quarta-feira, 13 de julho de 2022

Estrangeiros gozam tolos portugueses.

No artigo da semana passada comprovámos com exemplos concretos que os portugueses pagam, no Verão, muito mais caro que os europeus do Norte para virem dar uns mergulhos ao Algarve. Não admira, assim, que Lisboa e o Algarve tenham mais estrangeiros do que nunca, a gozarem a vida, comendo bem pelos restaurantes, jogando nos muitos campos de golfe ou frequentando os locais de entretenimento aquático com as suas crianças.
Isto é possível porque não gastaram quase nada para chegar ao Algarve de avião “low cost”. Pelo contrário, os portugueses para chegarem ao sul do país gastaram demasiado em gasolina e portagens, além de serem muito mais mal pagos e muito mais taxados. Assim, os desgraçados lusitanos nem sequer podem pensar em jogar golfe no seu próprio país e ficam à porta dos parques de diversão algarvios com as crianças a chorarem por não entrarem. Além disso, coitados dos portugueses, é vê-los em Monte Gordo a carregar a pesada marmita para a família, com o farnel atrás, mesmo em férias, tendo de cozinhar e acarretar comida sem poderem gozar de um descanso a sério. Como riem à gargalhada os estrangeiros, levezinhos e nada carregados, a beber um vinho do Douro de qualidade e a comer uma boa mariscada na esplanada na praia, de verem passar os autóctones, carregados e sem dinheiro, a sofrerem e suarem tanto em vez de relaxarem e mergulharem. Pensam e comentam com razão: “estes portugueses são uns tolos, que estão sempre a votar no socialismo e a trazer para o Governo socialistas mentirosos compulsivos, como o Costa ou o Sócrates, mais os ‘boys’ da JS, ministros incompetentes que só sabem gastar o dinheiro dos impostos sem lhes darem serviços de jeito em troca. A companhia de aviação dos tolos portugueses, a TAP, custa-lhes os olhos da cara em impostos – milhares de milhões de euros já lá desapareceram – mas os tolos nem a conseguem usar para vir para o Algarve como nós, que usamos as nossas companhias norte-europeias baratas e que não nos custam nada em impostos!”.
Escrevemos do Algarve, onde vimos com frequência desde Inglaterra, ao fim-de-semana, por os preços de lá para cá serem tão baratos. Na família do autor destas linhas, como luso-britânicos-franceses-americanos, temos muitos amigos e colegas estrangeiros que visitam Portugal. Ouvimos deles, sem filtros, o que pensam verdadeiramente os nossos turistas dos portugueses: “são uns tolos que votam sempre no socialismo, apesar de por causa disso não terem dinheiro para viver sequer na sua própria capital, Lisboa, e aqui no Algarve. Quando vêm de férias são uns tesos que não conseguem disfrutar nem de um décimo de tudo o que nós, estrangeiros, disfrutamos”. Lamentam ainda que em “Lisboa e no Algarve já quase nem ouvimos falar português, os portugueses, coitados, devem estar todos nos subúrbios, mais longe do mar e da capital e não podem comprar nada bom”. Acrescentam: “já no tempo dos nossos avós e de Salazar era assim, estrangeiros a disfrutar, mas portugueses aflitos de dinheiro. Agora, com o PS, para eles está economicamente igual ou pior, esta gente tola não evolui. Tem mentalidade de pobreza, votam em quem os mantém pobres. Nunca escolhem os melhores para os governar, só os piores”.
Assim, os estrangeiros comentam, meio divertidos, meio condoídos, que os portugueses no Algarve não têm dinheiro porque gastaram todo o dinheiro das férias em tresloucados impostos socialistas sobre a gasolina (quase 60% do custo de cada litro vai para alimentar a festa socialista!), bizarras negociatas misturadas com políticos socialistas que explicam o custo enormíssimo das auto-estradas, que deveriam ser gratuitas, pois foram pagas pela Europa e são largamente mantidas por dinheiros públicos; ou nas companhias ferroviárias como a CP e áreas como a TAP, mal geridas por “boys” socialistas, directores incapazes que desbaratam dinheiro público sem fim e cobram preços tão absurdamente altos que afastam a maioria dos clientes. E tais companhias só dão prejuízo apesar dos preços caríssimos.
