segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Rendimentos, dívidas e bens dos ministros. O património do governo PS :)

Declarações de rendimento e património revelam os governantes mais prósperos. O primeiro-ministro não está no pódio.


António Costa

Será em breve proprietário de um sexto apartamento em Lisboa. Trata-se de um T1 de luxo, em Benfica, que foi adquirido em planta há quatro anos por €276.050. O primeiro-ministro é ainda herdeiro de uma casa no Carvoeiro (Algarve) e outra em Margão (Goa)


Mariana Vieira da Silva,

Presidência

Contraiu em 1999 um empréstimo para comprar um apartamento, no montante de €101.679,46


João Gomes Cravinho,

Negócios Estrangeiros

Tem uma participação equivalente a 20% do capital social da Eurolocarno, sociedade imobiliária. É dono de dois apartamentos em Lisboa, nas freguesias de Arroios e de Santa Maria Maior


Helena Carreiras, Defesa

Enquanto directora do Instituto de Defesa Nacional, Helena Carreiras auferiu €63.680.56 em

2020. A actual ministra da Defesa tem um crédito à habitação junto da CGD, no montante €36.517,42


José Luís Carneiro,

Administração Interna

Foi o segundo membro do Governo que menos dinheiro recebeu no ano passado, quando era deputado: €62.734,47. É proprietário de um imóvel no Porto e tem duas contas à ordem, que somam €149.769,5


Catarina Sarmento e Castro,

Justiça

É proprietária de nove imóveis, seis deles por herança, situados na Marinha Grande, Carnide e Peniche. Tem €133.132,44 em contas a prazo, PPR e carteiras de títulos


Fernando Medina,

Finanças

É dono de um apartamento nas Avenidas Novas. Imóvel que teve o valor de €645 mil e que levou o Ministério Público a investigar a aquisição, após queixas de que o preço era abaixo do mercado


Ana Catarina Mendes,

Assuntos Parlamentares

No ano passado teve um rendimento bruto de €121.800.

Metade deste valor teve origem nos comentários na TVI e na TSF


António Costa Silva, Economia

Dono de um imóvel em Lisboa e de um prédio em Óbidos, o ministro da Economia prevê concretizar a compra de outra casa na Quarteira já em Novembro. Conta com quase €1 milhão em contas à ordem e mais de €291.490 aplicados em PPR e produtos de poupança


Pedro Adão e Silva, Cultura

Teve o rendimento bruto mais baixo em 2021. Recebeu €33.479 enquanto docente do ISCTE. Tem um apartamento em Lisboa e outro no Alvor


Elvira Fortunato, Ciência

Dona de duas casas, uma na Charneca da Caparica e outra em Vila Real de Santo António, a actual ministra do Ensino Superior

tem dois carros recentes: Nissan Qashqai (2020) e Kia Sportage (2022)


João Costa, Educação

Recebeu €81.026,45 no ano passado como secretário de Estado. Tem dois empréstimos para a compra de casa e carro.


Ana Mendes Godinho,

Segurança Social

É proprietária de dois apartamentos em Moscavide e em Vila Nova de Foz Coa e tem uma hipoteca ao BPI, no montante de €72.993,13


Duarte Cordeiro, Ambiente

Com um rendimento do trabalho dependente de €79.792.86, contou com rendimentos prediais, no valor de €2800


Pedro Nuno Santos,

Infra-estruturas

Tem uma participação de 1% de €10.050 na Tecmacal, sociedade de equipamentos industriais em São João da Madeira. Em 2021 auferiu €94.286,15


Ana Abrunhosa, Coesão

Teve um rendimento bruto de €90.868,88. O marido tem participações sociais em sete

empresas, incluindo a Thermalvet, que terá recebido €133 mil de fundos da UE


Maria do Céu Antunes,

Agricultura

Recebeu €89.334,69 em 2021 e tem uma dívida à banca no valor de €70.582,97

Valores apresentados pelo Expresso, 30 de Setembro de 2022….

CERTOS MOVIMENTOS QUE DIZEM TER COMEÇADO NAS REDES SOCIAIS DA CHINA SÃO NOSSAS TRADIÇÕES.

HÁ COISAS INCOMPREENSÍVEIS, E UMA DAS MAIS DESTACADAS É DIZER QUE UMA COISA CHAMADA TIK TOK DEU ORIGEM A UMA CULTURA ANTIGA, MUITO NOSSA.

Mal li, fiquei indignado. Centenas de especialistas em tudologia, cientologia, sociologia, antropologia cultural e outras coisas que, por acaso, a episteme não me ajudou a discernir, debatem o significado do quiet quitting, que em português se pode traduzir por “desistência silenciosa”.

Alguns empresários, dizem os especialistas, estão preocupados porque — e cito o quase vetusto “Público” — “Não é trabalhar menos, é fazer o que está no contrato e dentro do horário contratualizado. O quiet quitting surge como reação à precariedade laboral e é mais um sintoma da mudança na forma como nos posicionamos perante o trabalho.” Como não achar tudo isto mentira de quem pretende tornar um velho hábito numa tendência nova, através da sua designação em inglês? Como não se ficar revoltado quando vemos uma tradição, um hábito — e dos mais entranhados — ser aproveitado por académicos, jornalistas e outros sem-vergonha, para teorizarem uma coisa qualquer?

Entendamo-nos, a já traduzida desistência silenciosa parece ter começado em terras de Xi Jinping e poderá ser entendida como uma recusa dos trabalhadores em fazer mais do que foi acordado, e dentro do horário contratualizado. O “The Wall Street Journal”, grande jornal económico, que zela pela saúde das empresas e dos seus trabalhadores, chama-lhe uma espécie de ‘greve de zelo’ e diz que o movimento provoca ‘violentas dores de cabeça’ (citei, uma vez mais, o “Público”) aos empregadores, um pouco por todo o lado.

Especialistas consagrados, como o professor Pedro Gomes, que escreveu o livro “Sexta-feira é o Novo Sábado’ (antecipando-se a um livro que eu tinha no prelo, intitulado “Quarta-feira é a Nova Quinta, que por Sua Vez é a Nova Sexta, que é o Novo Sábado”), diz com muita razão que é difícil de avaliar, até porque não há estatísticas. Outro reputado especialista, Joaquim Coimbra, da Faculdade de Psicologia e Educação da Universidade do Porto, afirma que vivemos uma mudança de fundo de que — e cito, o quiet quitting, “seja lá o que isso for”, é mais um sinal.

Tenho para mim que falta mundo a estes especialistas. E não digo colóquios em Pago Pago ou nas Bahamas. Nada disso, desses podem ter muitos, até em locais sérios como a Universidade de Londres, do Porto, da Sorbonne ou de La Sapienza; o que lhes falta, manifestamente, é um cartório, uma Autoridade Tributária, um balcão da Segurança Social, quiçá, talvez até de uma operadora de comunicações. Acaso o tivessem, teriam imediatamente percebido que o quiet quitting, se não nasceu em Portugal, mesmo sem redes sociais e Tik Tok chineses, deve a este país anos, décadas, séculos de tradição segura. Claro que há exceções, mas como afirmou o professor Coimbra, abandono ou desistência exercidos de forma silenciosa, não se sabe bem o que é, salvo que faz parte de uma mudança de fundo. Pois essa mudança, estimado professor, opera-se neste país pelo menos desde que o Marquês de Pombal acabou com a escravatura no continente.

Desde que os funcionários deixaram de depender dos caprichos dos seus donos e passaram à condição de homens livres ou coisa parecida, que a desistência silenciosa passou a ser uma atitude laboral muito disseminada em Portugal, nomeadamente nas funções públicas e relacionadas com o público.

Essa desistência, ou abandono, não teria, quando muito, a consciência de que era um movimento, pois apenas respondia a duas coisas: a falta de vontade do funcionário e a tradição que encontrava no seu posto de trabalho. Esses dois fatores foram crescendo à medida que as suas remunerações foram caindo. Entre alguns deles, rendia mais ficar de baixa do que ir trabalhar; outros preferiam pendurar o casaco nas costas da cadeira da repartição e ter um emprego simultâneo no qual conseguissem, com um pouco de abandono silencioso, aboletar mais um salário, sendo que com dois já conseguiam viver e ir, talvez, a uma praia no verão.

Seria, do meu ponto de vista, muito salutar se os professores e especialistas que se debruçam sobre o assunto escrevessem ao “The Wall Street Journal” explicando-lhes que foi esta singularidade portuguesa que se espalhou pelo mundo (por algum motivo fomos pioneiros da globalização), tendo chegado à China, onde, como se sabe, há uma enorme tendência para copiar o que é dos outros, em aspetos de alta tecnologia, como é o quiet quitting.

Nunca termos dado um nome tão bom à moleza e à preguiça não nos tira os pergaminho.

COMENDADOR
MARQUES DE CORREIA

Expresso

LISBOA, CAPITAL DO LIXO

Aconteceu-me o mesmo, com a EMEL, junto ás Torres de Lisboa, onde tive que me deslocar  para um exame médico. Quando andei á procura de lugar para estacionar nas redondezas, não vi qualquer funcionário da EMEL! Estacionei numa praceta, sem qualquer marcação, onde também só havia dois lugares. Quando cheguei ao carro, depois do exame medico feito tinha-o bloqueado! Olhei para o documento e a hora era cerca de 10 minutos depois de eu ter estacionado!!!

