sábado, 17 de abril de 2021

Vitamina D: A vitamina da discórdia.

O que é? Para que serve? A população portuguesa tem défice? Qual é o seu papel na Covid-19? A SÁBADO preparou um conjunto de respostas a todas estas questões, mas nem toda a informação é concordante.

Uma coisa é certa: a vitamina D é um assunto que divide os próprios profissionais de saúde. Não há propriamente dois lados da questão, ou seja, quem defenda que é importante e quem a demonize. A discussão é mais sobre o seu papel, a necessidade de fazer suplementação e, mais recentemente, sobre a relação com a própria Covid-19. A SÁBADO ouviu dois especialistas – o médico de medicina geral e familiar, João Júlio Cerqueira, e a professora de Nutrição e Metabolismo da Nova Medical School, Conceição Calhau – e tentou sintetizar num explicador toda a informação, que nem sempre é concordante. Para o médico João Júlio Cerqueira, a vitamina D "é o santo Graal dos mitos" e a deficiência desta vitamina poderá ser apenas um marcador de falta de saúde e sua suplementação não resolver as razões inerentes a essa condição. Já Conceição Calhau considera que "há muita resistência para as pessoas compreenderem o quanto a deficiência de vitamina D está relacionada com a doença".


O que é a vitamina D?
Não é bem uma vitamina, na verdade, trata-se de uma hormona que regula funções múltiplas no organismo, assim como o próprio metabolismo energético (o conjunto de reacções químicas que produzem a energia necessária para a realização das funções vitais dos seres vivos). 

Para que serve?
Está ligada sobretudo à saúde óssea. Tradicionalmente, o défice de vitamina D está associado ao raquitismo nas crianças – "felizmente, uma doença rara nos dias de hoje", diz João Júlio Cerqueira – e à osteomalacia nos adultos. "Ou seja, a deficiência de vitamina D compromete a massa óssea, porque o metabolismo do cálcio e do fósforo está muito dependente desta vitamina enquanto hormona", explica Conceição Calhau.
Contudo, hoje já se sabe que também tem importância para o sistema imunitário e está associada a doenças auto-imunes, como a diabetes tipo 1 ou a esclerose múltipla. "No mundo árabe, quando as mulheres passaram a estar com o corpo todo coberto, houve uma prevalência nunca antes vista de esclerose múltipla", diz a também investigadora do CINTESIS, Conceição Calhau. Sabe-se ainda que tem um papel na regulação da pressão arterial, daí que em muitos casos de hipertensão haja uma deficiência de vitamina D.

Quais são as principais fontes de vitamina D e onde a podemos obter?
A exposição solar é uma das principais fontes de vitamina D. "No hemisfério norte, entre o início de Abril até final de Setembro, a maioria das pessoas é capaz de obter grande parte da vitamina D de que precisa através da exposição solar", considera João Júlio Cerqueira. Também é possível obtê-la através da ingestão de alguns alimentos como o óleo de fígado de bacalhau (que era o antigo suplemento de vitamina D), peixes como o salmão, a sardinha, o arenque e a cavala, os cogumelos, carne vermelha, gema de ovo e lacticínios (que não sejam magros).
"Mas ao fazer as contas ao longo do dia é muito difícil garantir o aporte diário necessário – precisamos de 1000 a 2000 unidades internacionais por dia [a unidade de medida da quantidade de uma substância] – com a alimentação", alerta Conceição Calhau.

A relação entre a exposição solar e os níveis de vitamina D que temos no organismo é linear?
Apanhar sol não significa ter melhores níveis desta vitamina no organismo, há vários factores que influenciam, como por exemplo a cor da pele – quanto mais escura, maior dificuldade de produção de vitamina D. Conceição Calhau vai ainda mais longe e diz que "afirmar que há uma relação linear parece até tolo". Explicação: para que haja a sintetização desta hormona através da incidência da radiação ultravioleta é preciso uma série de pressupostos, chama a atenção a profissional.
Primeiro, fazer exposição solar sem protector; segundo, sem roupa e terceiro, na quantidade de tempo necessária. A estação do ano também tem influência já que no Inverno, por exemplo, a incidência dos raios solares é menor, logo é mais difícil sintetizar vitamina D. A especialista alerta ainda para outro factor que pode condicionar: a medicação para o colesterol, as chamadas estatinas.
Razão: "As estatinas vão inibir uma enzima que é usada na síntese da vitamina D", explica. Na verdade, no estilo de vida contemporâneo não há tanta exposição solar como existia antigamente – em que as principais actividades, como a agricultura e a pesca, eram feitas ao ar livre e a pele estava mais habituada e sujeita à exposição solar.

A população portuguesa tem défice de vitamina D?
Há um estudo publicado em 2020 no jornal científico Archives o Osteoporosis, e realizado por investigadores portugueses de Coimbra, Leiria e Lisboa, que concluiu que mais de dois terços da população apresenta níveis insuficientes de vitamina D.
O valor que se considera como referência, ou seja, o normal, é 30 nanogramas por mililitro, contudo se se considerar os 10 nanogramas por mililitro – valor a partir do qual é consensual a existência de suplementação –, então a percentagem de população com deficiência é apenas 1/5, destaca João Júlio Cerqueira.
O profissional também chama a atenção para o facto de a base de dados usada no estudo português não ter sido feita para avaliar a vitamina D (mas a prevalência de doenças reumáticas e musculoesqueléticas para um estudo anterior da Sociedade Portuguesa de Reumatologia).

O que explica esta insuficiência? 
Há uma razão genética, mas não só. "Geneticamente, já percebemos que a população portuguesa tem umas caraterísticas que fazem com que tenhamos menos capacidade de fazer a síntese da vitamina D, mesmo apanhando sol", diz à SÁBADO Conceição Calhau. A investigadora concluiu recentemente um estudo que chegou a esta conclusão e cujos resultados serão conhecidos nos próximos dias.
Além disso, também o facto de se achar que a exposição solar que temos é suficiente. "Isso não é verdade. Nós já não somos um país de sol porque já não temos o estilo de vida de andar ao ar livre, isso é uma evidência", explica.

Devemos tomar suplementos de vitamina D?
A resposta não é consensual e é controversa. Para Conceição Calhau, o que é importante é monitorizar os níveis de vitamina D, como se controla qualquer outro parâmetro, e consoante o resultado procurar um profissional de saúde. Não tem dúvidas sobre a necessidade de suplementação abaixo do valor de referência de 30 nanogramas por mililitro, o que considera discutível é a frequência com que se toma. "Não é igual tomar só uma vez por mês ou tomar diariamente. Para mim, todos os dias faz mais sentido do ponto de vista fisiológico, porque é assim que funciona o nosso metabolismo, nós também não comemos só uma vez por mês", diz.
João Júlio Cerqueira destaca duas posições distintas: o serviço nacional de saúde britânico que aconselha a toma de vitamina D de forma generalizada, principalmente no inverno (à semelhança do que já acontece em alguns países do norte da Europa) e a US Preventive Services Task Force (um painel independente de especialistas na prevenção de doenças e na medicina baseada na evidência) que "refere existir evidência insuficiente para validar o rastreio e suplementação com vitamina D para a prevenção de doenças cardiovasculares, cancro ou fraturas".

Ter níveis baixos de vitamina D prejudica a nossa saúde?
Sem dúvida, sobretudo no que diz respeito à saúde dos ossos. Níveis baixos de vitamina D também estão associados a uma série de outras doenças (ver pergunta 2). "Mas quando se fazem estudos controlados em que se suplementam pessoas com vitamina D, conclui-se que têm pouco ou nenhum impacto no controlo ou progressão dessas doenças. Ou seja, a insuficiência de vitamina D poderá ser apenas um marcador de falta de saúde e a suplementação não resolver as razões inerentes a essa falta de saúde", considera João Júlio Cerqueira.

Qual é o papel da vitamina D na covid-19?
Saiu recentemente uma meta-análise no Metabolism Clinical and Experimental que afirma que não há diferenças estatisticamente significativas no que diz respeito ao prognóstico entre as pessoas com níveis de vitamina D normais e aquelas com níveis baixos. Contudo, também se refere que a suplementação pode diminuir o risco de ter doença grave.
Ou seja, défice de vitamina D poderá estar associado à vulnerabilidade de ter doença mais grave. "Apanhar covid tem a ver com o meu comportamento e com a probabilidade de contactar com um ambiente infetado. Já se fico assintomática, se tenho sintomas ligeiros ou se fico em estado grave, a resposta que vou ter a nível do sistema imunitário depende de vários fatores, um deles, a vitamina D", diz Conceição Calhau.  

