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Para ser sincero, estava longe de imaginar, e mais ainda conhecer, a complexa história desta banda musical "Bee Gees".
Mas é evidente que não ignorava a sua existência, como sabia que era das que mais prazer me dava ouvir.
Oiça-se esta melodia "First Of May" e diga-se lá que não é linda.
É pena, mesmo muita pena, que Phil Collins se sinta incapaz de regressar aos palcos.
Mas ao menos que não perdesse a sua excelente voz para continuar a deliciar-nos com novas canções.
Quem aprecia a música e lhe atribui grande valor enquanto linguagem universal, não se sente maravilhado ao escutar estas cinco interpretações de Phil Collins? Por mim é de ouvir e voltar a ouvir.
A origem de «vírus» e «célula» (e um pouco de Eça)Falemos da origem de duas palavras: «vírus» e «célula».
Às vezes, uma resposta verdadeira esconde tanta coisa que quase parece mentira. É o que acontece quando dizemos que «vírus» e «célula» são palavras de origem latina. É verdade que são − mas há muito mais a dizer. Afinal, não passaram do latim até ao português pela sucessão de gerações de falantes, como aconteceu, por exemplo, com a palavra «lua». A «luna» latina veio pelos séculos fora, perdendo o «n» a certa altura, chegando aos nossos lábios sem grandes sobressaltos − o que se compreende, pois a Lua, essa, continuou, todas as noites, a acompanhar‑nos as vidas. Ora, não aconteceu nada de semelhante com «célula» ou «vírus». Não vieram directamente do latim até ao português. Tiveram uma história mais agitada. Comecemos pelas células. Hoje, sabemos como funcionam, mas o nome foi criado antes de as compreendermos. Há muitos casos assim. Uma palavra surge para representar algo que não conhecemos bem, que estamos a descobrir no meio da névoa. Quando essa névoa clareia, a palavra representa agora qualquer coisa de muito diferente. A palavra «célula» veio do latim «cellula», mas é claro que os romanos não usavam a palavra para designar uma célula. A palavra referia‑se a uma pequena divisão. No século XVI, o latim era ainda a língua em que muitos cientistas comunicavam e escreviam. Foi, assim, natural que a palavra latina tenha sido aproveitada para designar estes pequenos compartimentos. «Cella» e «cellula» ainda serviram para designar outros compartimentos do mundo natural, mas acabaram por designar as... células. Pensemos agora na palavra «vírus». Por alturas do Império Romano, «virus» designava um veneno ou um líquido fétido de origem animal. Teria ainda outros significados, mas não estariam muito distantes dessas pouco recomendáveis acepções. A palavra existia em latim. Herdámos dessa língua muitas palavras, bem trucidadas pelos falantes ao longo dos séculos, como sempre aconteceu e sempre acontecerá, mas deixámos para trás muitas outras, enquanto inventávamos, importávamos, misturávamos e recuperávamos outras quantas. Uma das palavras que se tornaram raríssimas até desaparecerem da boca dos falantes, com a excepção daqueles que aprendiam o velho latim clássico, foi mesmo o tal «virus» enquanto veneno. Entretanto, a História da humanidade continuou a pular e a avançar. Já o latim se tinha transformado noutras línguas havia uns bons séculos, quando descobrimos, por fim, que muitas doenças eram provocadas por germes. Hoje, é difícil imaginar um tempo em que não se sabia tal coisa − mas a descoberta não é assim tão antiga: data do século XIX. No início, descobrimos as bactérias, pequenas células, quase todas inócuas ou mesmo benéficas, mas que incluem no seu clube uns quantos membros com inclinação para arreliar (ou mesmo matar) seres humanos. No final do século XIX, um cientista holandês de nome Martinus Beijerinck descobriu que algumas doenças eram transmitidas por qualquer coisa ainda mais pequena que as bactérias. Para se referir a estes micróbios (que estão na fronteira entre os seres vivos e os seres não vivos, pois só sobrevivem usando uma célula de algum ser vivo), Martinus lá foi abrir o velhinho dicionário latino e encontrou a palavra «virus». Decidiu baptizar os pequeníssimos germes com esse velho nome latino. Foi assim que surgiu a palavra actual: um holandês electrizou com um sentido novo o corpo de uma palavra antiga, fazendo surgir um novo e útil vocábulo. A partir do seu surgimento nos artigos do holandês, a palavra voou até muitas das línguas humanas com o sentido