Lá tive que seguir o calvário, tal como a Clara aqui refere tão bem e nas mesmas condições paguei 133€. Quando se vive num sistema totalitário que nasce da omnipotência inoperante da Câmara Municipal de Lisboa e das leis abstrusas do Governo no saque ao contribuinte…


A SUJIDADE É RAINHA, JUNTAMENTE COM A POLUIÇÃO DO TRÁFICO INSANO. POEIRA E PARTÍCULAS NOS PULMÕES DE UMA CIDADE MARÍTIMA QUE É DAS QUE TÊM PIOR AR NA EUROPA.


É caro viver em Lisboa. Os estrangeiros com rendimentos gostam, amparados por um sistema fiscal benévolo que os isenta de grandes obrigações, enquanto o resto do povo, ou o povo e a elite como lhe quiserem chamar, paga os impostos devidos sem um pio.

Viver em Lisboa num condomínio privado de luxo com vista para o Tejo e dois lugares de garagem, um para o Tesla e outro para o Fiat Gucci da senhora, não é mau. Entra-se e sai-se pela boca aberta e automática do prédio, e estaciona-se de garagem para garagem.

O importante é nunca pisar a rua nem negociar com a selvajaria da EMEL. Já lá iremos. Se se é estrangeiro, e não se fala a língua, resta a suprema vantagem de não ter de confraternizar com o povo encarregado dos serviços adjacentes, o cardápio de serviçais que deslizam invisíveis nos intervalos. Governantas, criadas, mulheres da limpeza ditas “a dias”, porteiros, trolhas, canalizadores e outros “homens das obras”, jardineiros, carteiros, seguranças, e por aí fora.

Genericamente conhecidos por “empregados”. Mais os estafetas da Glovo, um rebanho asiático.

Conversa-se apenas com o motorista.

O resto da população oscila entre o povo típico dos bairros antigos e turísticos, mulheres que estendem a roupa no estendal da varandinha do prédio entalado em Alfama ou no Bairro Alto e homens que cospem para a rua, e uma burguesia ou uma pequena burguesia citadinas, casas compradas ou herdadas nos velhos tempos antes da especulação, acantonadas em meia dúzia de bairros residenciais que só sofreram melhorias se tinham hotéis como vizinhos, tendo os hotéis dado direito a passeio forrado a laje em vez dos tradicionais buracos na calçada. Esta população acossada foi sujeita a dura convivência com os milhares de Alojamentos Locais, muitos ilegais, albergando turistas que desembarcam com malas e barulho, festas e garrafas de vinho e cerveja, enchendo os caixotes do prédio de um lixo odoroso que transborda.

Em ruas com recolha selectiva, a dita morre quando os caixotes seletivos são roubados pelos restaurantes da vizinhança. Não há caixotes suficientes para tanto lixo e há que sobreviver palmando os caixotes alheios. O turismo cresceu tanto, e nasceram tantos hotéis, que os caixotes não dão para tudo. O lixo indiferenciado cresce. A Câmara tarda em repor os insuficientes caixotes.

E cresce não apenas dentro dos caixotes com tampas abertas que regurgitam sacos que rebentam nos passeios. O lixo cresce por toda a Lisboa como um fungo invasor. A cidade está tão suja, tão suja, que há que escolher o caminho com o pé bem apoiado, Lisboa. Nem para ter filhos. Os estudantes? Sabemos que sobram umas despensas a preço de ouro.

E no fim do desconsolo, que até uma internacionalista empedernida como eu acha deprimente, já que vivo na capital portuguesa gostava de ter alguns portugueses como vizinhos, está a selvajaria da EMEL. Lendária. Para-se o carro num estacionamento onde o dístico de morador nos aquece a alma, aqui não me rebocam. Errado. Um hotel de cinco estrelas, mil euros por noite, ou mais do que um, garantiram uma faixa para táxis privados e uma plaquinha invisível alerta e atesta que os lugares, mal sinalizados e com dimensão obscura, são para veículos com “a marca T”. Os ditos táxis privados, esclareceu-se tarde demais. A zona é uma mina de ouro. A EMEL anda em círculos porque sabe que ninguém, rigorosamente ninguém, vê a plaquinha, e estaciona munido de inocência. Lá vem a rapace carrinha com os bloqueadores. Curiosamente, os outros carros sem senha no para-brisas levam com um sobrescrito e uma pequena multa, mas os da zona obscura de veículos T são logo bloqueados. Espera-se uma hora e meia pelo desbloqueamento, depois de monólogo digitado com gravadores. Nunca um ser humano do outro lado da linha.

Ao cabo de hora e meia a carrinha surge, para desbloquear é mais lenta, com dois miúdos

malcriados lá dentro. Porque é que os outros são multados e nós bloqueados? Porque calhou, sei lá, não fui eu que fiz isto. O que são veículos de marca T? Dê exemplos. É, sei lá, por exemplo a carrinha do Cristiano Ronaldo. Porque é que eles têm direitos superiores ao dos moradores? Porque pagam. Ah! E porque é que não deixam um aviso aos moradores e bloqueiam logo? Para os moradores perceberem que não podem parar ali? É preciso ter um mínimo de bom senso. Sei lá! Mostre os documentos. São 133 euros. Paga com multibanco. Ah!

Assim vivemos, num sistema totalitário que nasce da omnipotência inoperante da Câmara Municipal de Lisboa e das leis abstrusas do Governo no saque ao contribuinte. Que bom é viver em Lisboa!

P L U M A C A P R I C H O S A

Clara Ferreira Alves – Expresso

Ultrapassados pela direita

Joana Petiz

dn.pt

2-10-2022

Seis anos da geringonça socialista carregada às costas pela extrema-esquerda e oito meses de maioria absoluta depois, como está a Saúde?

Somamos meses de Urgências caóticas, com sucessivas demissões nas direcções hospitalares por falta de meios, de condições e de profissionais para cuidar dos que recorrem ao SNS.

Vê-se zero organização ou planos a médio-longo prazo para resolver problemas acumulados nesses anos em que a preocupação da tutela se manteve ancorada na certeza soviética de que a Saúde tem de ser pública, inflexível no fim das unidades geridas em PPP - que funcionavam bem para os doentes e para o Estado -, pondo em risco acordos com privados e sector social que serviam aqueles a quem o SNS não conseguia acudir.

A resposta ao que era urgente foi esperar três meses para nomear um CEO e dar-lhe a tarefa de refazer a prazo o que antes se implodira. Pelo caminho, tentou-se impor aos profissionais a escolha entre hospitais e privado e agrilhoar um número deles ao serviço público. A solução da esquerda nunca foi melhorar as condições para que tivessem vontade e capacidade de ficar pelo SNS.

Após seis anos de governação PS com ajuda da extrema-esquerda, como anda a Educação?

No Superior, faz-se o caminho que antes se seguiu no SNS, com as excelentes universidades que temos a perder capacidade de reter talento, boicotadas na vontade de fixá-lo pela precariedade que o governo não deixa resolver, empurrando os melhores para o privado.

Nas Secundárias e Primárias há centenas de profissionais sem lugar, outros tantos de casa às costas, há alunos sem professores durante meses e professores que não conseguem dar aulas por não lhes permitirem a mobilidade; as carreiras não andam, os miúdos têm livros de graça, mas só se frequentarem o público (não se acredita em pais que fazem sacrifícios pelas crianças) e há creches gratuitas para todos, mas são de papel, porque não existem infra-estruturas ou pessoas que cheguem sequer para as nossas magras necessidades.

Seis anos a governar à esquerda e como estamos a viver?

O salário mínimo subiu, mas os restantes não acompanharam, os pensionistas estão a perder dinheiro, os funcionários públicos vão perder ainda mais, há "subsídios para todos", mas nas contas da redistribuição rouba-se metade do rendimento aos contribuintes e pouco sobra para quem realmente precisa.

E depois da Covid e à custa da guerra e da inflação, as famílias viram esboroar-se o poder de compra e grande número de empresas teme ter de fechar as portas.

Os apoios anunciados com pompa são de rir para não chorar: pouco mais do que um desconto nos combustíveis e um cheque de 125 euros, mais 50 por filho, para mitigar dez meses de preços no tecto para as famílias; mais crédito para as companhias em queda e injecções esporádicas para as que acumulam perdas gigantescas.

Nos impostos pouco se mexeu e os preços brutais têm ajudado a engordar os cofres do Estado com receita fiscal extraordinária.

Seis anos de PS a partilhar o leme com BE e PCP e oito meses de maioria absoluta que se traduzem, afinal, em incontáveis escândalos (do familygate à saga de Cabrita, passando por ministros desautorizados), gestão miserável (da TAP renacionalizada, minguada e agora à venda, até ao eternamente adiado aeroporto) e sem vislumbre de rasgo ou vontade reformista.

