quarta-feira, 5 de junho de 2019

"Os Cães Ladram Facas", de Charles Bukowski

"Os Cães Ladram Facas", de Charles Bukowski (1920-1994) editado pela Alfaguara, o poeta maldito, bêbado, misógino, malcriado, violento, com uma poesia violentamente autobiográfica, cínica e cruel: "vimos os mexicanos ilegais a saltar o muro./ Kraft limpou o primeiro com uma bola de chamas/ eu acertei no segundo com a minha velha pistola luger".
A péssima relação com o autoritarismo do pai é omnipresente: "Henry, Henry, não / entres… ele mata-te, ele leu os teus contos". Os poemas desta antologia estão cheios de referências a este trauma que marcou mais Bukowski do os buracos na cara deixados pelo acne. O pai, que emigrou da Alemanha para os Estados Unidos em 1923 e que poucos anos depois havia de sofrer na pele os efeitos da Grande Depressão, esteve desempregado mas saía de casa de manhã e voltava à tarde só para manter as aparências. Essa hipocrisia revoltava o jovem, que depois havia de ridicularizar esse quotidiano entediante da classe média: "a minha mãe tinha dentadura/ o meu pai tinha dentadura/ e todos os sábados das suas vidas/removiam todos os tapetes de cada/enceravam o chão de madeira/e voltavam a colocar os tapetes".
Na sua poesia híper realista e decadente, Bukowski revela-se a cada passo para transpor a degradação daquela vida: "Não há nada a fazer/ senão beber/ apostar nos cavalos/ arriscar no poema/ enquanto as raparigas se tornam mulheres." Ou então amar muito romanticamente, como o poeta explica nesta definição de amor pouco aconselhável para citar em cartas apaixonadas: "o amor é um gato esmagado". Vítor Matos

Editor de política

EUA fazem ultimato à Europa.

Querem defesa? Comprem-nos armas ou amanhem-se com as vossas. Poderia resumir-se assim o ultimato dos Estados Unidos à Europa para que a União mude o rumo da sua política de defesa, o que exige participar nos projectos de armamento, escreve o El País. O diário espanhol teve acesso a informação sobre uma reunião com embaixadores a 22 de Maio, em Washington. “Quando ocorrer uma crise e as suas defesas fracassarem, sua população não ficará muito impressionada pelo facto de o armamento ter sido adquirido somente nos países europeus”, ameaçou Michael Murphy, principal responsável pela Europa na Administração norte-americana.

“Os dados estão lançados” de Jean-Paul Sartre.

É uma peça de teatro de Jean-Paul Sartre, que li algures há mais de quarenta anos, mas como as obras de Sartre são imortais, podem-se ler em qualquer momento em que conseguimos rever a(s) situações que nos reporta. Livro há poucos meses reeditada pela Minotauro, depois de quase vinte anos esgotado.

A morte depois da vida e a vida depois da morte. Depois de morrermos e possível voltar a vida? Pierre e Eve tiveram essa oportunidade, que e dada só em casos especiais.

A acção decorre durante 24 horas, num incerto estado totalitário. Eve faz parte da classe burguesa e é assassinada pelo marido, um alto quadro miliciano que quer ficar com a sua irmã. Pierre é um operário, líder da resistência que, pouco antes de executar uma conspiração para depor o regime, é traído por um camarada.

Os dois encontram-se depois de mortos, num plano metafísico, funcionando a morte como um artifício para abordar a polarização social e a desigualdade, os preconceitos e a opressão dos regimes anti-democráticos. Eve e Pierre apaixonam-se e, ao abrigo de uma cláusula especial das regulamentos que governam o universo, é-lhes dada uma segunda oportunidade – desde que, nas 24 horas seguintes dêem provas irrefutáveis do seu amor.

Os amantes regressam à vida terrena convencidos de que superarão todas as provações, mas uma vez chegados ao mundo dos vivos não conseguem cortar com o passado. Pierre acaba por sair em auxílio dos camaradas que enfrentam grande perigo, e Eve da irmã que está à mercê de um cunhado sem escrúpulos, e perdem o estatuto especial.

