quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Das agressões no Burger King às facturas na discoteca Main. Os casos de André Matias de Almeida na justiça.

  1. A alegada agressão e as imagens do Burger King que nunca apareceram
  2. André Matias diz que foi João Tavares quem provocou. Ilibação com base no princípio “in dubio pro reo“
  3. “Eu sei de vários casos de ameaças”
  4. Queixa-crime investigada pelo DIAP e arquivada
  5. Juíza que analisou difamação: despesas “dificilmente se coadunam” com objecto da AAUL
  6. Botões de punho, fato da Giovanni Galli e bebidas no MAIN
  7. Facturas em discotecas em Lisboa e Coimbra

O porta-voz da ANTRAM enfrentou dois processos: um por agressão que chegou a julgamento (foi absolvido) e uma queixa-crime (investigada pelo DIAP, mas arquivada) por actos como tesoureiro da AAUL.

André Matias de Almeida, o advogado porta-voz da ANTRAM que foi um dos protagonistas da greve dos motoristas, teve um passado turbulento nos tempos em que era dirigente associativo. Alguns dos problemas acabaram em tribunal. Num deles, o Ministério Público chegou a deduzir acusação por ofensa à integridade física contra André Matias de Almeida na sequência de agressões na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, que acabaram no interior de um restaurante Burger King. Noutro, foi alvo de uma queixa-crime investigada pelo DIAP de Lisboa por gastos da associação de estudantes onde era tesoureiro, que incluíam facturas de discotecas e botões de punho, despesas de farmácia e até a compra de um fato da Giovanni Galli. Acabou tudo por ser arquivado pelo MP, mas ao Observador chegaram dezenas de denúncias de antigos dirigentes associativos que conviveram com André Matias de Almeida.

A alegada agressão e as imagens do Burger King que nunca apareceram

No  dia 7 de Agosto de 2015, pelas 17h30, João Tavares ia a atravessar a rua na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, quando passou por um carro parado no sinal vermelho, onde seguiam André Matias de Almeida e o irmão, Bruno Matias. De acordo com o despacho de acusação do MP, os três começaram a discutir devido a desavenças do tempo da faculdade. Na sequência disso, escreveu a procuradora do MP, “o arguido André saiu do veículo, dirigiu-se a João Tavares e nele desferiu pancadas que o atingiram na cara e no tórax e pontapés nas pernas“.

Segundo os mesmos autos, “a fim de se proteger, João Tavares entrou no estabelecimento comercial ‘Burger King’, mas “o arguido André foi no seu encalço e nele desferiu um empurrão que o derrubou no solo, desferindo-lhe pontapés em diversas partes do corpo“. Devido às agressões, escrevia o MP, “João Tavares sofreu dor na região frontal, na região molar direita e escoriações nos calcanhares”.

Na sequência desta situação, João Tavares ficou três dias sem poder trabalhar e anexou os relatórios médicos aos autos, que comprovavam as lesões. Com base no testemunho de João Tavares, o Ministério Público pediu que os arguidos respondessem por “um crime de ofensa à integridade física”, por considerar que os arguidos agiram de “modo livre, consciente e voluntário” e com a intenção de “maltratar o corpo de João Tavares”.

Na altura, João Tavares deixou passar os prazos para se constituir assistente e desistiu de seguir o caso, que acabou com uma sentença de absolvição. Mas, em declarações ao Observador, conta agora o pânico que viveu naqueles momentos: “Ia a pé para o curso e de repente vejo o Mercedes a parar à minha frente e aparece o Bruno Matias a fazer gestos para trás que pensei que eram para mim. Reconheci a cara do Bruno. E depois de repente olho para trás e sou agredido com um soco nos óculos pelo André. Os óculos caem no chão, partem-se e depois houve ali dois minutos de socos e pontapés. Um agarra-me e o outro continua a bater-me. Eu fujo, recuo 10 metros e meto-me dentro do Burger King, que foi o que calhou na altura. Caio no chão dentro do Burger King, sou pontapeado várias vezes dentro do Burger King. E pronto, depois o Bruno diz que já chega, que foi feito o suficiente e eles fogem os dois.”

João Tavares conta ao Observador que apresentou logo queixa e na altura falou com o gerente do Burger King, que “disse que aquilo era filmado, porque aquilo foi mesmo aquele hall de entrada e havia uma câmara apontada, portanto, era impossível não haver câmara”: “Mais tarde quando fui chamado ao MP, a procuradora disse-me que eles tentaram a câmara mas que não havia gravações daquele dia ou que não se conseguia ver bem.”

João Tavares destaca que “não tinha testemunhas” e que não se preocupou “em falar com as pessoas à volta” a “partir do momento em que o gerente do Burger King disse que havia câmaras”. E lamentou: “O Ministério Público disse que não havia câmaras naquele dia, mas supostamente isso é ilegal, o estabelecimento é obrigado a guardar as filmagens durante 30 dias. Acho estranho que as imagens tenham desaparecido“.

O queixoso acredita que as imagens eram fundamentais para uma condenação. Enquanto “jurista”, João Tavares percebe que “numa situação destas em que há duas histórias contraditórias, que os tribunais acabem por arquivar ou não condenar”: Mas se uma pessoa for agredida no deserto, não deixa de o ser. E isso é uma coisa que percebo do ponto de vista processual, mas do ponto de vista pessoal causa-me uma certa revolta“.

Já André Matias de Almeida diz ao Observador que não tem “nada a esclarecer quando houve uma sentença”, que “menciona bem o que o tribunal achou sobre João Tavares”. O advogado destaca que, “entre outras coisas, diga-se que o Ministério Publico pediu a absolvição e o juiz a confirmou, não deixando de mencionar na sentença o rancor que conduziu à apresentação deste processo e que pelos vistos se mantém”.

André Matias de Almeida diz que foi João Tavares quem provocou. Ilibação com base no princípio “in dubio pro reo

De acordo com o excerto da sentença de absolvição que André Matias de Almeida enviou ao Observador, a versão dos irmãos Matias de Almeida é bem diferente da de João Tavares. Terá sido João Tavares quem “inopinadamente se colocou diante da viatura onde seguiam os dois arguidos, desferiu pancadas no capô e proferiu expressões dirigidas ao arguido André Matias de Almeida , tais como ‘cabrão, filho da puta, vamos ver se és homem'”. E, nesse mesmo momento, terá impedido que os irmãos “seguissem o seu caminho quando o semáforo luminoso passou a verde”. Os arguidos admitem confrontos físicos, mas dizem que só André Matias de Almeida saiu do carro e que Bruno Matias embora tenha aberto a porta não chegou a sair da viatura.

Para sustentar esta versão, os irmãos arrolaram como testemunhas algumas pessoas. Uma dessas testemunhas é particularmente importante, pois diz ter visto tudo. Isto porque, segundo consta da sentença, “se encontrava um pouco mais adiante, no passeio do lado direito da avenida, atento o sentido de marcha dos arguidos, aguardando por estes para com eles seguir viagem para Coimbra, razão pela qual pode visualizar o evento”.

Na mesma sentença, é descrito que o depoimento do queixoso, João Tavares, foi “temperamental, apaixonado e parcial, não escondendo uma evidente animadversão, para não dizer verdadeiro rancor contra os arguidos” e que não clarificou a forma como os arguidos se aproximaram dele.

Na sentença é destacado que, além dos relatos dos arguidos e do queixoso — e das testemunhas que os irmãos apresentaram — “inexistiram quaisquer meios de prova, isentos e objectivos, de modo a pender decisiva e inequivocamente o prato da balança para o lado acusatório“. Por outro lado, os exames médicos feitos por João Tavares também não eram suficientes, já que “a documentação clínica regista somente as queixas apresentadas pelo indivíduo, faltando elementos directamente colhidos através da observação ou exame clínico”.

Assim, o tribunal estava perante “duas versões” e decidiu não ter forma de provar de forma inequívoca o que se passou (nem a forma como se passou) naquela tarde de 7 de Agosto. Na sentença pode ler-se que, “instalada a dúvida razoável sobre a veracidade dos factos imputados aos arguidos, (…) nada mais restou do que decidir em harmonia com o princípio in dubio pro reo, isto é, da forma mais favorável aos arguidos“.

Contactado pelo Observador, Bruno Matias limitou-se a responder com a seguinte frase: “Existe uma sentença judicial de total absolvição transitada em julgado onde o próprio Ministério Público pediu a absolvição de todos os envolvidos. Perante isto nada mais tenho a esclarecer”.

“Eu sei de vários casos de ameaças”

João Tavares mantém as acusações e denuncia que este não será caso único, já que André Matias tinha uma maneira de “resolver os problemas de que não gostava, que era através de ameaças, de perseguições”. “Eu sei de vários casos de ameaças, para além dos meus, de ameaças de agressões físicas”, assegura. O queixoso conta ao Observador que André Matias “frequentemente fazia-se acompanhar de seguranças de discotecas, quer em festas, quer em eleições, cada vez que iam votar, cada vez que iam às aulas. Que ameaçavam por eles”.

Já André Matias de Almeida diz que estas acusações não são novas, e que tudo “isto foi dito na queixa-crime e também não foi provado apesar de o tribunal o ter solicitado”. Antecipa ainda que apresentará uma “queixa-crime contra o sr. João Tavares face ao conteúdo do seu email e à grave difamação que acaba de cometer, ademais agravada por eu ser advogado”.