Tomar em excesso, ou seja, fazer suplementação sem ser necessário, pode ser prejudicial para a saúde?
Dificilmente acontece tomar em excesso, a não ser que se façam doses muito elevadas, dizem os especialistas. "Claro que tudo o que tem a ver com a alimentação é uma curva em U, o pouco faz mal, mas o muito também", diz Conceição Calhau. Nesse caso, o risco é acumular-se uma quantidade de cálcio no sangue superior ao normal, ou haver mais probabilidade de ter as chamadas pedras nos rins.

Lucília Galha

Vitamina D: A vitamina da discórdia - Ciência & Saúde - SÁBADO (sabado.pt)

É pró menino e prá menina

Ai filhos, isto foi só pousar os sacos aqui no hóle e vir a correr para o computador, que ter uma coluna numa revista é uma grande responsabilidade. Vinha eu a contar pôr já as máquinas da roupa a fazer, mas o Dom Pedro trocou-me as voltas.

Ai filhos, isto foi só pousar os sacos aqui no hóle e vir a correr para o computador, que ter uma coluna numa revista é uma grande responsabilidade. Vinha eu a contar pôr já as máquinas da roupa a fazer, mas o Dom Pedro trocou-me as voltas. Diz que amanhã já abre.

E prontos, lá se acabaram as férias. Não há bem que sempre dure, nem mal que não sei quê, como dizia a minha avó. Por acaso, apanhámos muito bom tempo, e esteve sempre calor. Olha, pelo menos de roda do fogareiro das sardinhas, que foi de onde eu não saí.  É que isto em Agosto, vem sempre muito primo de fora, gente que anda emigrada. E, vai-se a ver, ainda estão mais pobres que a gente, que aquilo lá fora também anda muito mal. A diferença é que eles lá, não percebem o que os outros dizem. Olha, antes assim, que a gente cá percebe, e também não ouvimos nada de jeito.

Por falar em nada de jeito, eu gosto muito de campismo! Sempre gostei, desde miúda. A gente não era bem campismo que a gente fazíamos. Mas a casinha dos meus pais, Deus me perdoe, era tão pobre que só lhe faltava um pau no meio para ser uma tenda. Olha, ou um circo, que os meus irmãos e mais eu, podíamos ser pobrezinhos, mas éramos muito reinadios. Mas hoje em dia, os miúdos só querem é estar agarrados aos computadores. Tínhamos lá uma data de gaiatos no campismo, e já nem uma bola se joga, nem uma macaca, nem um elástico, é tudo pós poquémõns. Eu ainda disse prá minha cunhada: «Ó Isaurete (que é como ela se chama, que a mãe era meio brasileira, por acaso, já morreu, foi de uma trombose que lhe deu na cabeça, e a filha até ficou muito bem, que ela tinha umas poucas de casas lá no Nordeste ou que é, e agora quem está a explorar aquilo é o meu irmão. A explorar aquilo e a mulher, vá).

Bom, onde é que eu ia? Ah, e digo eu assim prá Isaurete: «Ó Isaurete, em vez dos miúdos estarem com as caras enfiadas nos ai-pedes, porque é que a gente não vamos ali ao Fórum Almada, que é mesmo aqui defronte do campismo, e não les compramos uns cadernos de actividades? Olha, depois quando acabarem, podemos usar as folhas para acender o carvão, que aqui pinhas é coisa que não há, e a acendalha está pela hora da morte. O que é que tu achas, ó Isaurete?»

E lá foi ela perguntar ao meu irmão, que é o marido dela, que a Isaurete nunca não acha nada, vai-lhe sempre perguntar.  Educações antigas, como deve de ser.

Bom, nisto, lá se metemos a gente dentro de uma carreira que vai mesmo do campismo até Entrecampos, mas que pára lá no centro comercial. E lá fomos todas lampeiras, sentadinhas, todas muito animadas, no meio daqueles miúdos que são os drogados que vêm da praia, que é quem mais usa esta carreira. Lá iam, com as guitarrinhas deles, com os cãezinhos deles, com as garrafinhas de cerveja deles, e com aqueles cigarros que eles fumam que parece que cheiram a um Brise que há, não me lembra se é o de pinho se é o de frutos do bosque.

O que eu sei dizer é que a gente entramos na livraria e damos logo de caras com um livro de actividades que tanto dava para rapazes como para meninas! Juro pela minha saúde! Ia-me caindo tudo. E o tudo, neste caso, era o porte-moedas que eu levava debaixo do braço, que a tenda não tem chave. Pois com certeza.

Só de me lembrar, já estou a levar outra vez as mãos à cabeça! O mesmo livro de actividades para rapazes e pra raparigas, tudo junto. E a capa assim numa cor que eu não sei dizer qual é. Só sei que não era nem de rapaz nem de menina, que até aí chego eu, e só tenho a terceira classe. A quarta já não fiz, que a minha mãezinha era muito religiosa e dizia sempre «três foi a conta que Deus fez». E foi. Por acaso, foi. Pelo menos, é o que está lá escrito...

Bom, toca de abrir o livro, a Isaurete e mais eu, e só não cuspi o abatanado porque não estava a beber. A gente bate os olhos, oiçam bem, a gente bate os olhos num desenho de um rapaz a ajudar a mãe a fazer o lanche! A estender uma monda de roupa! A descascar ervilha pra dentro de um alguidar! A ter aulas de balé! De sapatilha! De sapatilha!

Mas não se ficou por aqui a fanchonice! Mais à frente, às páginas tantas (olha, por acaso agora é mesmo, que a gente às vezes usa assim estas expressões sem querer dizer nada, e agora até quer. Giro!) Bom, mais à frente, está-me um desenho duma miúda, de calção, assim a fazer a parte que vai a entrar num labirinto. E o que é que estava do outro lado? Um telescópico, senhores! Um telescópico! A menos que a menina fosse ceginha e aquilo servisse pá ajudar a enfiar melhor a linha no buraco da agulha, é uma pouca vergonha!

Mas que exemplos é que a gente queremos dar às nossas crianças? Que os rapazes e as meninas é tudo a mesma coisa? Que se devem vestir como quiserem, com as cores que lá entendem, e brincar com as coisas que gostam mais? Querem que os catraios e as catraias metam na cabeça que não há trabalhos para os homens e trabalhos para as mulheres? Que qualquer pessoa pode ser aquilo que quiser? Depois admiram-se, por exemplos, de haver mulheres cientistas, como eu ouvi outro dia na televisão! É verdade que os laboratórios devem de ficar mais num brinquinho, mas depois não descobrem é nada, e os cientistas é para descobrir coisas. E a gente, as mulheres, não estamos tão calhadas para isso. Estamos mais calhadas é para tomar conta dos filhos, tomar conta da casa, trabalhar fora, trabalhar dentro, tomar conta dos netos, tomar conta do marido, tomar conta dos pais, tomar conta do cão. Tirando isso, e eu contra mim falo, não sabemos fazer mais nada. Se não fossem os homens, isto não andava para a frente.

Por isso, pensem muito bem que exemplos é que estamos a dar às crianças. É que as crianças são o futuro, que era o que dizia a minha avó (também dizia que eram outra coisa, quando lhe íamos ao pomar, mas isso não posso escrever aqui).

Qualquer dia, põem as mulheres a tomar conta disto tudo. E depois venham-se cá queixar-se e dizer que eu não avisei! Não tem corrido tudo muito bem assim como está? Mudar para quê? Manias, é o que é!

Bom, tenho de ir, que está o marido a chamar. Deve de ser para lhe mudar o canal do televisor, que ele e a box...

Até prá semana, e com licença.

PS: Até liguei prá revista que era para publicarem as fotografias que tirei ao livro com o meu telemóvel, para vocês verem! Mas ninguém atendeu. Deviam de estar a almoçar. Aquilo também deve de ser horários à espanhola, com certeza, com almoços de três horas...

Enfim, é o país que temos.

É pró menino e prá menina - A Porteira - SÁBADO (sabado.pt)

sexta-feira, 16 de abril de 2021

O plano de Pedro Marques Lopes para passar de ilustre desconhecido a influente.

Sedutor e dramático, fez as amizades que o levaram para os blogues, jornais e programas que interessavam. Foi próximo de Passos e de Sócrates ao mesmo tempo e hoje é amigo de meia Lisboa, enquanto a outra meia o despreza.