Cansados das proibições, desvarios e tiques totalitários da esquerda, os portugueses perceberam enfim que esse caminho só os leva à pequenez. E mostram por fim cartão amarelo a quem acredita que governar não é servir, mas mandar.

Pela primeira vez desde que nasceu a geringonça, a direita é mais forte do que PS, BE, PCP, Livre e PAN juntos. Razões? É só escolher.

A descida da Europa à desindustrialização


Philip Pilkington - 30-Set-2022

O ataque ao gasoduto Nord Stream incentivará o proteccionismo

O rápido colapso económico que a Grã-Bretanha está enfrentando é simplesmente uma versão acelerada do que toda a Europa está prestes a passar; empréstimos insustentáveis ​​para financiar a diferença entre os altos preços da energia e o que as famílias realmente podem pagar. Com a sabotagem do gasoduto Nord Stream, agora não há caminho de volta viável. A Europa não pode mais importar fisicamente o gás russo – os preços permanecerão altos até que a Europa construa mais capacidade de energia, o que pode levar anos.

O que é provável que venha disso? Os preços elevados da energia tornarão a indústria europeia pouco competitiva. Os fabricantes europeus serão forçados a repassar os custos de energia mais altos na forma de preços mais altos e os consumidores acharão mais barato comprar produtos de países com preços de energia normais. A única resposta europeia lógica à ameaça de desindustrialização generalizada é aumentar as tarifas. Esta é a única forma de igualar os preços entre os produtos europeus mais caros e os produtos estrangeiros mais baratos, apoiando assim artificialmente a indústria europeia. Essa estratégia reduzirá os padrões de vida, privando os europeus de produtos mais baratos, mas pelo menos preservará alguns empregos industriais.

A única resposta lógica europeia à ameaça de desindustrialização generalizada é aumentar as tarifas.

Esse processo se parece muito com o início da Grande Depressão. Na década de 1920, devido a arranjos financeiros desequilibrados iniciados no Tratado de Versalhes, as economias ocidentais acumularam enormes dívidas. Em 1929, o colapso do mercado de acções americano removeu um dos principais pilares restantes e as economias ocidentais entraram em colapso. A Europa foi a primeira e, à medida que o comércio secou, ​​a América a seguiu pelo buraco.

As economias ocidentais modernas acumulam dívidas há décadas. Mas desde os bloqueios no início de 2020, esse acúmulo de dívidas aumentou. Em 2019, a dívida do governo da zona do euro em relação ao PIB foi de 83,8%. Em 2020, após a divulgação dos resgates do bloqueio, subiu para 97,2%. No mesmo período, a relação dívida/PIB da Grã-Bretanha passou de 83,8% para 93,9%. Estes são os maiores aumentos individuais da história. O aumento da dívida durante o bloqueio foi provavelmente inevitável. Mas certamente desencadeou o início das pressões inflacionárias que agora vemos em todos os lugares, especialmente porque os próprios bloqueios demoliram completamente as cadeias de suprimentos. Assim, mais dinheiro perseguindo menos bens. Mas o que aconteceu desde o início deste ano é algo completamente diferente.

A invasão russa da Ucrânia desencadeou uma guerra de preços de energia na Europa que está forçando níveis ainda mais altos de empréstimos governamentais para cobrir os custos de energia. Ao contrário dos bloqueios, esses aumentos de preços de energia estão pressionando directamente os preços e a balança comercial entre os países. Preços de energia mais altos significam que a Europa deve enviar mais euros e libras para o exterior para obter energia e, portanto, o valor das importações aumenta e esses custos de importação mais altos são repassados ​​aos consumidores à medida que as empresas tentam compensar os custos crescentes da energia aumentando os preços. A situação não é mais remotamente sustentável. Este é quase certamente o nosso momento de 1929.

Na década de 1930, a Europa caiu em um buraco negro económico. Sua economia entrou em colapso e assim todo o comércio que fez com o resto do mundo foi sugado pelo buraco com ela. A Europa então se voltou contra si mesma e começou a erguer barreiras comerciais para conseguir alguma aparência de normalidade económica. Este foi um caso clássico do que os economistas chamaram de “falácia da composição”: o que era bom para a Europa em particular, era ruim para a economia mundial e, como a Europa fazia parte da economia mundial, acabou sendo ruim também para a Europa. O mundo caiu em depressão.

A mesma coisa poderia acontecer hoje? O Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos estima que os Estados Unidos se envolveram em mais de US$ 5,6 trilhões em comércio – cerca de 26% do PIB – em 2019. No mesmo ano, o comércio com a União Europeia foi estimado em US$ 1,1 trilhão – ou seja, aproximadamente 20% do comércio total. À medida que o europeu cai no buraco, esse comércio cairá com ele. A economia americana, já frágil, provavelmente cairá também.

Uma diferença importante desta vez é que há um bloco económico rival que poderia ser isolado dessas dinâmicas, os emergentes Brics+: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e Argentina – com Irã, Turquia, Egipto, Indonésia e Arábia Saudita. A Arábia também entrou na fila. Desde o início da guerra na Ucrânia, os países do Brics vêm solidificando laços comerciais e financeiros e agregando novos membros. Parece que o objectivo é que essas economias se desvinculem o máximo possível do Ocidente. Se eles forem bem sucedidos em fazer isso – e parece que podem ser – eles podem evitar a depressão. A sabotagem do Nord Stream pode ser o ponto em que os futuros historiadores marcam o fim do domínio ocidental.

https://www.spectator.co.uk/article/europe-s-descent-into-deindustrialisation?utm_medium=email&utm_source=CampaignMonitor_Editorial&utm_campaign=LNCH%20%2020220930%20%20House%20Ads%20%20HT+CID_8ad92732e625c4c22a6e35fe41ed7a5a

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

La gestión del agua

https://elpais.com/diario/1993/11/12/madrid/753107087_850215.html

SANTIAGO MARTÍN BARAJAS

12 NOV 1993

En la Comunidad de Madrid se consumen alrededor de 600 hectómetros cúbicos anuales, lo que significa que gastamos a razón de más de 300 litros por habitante y día, lo que nos coloca entre las personas que más agua consumen de Europa y entre los primeros del mundo. Además, salvo este año, el nivel de consumo se incrementa progresivamente.Para satisfacer esta demanda existen 13 embalses, con una capacidad superior a 900 hectómetros cúbicos, por lo que, en un año normal, el agua almacenada es bastante superior a las demandas de la población, vertiéndose, por tanto, agua de los embalses. Sin embargo, en algunos años secos, el volumen de agua obtenido es inferior a la demanda, siendo estos años en los que los promotores de embalses y otras grandes infraestructuras presionan para la construcción de otros nuevos. Éstos producen, en general, un enorme impacto ambiental, al destruir valles completos, con su vegetación y su fauna, así como un enorme impacto social, al destruir pueblos y amplias extensiones de tierras de cultivos. Si las carreteras y autovías hubiese que dimensionarlas para los días y horas punta, deberían tener cada una 20 carriles o más. Igual de absurdo es diseñar un sistema de embalses de cara a los años o meses más secos del siglo…

Outros artigos

- https://elpais.com/diario/1992/06/22/espana/709164019_850215.html

- https://elpais.com/diario/1992/05/11/madrid/705583463_850215.html

- https://www.eldiario.es/opinion/zona-critica/reutilizacion-aguas-residuales-depuradas-oportunidades-riesgos_129_9290842.html

- https://www.eldiario.es/opinion/zona-critica/aguas-subterraneas-ignoradas-maltratadas-abandonadas_129_9218873.html

- https://www.eldiario.es/opinion/zona-critica/reforma-ley-minas-gran-oportunidad-perdida_129_9143369.html

- https://www.eldiario.es/opinion/zona-critica/macroproyectos-amenazan-pirineo-aragones_129_9052923.html

- https://www.eldiario.es/opinion/zona-critica/construyen-embalses-innecesarios_129_8992214.html

- https://www.eldiario.es/opinion/zona-critica/descontrol-gestion-agua-espana-continua_129_8849182.html

- https://www.eldiario.es/opinion/zona-critica/gestion-agua-espana-sigue-desarrollista-e-insostenible_129_8711970.html

- https://www.eldiario.es/opinion/zona-critica/incidencia-ambiental-social-macrogranjas_129_8663423.html

- https://www.eldiario.es/opinion/zona-critica/vuelta-naturaleza-ciudades-traves-rios_129_8381682.html

- https://www.eldiario.es/opinion/zona-critica/hay-fomentar-consumo-agua-grifo_129_8190898.html

- https://www.eldiario.es/opinion/tribuna-abierta/inutilidad-grandes-embalses_129_2149603.html

O exemplo do golfe, em Espanha

Quando se fala em escassez de água e do uso e abuso deste recurso é inevitável recorrer a um exemplo elucidativo que vem de Andaluzia onde estão instalados 109 campos de golfe que representam um quarto do total nacional.

Um metro quadrado de espaço arrelvado num campo de golfe consome entre 1500 a 2000 litros de água por ano em regiões secas como a Andaluzia. De tal forma que um campo de golfe de 18 buracos consome o equivalente a uma população entre 10.000 e 15.000 habitantes, segundo o cálculo oferecido por Santiago Martín Barajas, engenheiro agrónomo e ambientalista andaluz.