André Matias de Almeida foi tesoureiro da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa (AAFDL) e depois da Associação de Estudantes da Universidade de Lisboa. Nos anos seguintes a André Matias de Almeida ter sido tesoureiro da FDUL, João Tavares foi presidente da  Reunião Geral de Alunos (RGA), o órgão deliberativo máximo da AAFDL, e defendeu que fossem feitas auditorias às contas da responsabilidade de André Matias de Almeida. A inimizade entre os dois vem desses tempos.

Queixa-crime investigada pelo DIAP e arquivada

André Matias foi tesoureiro da Associação Académica da Universidade de Lisboa no período 2013/2014, altura em que era presidida por André Machado, hoje assistente da eurodeputada do PSD, Lídia Pereira, em Bruxelas. João Pedro Vieira Mendonça, que sucedeu a André Machado, fez uma análise às contas da associação e terá ido confirmar que dinheiro tinha deixado nas contas da AAUL a direcção que antecedeu a direcção de Machado e Matias. Foi aí que percebeu que, no final do mandato de João Marecos, a AAUL tinha, a 12 de Julho de 2013, um balanço no montante total de 36.518, 92 euros, que correspondiam a 26.518, 92 euros numa conta corrente e 10.000 euros numa conta a prazo (a cinco anos e subscrita a 11 de Janeiro de 2013).

Mas, quando chegou à presidência da AAUL, João Pedro Vieira Mendonça encontrou outra realidade: 7.471,54 euros de balanço, mas montantes em dívida de 10.155,78 euros. O que significava que, em apenas um ano (no mandato de 2013/2014, que tinha André Machado como presidente e André Matias como tesoureiro) a AAUL tinha passado de quase 37 mil euros positivos para 2.684,24 euros negativos. Foi esta a realidade que levou a Assembleia Magna.

Nesse ano de 2013/2014, a AAUL tinha feito gastos de 43.336,90 euros, três vezes mais do que os 13.093,24 euros de 2012/2013. As contas do ano em que André Matias foi tesoureiro acabaram chumbadas pela Assembleia Magna da AAUL por unanimidade e, perante as dúvidas, João Pedro Vieira Mendonça decidiu fazer uma queixa-crime, em nome da AAUL, contra André Machado e André Matias de Almeida , alegando que podiam ter cometido os crimes de abuso de confiança, infidelidade e ainda “prejuízo patrimonial importante”.

A 14 de Março de 2016, a Associação Académica da Universidade de Lisboa era notificada pelo DCIAP de que o processo estava agora a ser investigado pelo DIAP de Lisboa. O processo levantava várias dúvidas relativamente a facturas, que André Machado e André Matias rebateram, tendo o desfecho sido o arquivamento. André Matias destaca, em declarações ao Observador, que a queixa “foi investigada e analisada pelo Ministério Público. O queixoso teve oportunidade de apresentar as suas testemunhas e provas. O processo foi arquivado e nem sequer chegaram a ser ouvidas todas as testemunhas de defesa apresentadas por todos os arguidos envolvidos”. E acrescenta: “Não houve lugar a recurso dessa decisão pelo queixoso.”

Também André Machado, ouvido pelo Observador, destaca que esta “matéria já foi avaliada pelo Ministério Público e daí nem sequer resultou acusação, nem foi a julgamento”.

O Ministério Público considerou não ser possível provar, como defendia a queixa-crime, que apenas o presidente (André Machado) e o tesoureiro (André Matias de Almeida) da associação movimentavam os cartões. “Vários membros da direcção”, segundo o despacho, teriam acesso aos cartões.

Assim, André Machado e André Matias conseguiram provar que não eram os únicos a fazer as movimentações de dinheiro das contas da Associação Académica da Universidade de Lisboa. E o Ministério Público disse que não conseguiu apurar quem era responsável por cada gasto, mesmo que fosse abusivo. Para o MP, “a dúvida — insanável, neste caso — quanto à sua ocorrência, quanto a quem os praticou, se é que foram praticados — ou seja, se houve ou não apropriação ilegítima, em benefício próprio, de dinheiros da associação, passado o seu utilizador a comportar-se como se fosse o seu dono, fazendo — dolosamente — com que o prejuízo fosse elevado”.

À semelhança do que aconteceu no caso de agressão, André Matias de Almeida não foi acusado, com base no “princípio in dubio pro reo“. Ou seja: na dúvida, decide-se o mais favorável ao arguido. Foi o que aconteceu. Mesmo que não tenha chegado à conclusão de que houve crime, nem quem seriam os responsáveis por esses eventuais crimes, nunca o MP contestou a veracidade das facturas, que demonstravam gastos, no mínimo, questionáveis.

Juíza que analisou difamação: despesas “dificilmente se coadunam” com objecto da AAUL

André Machado e André Matias  avançaram depois com processos de difamação contra João Pedro Vieira Mendonça. André Matias acabou por deixar cair o processo, onde era defendido por João Sampaio (filho do antigo Presidente da República, Jorge Sampaio) e pedia 23 mil euros por danos de imagem, psicológicos e patrimoniais — como consta do processo que o Observador consultou. Já André Machado, que tinha André Matias como advogado numa fase inicial (passou depois a ser João Sampaio), perdeu o processo, não tendo João Pedro Vieira Mendonça sido condenado.”Tudo aquilo foi absolutamente difamatório. Para mim e para o André. Senti-me absolutamente ofendido com aquelas insinuações e apresentei o processo por difamação e denúncia caluniosa (…) Ele foi absolvido. E eu conformei-me e não recorri”, explica André Machado ao Observador.

A sentença de absolvição deste processo — que o Observador consultou — é importante porque a 14 de Maio de 2018 a juíza Susana Alves Costa reconhece que João Pedro Vieira Mendonça não tinha outra alternativa senão enviar uma queixa-crime para a PGR, pois estava perante “gastos sem suporte documental (facturas), das despesas desconformes com o objecto da AAUL e dos valores despendidos, tendo ainda acordado que a situação deveria ser exposta na Assembleia Magna, o que o arguido fez”.

Na mesma sentença, na página 20, a juíza admite ter havido “incongruências das contas, que nem ele, nem o TOC nem a restante direcção conseguiram esclarecer“. E ainda que, “do teor das facturas, balancetes, extractos bancários e orçamentos juntos aos autos, resulta efectivamente uma despesa acima do normal e alguns itens (como bebidas alcoólicas, espaços de diversão, contas de farmácia, etc.) que dificilmente se coadunam com o objecto da AAUL“. Já não era só um dirigente associativo a dizê-lo, mas também a avaliação de uma juíza (ainda que noutro processo).

Botões de punho, fato da Giovanni Galli e bebidas no MAIN

As despesas que a juíza diz que “dificilmente se coadunam com o objecto da AAUL” são as mesmas que seguiram na queixa-crime para o Ministério Público e acabaram arquivadas. Não obstante o MP não ter conseguido provar a ilegalidade, estes são exemplos de gastos de uma entidade no tempo em que André Matias era tesoureiro. Ora, segundo o artigo 77.º dos estatutos da Associação Académica da Universidade de Lisboa, compete ao tesoureiro “escriturar os livros de contabilidade; receber e arrecadar as receitas e satisfazer as despesas autorizadas pela direcção; dar conta aos outros membros da direcção, sempre que solicitado, da situação económica e financeira, organizar o orçamento, balancetes e contas da gerência e colaborar com o secretário no inventário da AAUL”. Eram estas as funções de André Matias.

Questionado sobre quem teria mais responsabilidade na facturação, se o presidente ou o tesoureiro, André Machado diz que essa “hierarquização não faz sentido“, já que “todos os membros da direcção tinham responsabilidade por igual“. Quanto ao principal arguido no processo, André Machado diz que não existe: “Éramos os dois arguidos. A responsabilidade na queixa era imputada aos dois por igual“.

Na queixa-crime há um rol de gastos difíceis de explicar. A 26 de Dezembro de 2013, há uma factura no valor de 25 euros para a aquisição de botões de punho. Foi pago pelas contas da associação e registados pelo técnico oficial de contas, mas os botões de punho nunca foram vistos.

Outra despesa que levanta dúvidas ocorreu a 3 de Janeiro de 2014, quando foi comprado um “fato cintado” adquirido na loja Giovanni Galli do Colombo. O fato nunca esteve, porém, inventariado na Associação Académica. E custou 125 euros.

O Observador teve ainda acesso a uma factura no valor de 44,55 euros referente a serviços de costura, que incluem apertar casacos e calças.

André Matias remeteu esclarecimentos para o processo já arquivado, mas o Observador sabe que foi utilizado como argumento pela defesa o facto de estas facturas em questão não terem o NIF da Associação Académica e de o pagamento não ter sido feito com o cartão da associação. Apesar disso, estes gastos chegaram às contas da AAUL e as facturas foram entregues ao técnico oficial de contas. André Machado reconhece ao Observador que estes gastos são “absolutamente alheios ao trabalho associativo” e admite a possibilidade de estas terem sido acrescentadas “por engano” à contabilidade da AAUL.