Índice

"Era suposto ser um almoço, mas ele preferiu um jantar." No dia 24 de Agosto de 2008, o Diário de Notícias (DN) publicava mais uma edição da sua rubrica Dois Cafés e a Conta, que era escrita aos domingos pelo jornalista Jorge Fiel e se resumia a uma pequena entrevista à mesa com uma personalidade. Mas naquela edição quem escreveu a rubrica não foi Jorge Fiel, mas Fernanda Câncio. O entrevistado era Pedro Marques Lopes e a conta do jantar a dois no Pap’Açorda chegou aos €127,50: couvert (€5), carpaccio de mero (€16), pimentinhos padron (€10), linguadinhos fritos (€18), caldeirada (€25), Quinta dos Quatro Ventos tinto (€28), flûte de champanhe Mumm (€15), mousse de chocolate (€7), água do Luso (€2) e café (€1,50).

No texto, Câncio escrevia que Pedro Marques Lopes (PML) era uma estrela em ascensão: "Em pouco mais de seis meses, passou de ilustre desconhecido a vedeta do Jornal das 9 da SIC Notícias". Era um exagero, mas PML estava de facto em alta (ia começar também a comentar no Eixo do Mal) e Câncio terminava dizendo que "vai haver muitas ocasiões para falar de Pedro Marques Lopes". Foi uma frase profética. Poucos meses depois, PML aparecia como novo cronista do DN depois de o seu nome ter sido sugerido no jornal por Fernanda Câncio, como confirmaram à SÁBADO dois elementos da direcção da altura.

Ao mesmo tempo, Pedro Marques Lopes era também próximo de José Sócrates (primeiro ministro e namorado de Fernanda Câncio), ao ponto de o receber em casa em jantares, como revelam à nossa revista duas fontes que estiveram nesses repastos, onde também iam outros membros do Eixo do Mal. Sócrates podia até ir a pé, porque a casa de Marques Lopes, na Borges Carneiro, distava apenas 200 metros da residência oficial do primeiro-ministro.

A influência do governo de Sócrates no grupo do DN (a Global Media) é hoje conhecida face ao exposto nos processos Face Oculta e Operação Marquês, mas na altura era apenas uma teoria do meio. Do outro lado da barricada estava o Público, que andava a publicar peças sobre a licenciatura do primeiro-ministro, com o DN a responder num editorial (16 de Abril de 2007) que Sócrates foi "convincente nas respostas" e que o caso estava a ser "péssimo para o jornalismo português".

O jantar dos €127,50 entre Fernanda Câncio e o 'ilustre desconhecido' Pedro Marques Lopes. A conta que aparece no jornal (€122,50) está mal feita

O jantar dos €127,50 entre Fernanda Câncio e o "ilustre desconhecido" Pedro Marques Lopes. A conta que aparece no jornal (€122,50) está mal feitaDR


Quando entrou no DN, PML começou os ataques a tudo o que na imprensa incomodava Sócrates. O director do Público passou de referência a escárnio: se a 18 de Maio de 2007 escrevia no blogue Atlântico que José Manuel Fernandes era "um grande senhor", a 10 de Setembro de 2011 (é só um exemplo) já garantia no blogue União de Facto que "José Manuel Fernandes tomou banho".

Depois, o grupo Cofina, nomeadamente o Correio da Manhã e a SÁBADO (após o exclusivo da revista de 31 Julho de 2014 – de que Sócrates estava a ser investigado pelo Ministério Público –, PML falou no Eixo do Mal em "canalhice", apelidou a revista de "pasquim" e disse que "chamar àquilo uma notícia é um insulto a qualquer jornalista").

Até João Miguel Tavares se tornou um alvo quando em 2009 foi processado por Sócrates por causa de uma crónica – PML respondeu com outra, irónica, chamada "Mártires da opinião". Ainda hoje, sempre que pode, PML ataca o jornalista, tal como ataca o Observador, jornal digital onde Tavares e José Manuel Fernandes coincidem.

"O que mais me irritava era eu achar que ele [PML] argumentava que estava a defender o segredo de justiça e a presunção da inocência, mas eu tinha sempre a sensação de que estava era a defender os seus amigos", diz João Miguel Tavares à SÁBADO. "É uma coisa muito comum em Portugal. Só que depois esse padrão não é mantido quando estão a falar de pessoas de que não gostam, ou que não são de Portugal. Ou seja, enches a boca apenas para proteger pessoas do teu círculo de amizades."


O mistério dos ataques a António Oliveira

Na mesma altura em que Pedro Marques Lopes (PML) recebia Sócrates em casa, fazia também parte do núcleo duro de Pedro Passos Coelho, candidato a líder da oposição. Desde finais de 2007 que PML auxiliava Passos, e isso incluía desferir ataques a todos os líderes do PSD em todos os fóruns que tinha ao dispor.

Marques Mendes (2005-07) foi mimado com "falta de jeito", "terrível preguiça", "falta de preparação", "trapalhada", "inenarráveis declarações", "pior exemplo da política portuguesa" ou "capacidade quase ilimitada de fazer e dizer disparates". Luís Filipe Menezes (2007-08) "de cada vez que pensamos que já disse todos os disparates, consegue sempre surpreender com mais um". E em Manuela Ferreira Leite (2008-10), PML só via "incompetência", "oposição inexistente", ou "nível zero". Com Menezes ainda foi pior porque o PSD levantou suspeitas sobre a contratação que a RTP fez de Fernanda Câncio para uma série de reportagens.

561 exemplares. Foi o que vendeu o seu livro de crónicas (Suaves Portugueses, de 2014)

561 exemplares. Foi o que vendeu o seu livro de crónicas (Suaves Portugueses, de 2014)


Nessa altura, PML, que era oficialmente de direita, estava em dois tabuleiros (Sócrates e Passos) movendo a mesma peça: atacar o líder do PSD vigente. Quando o País se afundou numa grave crise financeira, em 2009, Sócrates só via à frente um Bloco Central de salvação nacional com Passos do outro lado. E até foi nesse ano que a TSF (outro órgão da Global Media) lançou um programa de debate chamado Bloco Central (com PML e o socialista Pedro Adão e Silva) e que o próprio PML criou um blogue chamado União de Facto ao lado de Francisco Proença de Carvalho, que mais tarde seria advogado do banqueiro Ricardo Salgado e que era filho de Daniel Proença de Carvalho, o advogado de José Sócrates.

Mesmo Daniel Proença de Carvalho, viria a ser nomeado administrador da Global Media, empresa cujo dono, Joaquim Oliveira, era há muito amigo e colega de golfe de Pedro Marques Lopes, que ainda hoje, sempre que pode, ataca o seu irmão (António Oliveira), como ainda agora o fez a propósito da candidatura à câmara de Gaia. O que não é surpreendente porque Joaquim e António estão de relações cortadas há muito, assim como não é surpreendente que as duas figuras da justiça que PML mais atacou tenham sido o juiz de instrução da Operação Marquês e a procuradora do Apito Dourado, Carlos Alexandre e Maria José Morgado, as duas maiores dores de cabeça de José Sócrates e Pinto da Costa, o mesmo presidente do FC Porto que em 2018 entregou o "Dragão de Ouro" a Pedro Marques Lopes.

O espaço público português é quase sempre composto por estes puzzles escondidos e saber como é que um "ilustre desconhecido" conseguiu ser uma peça em tantos é o que se tenta contar a seguir.

Imagens das suas inúmeras facetas públicas, a começar em 2008, quando comentava futebol para o Sapo

Imagens das suas inúmeras facetas públicas, a começar em 2008, quando comentava futebol para o Sapo


Neto de um guarda-rios e de um taxista, filho de um milionário

Pedro Marques Lopes (PML) nasceu na madrugada de 22 de Maio de 1966 em Santo Ildefonso, Porto. Os pais moravam numa zona modesta, na rua de Monsanto. O pai, Domingos Marques Lopes, era um pequeno empresário que viria mais tarde a fazer fortuna. Nasceu em 1940 em Eira Vedra, Vieira do Minho, e teve mais sete irmãos. O seu pai (o avô paterno de PML) "era guarda-rios", diz à SÁBADO o padre da aldeia, Luís Jácome. A mãe (a avó paterna de PML) "creio que era doméstica". Em 1965 casou-se com Maria Olímpia, filha única de uma professora primária e de um taxista ("A gente conhecia-o como o ‘Alfredo do assento’", recorda uma vizinha). Um ano depois nasceu PML e em 1971 uma filha, Leonor – já em Lisboa, para onde os Marques Lopes se tinham mudado.