Os 109 campos de golfe “gastam o mesmo que uma população de mais de um milhão de pessoas por ano” realça. O relatório dos Planos Hidrológicos espanhóis 2022-2027, revela que o golfe consome cerca de 2% do consumo total de água na Andaluzia na “mais importante concentração de campos de golfe do mundo”, diz ainda o documento.

https://www.publico.pt/2022/09/20/azul/noticia/chegou-outono-guerra-agua-espanha-vista-2021191

Ajudar o Governo a encontrar o rumo certo.

Aníbal Cavaco Silva

Publico

30 de Setembro de 2022


É fundamental que os partidos da oposição, as instituições da sociedade civil e a comunicação social contribuam para que o primeiro-ministro e o Governo saiam da situação de imobilismo e encontrem um rumo que permita que Portugal volte, dentro de 10 anos, à 15.ª posição em termos de desenvolvimento entre os 27 países da União Europeia em que se encontrava em 2002, depois de ter caído nos anos recentes para o 21.º lugar.
Em Abril deste ano escrevi que, ao fim de seis meses de vida do Governo de maioria absoluta do PS, talvez já existisse informação objectiva que possibilitasse uma avaliação da sua coragem política para fazer as reformas decisivas para colocar a economia portuguesa numa trajectória de crescimento sustentável superior à dos países da União Europeia nossos concorrentes. Tal é indispensável para que Portugal deixe de ser um país de salários mínimos, com uma classe média empobrecida, pensões de reforma que não permitem uma vida digna e serviços públicos de saúde e educação de baixa qualidade.
Passados seis meses, não posso deixar de concordar com Ricardo Reis, um dos economistas portugueses mais respeitados internacionalmente, quando afirma que o Governo, “apesar de todas as promessas, continua sem anunciar uma verdadeira reforma cuja intenção seja abanar a economia”.
O Governo, pelo contrário, tem sido abundantemente qualificado na comunicação social como um conjunto desarticulado e desorientado de ministros desgastados, sem rumo, sem ambição e vontade reformista, um governo à deriva navegando à vista.
A situação é tanto mais preocupante quando existem estudos sobre as reformas que devem ser feitas para colocar o país numa rota de crescimento económico e melhoria do nível de vida dos portugueses promovidos por instituições credíveis, como a Fundação Calouste Gulbenkian, a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a Sedes.

Seria normal que um Governo de maioria absoluta, confrontado com a trajectória de empobrecimento relativo em que o país se encontra, adotasse como uma das suas primeiras prioridades o desenvolvimento de uma estratégia reformista de médio e longo prazo, o que se justificava ainda mais pela pandemia e a guerra na Ucrânia.

É do interesse colectivo que ocorra com urgência uma mudança de atitude do Governo do PS, na medida em que se prevê que se mantenha em funções até 2026. A possibilidade de essa mudança se verificar depende muito do primeiro-ministro e do Conselho de Ministros. A sua acção é decisiva para a qualidade da governação.

Ao primeiro-ministro cabe um papel chave: liderar a política geral do executivo e coordenar, orientar e estimular a acção dos ministros no sentido da realização dos objectivos definidos e garantir a coerência das políticas.

Por outro lado, é igualmente importante a credibilidade do Conselho de Ministros como o centro do processo político de decisão, por onde devem passar todas as grandes decisões e onde se consolida a convergência de posições e o princípio da solidariedade governamental, devendo o primeiro-ministro reservar para si o controlo da respectiva agenda.

No entanto, há hoje o receio de que os comportamentos politicamente reprováveis de alguns membros do Governo que, a par do caos no funcionamento do Serviço Nacional de Saúde, têm marcado a vida do executivo, possam tolher a acção do primeiro-ministro e do Conselho de Ministros e acentuar a sua tendência para a inércia.

Dois deles não podem ser levados à categoria de fait-divers, por aquilo que revelam de negativo para a visão reformista que ao Governo se exige.

Por um lado, a gravidade da afronta política do ministro das Infra-estruturas ao primeiro-ministro sobre a questão do novo aeroporto de Lisboa. Quem já exerceu essa função sabe que o primeiro-ministro não podia deixar de demitir o ministro. Ao não fazê-lo, evidenciou falta de força política – a razão é ainda uma incógnita –, pondo em causa a sua autoridade e, ao mesmo tempo, atingindo a credibilidade do Conselho de Ministros e o respeito pela colegialidade que o deve caracterizar. O ministro, por sua vez, saiu inequivocamente reforçado como candidato à sucessão do primeiro-ministro como líder do PS.

O segundo comportamento politicamente reprovável teve como protagonista a ministra da Agricultura. Ao ser confrontada com a crítica da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) sobre a falta de apoios públicos perante a seca extrema que afetava o país afirmou publicamente: “É melhor perguntar porque é que, durante a campanha eleitoral, a CAP aconselhou os eleitores a não votar no PS”.

Tratou-se de uma declaração inqualificável e a crítica vinda dos mais variados quadrantes foi, em geral, direcionada à pessoa da ministra e centrada na sua falta de bom senso político, uma qualidade da maior importância para um membro do Governo, a par da capacidade de relacionamento com a sociedade civil, como escrevi em devido tempo.

A gravidade da declaração da ministra vai, no entanto, para além da sua pessoa, ao contrário da falta de bom senso revelada pela secretária de Estado da Administração Interna ao afirmar, perante o drama dos fogos florestais, que, segundo os algoritmos, “ardeu 70% do que era suposto arder” ou da ministra da Presidência que, face ao incêndio que devastou cerca de 25% do Parque Nacional da Serra da Estrela, ao anunciar um plano de recuperação dos estragos, afirmou que a serra iria “ficar melhor do que estava”.

Todavia, não deixa de ser preocupante o alastramento da falta de bom senso político entre os membros do executivo como se tem vindo a verificar.

As palavras proferidas pela ministra da Agricultura não podem deixar de reflectir uma convicção enraizada na sua mente de que os apoios financeiros do Governo ao sector privado devem ser orientados prioritariamente para os apoiantes do PS e para aqueles que se abstêm de criticar o executivo. É razoável presumir que uma tal convicção só pode resultar da cultura política por ela apreendida nas reuniões do Conselho de Ministros.

A resposta da ministra às críticas da CAP é, portanto, particularmente grave e perigosa por aquilo que pode revelar de arbitrariedade e abuso do poder por parte do Governo e, consequentemente, negativa para a definição e implementação de uma estratégia reformista indispensável ao crescimento económico e aumento da produtividade. E não haja ilusões de que, sem isso, Portugal continuará a ser um país de salários baixos e classe média empobrecida em que os jovens qualificados e empreendedores fogem para o estrangeiro. Se assim for, no final da década a imprensa continuará a lamentar que Portugal seja um dos países da União Europeia com maior risco de pobreza ou exclusão social, como aconteceu há duas semanas.

Nestas circunstâncias, é fundamental que os partidos da oposição, as instituições da sociedade civil e a comunicação social contribuam para que o primeiro-ministro e o Governo saiam da situação de imobilismo e encontrem um rumo que permita que Portugal volte, dentro de 10 anos, à 15.ª posição em termos de desenvolvimento entre os 27 países da União Europeia em que se encontrava em 2002, depois de ter caído nos anos recentes para o 21.º lugar.

Os partidos da oposição, através de propostas consentâneas com aquele objectivo e de um escrutínio intenso do Governo, denunciando erros, omissões, mentiras e a prática do PS de vetar a chamada de ministros às comissões parlamentares.

As instituições da sociedade civil, através da evidência das consequências para o futuro do país da ausência de uma política de reformas estruturais ambiciosa e persuadindo o Governo a mudar de rumo.

A comunicação social, através de um escrutínio da acção do Governo para além da respiração do dia-a-dia, num quadro de verdade e de independência em relação ao poder político que a deve caracterizar.

Se o fizerem, os portugueses e eu, em nome dos meus filhos e netos em particular, temos razões para lhes estarmos profundamente gratos.

https://www.publico.pt/2022/09/30/opiniao/opiniao/ajudar-governo-encontrar-rumo-certo-2022306

sábado, 24 de setembro de 2022

Supremo do Brasil suspende censura a reportagem sobre imóveis de Bolsonaro.

E o outro é que era corrupto, ou ainda é, como diz o povo.


Decisão ordenava ao portal de notícias UOL que retirasse a reportagem da Internet, depois de um pedido do senador Flávio Bolsonaro, um dos filhos do chefe de Estado.

O tribunal supremo do Brasil suspendeu na sexta-feira a decisão judicial que proibiu uma reportagem sobre o uso de dinheiro vivo por parte do Presidente brasileiro e da sua família para comprar 51 propriedades, classificando-a de censura.

A decisão que ordenava ao portal de notícias UOL que retirasse a reportagem da Internet ficou sem efeito por decisão do magistrado André Mendonça, um dos membros do Supremo Tribunal Federal (STF), em resposta a um recurso apresentado pelo meio de comunicação censurado.