Facturas em discotecas em Lisboa e Coimbra

Na queixa-crime que seguiu para a PGR estavam várias facturas de discotecas: 77 euros na Twiit, discoteca de Coimbra, a 4 de Dezembro de 2013; 30 euros no Manga Club Avenida, também em Coimbra; bem como outras de 29 euros no Main, de Lisboa (a 16 de Maio de 2014); e 36 euros também no Main (a 6 de Junho do mesmo ano). Através do extracto da conta da Caixa Geral de Depósitos da Associação, que também seguiu na queixa-crime para a PGR, é possível comprovar que estes gastos existiram.

Excerto bancário da conta da CGD da AAUL (gastos com cartão)

André Matias remeteu esclarecimentos sobre estes gastos para o processo já arquivado, mas o Observador sabe que o que a defesa alegou foi que o valor referente a uma discoteca de Coimbra foi um adiantamento da associação após bloquear um cartão de um dirigente, mas que o valor foi devolvido no dia seguinte. Quanto aos restantes gastos, os dirigentes alegaram que se tratava de gastos no âmbito das funções que desempenhavam, uma vez que tinham actividades naquelas discotecas. André Machado recorda ao Observador que a AAUL “tinha com o Main (a antiga Kapital) uma relação de parceria, chegámos a fazer lá uma festa e ficou provado que se tratava de acertos“.

Outra das facturas que causou estranheza foi o pagamento no valor de 11,90 euros numa farmácia situada no Saldanha, em Lisboa. O Observador sabe que os arguidos justificaram ao Ministério Público que se tratou da compra de um kit de primeiros socorros. André Machado lembra também que a AAUL tinha “uma equipa de voleibol nos campeonatos universitários”, não sendo de estranhar que nos gastos da associação aparecessem facturas de farmácia para, por exemplo, para “comprar cremes” para os atletas.

André Matias também teve de explicar ao Ministério Público transferências feitas directamente da conta da Associação Académica para a sua conta: 36,99 e 107,32 euros a 13 de Maio de 2014, 38,55 euros a 20 de Maio de 2014 e 65,20 euros a 4 de Junho de 2014.

Estas transferências, justificou André Matias Almeida, eram “reembolsos de despesas” em que incorreu “por conta da AAUL e contra-factura” e que “isso ficou provado no processo”. Isso — justifica o advogado — acontecia com todos os dirigentes, incluindo com o autor da queixa no ano seguinte, João Pedro Vieira Mendonça, que já era vice-presidente na direcção de André Machado.

A queixa-crime levantava ainda outros gastos, como uma factura de 6,20 euros nos cinemas do estabelecimento comercial situado em Lisboa El Corte Inglés (UCI Cinemas). O gasto indiciava ser uma ida ao cinema com dinheiro da associação, mas na verdade foi apenas uma refeição feita na Pans&Company que se encontra junto àquelas salas de cinema.

A mesma queixa-crime falava de um levantamento ao balcão de 850 euros para fins desconhecidos, contractos com a Vodafone que envolviam um iPhone e um Blackberry que não foram depois encontrados nas instalações pela direcção seguinte. O contracto com a Vodafone, que incluía internet de banda larga, custou (incluindo custos por atraso de pagamento) 5.972,80 euros. No mandato anterior, João Marecos tinha gasto apenas 256,09 euros em comunicações. O Ministério Público entendeu não ter encontrado indícios de crime nas contas.

Rui Pedro Antunes – Observador

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Hong Kong. Funcionário do consulado britânico desaparece após enviar mensagem à namorada a pedir para rezar por ele.

A 08 de Agosto, Simon Cheng Man-kit, de 28 anos, estava a regressar a Hong Kong depois de ter estado na cidade chinesa Shenzhen. No momento em que, a bordo de um comboio de alta velocidade, atravessava a fronteira de regresso a Hong Kong enviou uma mensagem à namorada: “A atravessar, reza por mim”.

É a última coisa que se sabe do funcionário da embaixada britânica em Hong Kong, segundo noticiou o Observador esta terça-feira. São 12 dias de um “desaparecimento” que está a preocupar os ingleses, de acordo com a imprensa internacional, tendo em conta os protestos pró-democracia que têm levado às ruas milhões de pessoas em Hong Kong.

O correspondente da Sky News em Hong Kong, Tom Cheshire, afirmou que o gabinete onde Cheng Man-Kit trabalha “não sabe porque é que foi detido”. “Isto é muito preocupante, especialmente considerando o tempo que já passou, 12 dias”, afirmou o jornalista, citando fonte do gabinete.

Na China pode ficar-se detido, em “detenção administrativa”, a critério da autoridade de segurança pública, durante 15 dias. Pelo que, a ser esse o caso, Cheng Man-Kit poderá demorar ainda mais três dias a dar notícias.

O Reino Unido tem sido uma das vozes que tem expressado apoio a Hong Kong, o que desagrada ao regime de Pequim. Caso se trate de uma detenção pelo regime de Pequim esta poderá ser mais uma pedra na engrenagem na relação entre os dois países, que tem saído ferida desde o início dos protestos em Hong Kong.

TP, ZAP

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Orçamento de todos os clubes da Liga Nos

Saiba qual é o orçamento de todos os clubes da I Liga de Futebol. No conjunto o aumento é de 10% face à época passada.

A Liga Nos arrancou esta sexta-feira com um reforço de 9,7% no orçamento do conjunto dos clubes. O Benfica aumentou o valor em 20 milhões de euros, igualando o FC Porto no topo dos maiores valores para atacar a temporada: 90 milhões de euros.

Mas foi o Sporting de Braga que mais subiu o orçamento em termos relativos, com um incremento de 56%.

Na descrição abaixo veja o valor do orçamento de todos os clubes da I Liga. O Sporting manteve os 70 milhões de euros que tinha na época anterior. Contas feitas, os três "grandes" dispõem de 250 milhões de euros, mais de 72% do total dos orçamentos dos clubes da I Liga, que aumentou no conjunto 9,7% face à temporada passada, cifrando-se em 346 milhões de euros, segundo dados do jornal Record.

No conjunto dos 15 clubes que já disputavam a principal competição no ano passado os orçamentos aumentaram em cinco, estabilizaram em seis e diminuíram nos restantes quatro. O aumento de 30,6 milhões de euros na soma dos orçamentos é quase na totalidade decorrente do reforço de 20 milhões no Benfica e de nove milhões de euros nos bracarenses.

Benfica – 90 milhões

Porto – 90 milhões

Sporting – 70 milhões

Braga – 25 milhões

Vitória de Guimarães – 10 milhões

Rio Ave – 9 milhões

Marítimo – 9 milhões

Famalicão – 7 milhões

Desportivo das Aves – 5 milhões

Gil Vicente – 4,3 milhões

Paços de Ferreira – 4 milhões

Vitória de Setúbal – 3,7 milhões

Moreirense – 3,5 milhões

Belenenses SAD – 3,5 milhões

Boavista – 3 milhões

Santa Clara – 3 milhões

Portimonense – 3 milhões

Tondela – 3 milhões

domingo, 18 de agosto de 2019

Camilo Lourenço: "Nunca mais voltei à RTP por causa das minhas opiniões. Há directores mais papistas que o Papa"

O afastamento da estação pública, Salgado, BPN, os "negócios por explicar" de Luís Filipe Vieira e os outros pontos altos da entrevista de João Miguel Tavares a Camilo Lourenço na Rádio Observador.

Deita-se pela uma da manhã e às seis está “religiosamente a pé”, como Marcelo Rebelo de Sousa, mas as semelhanças com o Presidente da República estão “só aí”. A rotina madrugadora inclui “A Cor do Dinheiro”, o formato que todos os dias, pelas 8h00, Camilo Lourenço faz chegar aos portugueses através das redes sociais. Aos 59 anos, o economista, que “felizmente” (diz) não tem página na Wikipedia, dispensa meias palavras para comentar o seu afastamento da estação pública.

A anterior direcção da RTP, dirigida pelo Paulo Dentinho e por quem estava com ele, fez-me saber que não gostava de algumas coisas que eu dizia. O pior disto tudo é que nem tiveram a coragem de me dizer directamente. Os editores comunicaram-me um dia que a direcção tinha achado que não valia a pena continuar a comentar na RTP”, diz em entrevista a João Miguel Tavares, no programa Artigo 38 da Rádio Observador.

Lourenço recorda o episódio que remonta ao final de 2015, e para o qual nunca obteve “explicações”, comparando ainda essa fase com a do actual Governo. “Não tenho a mais pequena dúvida que nunca mais voltei à RTP por causa das minhas opiniões. Até acho estranho a falta de coluna vertebral, porque do ponto de vista político recordo-me que quando comecei a fazer mais comentários na RTP foi quando o José Sócrates era primeiro-ministro. E não me lembro de haver tanta interferência na RTP como passou a haver mais tarde. Digam o que disserem, nota-se uma interferência política. Não digo que isto venha do António Costa. Há directores que são mais papistas que o papa”.

Sobre as críticas de que costuma ser alvo, uma palavra especial para “os fofinhos que me insultam por aí”: “Já não se lembram que o Cavaco me detestava. Só se centraram no meu apoio ao governo da troika”.