Domingos Marques Lopes viria a fazer fortuna nos anos 90. Um acórdão de 2012 do Tribunal Central Administrativo Sul (relativo a uma acção fiscal do Feira Nova contra a Fazenda) revela que em 1992 o pai de Pedro Marques Lopes era o

principal accionista de uma holding de hipermercados (entre eles o Feira Nova) vendida à Jerónimo Martins (JM) por €142 milhões (preços de hoje). Esse valor foi por 74%. Os outros 26% foram comprados pela JM por €49 milhões a uma holding da Zona Franca da Madeira detida por duas empresas sediadas em paraísos fiscais (Gibraltar e Ilhas Virgens) – não está escrito quem eram os seus accionistas.

Além do império de supermercados que começou no Minho nos anos 70-80, Domingos Marques Lopes teve gasolineiras, foi administrador da Casa da Sorte e presidente de uma imobiliária do universo do BPN, banco de que foi secretário da Mesa da Assembleia-Geral (saiu em 2008, em vésperas da nacionalização). Hoje, gere património e é sócio na Ourogal (azeite).

O filho não teve tanto sucesso. Pedro Marques Lopes é vogal na Dónigo, empresa fundada pelo pai em 1980. Com capital social de €12 milhões, já se chamou Ino – Supermercados e é hoje uma imobiliária com seis alojamentos locais no Grande Porto. Teve em 2019 vendas de €310 mil e resultados de €22 mil (em 2018 tinham sido de €844 mil). É vogal noutra imobiliária, a Edipad, fundada em 2001 com capital social de €250 mil. Em 2019 teve vendas de €553 mil e resultados líquidos de €189 mil. Desde 1991, teve participações em várias empresas já extintas, incluindo de eventos (TeamPlay), exploração agrícola e pecuária (Monte da Borra), computadores (Desembrulhadas), construção (Século XVII, Mestre Pedreiro e Senama) e postos de combustível (Auto D. Dinis de Odivelas).

Em 1985, PML entrou em Direito na Católica. Falámos com três ex-colegas e todos disseram o mesmo. PML era "popular, gozão e sem filtro; era um tipo do Norte entre os betos de Lisboa". Mais: "Era endinheirado, era livre [financeiramente], mais do que os outros; foi a primeira pessoa que vi a usar um cartão de multibanco." PML atravessou o curso apenas com uma namorada (a "Bel"), que era o oposto, "uma ternura, muito calma; era difícil perceber como é que aquela relação batia certo, porque ele era um espalha-brasas".

A turma criou o primeiro jornal na Católica, A Palmada, onde PML terá escrito as primeiras opiniões. Marcelo Rebelo de Sousa foi um dos professores, Jorge Brito Ferreira (ex-advogado de Isabel dos Santos) foi um dos colegas de curso. Outra colega foi Paula Lourenço, que viria a ser a advogada de Carlos Santos Silva, o amigo rico de Sócrates. Lisboa sempre foi assim: pequena.

Em 1986, com 20 anos (e com cabelo), num jantar de turma do curso de Direito da Católica

Em 1986, com 20 anos (e com cabelo), num jantar de turma do curso de Direito da CatólicaDR


PML não exerceu e foi trabalhar nos negócios do pai, mas a dada altura terá tido um susto de saúde e decidiu que queria ser feliz e cumprir o seu sonho: escrever, opinar, ser influente. Esta viragem faz parte da sua narrativa de vida e deve tê-la contado dezenas de vezes porque várias fontes (díspares entre elas) nos disseram que lha ouviram.

A visibilidade de PML começou nos blogues numa altura em que eram uma febre. Foi na blogosfera que nasceram grande parte das estrelas das colunas de jornais de hoje. Muitos chegaram a deputados e alguns estão no Governo (o secretário de estado João Galamba e a ministra Mariana Vieira da Silva). Quanto a PML, todos são unânimes em considerar João Marques de Almeida, consultor, ex-assessor de Durão Barroso na Comissão Europeia, como "o pai do monstro", para usar uma expressão emprestada de uma das fontes. "Tínhamos amigos em comum e apresentei-o ao Paulo Pinto Mascarenhas", diz à SÁBADO. Este último, ex-jornalista, ex-assessor de Paulo Portas no governo de Durão Barroso (2002-04), criou em 2004 um blogue coletivo de direita, O Acidental. Entre os 23 autores estava Pedro Marques Lopes.


O pedido a João Quadros para chegar a Nuno Artur Silva


Em 2006, PML entrou noutro blogue coletivo famoso na altura, o 31 da Armada. A cidade continha em si uma aldeia de bloggers. "No 31 da Armada fazíamos festas onde convidávamos toda a gente. De esquerda também. As pessoas davam-se, o ambiente era saudável", recorda à SÁBADO Rodrigo Moita de Deus, cofundador.

Muitas redes de contactos nasceram assim na noite de Lisboa – no Frágil, no Lux, no Incógnito, no Snob, no Old Vic – e não foi de estranhar que em 2007, quando foi lançado um blogue pelo referendo sobre o aborto, estivessem lá a escrever esquerdistas (Câncio, Daniel Oliveira, Isabel Moreira ou Pedro Adão e Silva) e passistas (PML, Vasco Rato ou Carlos Abreu Amorim). Uma fonte desse movimento diz à SÁBADO que Câncio e PML se tornaram mais próximos nessa causa comum.

Como todos os comentadores, já se enganou muito. Previu a derrota do PSD nas Europeias de 2009 e um descalabro do CDS-PP nas
Legislativas de 2011. E em vésperas da geringonça: “Até me dá vontade de rir quando se faz o discurso de que António Costa vai unir a esquerda”

Como todos os comentadores, já se enganou muito. Previu a derrota do PSD nas Europeias de 2009 e um descalabro do CDS-PP nas Legislativas de 2011. E em vésperas da geringonça: “Até me dá vontade de rir quando se faz o discurso de que António Costa vai unir a esquerda”DR


Longe dos negócios do pai, PML estava agora no seu habitat. "É um tipo sedutor, muito bom vendedor, muito afável, põe-nos logo à vontade, acabou de nos conhecer e já nos trata por ‘meu querido’", disse-nos uma fonte. Outra quis desmistificar a ideia de que é só um tipo porreiro: "Ele não pode ser subestimado, de todo. Não é destituído de inteligência e quem o subestimar está tramado, porque quando der por ela, já soltou o seu charme." Os dois retratos fazem lembrar um post de PML em 2011 no blogue Sinusite Crónica, recordando o que aprendeu nas empresas do pai: "O merceeiro, que nunca deixarei de ser, é mais forte que os meus apetites. A atividade do merceeiro é vender. Se não se vender não se é merceeiro. Não é o produto que define o comerciante, é a venda."

A chegada ao Eixo do Mal – programa da SIC Notícias feito pelas Produções Fictícias, cujo dono era Nuno Artur Silva, o atual secretário de Estado do Cinema, Audivisual e Media – é todo um programa de vendas. João Quadros, na altura guionista na produtora, recorda à SÁBADO um jantar com PML (de quem era vizinho e conhecido desde a infância). "Ele pediu-me para o apresentar ao Nuno Artur Silva porque queria fazer coisas para aparecer, segundo as suas palavras. Eu perguntei-lhe o que é que ele ia para lá fazer se não escrevia." Não o fez. "Nunca meto cunhas."

Quem fez então a ponte? Foi outro blogger d’O Acidental. "Quem me falou do Pedro Marques Lopes foi o Nuno Costa Santos", recorda à SÁBADO Nuno Artur Silva. "Comecei a lê-lo, gostei do que ele escrevia, e depois conheci-o e gostei logo dele. Era um tipo curioso. Lembro-me de me dizer que chegou a um momento da vida em que só queria fazer o que lhe apetecia." Ficaram amigos. "O Pedro é muito sociável, gosta muito de rir, de conversar, é um hedonista, é viver a vida e tirar partido dela. Adora conversar, adora almoços e jantares, adora intriguices, adora humor – uma das coisas de que gosto imenso é da gargalhada dele e dos disparates que a gente diz quando vamos almoçar. Estamos o tempo todo a rir, é um tipo francamente bem-humorado."

Contámos a Nuno Artur Silva o sucedido com João Quadros. "Se me está a perguntar se eu me senti usado, de maneira nenhuma", diz. "Nunca senti que o Pedro estivesse atrás do que lhe pudesse proporcionar."