Nada vai ficar bem no Portugal desgovernado por um socialista mentiroso compulsivo e pelos seus ministros “boys” socialistas vindos da JS. Tais cigarras incompetentes e irresponsáveis não se preparam para o Inverno de inflação e recessão mundial onde estamos mergulhados. Em vez de terem aproveitado o Verão financeiro dos juros baixos para pagarem a dívida, esbanjaram o nosso dinheiro como insectos acéfalos, incapazes de se precaverem para o futuro ou fazerem as contas mais básicas. Aumentaram o número de funcionários públicos aos milhares e gastaram milhares de milhões na TAP. Agora, o Banco Central Europeu (BCE), para controlar a inflação galopante com os preços de tudo a aumentarem, vai ter que aumentar os juros, como os seus congéneres americano e britânico, que já o fizeram. O BCE só não aumentou ainda os juros, incluindo os juros da dívida portuguesa, porque tem pena dos desgraçados dos portugueses terem um Governo que não aproveitou os juros baixos e esbanjou tanto. No entanto, ao mesmo tempo pensam – bem – foram estes tolos portugueses que votaram, inacreditavelmente, no socialismo. Agora que paguem o preço de tal burrice. Quando o BCE aumentar os juros serão mais milhares de milhões de euros para pagar os juros da nossa enorme dívida. Isto além do dinheiro que já foi desperdiçado nos últimos anos em negócios socialistas sem nada em troca para os cidadãos. Assim, os serviços da saúde ou os transportes públicos vão ficar ainda mais caros e piores. Em Portugal vai tudo ficar mais caro e pior nesta recessão mundial. As bolsas baixam na América do Norte, mas quem mais paga em sofrimento o preço do mercado do urso americano são os tolos dos portugueses, que recompensaram nos bons tempos económicos mundiais um governo socialista que nada poupava e tudo gastava em proveito dos seus “boys”.
Não é, assim, de espantar que quando falamos com os nossos amigos estrangeiros estes “carreguem” ainda mais, “maravilhados” com o preço da tolice socialista dos portugueses: “sabemos que o vosso Serviço Nacional de Saúde nunca funciona e por isso 50% de vocês têm de pagar seguros de saúde, enquanto na Inglaterra não precisamos de pagar nada a mais e é o Estado que paga tudo. No entanto, vocês, tolos, acreditam que têm o melhor SNS do mundo e a melhor ministra. Isto só porque são facilmente enganados como tolos por jornais subornados pagos pelo PS que vos dizem que sim, apesar de vocês verem que evidentemente não é nada assim. Porque é que vocês são tão tolos e estão sempre a votar PS? Não têm vergonha de serem pobres e mal governados, de verem o vosso dinheiro sempre a voar para nada?”.
Acrescentam, a gozar com os tolos portugueses, tão tolos que votam tanto PS: “ainda por cima nos aeroportos têm um Governo socialista tão desorganizado e incapaz que havia filas sem fim para entrarmos em Portugal. Ah! E, lá em Londres, os desgraçados dos portugueses emigrados têm um consulado nomeado por “boys” socialistas, tão incompetentes e molengões que nunca atendem ninguém senão por cunha socialista”. Assim, o desgraçado do português emigrado tem de vir a Portugal de propósito só para tirar uma foto e renovar cartões e passaportes. Isto quando pagam a empregados socialistas do consulado londrino ajudas de custo enormes para eles viverem “à grande e à francesa” num dos locais mais caros e exclusivos de Londres, que é onde fica o consulado dos “boys” socialistas que só querem passear, sem ninguém lhes falar em trabalhar ou bem servir os contribuintes portugueses.
O estrangeiro tem toda a razão em ter pena (embora se riam um bocadinho à nossa custa) dos portugueses, sem vergonha nem noção do ridículo de votarem repetidamente no incompetente PS
Pedro Caetano
https://jornaldiabo.com/