Das velhas pressões aos novos formatos digitais

O comentador, que esteve na fundação do Diário Económico, faz ainda a revisão de mais de 30 anos de carreira com uma passagem por quase todos os meios de comunicação — à excepção do Expresso — e destaca um par de momentos especialmente críticos. “Perdi o emprego duas vezes por pressões que têm a ver com interesses ligados aos accionistas. Um na revista Valor, em 1994, por causa de histórias que envolviam o grupo Espírito Santo e a Galp. Fiz uma capa a dizer “corrupção na Galp”. O doutor Ricardo Salgado ligou muito aborrecido ao doutor Paes do Amaral a dizer que lhe cortava o crédito se continuássemos a escrever aquilo. O meu segundo caso foi o BPN, na revista Exame, em 2001″, descreve, sem ter dúvidas de que “o Banco de Portugal protegeu Ricardo Salgado” — e mantendo a posição de que Zeinal Bava era “um grande líder, com uma inteligência emocional fora do comum, tirando a parte em que se deixou seduzir por Salgado”.

Sobre o modelo de negócio do espaço “A Cor do Dinheiro”, rubrica criada inicialmente em 1988 e mais tarde transportada para o Jornal de Negócios e posteriormente ainda para a televisão, diz conseguir “decidir a informação e fazer serviço público”, acusando ainda “a felicidade de ter rendimentos que dão a possibilidade de não ser rico mas de garantir a minha vida se ficar sem salário do jornalismo”. Descreve-o como um projecto que, não tendo começado como um modelo de negócio, “está com uma audiência tão grande que as agências já começam a telefonar a dizer que podem fazer isto e aquilo”. Questionado sobre eventuais conflitos, confessa que não tem carteira de jornalista “há muito tempo”, uma decisão tomada “quando ainda trabalhava em redacções”: “Não gosto de corporações”, justifica. Aponta ainda alguns desafios colocados pelo mais recente contexto digital: “Uma parte da classe jornalística, nomeadamente com nome e com marca, vai ter que arranjar uma outra forma de obter rendimento, agora têm é que fazer declaração disso.”

A conversa não termina sem uma passagem pelo clube do coração, o Sport Lisboa e Benfica, e uma viagem no tempo para recordar o seu papel de porta-voz de Luís Vieira Vieira, quando este foi candidato pela primeira vez à presidência do clube: “Ajudei Luís Filipe Viera a chegar à presidência do Benfica. Convidou-me para ficar, mas em três meses aprendi mais sobre futebol do que em toda a minha vida. Imagina o que vi. A certa altura também percebi que o Luís Filipe Vieira não tinha a sua vida empresarial muito clara e eu não quero nada estar ligado a essas coisas.”

Esta entrevista de 45 minutos pode ser ouvida na íntegra, clicando aqui.

Artigo 38 (o artigo da Constituição sobre a liberdade de imprensa) é o programa de entrevistas de João Miguel Tavares na Rádio Observador e pretende colocar jornalistas influentes na pele de entrevistados. É transmitido aos sábados depois das notícias das 13h00. Repete às 22h00 e aos domingos às 18h00. Pode ouvir em 98.7 FM na Grande Lisboa ou aqui no site do Observador

.https://observador.pt/2019/08/17/camilo-lourenco-nunca-mais-voltei-a-rtp-por-causa-das-minhas-opinioes-ha-diretores-mais-papistas-que-o-papa/?fbclid=IwAR3ILiuw2jxtt8gR1JWvYnOzzSv6bAAEb1KWZr7XcRAOEP30WtGLz1YEYjU

sábado, 17 de agosto de 2019

Lista dos cognomes dos Reis de Portugal e a razão pela qual assim foram chamados.

Ao longo da história de Portugal, os Reis do país tiveram diversos cognomes que pretendiam descrever o monarca em questão. Conheça-os e a sua origem.

Além do seu nome próprio, cada Rei de Portugal possuiu também um cognome. Um cognome é uma alcunha que pretende descrever o Rei em questão, seja pelos seus atributos físicos, pela sua personalidade ou pelas suas obras. Houve Reis que tiveram mais do que um cognome, prova que esta atribuição nem sempre era consensual. Alguns dos cognomes revelaram-se ser bastante injustos ou errados mas outros exprimem bem a obra do monarca em questão. Conheça os cognomes dos Reis de Portugal.

Primeira Dinastia – Afonsina

D. Afonso Henriques “O Conquistador” – 1143-1185

Nasceu em Guimarães, em  1109. Era filho do conde D. Henrique e de D. Teresa. Casou com D. Mafalda de Sabóia. Aos Reis de Portugal foi atribuído um cognome. D. Afonso Henriques teve o cognome de “O Conquistador” pelas numerosas conquistas que fez aos mouros. À 1ª dinastia deu-se o nome de Afonsina porque o seu primeiro rei foi D. Afonso. Faleceu em 6 de Dezembro de 1185. jaz no mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, que ele mandou edificar.

D. Sancho I “O Povoador” – 1185-1211

Nasceu em Coimbra, em 1154. filho de D. Afonso Henriques e de D. Mafalda de Sabóia, sucedeu a seu pai. Casou com D. Dulce de Aragão, filha do conde de Barcelona. Herdeiro das virtudes militares de seu pai, continuou a luta encetada contra os mouros. D. Sancho I teve o cognome de “O Povoador”por ter mandado povoar as terras conquistadas. Faleceu em 1211, em Santarém. Jaz no mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

D. Afonso II “O Gordo” – 1211-1223

Nasceu em Coimbra, em 1185. Filho de D. Sancho I e de D. Dulce de Aragão, foi o sucessor de seu pai. Casou com D. Urraca, filha de Afonso VIII de Castela. D. Afonso II foi cognominado de “O Gordo” por ser muito gordo. A principal preocupação de D. Afonso II foi a administração do reino. Prosseguiu, também, o alargamento do território. D. Afonso II faleceu em Santarém, em 1223. Jaz no Mosteiro de Alcobaça.

D. Sancho II “O Capelo” – 1223-1248

Nasceu em Coimbra, em 1209. Filho de D. Afonso II e de D. Urraca de Castela, sucedeu a seu pai. Casou com D. Mécia Lopes de Hero, de Leão. D. Sancho II foi cognominado de “O Capelo” por, em criança, ter usado o hábito de frade franciscano. Mostrou-se rijo na arte da guerra, como seu bisavô D. Afonso Henriques, mas foi um fraco administrador. Destituído de rei pelo Papa, em 1245, D. Sancho II exila-se em Castela. Morre em Toledo, em 1248, onde foi sepultado.

D. Afonso III “O Bolonhês” – 1248-1279

Nasceu em Coimbra, em 1210.  Era irmão de D. Sancho II, a quem sucedeu. Casou com D. Matilde, condessa de Bolonha, e mais tarde casou com D. Beatriz de Castela. D. Afonso III foi cognominado de “O Bolonhês”por, ter casado com a condessa de Bolonha. Assumiu a Regência do Reino em 1245. Depois da morte de seu irmão, D. Sancho II, em 1248, foi proclamado rei. Protegeu a agricultura e desenvolveu o comércio e a indústria. Criou concelhos e concedeu muitos forais. D. Afonso III faleceu em 1279. Jaz no Mosteiro de   Alcobaça.

D. Dinis “O Lavrador” – 1279-1325

Nasceu em Lisboa, em 1261. Era filho de D. Afonso III, a quem sucedeu, e de D. Beatriz de Guilhen. Casou com D. Isabel de Aragão (rainha Santa Isabel). D. Dinis foi cognominado de “O Lavrador” por, ter defendido muito a agricultura. Faleceu em Santarém em 1325. Foi sepultado no Convento de Odivelas, que mandara edificar.

D. Afonso IV “O Bravo” – 1325-1357

Nasceu em Lisboa, em 1291. Era filho de D. Dinis, a quem sucedeu, e de D. Isabel de Aragão. Casou com D. Beatriz de Castela. D. Afonso IV foi cognominado de “O Bravo” pela sua valentia. Este faleceu em 1357. Jaz na capela-mor da Sé de Lisboa, por ele reconstruída.

D. Pedro I “O Justiceiro” – 1357-1367

Nasceu em Coimbra, em 1320. Era filho de D. Afonso IV, a quem sucedeu, e de D. Beatriz. Casou com D. Constança Manuel, de Castela. D. Pedro I foi cognominado de “O Justiceiro” por ter aplicado uma justiça rigorosa e severa, igual para todos. Faleceu em Estremoz, em 1367. os restos mortais de D. Pedro I e de D. Inês de Castro encontram-se no Mosteiro de Alcobaça.

D. Fernando “O Formoso” – 1367-1383

Nasceu em Coimbra, em 1345. Era filho de D. Pedro I, a quem sucedeu, e de D. Constança. Casou com D. Leonor de Telles, contra a vontade do povo. D. Fernando foi cognominado de “O Formoso”pela sua beleza e distinta figura. Morreu em 1383, deixando uma única filha, D. Beatriz, casada com D. João I, rei de Castela. Terminou, assim, a primeira dinastia, conhecida por “Afonsina” ou “de Borgonha”.

1383 - 1385
Interregno

Segunda Dinastia – Aviz

D. João I “O de Boa Memória” – 1385-1433

Nasceu em Lisboa, em 1357. Era filho de D. Pedro I e de D. Teresa Lourenço. Casou com D. Filipa de Lencastre, neta de Eduardo III, rei de Inglaterra. D. João I foi cognominado “O da Boa Memória” pela grata recordação que deixou em todos os portugueses. À 2ª dinastia deu-se o nome de Joanina, ou Avis porque o seu primeiro rei foi D. João, grão mestre da Ordem de Avis. Faleceu em 1433. Jaz no Mosteiro da Batalha, que ele mandou edificar.