Com os filhos, a enteada e Pinto da Costa na gala em que recebeu o Dragão de Ouro.  Marques Lopes casou-se em 1993. A mulher era divorciada e tinha uma menina de 4 anos. Tiveram dois filhos e divorciaram-se em 2016

Com os filhos, a enteada e Pinto da Costa na gala em que recebeu o Dragão de Ouro. Marques Lopes casou-se em 1993. A mulher era divorciada e tinha uma menina de 4 anos. Tiveram dois filhos e divorciaram-se em 2016 Facebook Pedro Marques Lopes


PML pegou de estaca nas Produções Fictícias no verão de 2008. Começou por fazer comentários de futebol para um canal de Internet que a produtora tinha no portal Sapo (o embrião do atual Canal Q) e logo depois, quando José Júdice saiu do Eixo do Mal, Nuno Artur Silva convidou-o para o substituir. Só no Canal Q encontrámo-lo em seis programas; num deles, Inferno, apareceu 13 vezes, entre as temporadas 1 e 7 (2011 a 2017).

O mesmo aconteceu na Global Media – uma vez dentro do DN, começou a espalhar-se pela empresa: teve programas na TSF e crónicas e rubricas na Life, no Jornal de Notícias e no Dinheiro Vivo. Em 2009, ganhava €1.000 para escrever no DN (mais tarde passou para €1.200) e €250 por cada programa semanal do Eixo do Mal, apurou a SÁBADO.

Passos Coelho foi ao Frágil?Falta uma ligação: com Passos Coelho. Nasceu também através de outro blogger d’O Acidental, Vasco Rato, politólogo e professor universitário. A história remonta a finais de 2007, quando Pedro Passos Coelho começou a preparar a sua candidatura ao PSD e teve almoços e jantares com várias personalidades para falar sobre o estado do País. Vasco Rato ajudou nesses contactos e entre eles estava Pedro Marques Lopes (PML). Foi assim que Passos Coelho o conheceu, num almoço no resturante japonês de Tomo Kanazawa, em Pedrouços, recorda Vasco Rato à SÁBADO. Passos Coelho não resistiu à energia de Marques Lopes, e este começou aqui o seu Bloco Central privativo que iria durar até à primavera de 2010.

Do outro lado estava José Sócrates, outro sedutor, e este muito preocupado com a opinião publicada. "Houve ali um momento em que o Sócrates decidiu arregimentar uma série de bloggers em jantares e conferências. O Pedro Marques Lopes foi só mais um deles. Foi completamente seduzido por aquilo. Era giro, era o poder, o ficar a saber as coisas em primeira mão, o que para um comentador até faz algum sentido", diz Rodrigo Moita de Deus.

A amizade com Sócrates foi ocultada do grande público. Em 2016, Sócrates usou um artigo de Pedro Marques Lopes num pedido de recusa do juiz Carlos Alexandre da Operação Marquês

A amizade com Sócrates foi ocultada do grande público. Em 2016, Sócrates usou um artigo de Pedro Marques Lopes num pedido de recusa do juiz Carlos Alexandre da Operação MarquêsDR


Passos fez a mesma coisa nas suas campanhas no PSD e PML ajudou nos contactos. "Houve uns sete ou oito almoços e jantares em Lisboa, quase sempre no Nobre, porque tinha uma sala à parte. Eram convidados bloggers de todas as tendências", recorda um elemento do staff de Passos. "Lembro-me perfeitamente do fim de um desses jantares, já cá fora, na rua, um desses bloggers perguntou ao Passos se não queria ir ao Frágil, porque estavam lá o Marques Lopes e a Câncio." Passos não foi.

Pouco tempo depois do almoço, os dois Pedros já se tratavam por tu e eram próximos. A 15 de março de 2008, o DN escrevia que Passos jantara dois dias antes com Pedro Marques Lopes, "analista político e um dos bloggers de maior sucesso". A 19 de abril, Passos Coelho foi à sede do PSD formalizar a candidatura "num potente Mercedes conduzido por… Pedro Marques Lopes", escrevia de novo o DN, que não tinha dúvidas: "Cada vez mais, Marques Lopes se afigura como o principal conselheiro de Passos. Um braço-direito na verdadeira aceção da palavra." A 24 de agosto, Fernanda Câncio jantava com PML no Pap’Açorda (a refeição dos €127,50) e descrevia-o assim: "Há quem o diga ‘a cabeça’ de Pedro Passos Coelho." A seguir, indicou-o à direção do DN. Marques Lopes chegou ao jornal com o mesmo rótulo com que chegou ao Eixo do Mal: alguém que falava pelo novo PSD, o de Passos.

Marques Lopes conheceu  Fernanda Câncio na altura em que bloggers políticos se davam na noite de Lisboa

Marques Lopes conheceu Fernanda Câncio na altura em que bloggers políticos se davam na noite de LisboaDR


Em pouco tempo, PML já conhecia meia Lisboa e aparecia em todo o lado: debates, conferências, movimentos, entrevistas e manifestos. Começou a escrever sobre golfe porque o diretor da revista Golfe Magazine (Ramiro Jesus) o conhecia do campo da Penha Longa, e lhe pediu umas crónicas pro bono, como contou à SÁBADO. Apareceu como convidado em vários festivais literários (Braga, Oeiras, Matosinhos, Guimarães, Viseu, etc.) porque eram todos organizados pela mesma empresa, a Booktailors, cujo dono, Paulo Ferreira, conheceu PML em lançamentos de livros de amigos, diz à SÁBADO. Haverá razões iguais para textos seus de blogues terem sido publicados num jornal de Moçambique (A Verdade) ou para ter escrito numa revista erótica portuguesa (Penthouse), mas os respetivos diretores não quiserem falar para este artigo. E começou a escrever n’A Bola e a opinar n’A Bola TV, porque era um portista conhecido, diz à SÁBADO Vítor Serpa, o diretor.

O padrão estabeleceu-se num círculo: os amigos levaram-no para espaços de opinião, que trouxeram a notoriedade que originou novos espaços de opinião.

A sua lista de colaborações e opiniões desde 2004 é extraordinária. Encontrá-mo-lo em 11 blogues e sites (O Acidental, 31 da Armada, Atlântico, Sim ao Referendo, Sinusite Crónica, Pedro Marques Lopes, União de Facto, Fãs da Madeira, Sapo, TV Net e Bons Rapazes).

Em jornais e revistas, também 11: DN, JN, A Bola, Jornal I, Dinheiro Vivo, Life, Atlântico, Epicur, Penthouse, A Verdade e Golfe Magazine.

Finalmente, em três rádios (Europa, RCP e TSF) e cinco canais de televisão (SIC Notícias, Canal Q, RTP 3, A Bola TV e Porto Canal)

Este ano, saiu do DN depois de uma longa colaboração. O jornal renegociou as avenças com os cronistas e Marques Lopes, soube a SÁBADO, não aceitou e saiu.

O segredo com Sócrates e o choque com Relvas

Dando-se com Sócrates e Passos, PML não o escondia. Uma fonte lembra-se de "estarmos a discutir política e ele estar sempre ‘pois, eu já disse isso ao Pedro [Passos Coelho]’" Era frequente falar de Sócrates em jantares. Num deles, do blogue Atlântico, no restaurante Alfândega, com dezenas de pessoas à mesa, "fez questão de dizer que era íntimo do Sócrates", recorda quem lá estava. "Ele gostava de aparecer como o conselheiro do príncipe, fosse qual fosse, o Sócrates, ou o Passos Coelho, um tipo que estava por dentro das coisas, um conselheiro, que era escutado e ouvido quando era preciso tomar decisões."

Se a proximidade com Passos foi pública, a com Sócrates foi privada – a SÁBADO não encontrou qualquer disclaimer de PML aos seus leitores, ouvintes ou telespetadores, como fez por exemplo há pouco tempo com Nuno Artur Silva, quando comentou no Eixo do Mal uma polémica do secretário de Estado.

Subitamente, PML passou a crítico de Passos Coelho. Corre a teoria de que almejava um cargo que lhe foi sonegado. A ideia de que PML queria ser político é controversa. Até para ele. Em 2014 dizia no Canal Q: "Nunca pensei na minha vida exercer um cargo político." E no mesmo ano ao Expresso: "Acho perfeitamente possível. Se o cargo político for interessante, não vejo porque não."