preciso que lhe deu o cientista − e está hoje nas bocas do mundo, como sabemos. Mas por que razão escolheu Martinus este termo? Bem, algum termo tinha de escolher. Há, no entanto, uma parte da história que também é importante contar e talvez explique a escolha do cientista: se os falantes de latim e, depois, das línguas que dele descenderam foram perdendo a palavra, preferindo outras para designar um veneno, um pouco mais para norte, na Inglaterra, houve quem recuperasse, ali no final do século XIV, o velhinho «virus». Tornou‑se uma palavra inglesa… No século XVIII, acabou por ganhar o sentido mais particular de «agente que provoca doenças». Com esse sentido, lá começou a espalhar‑se, devagarinho, pelas línguas europeias. Surge já no nosso Eça, n'Os Maias (na ortografia original):
A palavra já andava a rondar a cabeça de quem estudava medicina. Torna‑se, assim, mais fácil compreender o motivo por que Martinus escolheu esta palavra para designar este tipo de germe. Mas não nos enganemos: foi a escolha do cientista que levou à explosão do uso desta palavra, com o significado muito preciso que tem hoje. Aliás, tivesse ele escolhido outra palavra e aquele termo d'Os Maias seria, provavelmente, uma palavra da medicina da época, muito difícil de compreender para os leitores de hoje em dia (e a verdade é que lemos o excerto e nem notamos que o sentido da palavra actual é mais restrito do que o sentido que Eça lhe dava). A velha palavra latina, que também já tinha vindo de outras paragens, perdeu‑se entre os falantes de línguas latinas, mas foi recuperada pelos ingleses, que lhe deram um pequeno sopro de vida, com um novo significado. Mais tarde, reapareceu, forte e triunfante, pelas mãos de um holandês, que lhe moldou o sentido de forma precisa e a espalhou pelas línguas do mundo inteiro. Assine para receber todos os artigos e apoiar o meu trabalho. Obrigado! Diga‑se, ainda, que a história da palavra «vírus» não acabou na cabeça do holandês. Depois de reinventada para dar nome a um novo tipo de germe, veio a ganhar novos sentidos. Hoje, um vírus pode ser também um programa de computador que se propaga com intuito de danificar, de alguma forma, as máquinas onde se aloja. Esta mutação da palavra «vírus» surgiu no inglês e infectou as outras línguas a partir dos anos 70. Depois, como tantas e tantas outras palavras, «vírus» também ganhou usos metafóricos: há ideias que são como vírus, como bem sabemos. Armada em adjectivo, a palavra continuou a cavalgar: há doenças virais, há imagens virais, há notícias virais… Há até irritações virais. As palavras surgem de muitas maneiras: algumas perdem‑se no princípio dos tempos, surgidas no calor das interacções diárias entre falantes. Outras são inventadas ou reinventadas por alguém em particular, como é o caso da palavra «vírus» com o significado de germe mais pequeno do que uma bactéria. Estas invenções e reinvenções fazem‑se todos os dias. Uma grande parte desaparece sem deixar rasto − mas algumas palavras caem no goto dos falantes, espalham‑se, burilam‑se, tornam‑se úteis, passam a fazer parte das línguas. Evoluem, também, de maneira diferente das espécies: a adaptação de uma palavra à língua faz‑se pelo uso continuado. Quanto mais pessoas a usarem, mais útil se torna e mais fácil será encontrá‑la no cérebro de mais falantes. As palavras são − e esta imagem era quase inevitável… − uma espécie de vírus a contagiar os cérebros dos falantes. Só que, neste caso, até gostamos. Excerto do livro História do Português desde o Big Bang. Actualmente, é um assinante gratuito da página Certas Palavras. Este é um projecto pessoal onde partilho a minha paixão pelas línguas e culturas. Para apoiar este trabalho, convido-o a considerar uma assinatura paga (mensal ou anual). Além de me ajudar a criar mais conteúdos, terá acesso exclusivo a alguns artigos e materiais. Muito obrigado pelo seu apoio! © 2025 Marco Neves |
“Tudo indica que existem redes organizadas” que facilitam o acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) por parte de cidadãos estrangeiros não residentes em Portugal. Quem o diz é o deputado Miguel Guimarães, vice-presidente do PSD, que rejeita a definição de “turismo de saúde” e se recusa a atribuir este “fenómeno” à imigração. Antes, fala num “uso indevido do SNS” e, por isso, quer alterar a lei para apertar as regras no acesso ao serviço público.