D. Duarte “O Eloquente” – 1433-1438

Nasceu em Viseu, em 1391. Era filho mais velho de D. João I, a quem sucedeu, e de D. Filipa de Lencastre. Casou com D. Leonor de Aragão. Deram-lhe o cognome de “O Eloquente” pelo seu grande amor às letras. Era muito letrado e bondoso. Entre outras obras escreveu três livros notáveis: “Leal Conselheiro”, “Arte de bem cavalgar Toda a Sela” e “ Livro da Misericórdia”. Faleceu em Tomar, vítima da peste, em 1438. Jaz no Mosteiro da Batalha.

D. Afonso V “O Africano” – 1438-1481

Nasceu em Sintra, em 1432. Filho de D. Duarte, herdou o trono em 1438, por morte de seu pai, mas era ainda criança. Assumiu o governo do reino sua mãe, D. Leonor de Aragão, e depois o infante D. Pedro. Casou com D. Isabel de Lencastre, de Portugal. Deram a D. Afonso V o cognome de “O Africano” pelas conquistas que realizou em África. D. Afonso V concedeu à nobreza os títulos de duque, marquês, visconde, barão e atribuiu-lhes terras pertencentes à coroa. Faleceu em Sintra, em 1481, e jaz no Mosteiro da Batalha.

D. João II “O Príncipe Perfeito” – 1481-1495

Nasceu em Lisboa, em 1455. Era filho de D. Afonso V, a quem sucedeu, e de D. Isabel de Portugal. Casou com sua prima D. Leonor de Viseu, filha do infante D. Fernando. A D. João II deram o cognome de “O Príncipe Perfeito” pelo talento e lucidez com que conduziu o seu governo. D. João II não queria que os nobres fossem poderosos e tirou-lhes certas regalias e privilégios. Deixou de reunir as cortes e centralizou em si o poder, tornando-se um rei absoluto. Faleceu no Alvor, em 1495. Jaz no Mosteiro da Batalha.

D. Manuel I “O Venturoso” – 1495-1521

D. João II faleceu sem deixar descendentes directos. O único filho que tinha morrera em desastre. Por esta razão, sucedeu-lhe no trono, o seu parente mais próximo; D. Manuel, Duque de Beja, primo e cunhado de D. João II. Nasceu em Alcochete, em 1469. Casou com D. Isabel de Castela, filha dos Reis católicos de Espanha e viúva de D. Afonso, D. Maria de Castela e com D. Leonor. Deram-lhe o cognome “O Venturoso”, por ter sido sempre afortunado com os grandes descobrimentos no seu tempo. D. Manuel I faleceu em Lisboa, em 1521. Jaz no Mosteiro dos Jerónimos.

D. João III “O Piedoso” – 1521-1557

Nasceu em Lisboa, em 1502. Era filho de D. Manuel I, a quem sucedeu, e de D. Maria de Castela. Casou com D.  Catarina de Áustria. Deram-lhe o cognome de “O Piedoso” devido aos seus sentimentos religiosos. Introduz em Portugal a companhia de Jesus e presta atenção especial à evangelização dos territórios ultramarinos. A perda do monopólio do comércio oriental e africano agravou a crise económica portuguesa. Faleceu em 1557 sem deixar filhos. Jaz no Mosteiro dos   Jerónimos.

D. Sebastião “O Desejado” – 1557-1578

Nasceu em Lisboa, em 1554. Herdou o trono de seu avô, D. João III, em 1557, porque todos os filhos deste rei tinham falecido. Como ele tinha pouco mais de três anos, governaram, como regentes, primeiro, a avó, D. Catarina de Áustria, e depois o Cardeal D. Henrique, tio – avô de D. Sebastião. Deram a D. Sebastião o cognome de “O Desejado” por ser muito pretendido antes de nascer. O seu governo foi desenvolvido sobre um grande sentido de justiça. Faleceu, em 1578, na batalha de Alcácer Quibir. Não casou.

D. Henrique “O Casto” – 1578-1580

Nasceu em Lisboa,  em 1512. Filho de D. Manuel I e de D. Maria, o cardeal D. Henrique era tio-avô de D. Sebastião e irmão de D. João III. Sucedeu a D. Sebastião por este não ter deixado descendentes. D. Henrique foi cognominado de “O Casto”, por não poder casar devido a ser eclesiástico. Faleceu em 1580, sem ter designado sucessor. Não casou.

D. António I "O Determinado" (1531 Lisboa-26 Agosto 1595 Paris) 1580 – 1580

Não Casou

Terceira Dinastia – Filipina

D. Filipe I “O prudente” – 1581-1598

Nasceu em  Valladolid, em 1527. Era filho do imperador Carlos V e de D. Isabel, filha de D. Manuel I de Portugal. D. Filipe I foi cognominado  de “O Prudente”, pelas grandes promessas feitas nas cortes de Tomar, a fim de conquistar a simpatia dos portugueses . À 3ª dinastia deu-se o nome de Filipina por ter sido governada por três Filipes. A capital do Império é Madrid (Espanha). Casou com D. Maria de Portugal; D. Maria Tudor, D. Isabel de Valois e com D. Ana de Áustria.

Em Lisboa existe um governo chefiado por um vice-rei espanhol. D. Filipe I faleceu em 1598.

D. Filipe II “O pio” – 1598-1621

Nasceu em Madrid, em 1578. Era filho de D. Filipe I, a quem sucedeu, e de D. Ana Maria de Áustria. Subiu ao trono em 1598. D. Filipe II teve o cognome de “O Pio” pelo seu sentimento religioso. O domínio espanhol leva Portugal à ruína: os impostos aumentam; a agricultura, o comércio e a indústria estão paralisados. D. Filipe II faleceu em 1621, em Madrid.

D. Filipe III “O grande” – 1621-1640

Nasceu em Madrid, em 1605. Era filho de D. Filipe II, a quem sucedeu, e de D. Margarida de Áustria. D. Filipe III teve o cognome de “O Grande” mas os portugueses alcunharam-no de “O Opressor”. Casou com D. Isabel de França. Neste reinado o domínio espanhol tornou-se violento. Como representante de D. Filipe III, governava Portugal a Duquesa da Mântua, que tinha como seu secretário o português Miguel de Vasconcelos. Os impostos aumentaram assustadoramente, o povo sente-se oprimido, a decadência politica e económica do país acentua-se cada vez mais.

Quarta Dinastia – Bragança

D. João IV “O restaurador” – 1640-1656

Nasceu em Vila Viçosa, em 1604. Era filho de D. Teodósio, 7.º duque de Bragança, e de D. Ana Velasco. Casou com D. Luísa Francisca de Gusmão, de Espanha. A 15 de Dezembro de 1640, D. João IV foi solenemente aclamado rei, com o cognome de “O Restaurador”, por ter restaurado a independência. Com D. João IV começa a 4.ª dinastia, chamada Brigantina ou de Bragança, porque o seu primeiro rei foi D. João, 8.º duque de Bragança. D. João IV faleceu em 1656.

D. Afonso VI “O vitorioso” – 1656-1683

Nasceu em Lisboa, em 1643. Filho e sucessor de D. João IV e de D. Luísa de Gusmão, casou com Dona Maria Francisca Luísa Isabel d´Aumale e Sabóia, ou de Sabóia-Nemours, de França. D. Afonso VI teve o cognome de “O Vitorioso” devido às vitórias alcançadas na Guerra da Restauração. Este foi forçado a renunciar ao trono na pessoa do seu irmão, o príncipe D. Pedro. Fixou residência na ilha Terceira e, depois, no Palácio de Sintra, onde morreu em 1683.

D. Pedro II “O pacífico” – 1683-1706

Nasceu em Coimbra, em 1648. Era irmão de D. Afonso VI. Casou com a cunhada, D. Maria Francisca de Sabóia, e, pela segunda vez, com D. Maria Sofia de Neuburgo. Foi cognominado de “O Pacífico” por ter assinado o tratado de paz com a Espanha, em 1668, pondo termo à Guerra da Restauração. Faleceu em 1706 e jaz em S. Vicente de Fora.

D. João V “O magnânimo” – 1706-1750

Nasceu em Lisboa, em 1689. Era filho de D. Pedro II, a quem sucedeu, e de D. Maria Sofia de Neuburgo. Casou com Dona Maria Anna Josefa, arquiduquesa de Áustria. D. João V tomou conta do governo aos 17 anos de idade. Recebeu uma educação cuidadosa para a sua missão de governante. Ao longo do seu reinado, de quase meio século, fizeram-se grandes realizações que beneficiaram a cultura artística, literária e científica. Por este motivo, D. João V foi cognominado de “O Magnânimo”. Faleceu em 1750 e jaz em S. Vicente de Fora.

D. José I “O reformador” – 1750-1777

Nasceu em Lisboa, em 1714. Era filho de D. João V, a quem sucedeu, e de D. Mariana de Áustria. Casou com D. Mariana Vitória de Bourbon. D. José I teve o cognome de “O Reformador” devido às grandes reformas que se fizeram no seu reinado. Acabou com a escravatura em Portugal Continental e concedeu a liberdade aos índios do Brasil. Também acabou com  distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos. Faleceu em 1777 e jaz em S. Vicente de Fora.