O DN bem  promoveu Pedro Marques Lopes em 2008, mas o braço-direito de Passos era Miguel Relvas

O DN bem promoveu Pedro Marques Lopes em 2008, mas o braço-direito de Passos era Miguel Relvas


No mínimo, a relação foi ficando fria. Há relatos de que PML se gabava de ser o cérebro de Passos, há suspeitas de fugas de informação para o DN e para Sócrates, ou que PML antecipava nos seus espaços de opinião as estratégias de Passos (a gota de água terá sido o discurso no congresso de 12 de março de 2010). Várias fontes garantiram-nos que Miguel Relvas, braço-direito de Passos, chocou de frente com PML. Quando Passos foi eleito no PSD, a 26 de março de 2010, PML estava já distante. No verão, já não era visto no PSD. O conselheiro acabava de perder um dos seus príncipes.

Depois, foi um crescendo de críticas até ao fim da legislatura de Passos, em 2015. A amizade com Sócrates e os ataques a todos os líderes do PSD deixaram-no com anticorpos em toda a Lisboa de direita. João Marques de Almeida, o que "criou o monstro", não esconde a surpresa: "Fiquei muito surpreendido. Eu não seria capaz de atacar pessoas com quem trabalhei e que me fizeram convites. Chama-se a isso lealdade. E credibilidade das nossas opiniões. Só uma grande ambição pode explicar a falta de lealdade."

Fernanda Câncio não respondeu aos nossos emails, sms, chamadas e mensagens via WhatsApp. Sócrates não quis saber qual era o assunto e desligou o telefone. Miguel Relvas e Nuno Costa Santos não quiseram falar. Pedro Marques Lopes disse que só respondia por escrito, por email. Fizemos-lhe perguntas sobre Sócrates, Câncio, António Oliveira, Nuno Artur Silva e Passos Coelho. Respondeu por email: "As perguntas que me envia são insidiosas e insultuosas. Não pretendem traçar um perfil, são um processo de intenções, prática aliás comum do grupo empresarial de que faz parte. Não as posso, evidentemente, considerar."

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/o-plano-de-pedro-marques-lopes-para-passar-de-ilustre-desconhecido-a-influente

Pentágono confirma que fotos e vídeos de Ovnis vazados são legítimos

O Departamento de Defesa dos EUA afirma que imagens de objectos triangulares piscando no céu e outros Ovnis foram tiradas por pessoal da marinha em 2019

Fomentando o crescente interesse em objectos voadores não identificados, ou o que o governo dos EUA chama de fenómenos aéreos não identificados (UAP), o Departamento de Defesa confirmou na quinta-feira que as fotos e vídeos de Ovnis vazados recentemente eram legítimos e tirados por pessoal da marinha.

Sue Gough, porta-voz do Pentágono, confirmou à CNN que as imagens e filmagens de um objeto triangular piscando no céu, junto com outras UAPs que foram categorizadas como uma "esfera", "bolota" e "dirigível metálico", foram tiradas por pessoal da marinha em 2019.

Gough disse à CNN que o departamento de defesa não comentaria mais sobre a natureza das filmagens ou compartilharia quaisquer exames sobre elas.

“Para manter a segurança das operações e evitar a divulgação de informações que possam ser úteis a adversários em potencial, o DoD não discute publicamente os detalhes das observações ou dos exames de incursões relatadas em nossos campos de treinamento ou espaço aéreo designado, incluindo aquelas incursões inicialmente designadas como UAP ”, Disse Gough no comunicado.

Em abril passado, o Pentágono lançou três vídeos de UAPs feitos em 2004 e 2015 que incluíam áudio de pilotos maravilhados com a velocidade dos objetos que estavam vendo. "Olha essa coisa, cara!" disse um piloto. “Está girando!”

O lançamento da filmagem despertou o interesse federal na investigação das UAPs. Em agosto, o departamento de defesa criou uma força-tarefa da UAP após pressão de legisladores do Congresso. Em dezembro, o Congresso aprovou seu projeto de lei de financiamento do governo que incluía uma diretiva ao diretor nacional de inteligência e ao secretário de defesa para divulgar um relatório sobre as UAPs em seis meses.

No mês passado, o ex-diretor de inteligência de Donald Trump, John Ratcliffe, provocou o conteúdo do relatório, dizendo à Fox News que o documento incluiria avistamentos desconhecidos de “todo o mundo”.

“Francamente, há muito mais avistamentos do que os que foram divulgados”, disse Ratcliffe.

De acordo com o projeto de lei de gastos do Congresso, o relatório da UAP deve ser publicado no início de junho para cumprir o prazo.

Em abril passado, o Pentágono lançou três vídeos de OVNIs feitos em 2004 e 2015.

Em abril passado, o Pentágono lançou três vídeos de OVNIs feitos em 2004 e 2015. Fotografia: Staff / AFP / Getty Images

https://www.theguardian.com/us-news/2021/apr/16/pentagon-ufos-leaked-photos-uap

quinta-feira, 15 de abril de 2021

O Cão de Sócrates e o Cão de Costa

À semelhança do presidente dos estados unidos, José Sócrates adoptou um animal de estimação e foi ao canil buscar um cachorro. Como bom canino que é o animal tinha o hábito de roer tudo aquilo a que conseguia deitar o dente. Adorava documentos oficiais e deitou o dente a um «dvd intitulado 'espanhol para falar com chefes de estado'», a «um telemóvel que fazia ruídos estranhos quando se atendia (este por acaso até foi o meu dono que me deu para roer)»,e a «três ou quatro orçamentos de estado», que «são sempre os mais difíceis de roer». Viveu uma vida de luxo em são bento até ao dia em que roeu um «miserável papel», «uma coisa aparentemente rasca, sem valor mas afinal era valiosíssima», o certificado de habilitações do seu dono. De castigo foi para Bruxelas/Estrasburgo.

À semelhança de Sócrates, Antonio Costa, também foi ao canil adoptar um cachorro de estimação.

'Ar condicionado' persa: veja como a antiga civilização lidava com o intenso calor.

A torre de vento desenvolvida pelos persas tinha o objectivo de refrigerar áreas internas e amenizar o calor do deserto.

Exemplo de torre de vento no Souq Waqif, Doha, Qatar

Exemplo de torre de vento no Souq Waqif, Doha, Qatar - Wikimedia Commons

Ao longo da história, civilizações foram assoladas pelo Sol escaldante e pelo clima seco de regiões desérticas, como foi o caso dos persas. Mesmo dentro das construções a situação não ficava mais amena, os levando a procurar alternativas que pudessem conter as ondas de calor intenso.

Torre de vento

Para conter o forte calor, antigos arquitectos persas encontraram uma solução que muito se assemelha ao que conhecemos hoje como ar condicionado. Por meio de estudos sobre os princípios da termodinâmica, da aerodinâmica e da transferência de calor, eles desenvolveram uma torre de vento, capaz de refrigerar áreas internas.

Segundo o site Hypeness, por volta de 4 mil a.C., os persas criaram o badgir, palavra persa que significa “apanhador de vento” e que também pode representar "torre de vento".

Um dos sistemas dos antigos persas / Crédito: Wikimedia Commons

Acredita-se que as primeiras estruturas tenham sido construídas na cidade iraniana de Yazd, na antiga Pérsia. Logo a ideia foi levada para as regiões que hoje correspondem ao Afeganistão, Emirados Árabes Unidos e Bahrein.

É possível encontrar, ainda, tais construções semelhantes no Egipto Antigo, que são representadas em murais datados de 1350 a.C., encontrados na tumba do oficial egípcio Nebamun.

O funcionamento

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Um dos sistemas dos antigos persas / Crédito: Wikimedia Commons

A torre de vento, como ficou conhecida, é uma estrutura alta, com tecto e paredes grossas, construída em edifícios ou habitações. Projectada de acordo com a variação da direcção no local da construção, essas estruturas costumam ter no topo uma ou mais janelas, voltadas para a direcção do vento.

Em casos que o vento costumava soprar apenas na direcção de um lado, com pouca variação, os persas construíam somente uma janela de entrada de ar. Já em situações que o vento soprava a partir de diferentes direcções, mais janelas eram abertas para equilibrar a temperatura do ambiente.

De acordo com o Hypeness, a forma mais simples funcionava só circulando o vento. As janelas de entrada captavam o vento — que tem maior velocidade média no topo da torre do que no solo — e o direccionava para o interior da construção por meio de frestas.

Desta forma, o ar frio, mais denso, tende a descer pela torre e circular pelo edifício até chegar às janelas de saída na parede oposta — maiores do que as de captação de ar. Esse fluxo faz com que o ar quente seja sugado até a torre e saia pelas janelas.