“No Estado Democrático de Direito deve ser assegurado aos brasileiros de todos os espectros político-ideológicos o amplo exercício da liberdade de expressão. O cerceamento a esse livre exercício, sob a modalidade de censura, a qualquer pretexto ou por melhores que sejam as intenções, não encontra guarida na Constituição Federal”, escreveu o magistrado na sentença, reconhecendo assim que a decisão anterior configurava uma forma de censura.

A sentença do tribunal supremo foi anunciada na noite de sexta-feira, poucas horas após a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal de Brasília obrigar o UOL a retirar as reportagens, provocando críticas de diversos organismos de defesa da liberdade de expressão.

A medida tinha sido ordenada pelo juiz Demetrius Gomes Cavalcanti, do Tribunal do Distrito Federal de Brasília, em resposta a um pedido do senador Flávio Bolsonaro, um dos filhos do chefe de Estado, Jair Bolsonaro, causando revolta em vários setores da sociedade brasileira que classificaram a decisão de censura.

O juiz justificou a sua decisão cautelar pela “proximidade do processo eleitoral em que o pai do peticionário concorre a um cargo público de notória expressividade e a continuidade da divulgação dos referidos assuntos trará, não só aos familiares mas também ao candidato, danos à sua imagem e honra”.

Bolsonaro aspira a ser reeleito nas eleições de 02 de outubro, mas as sondagens colocam-no em segundo lugar, com cerca de 33% dos votos, atrás do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, favorito com cerca de 47%.

Depois de analisar 107 transações imobiliárias realizadas por Bolsonaro, seus filhos, suas ex-mulheres e seus irmãos desde 1990, o portal identificou que 51 propriedades foram adquiridas totalmente, ou parcialmente, em dinheiro.

Segundo a reportagem, 13,5 milhões de reais (cerca de 2,6 milhões de euros) em dinheiro foram utilizados para adquirir estas propriedades, que em valores atualizados ascenderiam a 26,6 milhões de reais (cerca de 5,1 milhões de euros).

O portal argumenta que, embora as transações em dinheiro não sejam um crime, podem destinar-se a dificultar a localização de montantes provenientes de fontes ilegais.

Num comício na sexta-feira à noite, Bolsonaro referiu-se à reportagem do UOL como “calúnia” e afirmou defender a liberdade de imprensa.

“Covardia. Covardia com a minha família, com a minha mãe já falecida. Esperar o quê do grupo Folha/UOL, a não ser mentira, calúnia”, disse o Presidente brasileiro, acrescentando: “Eu defendo a liberdade de imprensa mesmo sendo atacado. O outro lado quer controlar a mídia”.

Segundo a sentença do juiz que ordenou a retirada, parte dos dados constantes da reportagem vetada pelo tribunal foi obtida de forma irregular.

Isto porque algumas das informações utilizadas pelo UOL provêm de investigações realizadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro contra os filhos do Presidente, Carlos e Flávio Bolsonaro, por alegadas irregularidades na compra de bens imobiliários, parte das quais foram anuladas pelo sistema judicial por fazerem parte do segredo bancário.

Para o portal, que recorreu para o supremo, a decisão do juiz extrapola e procura evitar o debate político uma semana antes das eleições presidenciais.

Supremo do Brasil suspende censura a reportagem sobre imóveis de Bolsonaro – Observador

Um aluno plantou um “oásis” de biodiversidade dentro da escola. Agora, não resta quase nada. Os “miseráveis” continuam a mandar…

O típico miserabilismo, que grassa em larga medida no ministério da educação, com o apoio das direcções escolares, sindicato dos professores e outros…que de uma forma mesquinha, tratam de muitos assuntos, tal como este, que se segue, exposto no Publico. Nem a coragem de enfrentar os jornalistas tem e estão á frente de uma escola, será que são capazes, para o exercício das funções?

Recordo também o que se passou há uns anos numa escola de Curral de Freiras, na Madeira, em que o director cometeu vários crimes, segundo Sílvia Carvalho é(ra) professora de Filosofia do ensino secundário na Madeira e foi requisitada para ser a instrutora do processo disciplinar que o governo regional abriu contra Joaquim Sousa.. Numa zona isolada da ilha da Madeira, a Escola Básica Curral das Freiras (concelho de Câmara de Lobos) passou de uma das piores do país para a escola pública com melhores resultados académicos a Português em 2015. Tudo graças ao empenho do professor Joaquim Sousa. No continente, este é o homem conhecido por ser o professor que transformou uma das piores escolas do país numa das melhores e a seguir foi despromovido. Joaquim José Sousa transformou a escola do Curral das Freiras numa instituição modelo, mas foi suspenso e esteve seis meses sem ordenado. Chegou a viver na pobreza. Em Dezembro de 2019, o tribunal deu-lhe razão. A escola fechou, passou para outro agrupamento, etc., etc. a mesquinhez, inveja etc. predominou!!!

Voltando a este caso

Guilherme Ramos, 17 anos, passou os últimos dois anos a recuperar um espaço verde na sua escola secundária.

No início do ano lectivo, encontrou-o praticamente destruído após uma limpeza intensiva do espaço, sem aviso prévio.

Guilherme, para quem o activismo é “pôr as mãos na terra”, fala de uma geração desligada da natureza, em que a escola podia ser o elo de ligação.

Há dois anos, quando Guilherme Ramos entrou pela primeira vez na Escola Secundária D. Pedro V, em Lisboa, lançou-se sozinho numa ronda pelos espaços verdes da escola. Estavam todos “estragados”, recorda, referindo-se à pobreza em termos de vegetação. Mas nas traseiras do pavilhão desportivo, Guilherme encontrou algo diferente.

“Era um espaço ao abandono, mas não tinha tantas Oxalis pes-caprae”, explica, referindo-se às plantas invasoras conhecidas como azedas ou trevos amarelos. “Levantei uma tábua e vi uma quantidade absurda de espécies. O que é que se passa neste sítio?”, pensou. “Nem pensar que vou deixar isto perder-se!” Nos dois anos que se seguiram, Guilherme foi um aluno com uma missão: restaurar a fauna e a flora de um espaço triangular de 455m2 e transformá-lo numa sala de aula ao ar livre.

Este ano, Guilherme regressou à escola uma semana antes do arranque das aulas do curso profissional de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos. “Estava à espera de encontrar mais animais, uma data de plantas em flor”, diz. Em vez disso, encontrou um corte intensivo do que ali havia.

“Um trabalho de dois anos que já não existe. Havia abrigos destruídos, tudo o que havia no lago encontrava-se morto”, explica. “Até plantas protegidas por lei foram cortadas”, diz, referindo-se à gilbardeira, um arbusto relativamente comum nas florestas mas cuja colheita na natureza está proibida na Europa, pela Directiva Habitats.

“Vi plantas que deveriam estar em flor este ano cortadas no chão, com uma semana ou duas de corte. Cebola albarrã, pulicária, suspiros-roxos.” Este seria o ano em que o projecto de conservação de biodiversidade autóctone se iria consolidar, abrindo a visitas a outras escolas e organizações. Guilherme tentou perceber o que aconteceu junto da direcção da escola, mas sem sucesso.

Até à data de publicação desta reportagem, o PÚBLICO não conseguiu estabelecer qualquer contacto com o estabelecimento de ensino. O pai de Guilherme endereçou uma carta ao director, à Direcção-Geral de Educação e ao Departamento de Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa. Até hoje, não sabem quem limpou a área daquela forma, nem porquê. “O espaço estava organizado, algumas árvores estavam crescidas. Alguém chegou com uma roçadora e…”, conta o pai, Eduardo Ramos.

Guilherme mostra-nos dezenas de fotografias do espaço antes deste mês de Setembro: nelas é visível vegetação diversa, organizada por áreas de plantação, um pequeno caminho de pedras. Existia até um pequeno lago, abastecido por um reservatório de 200 litros, colocado estrategicamente junto a uma zona com sombreamento, para o tornar mais resistente a períodos de grande calor. No total, Guilherme terá investido do seu bolso cerca de 200 euros na recuperação daquele espaço verde: “Em vez de gastar dinheiro num videojogo, gastei num tanque de água, na estrutura para fazer um lago, em pedras.”

Poderia o que havia ali ter simplesmente secado durante o mês de Agosto? “Não faz sentido o espaço estar naquele estado porque secou. Onde estão as plantas secas?”, questiona Guilherme. “Pelas fotografias percebe-se que houve intervenção humana”, acrescenta David Avelar, biólogo e investigador em adaptação e alterações climáticas na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). Para o pai, Eduardo, cabia à escola a responsabilidade pela preservação daquele espaço. “Podiam mostrar às crianças — não num quadro, não num slide —, olhem, reparem, tem este cheiro, é importante para este insecto sobreviver. Nós dependemos directamente da natureza, mas os jovens não sabem isso”, lamenta.

Um activismo de “pôr as mãos na terra"

Ao longo dos dois anos de projecto, Guilherme conseguiu mobilizar professores e colegas, sobretudo na fase inicial de limpeza do espaço. “Desenterrou-se um Alcatel (telemóvel), pedaços de uma sanita, pacotes de embalagens. Estava ‘intragável’”, recorda.