Regressam à sua condição de mortos e separam-se, resignados e sem mágoa.

“Não conseguimos. A oportunidade foi só uma e os dados estavam lançados”, diz Eve, aceitando que há actos que nos precedem e que há escolhas que estão, de certa forma, pré-determinadas.

Agustina e a imortalidade

Elisabete Miranda


Elisabete Miranda

Jornalista


Cruzei-me pela primeira vez com a Agustina na escola secundária. Eu andava em economia e uma amiga, que tinha enveredado pelas humanísticas, intimou-me a ler a Sibila. Eu que fazia as primeiras incursões pelos existencialistas, que tinha colocado o Virgílio Ferreira no pedestal de maior escritor vivo, não estava muito disposta a ceder tempo a clássicos que outros andavam a ler por obrigação curricular. Agustina, entusiasticamente emprestada, foi ficando de lado.
Quando me resolvi a dar uma oportunidade ao livro, as páginas estavam todas sublinhadas, ora a traço fino, ora a traço duplo, conferindo uma autoridade especial às frases, marcando-me o ritmo da leitura.
Algumas eram aforismos de assimilação fácil, como:
“São os espíritos superficiais que mais creem nos êxitos retumbantes, nas formulas fáceis para vencer” ,
“Ela não chorava, o silêncio era a sua única represália”,
“A morte de um velho não inspira dor a outro velho – inspira pânico”,
“Gosto das pessoas que são incapazes de deixar de ser o que são”

Outras críticas impiedosas:
“Vinham tomadas dessa adoração romântica pelo campo, a curiosidade do rustico, a pretensão do simples, cheias desse entusiasmo de burguesas que iludem o aborrecimento querendo a aceitar a novidade, o diferente sem se lhes adaptar”
“A sua doçura para com as crianças dependia da sua imensa ansiedade de simpatia e da satisfação que sentia ao ser reclamada e preferida por elas.

Outras ainda tocantes reflexões filosóficas:
“Não a desejava, apenas todo o seu ser se adaptava a cumprir a morte. Naquela casa, ela, enferma, nada receava. Era invulnerável porque não se instruíra a ponto de compreender o medo”
“O mais veemente dos vencedores e o mendigo que se apoia num raio de sol para viver um dia mais, equivalem-se, não como valores de aptidões ou de razão, não talvez como sentido metafísico ou direito abstracto, mas pelo que em si é a atormentada continuidade do homem, o que, sem impulso, fica sob o coração, quase esperança sem nome”

Foi assim a minha iniciação à Agustina, mais tarde que cedo, admirando-lhe o estilo e sondando-lhe a profundidade, através de uma leitura guiada de quem já por lá andara.

Ontem à tarde liguei à minha amiga para lhe dizer que ainda tenho o livro comigo. “Tchiiii… tens esse livro desde 93?”. “Não sabes fazer contas”. “Mas, afinal, leste-o?” “Li, e se calhar está na hora de to devolver”. “Não faz mal, tenho outro (…) E porquê agora? Assim como assim ela não morreu”.
Hoje é dia de luto nacional e a morte de Agustina Bessa-Luís domina a atualidade. “Mandem alterar as notícias: Agustina não morreu” é também o título da evocação da Joana Beleza à escritora que nunca se sentiu “cansada a descrever o humano, precisamente porque participo de tudo o que é humano”.
O José Mário Silva explica as razões da sua consagração como uma das mais importantes escritoras de língua portuguesa, a Ana Soromenho republica um artigo de março de 2018, onde percorre a historia da mulher e da escritora e a Ana França selecionou 11 citações para acompanhar 11 fotografias da autora.
O Público dedica praticamente a toda a capa e sete páginas com a vida e obra de Agustina, o Diário de Notícias lembra que a autora não era só a Sibila, o JN lembra-lhe a frase "nasci adulta, morrerei criança" e o i destaca outra citação ainda: “Porque escrevo? Escrevo para incomodar o maior número de pessoas com o máximo de inteligência”.
Pedro Mexia fala de “uma espécie de continente" que lhe "ocupa a vida inteira”; Gonçalo M. Tavares de uma escritora que destrói pobres e ricos, homens, as mulheres casadas e não casadas, heróis e cobrados, para os dar a conhecer; Hélia Correia de “um mistério absoluto na escrita; António Feijó de uma figura que, “ao mesmo tempo que é admirativa também é agressiva”. Lídia Jorge de alguém que "entende a marcha da humanidade".
O corpo de Agustina vai a enterrar no cemitério do Peso da Régua, e Mário de Carvalho diz que, daqui em diante, ela enfrenta"o desafio da imortalidade". Em 2004, em entrevista ao Público (agora recuperada) a escritora já reagia, com humor, à possiblidade de um dia cair no esquecimento: "Espero nessa altura não me impressionar com isso".