Uma separação vertical, construída entre as paredes opostas, impedia que os fluxos de entrada e saída se cruzassem. Outra maneira era criar uma ligação entre a casa e o canal de água subterrâneo. Neste caso, a torre era aberta na direcção oposta do vento.

A diferença de pressão fazia com que o ar frio do canal fosse sugado para dentro da residência. Havia, ainda, uma variação solar, na qual a torre era projectada para aquecer o ar dentro dela. Isso fazia com que o ar subisse a e saísse para fora, actuando como um exaustor e reforçando o efeito.

Já as actuais formas populares de ventilação que conhecemos hoje em dia só foram inventadas a partir do século 19, como o ventilador, de 1882, e o primeiro ar condicionado, de 1902. 


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Tudo o que sempre quis saber sobre sexo anal

O principal problema associado ao sexo anal é o facto de ser uma prática desconhecida, principalmente para o sexo feminino. Contudo, este acto sexual, visto como infame e doloroso, pode proporcionar-lhe muito prazer.

Tudo o que sempre quis saber sobre sexo anal

No livro O Melhor Sexo do Mundo, Cristina Mira Santos, psicóloga e coacher sexual, explica que “o sexo anal tem uma carga negativa um tanto injusta, porque se para uns é impensável, para outros é indispensável – ou não haveria tanta gente adepta da sua prática”. Mas para que consiga mudar de perspectiva, é preciso desfazer alguns mitos e abrir os horizontes.

Vera Ribeiro, psicóloga clínica e sexóloga, afirma no seu livro Manual de Sedução, “não existem regras na intimidade, cada um de nós impõe o limite dentro daquilo que considera ser confortável para si mesmo. A base fundamental desta prática íntima é a segurança e confiança entre o casal”.

Mas é importante reforçar que “uma relação não deixa de ser mais ou menos completa se tiver relação anal ou não”, esclarece.

O elefante na sala

Uma das razões pelas quais as mulheres são reticentes a experimentar sexo anal é o medo de que este seja demasiado doloroso e desconfortável.

Para compreender melhor a razão pela qual se o sexo anal está associado à dor, Vera Ribeiro explica: “todos temos dois esfíncteres anais, designadamente dois músculos em formato circular que se contraem e relaxam. O primeiro esfíncter encontra-se na entrada do ânus, e o outro aproximadamente três centímetros depois. Quanto maior é a tensão muscular, por ansiedade, nervosismo, receio de dor, maior será o desconforto aquando da penetração. No entanto, a dor provocada tenderá a desaparecer, pela adaptação do corpo.”

A psicóloga Cristina Mira Santos acrescenta ainda que “o ânus é uma das zonas mais irrigadas do corpo humano e, por isso mesmo, uma das mais sensíveis, com mais receptores nervosos. Ou seja, um alvo de prazer que merece ser explorado”.

Resumindo, o mais importante é não sentir pressão e descontrair, pois só assim poderá usufruir do melhor que o sexo anal lhe pode proporcionar.

7 dicas a ter em conta para a primeira vez

No livro Manual de Sedução (Manuscrito 2018), Vera Ribeiro revela algumas dicas sobre o que deve, e o que não deve fazer.

Use sempre preservativo, pois só assim irá prevenir infecções sexualmente transmissíveis. Para além disso, protege o pénis de outras infecções que podem ser provocadas pelo contacto com as fezes;

Escolha um lubrificante à base de água. O ânus não tem lubrificação natural para a penetração, e assim irá prevenir algum tipo de ulceração anal;

De forma a evitar uma entrada abrupta do pénis, experimente um dilatador anal. O ânus vai sendo dilatado gradualmente, ajudando a relaxar a musculatura;

Não utilize anestésicos locais. Se deixar de sentir, não só não terá prazer como pode levar a que algum movimento mais brusco provoque uma lesão, ulceração local ou até mesmo rompimento das pregas, sem se aperceber;

Se efectuar penetração anal, não deve passar directamente para a penetração vaginal, pois pode transportar bactérias provenientes do ânus que podem causar infecções vaginais e/ou urinárias. Troque sempre de preservativo;

A limpeza intestinal pode ser perigosa e desconfortável. Em alternativa, limpe apenas a entrada do ânus, com água;

O sexo anal não é recomendado a pessoas com hemorróidas ou outro tipo de secreção ou fissura anal.

O caminho até ao orgasmo anal

Tal como já referimos acima, o ânus é uma zona com muitas terminações nervosas e, por isso, uma excelente fonte de prazer. Mas o mais importante para atingir um orgasmo anal é relaxar, não só fisicamente como mentalmente.

Se tem dúvidas quanto à posição ideal, saiba que não há nenhum segredo nesta matéria, a não ser que a comunicação é a chave para o sucesso. Contudo, segundo os relatos feitos em consultório com a psicóloga Vera Ribeiro, as preferidas são a posição de quatro (de joelhos e palmas das mãos para baixo) e lado a lado (também conhecida como conchinha).

A psicóloga clínica e sexóloga adverte que “a posição escolhida deve favorecer quem é penetrado, para que possa controlar a profundidade e cadência da penetração, porque quem penetra não tem percepção da dor ou do desconforto do parceiro”.

Da teoria à prática: sexo anal sem dor

A psicóloga e coacher sexual, Cristina Mira Santos, reuniu no livro O Melhor Sexo do Mundo (A Esfera dos Livros, 2016) um manual de instruções para a prática do sexo anal, para que a primeira experiência seja o mais satisfatória possível.

É importante que esteja numa posição confortável, que deixe o ânus a descoberto e relaxado, idealmente apoiadas nos joelhos e cotovelos;

A entrada do ânus deve ser massajada em movimentos circulares, com o dedo perfeitamente lubrificado, repetindo até sentir o músculo relaxado;

Após uma massagem demorada, o dedo indicador deve começar a ser introduzido, aplicando ligeira pressão na entrada do ânus. Ao mesmo tempo, o dedo deve ir fazendo movimentos giratórios, como se estivesse a abrir caminho;

O mesmo dedo pode começar a entrar em profundidade, sempre de forma gradual e lentamente. É natural que sinta resistência, por isso, certifique-se que mantém a zona lubrificada.

Dedique-se a explorar. Do dedo ao pénis ainda vai um longo caminho. Pode, isso sim, passar para um vibrador ou dildo de espessura intermédia, entre o dedo e o pénis.

A partir daqui, fica à consideração do seu desejo. Pode desistir ou, se até se sentiu confortável com esta nova experiência, avançar para o sexo anal.

Escrito por

Ana Carvas

6 mitos e verdades sobre sexo anal explicados por uma sexóloga

Será que o sexo anal dói sempre? Megwyn White, sexóloga e directora de educação na Satisfyer, desvenda os principais mitos associados a esta prática. Descubra tudo.

6 mitos e verdades sobre sexo anal explicados por uma sexóloga

São muitas as ideias pré-concebidas sobre sexo anal que o tornam ainda um tema tabu entre os casais. Infelizmente, a maior parte desses mitos não passam disso mesmo, mitos.

Assim, desvendamos algumas verdades sobre esta prática para que posso usufruir do sexo anal sem qualquer sentimento de culpa. Porque desde que haja abertura, vontade e consentimento, no sexo tudo é válido.

Mitos associados ao sexo anal

Mito: Se gosto de sexo anal, eu ou o meu parceiro podemos ser gays

Isto é 100% mito. De facto, muitas mulheres gostam de sexo anal, e está a tornar-se ainda mais popular em pessoas com menos de 45 anos, de acordo com um recente inquérito do CDC (Centers for Disease Control) que revelou que 36% das mulheres e 44% dos homens afirmam ter feito sexo anal com um parceiro do sexo oposto.

O ânus tem milhares de nervos de prazer e alguns desses nervos também se ligam directamente ao clítoris. Os homens que não são homossexuais também podem desfrutar de sexo anal com o que se chama uma pegging tool que uma mulher pode usar, com um dedo ou com um vibrador.

O sexo anal para um homem pode ser excitante pelas mesmas razões que o é para as mulheres, e também pelo facto de haver a oportunidade de tocar naquilo a que se chama o “ponto P”, também conhecido como a sensível glândula prostática que é responsável por provocar orgasmos nos homens.