D. Maria I “A piedosa” – 1777-1816

Nasceu em Lisboa, em 1734. Era filha de D. José I, a quem sucedeu, e de D. Mariana Vitória de Bourbon. Casou com o seu tio, D. Pedro III. Possuía profundos sentimentos religiosos, por isso teve o cognome de “A Piedosa”. O governo de D. Maria I caracteriza-se pelo equilíbrio, competência e progresso espiritual e material do País. Morreu no Brasil, em 1816, e jaz na Basílica da Estrela.

D. João VI “O clemente” – 1816-1826

Nasceu em Lisboa, em 1767. Era filho de D. Maria I, a quem sucedeu, e de D. Pedro III. Casou com Dona Carlota Joaquina Teresa Caetana de Bourbon e Bourbon. Teve o cognome de “O Clemente” devido à sua bondade e disposição em perdoar. Passou a usar o título de Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, Daquém e Dalém-Mar em África e Senhor da Guiné… Faleceu em 1826 e jaz em S. Vicente de Fora.

D. Pedro IV “O rei soldado” – 1826-1828

Nasceu em Lisboa, em 1798. Era filho de D. João VI, a quem sucedeu, e de D. Carlota Joaquina. Casou com Dona Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo e, pela segunda vez, com D. Amélia de Beauharnais. D. Pedro IV foi cognominado de “O Libertador” porque derrotou o absolutismo defendido pelo irmão D. Miguel. Faleceu em 1834.

D. Miguel “O rei absoluto” – 1828-1834

Nasceu em Queluz, em 1802. Era irmão de D. Pedro IV. Casou com Dona Adelaide Sofia Amélia Luísa Joana Leopoldina de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg. Teve o cognome de “O Absolutista” por ser partidário de uma monarquia absoluta. D. Miguel regressou da Áustria, onde se encontrava exilado, e chegou a Portugal em 1828. Depois de jurar a Carta Constitucional assumiu a regência de Portugal, mas viu que não era capaz de governar, seguindo uma política liberal com a qual não concordava.

D. Maria II “A educadora” – 1834-1853

Nasceu no Rio de Janeiro (Brasil), em 1819. Era filha de D. Pedro IV e de D. Maria Leopoldina. Casou com D. Augusto, duque de Leuchtenberg, e, segunda vez, com D. Fernando II de Saxe-Coburgo Gotha. D. Maria II foi cognominada de “A Educadora” pela esmerada educação que deu a seus filhos. O reinado de D. Maria II continuou muito agitado: uns querem a Carta Constitucional, outros optam pela Constituição de 1822. Faleceu em 1822 e jaz em S. Vicente de Fora.

D. Pedro V “O esperançoso” – 1853-1861

Nasceu em Lisboa, em 1837. Era filho de D. Maria II, a quem sucedeu, e de D. Fernando. Casou com Dona Estefânia Josefa Frederica Guilhermina Antónia de Hohenzollern. D. Maria II faleceu com 34 anos de idade. O seu filho D. Pedro tinha 16 anos de idade. Ficou a governar seu pai D. Fernando II, até que o herdeiro do trono completasse 18 anos. A acção de D. Fernando foi notável. Mandou proteger e restaurar os monumentos abandonados. Deram a este rei o cognome de “O Esperançoso” devido à grande esperança que nele depositaram os Portugueses. D. Pedro V faleceu em Novembro de 1861, com 24 anos de idade e 6 de reinado. Era viúvo da Rainha D. Estefânia.

D. Luís I “O popular” – 1861-1889

Nasceu em Lisboa, em 1838. Era filho de D. Maria II e irmão de D. Pedro V, a quem sucedeu, por este não deixar descendência. Casou com D. Maria Pia de Sabóia. Teve cognome de “O Popular” pela maneira como convivia com todos os Portugueses. Muito culto e bondoso, D. Luís I, ao longo do seu reinado, foi animado pelo propósito de fazer progredir Portugal. Porém, os males continuavam, devido à incapacidade governativa, à irresponsabilidade parlamentar e à falta de uma consciência unificadora e patriótica. D. Luís I faleceu em 1889. Jaz em S. Vicente de Fora.

D. Carlos I “O diplomata” – 1889-1908

Nasceu em Lisboa, em 1863. Era filho de D. Luís I, a quem sucedeu, e de D. Maria Pia de Sabóia. Casou com Dona Maria Amélia Luísa Helena de Orleães, a quem se deve a criação da Assistência Nacional aos Tuberculosos e do Instituto de Socorro a Náufragos. Foi cognominado de “O Diplomata ou Martirizado”, porque soube prestigiar o nome de Portugal e por ser vítima de um atentado. Visitou oficialmente a Espanha, França, Prússia e Inglaterra. Faleceu em 1908 e jaz em S. Vicente de Fora.

D. Manuel II “O patriota” – 1908-1910

Nasceu em Lisboa, em 1889. Era filho de D. Carlos I, a quem sucedeu, e de D. Maria Amélia de Orleães. Casou, já depois de destronado, com a princesa alemã Augusta Vitória Guilhermina Antónia Matilde Luísa Josefina Maria Isabel de Hohenzollern-Sigmaringen. Foi cognominado de “O Patriota ou Desventurado” devido ao seu amor à Pátria e à fraca sorte que teve no seu reinado. D. Manuel II foi o último rei de Portugal. Faleceu no exílio em Inglaterra, a 2 de Abril de 1932, sem deixar descendência. Os seus restos mortais regressaram à Pátria, a seu pedido, e jaz em S. Vicente de Fora.

https://www.vortexmag.net e http://www.casarealportuguesa.org/dynamicdata/Cronologia.asp

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Aneurisma cerebral obriga Wolfswinkel a fazer pausa na carreira.

Apreciei este jogador, desde que chegou a Portugal e, “fiquei com pena” quando o Sporting o dispensou. Espero que tudo lhe corra bem e rapido regresso aos relvados.

Péssimas notícias para Ricky Van Wolfswinkel, avançado que entre 2011 e 2013 vestiu a camisola do Sporting. Esta quinta-feira, através de um vídeo publicado nas redes sociais do Basileia, seu atual clube, o dianteiro holandês, atualmente com 30 anos, revelou estar a lutar contra um aneurisma cerebral, recentemente detetado.

Durante o jogo dos suíços contra os austríacos do Lask Linz, referente à 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, Wolfswinkel teve um duro choque de cabeças com um adversário, tendo-lhe sido, depois do encontro, diagnosticada uma concussão.

No hospital a que se deslocou, a equipa médica, após realizar exames complementares, acabaria por detetar o referido aneurisma, mas o próprio jogador refere que não se trata de uma consequência direta da lesão sofrida durante o encontro, mas sim de algo que já estava presente há mais tempo, sem que se manifestasse.

O avançado irá agora submeter-se a uma intervenção cirúrgica e iniciar os tratamentos, devendo ficar afastado dos relvados durante, pelo menos, os próximos seis meses.

"A Suécia está em Guerra"

por Judith Bergman  •  3 de Agosto de 2019

O relatório da polícia sueca de 2017 "Utsatta områden 2017" ("Áreas Vulneráveis 2017") mostrou que existem 61 dessas áreas, também conhecidas como zonas proibidas na Suécia. Elas abrangem 200 redes criminosas, compostas por cerca de 5 mil criminosos. A maioria dos habitantes são imigrantes não ocidentais e seus descendentes.

Em Março, segundo estimativas do Centro Nacional de Perícia Forense da Suécia, desde 2012 o número de tiroteios classificados como assassinato ou tentativa de assassinato teve um salto de quase 100%.

"A Suécia está em guerra e os políticos são os responsáveis. Já são cinco noites seguidas, atearam fogo em automóveis na cidade universitária de Lund. Esses actos insanos vêm se repetindo centenas de vezes em inúmeros lugares da Suécia nos últimos quinze anos. De 1955 a 1985, nenhum carro foi incendiado em Malmö, Gotemburgo, Estocolmo e Lund…. Nenhum desses criminosos está morrendo de fome ou sem acesso a água potável. Eles têm onde morar e lhes são oferecidos educação gratuita, eles não vivem em casas dilapidadas…. Isso se chama educação e é o que está faltando a milhares de meninas e meninos hoje nos lares suecos." — Björn Ranelid, autor sueco, Expressen, 5 de Julho de 2019.


Em Março, segundo estimativas do Centro Nacional de Perícia Forense da Suécia, desde 2012 o número de tiroteios classificados como assassinato ou tentativa de assassinato teve um salto de quase 100%. (Imagem: iStock)

Em 2018, a Suécia bateu o recorde no número de tiroteios devastadores, 306 ao todo. Deles resultaram 45 mortos e 135 feridos em todo o país, a maioria das mortes ocorreu em Malmö na região Sul da Suécia. Em março, segundo estimativas do Centro Nacional de Perícia Forense da Suécia, desde 2012 o número de tiroteios classificados como assassinato ou tentativa de assassinato teve um salto de quase 100%. O Centro também constatou que a arma mais utilizada nos tiroteios foi o fuzil automático Kalashnikov. "É uma das armas mais produzidas no mundo e utilizadas em muitas guerras" salientou o supervisor de equipe do Centro, Mikael Högfors. "Quando não se precisa mais delas... elas são contrabandeadas para a Suécia".

Sardinhas em escabeche de gasóleo

E isto sem falar dos duzentos litros de gasóil, claro. A gente até tivemos de deitar ao lixo mais de metade da mobília da sala, para caber. Agora a mesa de jantar são três tábuas apoiadas em quatro jerricans.