As manhãs formidáveis

Quando, há vinte anos, tive a primeira experiência de vida no campo, fui um dia ao dentista. Não era um médico local, mas um pipi urbano todo bem posto, ali radicado por matrimónio, com quem conversei dois dedos. Confiou-me então uma informação que me deixou atónita: além dos velhos dali, que não o consultavam ou só apareciam em avançado estado de infecção para arrancar mais um dente, havia “o problema dos rapazes”. Ao contrário das meninas, não criavam na infância o hábito de lavar os dentes.

Nem de manhã nem depois das refeições nem em sonhos: nunca! Achei aquilo suspeito, mas o médico assegurou-me: “Chegam aqui com complicações chatas, algumas graves, e eu, além de os tratar, ainda tenho que os catequizar e, muitas vezes, de lhes ralhar!” Não chegámos a especular sobre o motivo desta diferença de padrão, mas fui pensando nele: “Será que se julgam tão soberanos e irresistíveis que pensam poder conquistar as mulheres mesmo com mau hálito ou dentes podres?” A pergunta pode ser preconceituosa, mas dada a sagacidade da História, é legítima. Até porque sabemos que uma mulher descompensada pode ver no esgar escurecido de um homem a oportunidade de o tornar sorriso. Enfim. Passou-se há anos, mas desconfio que a educação que os progenitores dão aos rapazes continua a ser condescendente, e que é nessa complacência que estarão as raízes não só de certas enfermidades, mas também de alguns defeitos indesculpáveis, como a presunção de impunidade face ao desleixo.

Ainda sobre dentes: no tribunal da consciência desta que vos escreve, mais implacável do que outros por diariamente me constituir arguida, não reconheço nem a mulheres nem a homens o direito de acumularem riqueza sem antes tratarem dos seus dentes. Deparar com o dono de um Mercedes refulgente a abrir-nos a porta do carro com um sorriso falhado é uma incongruência que não consigo perdoar. E há tantos e tantas por aí, a conduzir topos de gama ou a carregar jóias nos decotes, impantes de uma superioridade desmentida ao primeiro esgar!  Não falo, claro, de quem se deixa abandonar por falta de meios, com quem todos nos solidarizamos e que tantas vezes já protagonizámos, mas com aqueles que, prósperos, negligenciam o valor supremo da boa apresentação iludindo-nos com outros polimentos. A minha avó dizia “Mais vale ter charme do que um curso superior”. Não vou tão longe: mais vale um sorriso bem tratado do que esta pindérica trilogia de sucesso que vai mantendo felizes certos humanos: carro, casa, piscina. Apresentar um sorriso decente a quem nos saúda é uma habilitação mínima para se viver em sociedade. E não me venham falar dos orçamentos de 50 mil euros justificados por implantes com o preço gatuno de 1500 euros a unidade! Por Deus: continua a existir a velha prótese, por um quinquagésimo do valor, e, se têm medo de ir ao dentista ou de se deixarem anestesiar, que tenham sempre presente, ao menos, a tristeza que vão passando ao Mundo com o espectáculo deprimente dos seus sorrisos cavernosos.

450 euros: valor do montante que acabo de pagar na oficina por estragos no motor do carro causados por ferradelas de ratos. Junto ao depósito da água até se acumulavam corcovos de flora não identificada para a construção explícita de ninho. Primeiro, foi o alarme de avaria no painel: VEÍCULO A SOLICITAR REPARAÇÃO. Segundo, o diagnóstico do electricista, depois de usar aquele artefacto futurista para detecção de problemas electrónicos, que nos preparou para a falência da correia de transmissão. Redondo engano, e fui eu a detectá-lo ao abrir a tampa do motor: três tubos ratados a céu aberto. A casa de campo onde vivo não tem garagem e o carro dorme ao relento, como as vacas dos prados açorianos. Conselho do mecânico: “Coloque uma ou duas pastilhas de veneno algures no motor, bem entaladas para não caírem ao chão e envenenarem os seus cães.” Como se não bastasse.