“Já não cabem mais Airbnb em Lisboa”

Esta notícia do Jornal Económico com o título “Já não cabem mais Airbnb em Lisboa” e que diz que Lisboa já bateu Barcelona, Roma, Paris e Amsterdão em proporção de alojamento local por habitante levou-me a rememorar “Lisboa - Livro de bordo - vozes, olhares, memorações” de José Cardoso Pires (Relógio d’Água). Foi uma encomenda de Mega Ferreira para a Expo 98 e é sobre Lisboa, a cidade de que é fácil gostar. “Não recusa nenhum acrescento, absorve-o. ‘Mesmo os aleijões’, dizia Cardoso Pires em entrevista filmada no Jardim do Torel”, lembra Ana Cardoso Pires no prefácio. Já eu duvido que Lisboa resista a tanto aleijão… Cristina Peres  Jornalista de Internacional

Parlamento. 22 mil assinaturas para acabar com apoios às touradas

Iniciativa Legislativa de Cidadãos será hoje entregue na Assembleia da República.

A associação Animal entrega hoje, na Assembleia da República, uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos subscrita por mais de 22.500 pessoas a propor o fim dos subsídios públicos à tauromaquia.

Os subscritores desta iniciativa classificam a tauromaquia como uma “actividade cruel” e pedem “o fim dos subsídios e apoios público, directos e indirectos”. E argumentam que muitas autarquias “oferecem subsídios para eventos tauromáquicos” ao mesmo tempo que faltam apoios para pessoas que “estão numa situação de desemprego, precariedade e até mesmo fome, incluindo crianças e idosos que não têm apoios sequer para as necessidades básicas”.

O documento realça ainda que “há verba para espectáculos que maltratam outros animais”, mas “nesses concelhos” é “gritante a falta de apoio a animais errantes, sempre com a justificação de que não existe dinheiro”.

Ao i, Rita Silva, da associação Animal, garante que os dinheiros públicos dados à tauromaquia são “bastantes significativos” e que existem “muitas pessoas indignadas com esse facto”. O objectivo desta iniciativa é iniciar “um caminho” para acabar com as touradas.

O parlamento chumbou, há quase um ano, uma proposta do PAN para abolir as touradas. O fim da tauromaquia é uma das principais causas do PAN e dos movimentos ligados aos animais. André Silva, em entrevista ao SOL, no sábado, defendeu que “Portugal não pode dizer que é um país civilizado enquanto tiver touradas”.

Olof Palme

Olof Palme foi assassinado na rua mais movimentada de Estocolmo com um tiro nas costas, uma quantidade de pessoas assistiram, mas o assassino nunca foi descoberto. Foi há 30 anos e o mistério continua a pairar sobre as razões e a mão que matou o primeiro-ministro sueco que não hesitava a misturar-se com a multidão e que, naquela (Fevereiro de 1986) como noutras noites anteriores dispensou a segurança pessoal. Este audio long read do Guardian oferece-lhe uma história bem contada para revisitar aqueles dias e atualizar investigações ulteriores como as que indicavam estudos deixados pelo jornalista Stig Larsson (autor da trilogia “Millennium”) e que apontam novas implicações. O jornalista sueco Jan Stoklassa escreveu um livro sobre a morte de Palme (à venda em Portugal desde ontem) e declarou à agência Lusa que a resolução do crime poderá estar para breve. Trata-se de "Stieg Larsson - Os arquivos secretos e a sua alucinante caça ao assassino de Olof Palme” (editora Planeta, 468 páginas). Ainda só ouvi o podcast do Guardian, que encontra aqui também em texto. Cristina Peres  Jornalista de Internacional

SEF desmantela rede europeia por tráfico de seres humanos.