Segundo Miguel Guimarães, ex-bastonário da Ordem dos Médicos, há cada vez mais cidadãos estrangeiros não residentes que se “deslocam ao nosso país com o propósito de beneficiarem de cuidados de saúde ou tratamentos médicos proporcionados pelo SNS”.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro prometeu o combate aos “abusos e fraudes” no acesso ao SNS, depois de o presidente da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), André Trindade, ter admitido, na Comissão Parlamentar da Saúde, que as medidas que têm vindo a ser tomadas para evitar estas situações “são inócuas nos casos em que o que está em causa são redes informais organizadas que facilitam a vinda ao nosso país de estrangeiros que só pretendem uma utilização sem custo para os próprios.”
Em declarações à CNN Portugal, Miguel Guimarães explica que estas situações não são ilegais do ponto de vista da Lei de Bases da Saúde que, diz, tal como está redigida, “potencia claramente” a “procura indevida do SNS”. É por isso que PSD e CDS-PP apresentaram esta quinta-feira um projeto de lei que visa apertar as regras ao acesso do SNS por estrangeiros não residentes em Portugal.
Quantos estrangeiros não residentes em Portugal foram tratados no SNS?
Só no ano passado, mais de 100 mil cidadãos estrangeiros não residentes em Portugal foram assistidos no SNS, segundo o mais recente relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
O número tem vindo a aumentar de ano para ano. Segundo o mesmo relatório, desde 2021 a 30 de setembro último, foram atendidas, ao todo, quase 330 mil pessoas nesta situação - 46.091 em 2021; 89.371 em 2022; 102.182 em 2023; 92.193 até ao final de setembro deste ano.
Em julho, antes de serem conhecidos estes números, a ministra da Saúde já reconhecia no Parlamento que há doentes estrangeiros que vêm para Portugal apenas com o objetivo de serem assistidos no SNS.
Esta quarta-feira, o presidente da ACSS foi chamado ao Parlamento para falar precisamente sobre o tema, confirmando “o acesso a cuidados de saúde de cidadãos estrangeiros fora do contexto do que está atualmente regulamentado, ou seja, sem estarem abrangidos pelos acordos e pelas regras previstas e sem que tenha havido lugar à cobrança devida”.
É o chamado "turismo de saúde"?
Miguel Guimarães recusa que este fenómeno seja “confundido” com o chamado “turismo de saúde” e nega que esteja relacionado com a imigração, demarcando-se assim da posição do Chega, que apresentou um projeto de lei sobre o mesmo tema.
“Este fenómeno não tem nada que ver com a imigração, já que se refere a estrangeiros não residentes em Portugal, nem se confunde com o chamado ‘turismo de saúde’, pois trata-se de uma utilização abusiva do SNS”, declarou, em conferência de imprensa conjunta com o deputado João Almeida, do CDS.
O que se sabe das "redes organizadas" que facilitam o acesso ao SNS?
Segundo o vice-presidente do PSD Miguel Guimarães, “tudo indica que existem redes organizadas” que facilitam o acesso ao SNS por parte de cidadãos estrangeiros não residentes em Portugal.
O ex-bastonário da Ordem dos Médicos explica à CNN Portugal que são os próprios profissionais de saúde que relatam esse fenómeno, uma vez que assistem ao mesmo caso várias vezes, dando o exemplo de grávidas em situações irregulares que chegam ao país já perto do parto e que procuram o SNS para o efeito. Casos que, diz o deputado social-democrata, são conhecidos através da comunicação social.