Apresentou à direcção da escola um plano detalhado de recuperação do espaço. “Não foram muito cooperativos, mas nunca disseram que não”, conta. “Arranjei colegas, sensibilizei-os, fiz trinta por uma linha. Cheguei a dar aulas com uma semente, por exemplo.” Marcou-o o dia em que percebeu, por exemplo, que metade da turma não sabia o que era um pinhão. “Levei uma caixa de pinhões, descasquei um e um colega perguntou: ‘Mas isso come-se?’”

A “limpeza” do espaço deixou a comunidade escolar surpreendida. “Fiquei extremamente desagradado porque os jovens empenharam-se”, refere Luís Pires, professor de Português e director de turma de Guilherme no ano lectivo passado. Chegou a falar com o director de curso da área deles para saber mais, mas não obteve resposta. “Projectos como este vão ao encontro do que o próprio Ministério da Educação quer. No sentido de os miúdos não só aprenderem de forma desgarrada, mas apoiá-los de forma concreta”, explica Luís Pires.

Conseguir aguçar a curiosidade dos colegas de escola para a importância de plantas e insectos em todo o ecossistema foi uma das grandes vitórias de Guilherme. Por norma, vê jovens da sua idade com os olhos presos aos ecrãs dos telemóveis, desligados da natureza e do ambiente à sua volta. “Não sou uma pessoa social”, confessa, “costumo ficar no meu cantinho a fazer”.

O activismo que conhece é o de “pôr as mãos na terra” e passar conhecimento. “Tentar fazer com que as pessoas se liguem mais na natureza é o que tem de se fazer para o ponto de viragem.”

Foi isso que aconteceu com Mirissa da Silva, 17 anos, colega de turma de Guilherme. “Aprendi a dar valor à natureza. Eu não fazia isso”, conta. “Não havia outro lugar onde eu tivesse esse incentivo, foi neste projecto da escola”, confessa. “Fiquei triste porque o Guilherme lutou muito para construir aquele espaço. Quando saíamos mais cedo, ele ia para lá sozinho, dava o máximo para ter o projecto feito.”

“Foram dois anos de muito trabalho”, insiste o pai de Guilherme. “Ele chegou a casa encharcado, queimado do sol, sujo. Desde muito jovem que vê o filho dar uma atenção desmedida ao mundo natural que o rodeia: “Os olhos dele são incríveis, vêem coisas que eu não vejo, só com uma lupa.” Mas nem sempre isso foi positivo. Noutras escolas, foi muitas vezes o “esquisito, o estranho”, que chegou a ser “achincalhado” por ter explicado que o que havia nas pedras da praia eram algas e não musgo.

Na Escola Secundária D. Pedro V, Guilherme começava a sentir-se valorizado. O antigo director de turma destaca o espírito de liderança do aluno, que dava “palestras sobre animais, plantas e ecossistemas”. Na acta de uma reunião final de conselho de turma ficou até registado um louvor à turma e a Guilherme pelo empenho no projecto de conservação.

“Há alunos que acabam por ter um insucesso escolar porque não se sentem bem. Parece que só existe Português, Física, ou Matemática e se calhar até podíamos ter excelentes biólogos. A escola não puxa vocações”, nota Eduardo Ramos. “Aquilo de que muita gente às vezes tem medo eu transformo em curiosidade. Não sei o que é, vamos tentar descobrir”, diz Guilherme.

Um “visionário não entendido”

A par da recuperação do espaço físico, Guilherme criou a ACEV — Associação de Conservação dos Espaços Verdes, que, apesar de ainda não estar constituída formalmente, já tem trabalho feito: 181 espécies de flora autóctone listadas no projecto de conservação e mais de 360 espécies de animais identificadas e partilhadas na plataforma iNaturalist, que reúne registos de uma comunidade de mais de um milhão de cientistas e naturalistas.

No ano passado identificou mesmo uma nova espécie de insecto para a fauna portuguesa, a Nemausus sordidatus. O feito ficou registado num artigo científico que escreveu em parceria com o curador de entomologia do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.

“Este ano, possivelmente, conseguiríamos chegar às 600 espécies”, diz Guilherme, desolado com o cenário que agora tem à frente. A frustração levou-o a detalhar os estragos num minucioso relatório, que na altura enviou à prima Sandra Antunes, bióloga especializada em ecologia. “Estação 1.1, Secção C: Vegetação totalmente cortada, cobertura vegetal raspada; Estação 1.2: Destruição de flora rara, com ecologia muito específica e dos locais adjacentes.”

“Precisamos desesperadamente destes pequenos espaços verdes”, defende Sandra Antunes. “Para o nosso bem-estar e por causa das alterações climáticas. Dependemos da biodiversidade, os insectos proporcionam serviços do ecossistema valiosos, que se tivéssemos de os pagar… Como a polinização”, explica. “Na China já há pessoas com pincéis a polinizar plantas. Não é isto que queremos.”

“Aquela escola destruiu um local de aprendizagem”, diz-nos o biólogo David Avelar. “É um contributo gratuito e voluntário de um jovem que não está a ser valorizado. Há escolas que pagam para ter este tipo de projectos.”

David Avelar foi um dos fundadores da Horta da Faculdade de Ciências e coordena o projecto FCULresta, uma minifloresta urbana que substituiu um relvado no espaço da faculdade. É ele quem nos fala de um movimento educativo que tem ganhado força na Europa, o Inquiry-Based Science Education, que privilegia a experiência directa como base da aprendizagem da ciência.

E a procura é muita, afirma David Avelar, que recebe na FCUL vários pedidos de apoio a projectos de promoção de espaços verdes e biodiversidade em contexto escolar. “Não conseguimos dar resposta a todos.” No projecto de Guilherme, diz o investigador, “foi o aluno que o fez de forma autónoma, sem saber que o estava a fazer de uma forma tão avançada. O Guilherme é um visionário não entendido”.

“A escola é um local de aprendizagem, ponto”, assevera Guilherme. “Mas é para aprender sobre tudo.” Fala em “luto” quando se refere ao que perdeu. “Foi um bocado de mim que se foi, ficou um buraco que não sei como se enche.” No dicionário não encontra palavras que descrevam o que sente.

No dia em que viu o espaço destruído telefonou à mãe, mas não conseguiu falar. As últimas semanas têm sido passadas a “recuperar um projecto de recuperação”, a fazer novas plantações, a reconstruir o pequeno lago que servia plantas e animais, a controlar plantas invasoras que entretanto apareceram.

Quando as aulas começaram, os colegas apressaram-se a tirar fotografias com o telemóvel. “Não queriam acreditar”, conta Guilherme. “Ao início era uma zona destruída, ficou uma zona agradável para se estar, bonito, com diversidade de plantas e insectos. Estava a ficar bué giro”, diz Mirissa. “Dava orgulho saber que fiz parte disso.”


Alerta CM: chantagem do Império – ‘Página Um’

Rishi Sunak ou Liz Truss: um destes nomes será o sucessor de Boris Johnson É UMA HISTÓRIA VELHA COMO O MUNDO:

Em muitos momentos ‘intermitentes’ da história do mundo é a FORÇA que impera, diga a lei o que diga (onde é que eu já ouvi uma frase parecida, construída precisamente com o mesmo ‘conhecimento’ da nossa língua?). Ih ih ih…

Eis um dado que pode ser importante para a análise do artigo anexo (ou talvez não):

O autor do artigo anexo é engenheiro de desenvolvimento de software na empresa EcarX (na Suécia) que is transforming vehicles into seamlessly integrated information, communications and transportation devices. It is shaping the interaction between people and cars by rapidly advancing the technology at the heart of smart mobility.

Talvez ele não saiba (claro que sabe, claro que sabe, mas não se importa) mas a empresa é ...CHINESA.

E a reputação e o historial das empresas chinesas leva-nos a estar descansados relativamente a ‘BIG BROTHER IS WATCHING YOU’, quer estejamos a falar em 5G ou em software para veículos automóveis, NÃO É?

M

Mas o artigo é interessante de ler.

Desejo-vos um bom fim-de-semana!


António Franco Preto 24-09-2022

-------------------------------------------------------------- --------------------------------------------

Enquanto vou conduzindo para a Suécia (sim, sou um emigrante old school que ainda não se converteu aos aviões), vou pensando nesta coisa dos bluffs políticos.

Não precisamos deles para vender jornais e fazer Alertas CM, mas depois exigimos que o bluff seja mesmo bluff, porque o contrário atrapalha-nos mais a vida.

Confusos? Também eu. Mas vamos aqui pensar em círculo como se estivéssemos numa reunião dos A.A.

Quando Putin disse que a NATO se estava a aproximar do quintal, ninguém quis saber, porque, obviamente, ele não teria coragem de largar uns mí­sseis. Afinal, a Rússia estava decrépita e refém de uma pequena economia…

Reparem que nesta discussão importa pouco o que é propaganda ou realidade. Até se dá de barato a argumentação utilizada, que todos percebemos ser apenas uma desculpa para um braço-de-ferro entre impérios. Ou vá, um I’m back à disputa do domínio mundial, versão Kremlin.