SEF. Serviço de Estrangeiros e Fronteiras desmantela rede europeia de tráfico de seres humanos também indiciada por associação criminosa, lenocínio agravado e branqueamento de capitais. Foram detidos oito estrangeiros de um grupo criminoso que explorava mulheres sexualmente. Os suspeitos foram detidos em Aveiro, Albergaria-a-Velha, Ílhavo e Gafanha da Nazaré.

Abdesselam Tazi

Ministério Público quer que Abdesselam Tazi, acusado de recrutar em Portugal jihadistas para a Síria, cumpra pena de prisão efectiva por crimes de terrorismo. Advogado do suspeito estranha que a pessoa alegadamente aliciada por Tazi não tenha sido ouvida durante o processo. Toda a história aqui.

comemorações dos 75 anos do Dia-D

Comoção pelo passado, simbologia pelo presente. Começam hoje dois dias de comemorações dos 75 anos do Dia-D. Vários foram os pedidos para que as cerimónias se centrassem nos veteranos e não na presença de Donald Trump na Normandia. Em Portsmouth, do lado britânico do Canal da Mancha, a rainha e Theresa May, a PM britânica ainda por dois dias, recebem Trump, o PR francês, Emmanuel Macron e o PM do Canadá, Justin Trudeau. Lembra-se a véspera do desembarque das tropas aliadas em 1944, esperando que, no presente, se mantenha a aliança transatlântica.

Trump em Londres.

O PR norte-americano “livrou-se” do mayor da capital britânica, Sadiq Khan, e do líder dos trabalhistas, Jeremy Corbyn, que não apareceu durante a visita oficial em sinal de protesto, e declarou que as manifestações de protesto contra ele em Londres nunca existiram, eram fake news. Em casa, e esafiando os próprios republicanos, partido que apoiou a sua candidatura à presidência, Trump insistiu na ameaça de impor tarifas alfandegárias ao México.

Rússia - China

Xi Jinping chegou esta manhã a São Petersburgo acompanhado por um exército de funcionários do Estado e homens de negócios e é o convidado de honra do Fórum Económico Internacional, que ali se reúne. A visita do PR chinês simboliza a viragem da Rússia para a China no momento em que Pequim se confronta com Washington.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

The Donald goes to London

Not again!... Donald Trump tem talentos vários, e um deles é ser um desastre diplomático onde era tão fácil ter sucesso. Na véspera de uma visita de três dias ao Reino Unido que começa hoje, disse que os britânicos já deviam ter saído da União Europeia sem acordo, abandonado as conversações sem pagar um cêntimo, que o eurocético Nigel Farage devia ter sido envolvido nas negociações de saída da UE, e que apoiará Boris Johnson para líder do Partido Conservador. Adivinha-se uma semana tristemente animada pelas duas democracias que tínhamos como referência a cometerem atos suicidas ao vivo e a cores... So sad...
E o mayor chama-lhe fascista. O presidente da câmara de Londres, Sadiq Khan, comparou ontem a linguagem utilizada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para mobilizar os seus apoiantes à dos "fascistas do século XX". Num
artigo no jornal The Observer, Khan criticou as honras com que o Presidente norte-americano será recebido no país e comparou-o aos "divisionistas dos fascistas" - a par dos novos líderes populistas europeus - que tentam ganhar apoio com novos métodos sinistros, enquanto ganham terreno poder e influência em lugares inimagináveis há alguns anos.