A história já tem dimensão nacional e resume-se em poucas linhas. A Câmara Municipal de Setúbal não arranjou melhor solução para receber os refugiados ucranianos do que entregar essa recepção a uma Associação, a Edintsvo, cujo líder é Igor Kashin, com manifestas ligações ao Kremlin, coordenador do Conselho da Casa Russa em Portugal e promovido, porVladimir Putin, a responsável máximo no Congresso dos Compatriotas Russos, realizado em Moscovo.
A pergunta que, imediatamente, nos vem à baila é por que razão, tratando-se de cidadãos ucranianos, de língua ucraniana, a Câmara não contratou compatriotas seus, emigrados em Portugal e que já dominem a língua portuguesa? Não nos venham dizer que não é possível encontrar na vasta comunidade ucraniana em Portugal, quem esteja em condições de ser contratado pela Câmara de Setúbal para fazer aquela tarefa.
Naturalmente que sim, seria possível e fácil encontrar em Portugal ucranianos a falarem português, portanto em condições de receberem os seus compatriotas. O problema é que, em Portugal, em vez de se fazerem as coisas dentro de uma lógica racional e evidente, as instituições partem para o conluio político e para o amiguismo partidário, E, é claro, o presidente da Câmara de Setúbal, homem do PCP, decidiu contratar, com o dinheiro dos nossos impostos, uma associação e um casal com profundas ligações ao Kremlin de Putin. E isto aconteceu durante anos!
Como consequência, o activo casal, Igor e esposa, queriam saber detalhes sobre o paradeiro, na Ucrânia, dos homens e familiares dos refugiados que chegavam a Portugal. Imaginam pois onde ia parar a informação recolhida!
Tudo isto, se não fosse triste e desse uma péssima imagem do país, era bizarro.
Mas esta prática não se limitou à Câmara de Setúbal. Outras edilidades seguiram a mesma trajectória de Setúbal, entregando a associações russas a recepção de refugiados ucranianos e isto, recentemente, já com uma guerra a decorrer entre aqueles dois países!
O que é espantoso é que na gigantesca máquina da administração pública portuguesa, entre as centenas de directores-gerais, adjuntos de gabinete, assessores, e quejandos, não tenha havido uma alma que tenha tido a ideia de sussurrar ao ouvido do seu responsável acima qualquer coisa como “olhe que há associações russas a receber ucranianos, com os dois países em guerra”. Pois se não houve, foi incompetência. E se não o fizeram por questões políticas, é conluio!
Nós não somos daqueles que defendem a ilegalização de partidos políticos. Os que existem e tiveram o voto dos portugueses têm todo o direito de se inserirem na lógica democrática. Mas o que não têm direito é de, ao usar a sua influência política nas instituições onde estão presentes, se colocarem ao serviço de interesses de países não democráticos, como é o caso da Rússia deVladimir Putin, onde existe uma ditadura feroz que não hesita em invadir um país que, tranquilamente, estava a fazer o seu caminho de jovem democracia.
Portugal é um país inserido na União Europeia, pertencente à NATO. Tem responsabilidades com os seus parceiros ocidentais.
Os dirigentes políticos e os responsáveis das instituições nacionais não podem estar de olhos fechados a realidades que violam os nossos princípios de país democrático. Sabemos que, durante seis anos, tivemos um governo de geringonça apoiado por forças políticas que estavam, e estão, nas antípodas do que é a NATO e a União Europeia e que, certamente, graças a esse apoio, terão ganho influência acrescida na sociedade portuguesa. Contudo, essa sua influência deve ser posta ao serviço do bem-estar da população e do progresso de país, e não ao serviço de obscuros objectivos destinados a servir Moscovo.
Por incompetência, por conluio político, ou por ambos, o país deixou cair uma nódoa nas relações de Portugal com a Ucrânia.
António Capinha
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