Os bloqueios psicológicos e pensamentos negativos são uma enorme parte do que impede as pessoas de explorar o sexo anal. Seja honesta acerca das suas crenças sobre sexo anal e trabalhe no sentido de as quebrar, derrubando as barreiras pré-concebidas em torno desta prática.

Mito: Vai doer

Embora o sexo anal precise de algum treino, bastante lubrificante e uma estimulação para preparar o corpo para o acto, não precisa de doer. Repito, NÃO precisa de doer.

Este mito perpetua, infelizmente, um fenómeno chamado ‘dor por antecipação’. Basicamente, se pensarmos que algo vai ser doloroso, o nosso corpo começa a preparar-se literalmente para a dor e não só provoca uma tensão, como amplifica a experiência da dor.

O treino anal é essencial para os principiantes, em conjunto com os preliminares para ajudar a relaxar o corpo. O sexo anal nunca tem de doer e, se acontecer, significa que terá de voltar a treinar o seu corpo lentamente.

Tenha sempre em mente um mantra do tipo “não dói, não precisa de doer, nunca deve doer”.

Mito: Depois da primeira vez, o meu parceiro vai querer fazer sempre sexo anal

Este é um medo comum entre as mulheres que, de alguma forma, sentem que o seu parceiro não vai querer ter sexo vaginal depois de terem sexo anal. Este quase nunca é o caso.

Geralmente, o sexo anal acontece a seguir ao sexo vaginal, uma vez que ajuda a aumentar a excitação. Pode considerar-se o sexo anal como um ‘tratamento especial’ para o qual pode trabalhar a dois.

A penetração vaginal terá sempre um lugar no prazer. Basta pensar no sexo anal como uma oportunidade de alargar as experiências sexuais com o seu parceiro.

Mito: Vai ser confuso e embaraçoso.

Este é um mito realmente comum, e precauções simples podem ajudá-la a aumentar a confiança de que a experiência não precisa de ser confusa ou embaraçosa.

Em primeiro lugar, o reto não armazena fezes, mas o sexo anal pode desencadear a que o ânus liberte o intestino se tiver fezes suficientes. É melhor tentar esvaziar os intestinos antes de decidir explorar o sexo anal.

Algumas pessoas gostam de fazer duche anal, mas eu não recomendo, pois pode limpar as bactérias saudáveis que se destinam a forrar o intestino. No entanto, pode usar uma seringa de orelha ou nariz com um bocado de água no interior durante cerca de 30 segundos a 1 minuto e depois esvaziar. Isso vai ajudar a limpar o intestino de quaisquer detritos. Também pode querer manter os toalhetes à mão.

Mito: As mulheres não podem ter orgasmos através do sexo anal

Isto é definitivamente um grande mito. As mulheres são capazes de ter orgasmos surpreendentes através do sexo anal. Há muitos nervos de prazer, e mais, a estimulação anal pode muitas vezes aumentar a estimulação do ponto G.

Para algumas mulheres, a imagem mental de fazer algo “tão maroto” pode ser espantosa ao ponto de a levar muito além do seu limite.

Mito: No sexo anal tem de haver penetração

Enquanto o sexo anal com um pénis pode ser fantástico, há outras maneiras maravilhosas de explorar esta prática que não envolve penetração, mas envolve os muitos nervos sensíveis ao prazer do ânus.

Algumas das possibilidades incluem brincar com os dedos, rimming (tocar no ânus com a língua), usar um acessório como um butt plug ou anal beads, ou ainda experimentar outro tipo de vibrador.

É importante que alarguemos a nossa definição de sexo anal para que não consideremos a penetração como a única opção de prazer.

Escrito por

Ana Carvas

terça-feira, 6 de abril de 2021

Caçadores de cabeças e sugadouros de recursos públicos

Para ter prédios de renda acessível no centro da cidade, é necessário a câmara de Lisboa investir como se estivesse a construir imobiliário de luxo?

Sílvia Amaro

João Miguel Tavares

30 de Março de 2021

Comecemos por uma boa notícia: hoje em dia dá um bocadinho mais de trabalho assaltar o erário público e manipular o Estado. Há dez ou vinte anos, o dinheiro ia directamente para o bolso de alguém, em troca de favores evidentes. As pessoas mais sofisticadas usavam testas-de-ferro; as medianamente sofisticadas usavam membros da família; as nada sofisticadas recebiam malas com dinheiro. Hoje, felizmente, há um certo cuidado em disfarçar gastos estapafúrdios, embrulhando-os em práticas meritórias. Dois exemplos.

Exemplo 1: Avenida da República, 106, Lisboa. Fixem o endereço: é um prédio amarelinho muito bonito, de quatro andares, mesmo a chegar a Entrecampos. Só dá para quatro famílias – um andar por piso. Um luxo. Está a ser reabilitado pela Câmara de Lisboa, e daqui a uns tempos convinha ficarmos a conhecer os seus inquilinos: se lisboetas anónimos à procura de um T4 com rendas acessíveis – “casas que as pessoas podem pagar”, como está escrito na rede do prédio em obras –; se o primo da tia de um assessor do presidente da câmara, dado estas ocasiões serem muito atreitas a coincidências miraculosas.

Na segunda-feira, o Observador deu conta de que o conjunto de prédios adquiridos pela câmara à Segurança Social ia custar à autarquia entre 200 a 400 mil euros por apartamento, após serem reabilitados e colocados ao serviço do programa de renda acessível. Nessa lista de prédios lá estava o amarelinho de Entrecampos. Foi comprado por 1,1 milhões de euros e levou mais 400 mil para reabilitar. Resultado: cada um dos quatro apartamentos vai custar à câmara a módica quantia de 375 mil euros.

Vamos por um momento fingir que o Tribunal de Contas não disse que a compra daqueles prédios tinha sido péssima para a Segurança Social, que podia ter recebido muito mais em leilão. Vamos também fingir que a própria câmara não andou a alienar património na mesma zona há meia-dúzia de anos, vendendo dois prédios e vários lotes de terreno em hasta pública por não os considerar estratégicos, para agora vir dizer – justificando os preços absurdos que está a pagar – que “a reabilitação é sempre mais cara do que a construção”. Pergunto: para ter prédios de renda acessível no centro da cidade é necessário a Câmara de Lisboa investir como se estivesse a construir imobiliário de luxo?

Exemplo 2: Avenida Marechal Gomes da Costa, 37, Lisboa. É onde fica a sede da RTP. O mandato da administração chegou ao fim. Para assessorar o Conselho Geral Independente na escolha da nova administração, a RTP tomou esta boa iniciativa: contratar a empresa Boyden Portugal, especialista em head hunting, para auxiliar no processo de recrutamento e selecção dos candidatos. Bravo. Óptima ideia. Muito melhor do que ser o gabinete de um ministro a soprar nomes.

Só que o resultado foi este: para presidente do conselho de administração da RTP foi escolhido o presidente da Lusa Nicolau Santos, e para futuro vogal do conselho de administração da RTP foi escolhido o actual vogal do conselho de administração da RTP Hugo Figueiredo, que por acaso foi um dos responsáveis pela contratação da Boyden para assessorar o processo por 70 mil euros (mais IVA). O head hunting é uma boa prática empresarial, sim senhor. Mas, em primeiro lugar, convém prestar atenção aos conflitos de interesse; e, em segundo, se a ideia era caçar as cabeças de Nicolau Santos e de Hugo Figueiredo, eu farejava-as perfeitamente por 70 euros, sem sequer me levantar do sofá.

sábado, 3 de abril de 2021

O assassino do clima desconhecido da Alemanha.

Segundo o Der Spiegel

Seu nome é inexprimível, o impacto climático é mil vezes mais forte que o do CO₂: o Cloreto de sulfurila, usado em grandes quantidades, escapa diretamente para a atmosfera - sem aparecer no balanço climático. O dano é enorme.

Evidências…

A maioria das mães percebeu há muito tempo, e agora há evidências científicas: a maioria das tarefas domésticas adicionais devido ao escritório em casa e à educação escolar em casa são feitas por mulheres.

Trabalhar em casa compensa na saúde?

Pesquisadores suecos descobriram que as pessoas que trabalham em casa dormem 34 minutos a mais em média . A maioria deles é tão produtiva quanto as pessoas que trabalham fora de suas próprias quatro paredes.

Não seria prático se os dentes doentes pudessem crescer novamente?

Em vez de ter um implante parafusado na mandíbula do dentista, os pacientes recebiam um medicamento que geraria uma nova ferramenta de mastigação. Os pesquisadores japoneses estão agora mais próximos desse sonho.