Ó pá! Isto só a mim! Atão esta coisa da greve lá dos motoristas de coisas perigosas afinal não durou quase nada! Andou aqui a gente cheia de cuidados para no fim, isto quase nem valer a pena...

E agora o que é que eu vou fazer às setenta latas de grão-de-bico, às cento e vinte latas de atum (sangacho, vá), aos trinta quilos de arroz, aos vinte quilos de lacinhos, aos quinze quilos de esparguete, às setenta e cinco latas de cavala de cebolada, às vinte e quatro latas de chispalhada (entretantos, já comi uma), às quarenta latas de pêssego em calda, aos doze quilos de bacalhau corrente demolhado e congelado, aos dez quilos de açúcar, às trinta morcelas, às quarentas alheiras, às sessenta e às cinco chouriças de sangue que tenho na despensa? E aos dezanove quilos de pernas de frango, às cento e quarenta e sete postas de pescada, e à vaca desmanchada que tenho ali na arca? E mais aos quatro porcos que mandei desmanchar ao homem do talho, e que já vêm a caminho?

E isto sem falar dos duzentos litros de gasóil, claro. A gente até tivemos de deitar ao lixo mais de metade da mobília da sala, para caber. Agora a mesa de jantar são três tábuas apoiadas em quatro jerricans. E mais um de cada lado da cama, a fazer de mesinha de cabeceira, com uma Nossa Senhora de Fátima e mais um candeeiro por cima. Sujeitos a pegar fogo a isto tudo.
A única coisa que eu já tenho mais ou menos ideia do que vou fazer é aos duzentos rolos de papel higiénico. Deus me perdoe.
Isto porque a gente, como qualquer bom português, quando vamos ao mar a gente avia-se em terra. Somos um povo muito previsto.
E de modos que, assim que a gente ouvimos dizer na televisão que a gasolina ia acabar, claro que a gente fomos logo à bomba, para acabar mais depressa, como pertence. Não fosse ela depois acabar.
A gente por acaso não é que precisássemos de ir a lado nenhum, graças a Deus, mas imagina que a gente de hoje prá manhã precisávamos?
Olha, por exemplos: a gente vamos abalar hoje prá terra, por via da Páscoa. Por acaso vamos de comboio, mas eu cá sou franca, fico muito mais descansada deixando cá o carro com o depósito atestado. Não vá ele querer ir a algum lado.
Estava ainda agora um homem a dizer na televisão que as bombas de gasolina são abastecidas de três em três dias. E que, como a greve também durou três dias, se a gente só tivéssemos gastado a gasolina do costume, nem se tinha dado por ela. Ora eu não sei que contas é que este homem fez. Cá nas minhas contas, três e três dá seis. Com mais três são nove. E nove vezes nove é dezoito. Portanto, faz todo o sentido a gente irmos a correr para as bombas atestar o carro.
E aos supermercados. Atestar o carrinho. É que isto depois afeta tudo! Isto está tudo ligado!
Eu fui logo direitinha ao atum, que é sempre o que desaparece primeiro nestas coisas. Que eu pensei: «então se isto é uma greve dos motoristas de cargas perigosas, também deve de meter ao barulho os que transportam as latas de conserva». Que são mercadorias muito perigosas. A gente se abre aquilo mais ao calhas está sujeita a ficar sem um dedo. Que a folha parece uma faca.
E fui dormir de véspera para a porta do Líder, que isto o primeiro milho é prós pardais, não é para as donas-de-casa calonas.
Ainda pensei em ir a seguir às urgências do hospital, não fosse eu dar uma queda em casa e depois não haver ambulâncias. Mas acabei por passar a tarde toda a andar às voltas de autocarro, não fosse a Carris ficar parada no fim-de-semana.
A minha nora, que é uma mulher tão precavida que vale por duas, é que a sabe toda! Ainda na terça-feira se despediu da perfumaria onde ela estava empregada, que é no Fripór, não fosse os barcos ficarem sem combustível e depois a desgraçada já não podia ir trabalhar. Agora diz que vai pra França, para a apanha da fruta.
O português é mesmo assim: há uma crise, e a gente aproveita logo para refazer a vida.
É esta a força dos sindicatos, conseguem mesmo parar o país. Quer dizer, parar não é bem a expressão. Conseguem pôr o país a correr. Neste caso, para uma bomba de gasolina.
Graças a Deus, acabou tudo bem. Agora é só esperar mais quinze dias para as gasolineiras conseguirem recuperar do estrago que a gente lhes fez. Mas também, como gastámos o resto do ordenado em gasóil, nem vamos dar conta que agora é que já não há mesmo.
Este país a funcionar é um relógio suíço! Isto não é para qualquer um!
E os camionistas lá conseguiram o que queriam, parece. Com uma greve que, feitas as contas, a única coisa que fez foi desviar três aviões para irem abastecer a Sevilha. Nestas coisas, a realidade não interessa para nada. O que importa é que ficámos com uma ideia do que isto podia ter sido. E podia ter sido o fim do mundo em cuecas.
Olha, no fim do mundo em cuecas fiquei eu com a casa. Que isto agora tenho a despensa que parece o Banco Alimentar Contra a Fome em dia de peditório nacional.  Não tenho sorte nenhuma.
Mas como eu sou uma dona de casa daquelas à antiga, já ando a ver aqui na Google uma receita qualquer que leve lasanha, ovas de pescada, maisena e pinhão sem casca. Que é o que eu cá mais tenho, derivados a ser o que estava em promoção.
Isto tudo bem regado a gasolina, já se sabe.
Eu depois conto como é que ficou.
Com licença

por A Porteira

Eu e os políticos - As memórias de uma porteira

A melhor forma de roubar os Correios é administrando-os.

Manda o bom-senso que os assaltos sejam detidos. A única forma de o fazer, neste caso, é recuperar o controlo público dos CTT. O país pode muito bem dispensar o pagamento de uma renda fixa a Francisco Lacerda e Manuel Champalimaud. Já saquearam que chegue.

Em 2005, poucos anos antes da explosão da crise financeira, um académico norte-americano, com uma vasta experiência acumulada em regulação bancária, publica um livro que ficaria célebre por explicar que a melhor forma de assaltar um banco é a partir da sua administração (The Best Way to Rob a Bank is to Own One).


Milhões de portugueses podem não ter lido a obra, mas percebem que a tese de William K. Black não excetua o nosso país. A história das falências e dos gigantescos buracos nas instituições bancárias nacionais como o BPN, BPP, BCP, Banif, BES ou mesmo a Caixa Geral de Depósitos e o Montepio Geral, não deixa margem para dúvidas: os metralhas estavam sentados nos conselhos de administração - que, convém referir, beneficiaram de sobremaneira da versão lusa do Mr. Magoo ser governador do Banco de Portugal.

A pirataria financeira custou-nos, só entre 2008 e 2016, 14,6 mil milhões de euros, o equivalente a mais do dobro do orçamento da Educação previsto para este ano e à construção de 27 novos hospitais centrais.

O que se passa actualmente nos CTT pode vir a inspirar Black a escrever uma sequela. Os Correios eram uma empresa pública lucrativa até serem totalmente entregues a privados em 2014. O governo PSD/CDS, que tratou de toda a operação, prometeu um processo de privatização exemplar que não lesaria o serviço universal postal, à data avaliado como um dos melhores e mais eficazes da Europa. Como é sabido, nada do que foi anunciado pela direita está a acontecer.

A ANACOM, num relatório publicado em Janeiro, avisa que a actual administração dos CTT já deixou 33 concelhos sem qualquer estação. Número que deverá subir para 48. O que significa que mais de 400 mil cidadãos e cerca de 15% dos concelhos portugueses ficarão sem qualquer posto oficial dos Correios. As reclamações com o serviço postal, que tem encarecido todos os anos, aumentaram 39 por cento. E a cereja no topo do bolo é a mais recente descoberta do regulador das comunicações de que a administração da empresa está a pendurar custos de funcionamento do Banco CTT no serviço postal, mascarando duplamente as contas. Por um lado, pretendia dar a ideia que o projecto bancário - tido como prioritário pela gestão privada - é perfeitamente viável, por outro, justificava os sucessivos aumentos de preços, cortes e despedimentos no serviço postal.

Ao mesmo tempo que o serviço tem piorado e ficado mais caro para os cidadãos, o conselho de administração tem-se remunerado principescamente e distribuído dividendos aos accionistas privados acima dos lucros da própria empresa: entregou 116 por cento dos lucros de 2016 e 208 por cento (!) dos lucros de 2017. Este ano reviu o "payout" em baixa e prevê entregar "apenas" 75 por cento dos lucros, o que continua a ser um valor absurdamente elevado. A presidência do processo de descapitalização em curso, daquela que já foi uma das mais prestigiadas empresas públicas nacionais, é Francisco Lacerda que, para a prestação deste serviço, aufere mais de 3 mil euros diários e cerca de 900 mil euros anuais. Como se prova, a melhor forma de roubar os Correios é administrando-os.

Manda o bom-senso que os assaltos sejam detidos. A única forma de o fazer, neste caso, é recuperar o controlo público dos CTT. O país pode muito bem dispensar o pagamento de uma renda fixa a Francisco Lacerda e Manuel Champalimaud, principal accionista dos CTT. Já saquearam que chegue.