Já na quarta-feira, o presidente da ACSS falou em “redes informais organizadas que facilitam a vinda ao nosso país de estrangeiros que só pretendem uma utilização sem custo para os próprios”. Palavras repetidas mais tarde pelo primeiro-ministro, que, no debate quinzenal no Parlamento, admitiu que há “um problema” no acesso ao SNS, “com alguns cidadãos estrangeiros que procuram uma resposta que o Estado português de boa-fé garante, em virtude de redes organizadas e, portanto, com princípios de fraude que lhes estão subjacentes, para aproveitar o humanismo das nossas leis.”
Estas situações são ilegais?
Como explica Miguel Guimarães à CNN Portugal, estas situações não são ilegais, uma vez que são até “potenciadas” pela Lei de Bases da Saúde, tal como está redigida. “No entender do PSD e do CDS-PP, esta procura indevida do SNS tem sido claramente potenciada pela formulação da atual Lei de Bases da Saúde”, aprovada em 2019 por PS, PCP e BE, assumiu.
O que propõem PSD e CDS?
Os grupos parlamentares do PSD e CDS pretendem alterar a base 21 da Lei de Bases da Saúde, que define quem são os beneficiários do SNS. Segundo a formulação atual, além de “todos os cidadãos portugueses”, podem aceder ao SNS “os cidadãos, com residência permanente ou em situação de estada ou residência temporárias em Portugal, que sejam nacionais de Estados-Membros da União Europeia ou equiparados, nacionais de países terceiros ou apátridas, requerentes de proteção internacional e migrantes com ou sem a respetiva situação legalizada.”
Na proposta hoje apresentada, PSD e CDS querem alterar este ponto de modo a que, além de “todos os cidadãos portugueses”, sejam beneficiários do SNS os cidadãos “em situação de permanência regular em território nacional ou em situação de estada ou em situação de residência temporária em Portugal, que sejam nacionais de Estados-membros da União Europeia ou equiparados, nacionais de países terceiros, bem como apátridas ou requerentes de proteção internacional”. Nesta nova versão, ficaria assim excluída a hipótese de “migrantes com ou sem a respetiva situação legalizada”.
Todos aqueles que não se incluam nestas situações veem o seu acesso ao SNS condicionado “à apresentação de comprovativo de cobertura da prestação de cuidados de saúde e da documentação necessária para adequada identificação e contacto no estrangeiro”, acrescenta Miguel Guimarães.
Isso significa que há cidadãos que vão ficar sem tratamento?
Tanto o Governo como o PSD e CDS garantem que isso não vai acontecer. O primeiro-ministro quis deixar claro na quarta-feira que nunca será negado “um cuidado de saúde a um ser humano em dificuldade” nem recusada assistência quer aos cidadãos nacionais quer aos estrangeiros que trabalham ou estão integrados em Portugal.
Também Miguel Guimarães frisou esta quinta-feira que “aqui ninguém morre por falta de cuidados de saúde, isso aí tratamos qualquer pessoa, seja quem for”.
A ideia é moldar a lei de modo a garantir “mecanismos de combate ao abuso e à fraude” e evitar situações de “injustiça” para com os contribuintes. Segundo o ex-bastonário da Ordem dos Médicos, estas situações “acarretam inegáveis consequências negativas para os utentes do SNS, deterioram as condições de trabalho dos profissionais de saúde e constituem um encargo acrescido para o erário público.”
Miguel Guimarães e João Almeida querem ver o projeto-lei discutido “o mais rapidamente possível”, o que poderá acontecer já na próxima quinta-feira, caso o Chega aceite arrastar a iniciativa da AD para um debate previamente proposto por André Ventura sobre “Turismo de Saúde”.
“Neste momento, esperamos contar com o apoio de todos os partidos políticos que têm assento na Assembleia da República", afirmou o vice-presidente do PSD, ressalvando que, caso a iniciativa seja aprovada apenas com os votos do Chega, não houve qualquer tipo de "conluio com ninguém".
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