O que quero para já reter desta conversa é que ele, Putin, avisou que as negociações da Ucrânia com a NATO teriam consequências. E tiveram. Julgo que ao fim de sete meses, milhares de mortos, uma pazada de refugiados e várias taxas de juro depois, podemos todos concluir que aquele lunático não estava a brincar.

Agora, enquanto se prepara um referendo para anexação de partes do Donbass que, já todos vimos, fará parte da narrativa seguinte de “ataques em solo russo” para justificar o uso de armas nucleares, volta a história do bluff.

Ouvi ontem na CNN, RTP e SIC, diversos analistas com uma ideia comum: Putin não terá coragem de despejar uma bomba atómica. Até ouvi, de boca um pouco mais aberta, que, quando muito, faria umas explosões nucleares controladas. Umas cargas mais pequenas, pelo desprezo da descrição, ali umas coisinhas de carnaval sem aquele cheiro a bufa.

Não sou grande jogador de póquer e não arrisco análises sobre intensidades de bluffs, mas fico sempre espantado com a ligeireza com que se julgam as palavras de um gajo que já não tem nada a perder. Ou que, como provam estes sete meses, não é grande jogador de cartas e parece não ter grande vontade para recuar.

Se ele diz que a Rússia tem o maior arsenal nuclear do Mundo (é factual esta parte, espero não estar a dar uma grande novidade), e que o usará em caso de ataque em território nacional (que daqui a umas semanas terá uma parte do Donbass), porque insistimos nós na conversa do bluff? Ainda não morreu gente suficiente?

Putin disse no seu discurso à Nação que, caso o Ocidente continuasse a fornecer armas à Ucrânia, o conflito tenderia a escalar e passariam ao nível de armamento seguinte. A corja de velho encabeçada por Biden disse logo que, tudo bem, ele que venha que a NATO continuaria a fornecer a Ucrânia. O que se percebe.

O cheiro a churrasco de uma ogiva em Kiev, em princí­pio, não atrapalha o aroma de um barbecue em Washington e, nesse sentido, Biden até vê com bons olhos pedrada da grossa no Leste europeu. Isso transformado em venda de armas, energia para a Europa ou, até, enfraquecimento do contrapoder russo, é Chopin para os ouvidos do Biden. Mas em piano, note-se, não violino como o Santana Lopes pensava existir… 

Li uma crónica com um argumento que me pareceu também fazer sentido. Dizia que não podemos ceder à chantagem do nuclear porque, desde Fevereiro, sempre esteve em cima da mesa e, seguindo esse raciocínio, estarí­amos sujeitos a que qualquer potência nuclear invadisse territórios quando bem lhe apetecesse. Concordo, em absoluto. Agora, o Alerta CM aqui é que (rufem os tambores!) já é assim que o Mundo funciona. Estão a ver essa parte?

Quando os Estados Unidos decidem invadir o Afeganistão porque uns sauditas lhes rebentaram dois prédios, fazem-no porque… podem. Quem é que se vai meter em frente daquele arsenal e dizer: “olha­, tentem antes o diálogo!”.

Se os israelitas carregados de armas nucleares ocupam territórios há 70 anos é porque, lá está, têm poder bélico para isso.

Se os kosovares arranjaram um paí­s podem agradecer a uma “força de defesa”, por acaso também nuclear, que bombardeou os sérvios (pela paz, eu sei!).

A guerra civil na Sí­ria terminou quando uma potência nuclear entrou no conflito e a outra, que apoiava os rebeldes, achou melhor recuar.

A Líbia derrubou o regime quando um exército mais poderoso invadiu o território sem que ninguém lhe fizesse frente.

O Tibete deixou de ter voto na matéria quando um dos maiores exércitos do Mundo achou que era tempo de anexar.

Os curdos não conseguem definir fronteiras porque ninguém se atreve a confrontar um exército com o poderio do turco.

Ou seja, em resumo, desde o império romano, passando pelo Alexandre o Grande, vikings, os mongóis no século XIII e a armada invencível espanhola, no século XXI ainda é a força que dita leis.

Espero continuar no domínio do banal e não estar a trazer novidades a ninguém. Portanto, quando se diz que não vamos ceder à chantagem do nuclear a minha resposta é, vamos. Vamos pois. Aliás, não temos feito outra coisa ao longo dos séculos. Manda quem a tem maior, neste caso ogiva.

Claro que me poderiam dizer: “ó Tiago, mas o Putin é um imperialista do pior, bem pior do que os outros a que já nos habituámos a obedecer e não podemos deixar passar; há que ficar na miséria e torrar tudo na Ucrânia”. Ora, vam’lá a ver: pessoalmente, o Putin mete-me tanto asco como qualquer parceiro europeu que lhe andou a apertar a mão (ou que ainda apertam dentro da União Europeia, seria engraçado discutirmos isso um dia). E as guerras criadas pelo imperialismo russo prejudicam-me tanto como as guerras financiadas ou criadas pelo império americano.

As tangas que usam para as invasões são essencialmente as mesmas, embora o marketing americano seja melhor. Por exemplo, no Iraque, estivemos ali até à última para saber se apareciam as armas de destruição maciça ou não. Parecia o fim de uma novela na TVI e aquela incerteza de quem casa com quem.

Já o disse várias vezes que se tiver que abdicar da minha vida, pelo menos quero escolher a causa. E se o objectivo é empobrecer e comprometer o futuro de uma geração para libertar outros povos e mostrar solidariedade, então, se não se importam, eu gostaria de começar por quem sofre opressão não há sete meses, mas sim há 70 anos.

Querem os poderes mundiais continuar a combater uma guerra até ao último ucraniano, paga pelo endividamento dos europeus? Muito bem. Suspendam os pagamentos dos créditos bancários e metam as taxas de juro no… ia escrever aquela palavra com duas letras, a primeira um C e a última a quinta vogal do abecedário, mas isto é um jornal de respeito.

Já nos basta a inflação e a perda de salários reais que, como qualquer economista vos dirá em 75 palavras e termos técnicos, corresponde ao empobrecimento geral das populações.

Portanto, se chegamos aqui praticamente de joelhos, sugeria que, quando outro maluco fala em bombas nucleares, façam o favor de não usar metáforas com jogos de casino como se isto fosse lá longe.

Não é. Nem longe e, provavelmente, nem bluff.

Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

10 curiosidades sobre o Mosteiro de São Vicente de Fora.

1 – Coração e Vísceras dos Reis debaixo do chão

A partir do reinado de D. Pedro II, institucionalizou-se a prática de embalsamamento dos corpos dos monarcas, que visava preservar o corpo após a morte e implicava o retirar dos órgãos internos. Por uma questão de respeito aos monarcas falecidos, evitava-se o descarte dos órgãos. Em vez disso, o coração e as vísceras de alguns reis e consortes da dinastia de Bragança foram guardados em vasos de porcelana chinesa e enterrados no chão da Capela dos Meninos de Palhavã, onde ainda hoje se encontram. As análises realizadas aos intestinos de D. João VI, revelaram que o rei morreu envenenado por arsénico.

2 – Santo António estudou no Mosteiro de São Vicente de Fora

Antes de ser monge franciscano, Santo António de Lisboa foi um Cónego Regrante de Santo Agostinho, ordem monástica que habitou o Mosteiro de São Vicente de Fora. Nascido em frente à Sé de Lisboa, onde iniciou os seus estudos, Fernando de Bulhões, futuro Santo António, foi para São Vicente de Fora para se dedicar a uma vida de oração. Contudo, a proximidade da família e dos amigos levaram a que o Santo fosse para Coimbra, para ter menos distracções. Hoje, no Mosteiro, encontra-se a Capela de Santo António que está a marcar o lugar onde se pensa ter sido a sua cela.~

3 – Erros históricos no painel de azulejos da Conquista de Lisboa aos Mouros

A sala da Portaria do Mosteiro ostenta uma magnífica colecção de azulejos da autoria do mestre Manuel dos Santos. O painel mais impressionante e detalhado retracta a conquista da cidade de Lisboa aos Mouros por D. Afonso Henriques no ano de 1147. No entanto, Manuel dos Santos, que fez os azulejos no século XVIII, desconhecia como era a realidade no tempo do primeiro rei de Portugal e acabou por cometer uma série de erros: pintou a Sé de Lisboa, quando ela ainda não existia, e galeões a transportar cruzados. Para além de tudo, D. Afonso Henriques surge trajado como cavaleiro da Época Moderna, segurando um escudo com o brasão de armas de Portugal…antes deste existir. No tempo de D. Afonso Henriques, o símbolo de Portugal não era ainda o escudo, mas sim uma cruz azul sobre fundo branco.

4 – Túmulos descobertos por debaixo do chão da Sacristia

O soalho da Sacristia do Mosteiro é extremamente frágil, isto porque assenta sobre um antigo cemitério medieval.Foram descobertos túmulos antropomórficos esculpidos em pedra e virados a nascente, conforme a tradição. Pensa-se que terão pertencido aos cruzados que auxiliaram D. Afonso Henriques na conquista da cidade de Lisboa aos mouros.