Por: Fabian Figueiredo, dirigente nacional do Bloco de Esquerda 23-02-2019

Frases

O jornalista João Paulo Francis costumava dizer que a melhor propaganda anticomunista era deixar um comunista falar. A frase é boa. E pode ser aplicada, com ligeira variação, ao comunismo e à sua queda. A melhor forma de derrotar o comunismo é deixar os comunistas governar (bem longe).

João Pereira Coutinho

A doença dos ajustes directos.

O próprio Estado, ao fazer um uso generalizado, abusivo e preguiçoso do ajuste directo, tem sido um dos principais promotores dos desequilíbrios e das desigualdades estruturais da concorrência no pequeníssimo mercado português.

Por esta altura, já muitos de vocês consultaram ou ouviram falar do Portal Base (www.base.gov.pt/), uma curiosa fonte de informação, na Internet, sobre contractos públicos. Pelos elementos que fornece – bens, serviços ou obras objecto de contracto; preços contratualizados; identificação das entidades adjudicatárias; e, claro está, os próprios contractos, incluindo anexos e aditamentos –, esta página online deve ser considerada como um documento essencial para a história dos abutres que andam a saquear os cofres do Estado desde, pelo menos, 2008, ano em que foi criado.

João Pedro George

Defender os patrões, esmagar os grevistas.

Para os comunistas, não é concebível que as lutas dos trabalhadores se possam travar fora da esfera de influência da CGTP – isto é, do próprio PCP. Quem vier de fora é um inimigo.

A esquerda deixou de defender os pobres dos bairros operários. A greve demonstra-o: eles estão órfãos de representação política – maltratados por patrões, esmagados pelo Estado, rejeitados pela voxpop. Os motoristas de transporte de matérias perigosas ganham 630 euros de salário-base. Com as horas extraordinárias, o valor pode chegar até perto dos 1000-1200 euros. Mas, para tal, trabalham entre 12 e 14 horas diárias, com um horário semanal que ronda as 60 horas ou mais. É praticamente o dobro do horário da função pública (35 horas). Acresce que, por necessidade profissional, passam noites longe da família, com o consequente desgaste pessoal e os custos financeiros que isso representa – e cujas despesas as empresas têm de devolver (e que artificialmente inflacionam as folhas de vencimento). Empresas que fazem parte de negócios multimilionários e extremamente rentáveis, como é o caso das petrolíferas. Ou seja, estes motoristas estão no fundo da cadeia alimentar do mercado de trabalho. São mal pagos embora trabalhem muito mais horas do que o normal; não gozam de prestígio social embora sejam fundamentais para o funcionamento da economia e dos serviços públicos; têm uma profissão que implica riscos (transportam “matérias perigosas”) embora isso não se reflicta adequadamente na sua remuneração; fazem parte de negócios multimilionários privados embora sejam remunerados abaixo dos padrões nacionais. E, à conta de uma greve que visa melhorar as suas condições de trabalho (como seria expectável numa greve), ficaram sozinhos contra o país.

Esse isolamento tem uma enorme relevância política, em particular na esquerda, o campo ideológico onde seria de esperar uma adesão imediata à sua causa. Repare-se: é difícil imaginar um caso que encaixasse melhor na histórica defesa dos direitos dos trabalhadores que os partidos clássicos da esquerda lideraram. E, no entanto, a esquerda parlamentar tem sido um feroz adversário dos grevistas. No PCP, os sindicalistas que lideram a greve não têm a sua legitimidade reconhecida e são institucionalmente diabolizados pelo comité central. Na prática, não é concebível aos comunistas que as lutas dos trabalhadores se possam travar fora da esfera de influência da CGTP – isto é, do próprio PCP. Ou seja, esta sua instrumentalização da “luta de classes” é uma manifestação de clubite: os direitos dos trabalhadores só se defendem através da CGTP – e quem vier de fora é um inimigo. Mas há mais. Também no BE o posicionamento é contraditório: após silêncios, hesitações e mais silêncios, lá surgiram umas críticas discretas ao governo. Um tacticismo envergonhado e simples de explicar: os bloquistas não querem hostilizar o PS e também não querem apoiar quem está do lado impopular, embora reconheçam qual o lado certo. Tudo metido na balança, a direcção do BE vendeu-se por uns votos.

“Votos” será, porventura, a palavra-chave na estratégia do PS. Em vésperas de eleições, o governo intrometeu-se na negociação entre patrões e trabalhadores – e escolheu o lado dos patrões, cuja associação (ANTRAM) tem como porta-voz um militante do PS que este governo já nomeou por duas ocasiões. Consequentemente, o primeiro-ministro sacou dos mísseis para matar moscas, recorrendo a uma brutalidade retórica sem igual e exibindo toda a musculatura do Estado com serviços mínimos preventivos, requisições civis (em menos de 24 horas de greve), detenções de grevistas e uns telegénicos gabinetes de crise, que colocam ministros sucessivamente no horário nobre dos telejornais – e fizeram desaparecer tudo o resto: onde está a oposição? É possível que o exercício de autoridade valha votos e aproxime o PS da meta da maioria absoluta. Mas a que custo? O direito à greve ficou semi-arrasado – Cavaco Silva teria inveja. De resto, igualmente preocupante e como bem chamou à atenção Mafalda Pratas, o governo colocou militares e recursos do Estado ao serviço das empresas privadas, com muitas horas de trabalho “gratuitas” que neste momento estão a beneficiar financeiramente essas empresas – sem que essa subsidiação tenha sido explicada pelo primeiro-ministro. Os patrões, que durante tanto tempo se têm recusado a aumentar os baixos salários dos seus motoristas, só se podem estar a rir: acabaram financiados pelos contribuintes.

Haverá muitas lições a retirar destes dias de greve. Sobre a instrumentalização do Estado para a propaganda eleitoral, como fez o PS. Sobre as consequências das decisões do governo para o exercício do direito à greve. Sobre a inexistência de oposição política e o consequente desequilíbrio do regime. Mas a mais importante lição de todas é esta: a esquerda portuguesa abandonou o que ainda tinha de pureza ideológica e deixou formalmente de representar os mais pobres, a “classe trabalhadora”, nomeadamente os colarinhos azuis e quem vem dos bairros operários. São esses os grevistas que nestes dias ficaram sozinhos. Fazem parte de uma população tradicionalmente de esquerda, mas que PS-PCP-BE esqueceram, porque não encaixa nas causas identitárias da esquerda moderna, nem se revê no progressismo social das causas fracturantes. E porque também não tem peso eleitoral (por falta de organização) que justifique uma palavra de conforto nos discursos de PCP, BE e PS, sempre apontados a grupos de eleitores (como os funcionários públicos). Com Marcelo a jogar no tabuleiro da reeleição e uma direita que perde por falta de comparência, estes portugueses de colarinho azul, como esta greve demonstra, são os verdadeiros órfãos de representação política do nosso tempo – maltratados por patrões, esmagados pelo Estado, rejeitados pela voxpop. Não importa se têm razão (e alguma até têm), já que ninguém os ouve.

(Onde é que já vimos isto? Por exemplo, nos EUA, no desligamento dos democratas em relação à cintura industrial americana, que ajudou a eleger Donald Trump por se rever na sua campanha anti-sistema e no seu apelo à produção made in USA – e para descarregar a raiva. Não faltam provas de que o vazio de representação política é facilmente preenchido por populismos, incluindo na radicalidade das acções sindicais – afinal, quem se sente ignorado pelo sistema terá maior inclinação para furar as regras deste. Eis um aviso que os partidos têm sucessivamente ignorado, à esquerda e à direita: quem semeia ventos geralmente colhe tempestades.)

Alexandre Homem Cristo – Observador

Isabel dos Santos compra mansão em Londres e envolve-se em polémica.

Os angolanos e os portugueses estão vendo para onde foi o seu dinheiro!

“Imóvel numa das zonas mais exclusivas da capital britânica custou 14 milhões. Terá piso subterrâneo com adega, piscina, sala de massagens e cofre.

Isabel dos Santos, filha do ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, comprou uma mansão em Kensington, uma das zonas mais luxuosas de Londres, avaliada em 13 milhões de libras, cerca de 14 milhões de euros.

A compra, refere o The Times, terá causado a ira e indignação dos vizinhos uma vez que a empresária quer transformar a casa numa mansão 'iceberg', ou seja, quer demolir e reconstruir a mansão com um piso adicional subterrâneo, prática que se está a tornar corrente na capital britânica.

Este novo piso enterrado contará com um ginásio, uma sala com sauna e jacuzzi, uma piscina, uma adega, uma sala de massagem e um cofre.
Um morador diz que a proposta aprovada pela autarquia de Londres está a "criar ressentimento e divisão no seio da comunidade". As obras deste tipo de mansão 'iceberg' podem levar até dois anos o que causa constrangimentos aos vizinhos que durante esse período estarão sujeitos ao barulho das obras.
A mansão terá sido paga em dinheiro através de uma sociedade anónima sediada na ilha de Man, um paraíso fiscal, segundo avança o site Finance Uncovered.


Dona da oitava maior fortuna de África, Isabel dos Santos já recebeu autorização da Câmara de Londres para mudar a estrutura da mansão.
A ligação de Isabel dos Santos ao Reino Unido é de longa data. Depois de estudar na Cobham Hall, em Kent, a filha de Eduardo dos Santos formou-se em engenharia no Kings College, de Londres.”
https://www.sabado.pt