado com um glioblastoma — um cancro terminal no cérebro, com um prognóstico de pouco mais de um ano de vida — adorei a ideia de ter algo verde e vivo connosco.

Quando o meu amigo Mitch me ofereceu um bambu da sorte enfiado num vaso verde-escuro e com três ramos do tamanho de lápis entrelaçados, decidimos colocá-lo na janela da sala de estar, junto ao sofá onde costumo passar a maior parte do meu dia.

Sorri quando olhei pelo aro da chávena de café que a Hannah me traz todas as manhãs. Disse-lhe que queria ser eu a tomar conta da planta. Quando as folhas não se tornaram imediatamente castanhas ou amarelas, fiquei agradavelmente surpreendido.

Cuidar da planta deu-me um sentido de concretização numa altura em que, por vezes, me sentia inútil. O glioblastoma limitou a minha capacidade de andar e o tratamento deixou-me fatigado, dificultando a realização de tarefas quotidianas.

Enquanto médico, estava habituado a ser quem providenciava tratamento, e não quem o recebia. Desde o meu diagnóstico, em Agosto de 2018, muitas vezes parecia que tinha que depender da ajuda de outras pessoas. Esta enorme mudança fez-me sentir à deriva e inquieto. Regar o bambu, por mais simples que fosse, conectou-me com uma parte nuclear da minha antiga identidade e mostrou-me que ainda podia ser um cuidador. Que as plantas e as pessoas ainda podiam depender de mim.

Durante os meses seguintes, recuperei de uma cirurgia, completei os tratamentos por radiação e a primeira ronda de quimioterapia. Mesmo depois de voltar ao trabalho, continuei a cuidar da planta. Rapidamente duplicou de tamanho e as folhas ficaram brilhantes e abundantes. Tanto a planta como eu estávamos a prosperar.

Depois, misteriosamente, começou a mostrar sinais de stress. Aumentei a rega e depois diminuí. Juntei borras de café à terra. Dei-lhe fertilizante. E, independentemente do que fizesse, as folhas continuavam a cair no chão. Fiquei cada vez mais frustrado e inquieto. “Não consigo sequer cuidar de uma simples planta”, gritei. “Estou a falhar!”

A Hannah relembrou-me que já tínhamos testemunhado a morte de outras plantas. Perguntou-me o que me estava a perturbar tanto desta vez. “Se o meu bambu da sorte morrer”, desabafei, “talvez eu morra também”.

Não conseguia despir-me do sentimento de que aquela planta se tinha tornado num símbolo da minha precária saúde.

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Identificar-me com aquela planta verde e em crescimento tinha-me oferecido consolo. Agora que a árvore estava decadente, senti-me cada vez com mais medo. As folhas murchas, temi, podem significar a reincidência do meu tumor cerebral.

Percebi que tinha, erradamente, conectado o meu atento cuidado em relação à planta — algo sobre o qual tinha pelo menos algum controlo — à minha própria sobrevivência — algo sobre o qual não tinha qualquer controlo.

Quando o meu tumor inevitavelmente voltasse, não seria por qualquer falhanço meu — não seria porque não pulverizei óleos essenciais no meu escritório, não seria porque ocasionalmente comi açúcar e certamente não seria porque não consegui manter esta planta viva.

À medida que a minha ansiedade diminuiu, comecei a ver tutoriais que me ajudassem a tomar conta do meu bambu. Seguindo as instruções, transplantei a planta para um vaso maior, desentrelacei as raízes para que tivessem espaço para crescer. Quando voltou à janela solarenga, ambos voltamos a prosperar.

Sempre que olho para a planta, com os seus três ramos entrelaçados, penso no Mitch e nas outras pessoas que cuidaram de mim e me apoiaram. Se o bambu da sorte viver mais do que eu, espero que conforte a Hannah e que a lembre de que a nossa grande comunidade vai continuar a cuidar dela depois de eu desaparecer.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

https://www.publico.pt/2022/09/19/p3/noticia/cancro-terminal-planta-ajudarme-enfrentar-morte-2020258