5 – Uma protecção muito especial contra terramotos

O Mosteiro de São Vicente de Fora não sofreu muitos danos com o terramoto de 1755. O tecto da Sacristia foi das poucas coisas que ruiu, na sequência da queda de uma cúpula no cimo da igreja. Por esta sala ter sido das poucas partes afectadas, quando foi ré-decorada recebeu uma pintura muito especial. Trata-se da pintura “A Virgem com o Menino e os Santos” da autoria de André Gonçalves. O santo em maior destaque que se encontra a oferecer uma coroa à Virgem, é São Francisco de Borja, o santo que em Portugal é o protector contra terremotos. Foi pintado propositadamente para proteger a Sacristia contra catástrofes futuras.

6 – O Liceu Gil Vicente foi fundado no Mosteiro

Depois da extinção das ordens religiosas em 1834, o Mosteiro, já sem monges, teve vários usos, desde serviços administrativos até arquivos municipais. Em 1915 foi aqui fundado o primeiro liceu da República portuguesa: o Liceu Central de Gil Vicente, um dos mais prestigiados de Lisboa, que só iria abandonar o Mosteiro em 1949, quando mudou de instalações.

7 – A maior colecção de azulejos barrocos do país

O Mosteiro de São Vicente de Fora alberga a maior colecção de azulejos barrocos de Portugal e a segunda maior do mundo.São azulejos in situ, isto é, no seu local original, e correspondem às várias fases da azulejaria barroca portuguesa, desde o século XVII ao século XIX. O primeiro inventário foi feito em 1912 e contava com 120 mil azulejos, estimando-se que já cerca de 20 mil se teriam perdido ao longo dos tempos. Hoje desconhece-se o seu número exacto, mas estima-se que sejam mais de 100 mil.

8 – O lugar original das Fábulas de La Fontaine

Entre os muitos azulejos do Mosteiro, destaca-se a colecção permanente das Fábulas de La Fontaine: trata-se de 38 painéis de azulejos, cada um contendo uma fábula do autor francês do século XVIII. Muitos visitantes questionam sobre a proveniência dos painéis expostos. A verdade é que os claustros dos Mosteiro de São Vicente de Fora já foram fechados no passado. A revestir a parede interior encontravam-se os painéis com as fábulas de La Fontaine. São 38 painéis pois os claustros contam com 40 arcos, sendo que dois estavam abertos para circulação das pessoas, e os outros 38 estavam então fechados e revestidos no interior com estes painéis.

9 – D. Maria I e D. Pedro IV não estão no Panteão Real dos Bragança

O Mosteiro de São Vicente de Fora alberga o Panteão Real dos Bragança, última dinastia reinante em Portugal. Desde o fundador da dinastia, D. João IV, ao último rei de Portugal, D. Manuel II, passando por várias consortes, infantas e infantes, os únicos monarcas desta dinastia que não se encontram aqui sepultados são D. Maria I, que se encontra na Basílica da Estrela, mandada erguer por ela mesma, e D. Pedro IV, cujos restos mortais repousam em São Paulo, no Brasil.

10 – De fora das muralhas de Lisboa

O nome completo do mosteiro, Mosteiro de São Vicente de Fora, suscita sempre curiosidade. Porquê “de Fora”? Esta expressão remete-nos para a fundação do próprio mosteiro, há 873 anos atrás. Após conquistar a cidade de Lisboa aos mouros no ano de 1147, D. Afonso Henriques mandou erguer este mosteiro para cumprir a promessa que havia feito antes da tomada da cidade. A escolha do lugar para a construção da igreja e mosteiro recaiu sobre onde havia sido montado o acampamento de cruzados germânicos que auxiliaram o primeiro rei de Portugal. Por ficar do lado de fora das muralhas da cidade, o mosteiro recebeu a expressão “de Fora” no seu nome, que perdurou até aos nossos dias.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Inflação para Totós

Nossa majestade não vai duplicar as receitas dos seus cofres, apenas vai impor o maior aumento de impostos alguma vez visto em toda a história da nossa república.

Durante muitos anos, no reino de sua majestade, nunca se tinha ouvido falar em inflação. Podia acontecer num ano o preço do pão subir, porque tinha sido um ano mau para a produção de trigo, mas já o preço do vinho baixava, porque o ano tinha sido bom para a produção de uvas, enquanto que o preço das hortaliças e da fruta se mantinha, pois não tinha havido nada de anormal que afectasse a sua produção. Ou seja, os aumentos dos preços de uns bens eram compensados pelas diminuições dos preços de outros.

Mas eis que há dois anos sua majestade decide fazer uma troca de todas as notas e moedas que as pessoas tinham, por notas e moedas muito mais bonitas e modernas. E para incentivar toda a gente a fazer a troca, decidiu dar duas coroas ‘novas’ (é o nome da moeda) por cada coroa ‘antiga’ que as pessoas tinham. Num único dia, toda a gente trocou o dinheiro antigo pelo novo e toda a gente passou a ter o dobro das coroas que tinha – todas as pessoas ficaram com o dobro do dinheiro que tinham. No dia seguinte, quando foram ao mercado fazer compras, toda a gente pensou que ia poder comprar o dobro do pão, do vinho e das hortaliças e das frutas.

Só que… a quantidade de pão, de vinho e de hortaliças não aumentou para o dobro; continuava igual aos dias anteriores. Então o que fizeram as pessoas fazer com o dobro do dinheiro? Guardaram o que obtiveram a mais? Claro que não; o que aconteceu foi que, como todas as pessoas passaram a ter o dobro do dinheiro, e tanto os vendedores como os compradores sabiam disso, imediatamente os preços passaram também para o dobro e tudo ficou na mesma. Aliás, tudo excepto os preços, que passaram para o dobro. As pessoas passaram a ganhar o dobro das coroas, mas quando iam às compras também gastavam o dobro das coroas.

Bem, todas as pessoas, não. Ao ver que os preços aumentaram para o dobro, sua majestade decidiu não aumentar os ordenados dos seus funcionários, dizendo que se o fizesse, os preços iriam aumentar ainda mais. Consequência? Todos os funcionários de sua majestade ficaram a poder comprar só metade daquilo que compravam, porque ganhavam as mesmas coroas e os preços tinham duplicado. Assim, sua majestade aproveita para cobrar o dobro dos impostos aos seus súbditos (os preços e os rendimentos aumentaram para o dobro, lembram-se?), mas em vez de pagar o dobro dos vencimentos, vai poder esbanjar este aumento de receitas noutras despesas.

A história dos súbditos de sua majestade não acaba aqui. Há um ano, algo de estranho aconteceu fora do reino que levou os preços da electricidade a aumentar imenso. Ora, o vinho e os cereais não precisam de electricidade para serem armazenados, mas as hortaliças e as frutas precisam, o que veio encarecer estes produtos. Foi a vez de os vendedores de hortaliças e frutas aumentarem o preço daquilo que vendem. Mas como as pessoas continuavam com as mesmas coroas, quando iam comprar hortaliças e frutas gastavam mais coroas do que anteriormente, ficando com menos coroas para comprar pão e vinho. O que levou os vendedores de pão e vinho a baixar os preços para poderem vender o que tinham. Ou seja, tal como no início da história, uns preços subiram, outros desceram, mas não houve inflação. Só houve inflação quando sua majestade aumentou a quantidade de dinheiro.

Porém, algumas pessoas que vendem pão e vinho, vendo que pouco ganham ou que até vão ter prejuízo, começam a pensar se não terão que mudar de vida. O mesmo acontecendo com os produtores de hortaliças e fruta que não conseguem aumentar os preços de venda de forma a cobrir o aumento dos custos. E é aqui que pode estar um problema que pode contribuir para mais inflação: não o aumento do preço da electricidade, mas a diminuição daquilo que é produzido. Ou seja, não aumenta a quantidade de coroas, mas diminui a quantidade de produtos que podem ser comprados. Consequência? Aumento dos preços, ou seja, inflação.

E que pode sua majestade fazer para combater a inflação? Obrigar as pessoas a entregar-lhe algumas coroas pode agravar a situação. A alternativa deve passar por diminuir o impacto do aumento do preço da electricidade, atacando o problema na sua origem. Se o aumento do preço da electricidade for de curto prazo, assim que voltar ao seu curso normal, os apoios concedidos são retirados; se o aumento persistir durante alguns anos, pelo menos dá algum tempo para que os produtores dos vários bens possam ir adaptando-se à nova realidade.

Atenção que qualquer semelhança com o que está a acontecer em Portugal é pura coincidência.

Somos uma república e não uma monarquia; em dois anos, a quantidade de dinheiro não duplicou, apenas aumentou 19%; neste ano e no próximo, os preços não duplicam, apenas aumentam 17%; e os funcionários públicos não sofrem um corte de 50% nos vencimentos, apenas de 14%. Ah, e nossa majestade não vai duplicar as receitas dos seus cofres, apenas vai impor o maior aumento de impostos alguma vez visto em toda a história da nossa república.

Mário Queirós

Observador