Richard Zenith, escritor, tradutor e crítico literário americano-português, residente em Lisboa, vencedor do Prémio Pessoa em 2012, escreveu a maior biografia de Pessoa até hoje publicada. Mais de mil páginas temperadas de humor, o que é raríssimo entre académicos. Assim, para quem pensa tudo saber sobre o nosso poeta maior, antes ou depois da devassa das suas arcas inéditas, prepare-se: encontrará um ror de informações preciosas que permaneceram desconhecidas até este trabalho.  “Pessoa teve a sorte de encontrar em Zenith um amigo póstumo”, diz o New York Times. O Fernando e nós, felizmente. Assim que tive um exemplar nas mãos, prantei-o na mesa ao lado do sofá onde costumo sentar-me e, todos os dias, salivo e hesito. Sei que, depois de penetrar no túnel da sua leitura, obcecada como sou quando raramente me entusiasmo, me privarei durante pelo menos um mês de tudo o que se passa no exterior. Depois, lembro-me que não há nada fora ou dentro de nós que o Pessoa não tenha tratado com maior profundidade e consciência. Em todos os continentes Pessoa é festejado como um rei, escreveu ainda alguém – que privilégio ser seu súbdito!

Para a semana há mais. 

Rita Ferro

talequal

terça-feira, 12 de julho de 2022

COMO SERÁ PORTUGAL DAQUI A 30 ANOS.

Teremos moeda, bancos, caixas multibanco?

Teremos comércio de rua? Teremos governo e políticos? Haverá democracia? Como nos vamos mover? Como nos iremos relacionar?

Como serão as nossas casas, os nossos carros, as nossas famílias? Teremos Segurança Social e Serviço Nacional de Saúde? Como será uma sala de aula em 2052? O que vamos comer? E o que vamos vestir?


Avancemos 30 anos. Ano de 2052. Como estaremos na mobilidade, na educação, na saúde, na economia, na política, na família, na arquitetura, na gastronomia, na moda? Como seremos enquanto povo, enquanto comunidade. O país não é uma ilha, será sempre condicionado e influenciado pela evolução do Mundo, sobretudo da Europa. Portugal continuará no mesmo sítio, na ponta ocidental do velho continente. Não seremos a Áustria da Europa, nem um país nórdico do sul. Estaremos melhor?

Seremos melhores? O passado ajuda a espreitar o futuro. Seja ele qual for. Seja ele como for.

Educação sem Inteligência Artificial (IA) em 2052, em Portugal, será altamente improvável.As salas de futuro já são mais de 30, a tecnologia está nas escolas há anos, manuais digitais não são novidade. Entremos então numa sala de aula do 4.º ano em 2052. Como será? Sónia Moreira, professora do Ensino Básico no Agrupamento Escultor António Fernandes Sá, emVila Nova de Gaia, formadora de professores, vencedora do GlobalTeacher Prize Portugal em 2020, edição portuguesa do considerado Prémio Nobel do ensino, pelo seu Projeto Coopera baseado na aprendizagem cooperativa, detalha o que vê. “As mesas redondas continuam indispensáveis para as aprendizagens ativas em grupos cooperativos, onde cada aluno assume diferentes funções: repórter, gestor das emoções, secretário, gestor dos materiais, entre outras.” Funções registadas nos tablets pessoais e aplicadas em modelo de rotatividade. “As paredes e o teto são painéis interativos onde a decoração é atualizada com fotografias digitais e vídeos gravados pelos alunos marcando os melhores momentos de aprendizagem emanais.”Animações interativas, realidade aumentada e realidade virtual com hologramas.Tudo isso fará parte dos desafios propostos aos alunos para “aprendizagens com significado”.

Aprendizagens com significado.

Seremos um país autónomo nas energias renováveis, mais consciente em termos de mobilidade sustentável. Teremos mais espaços para andar a pé, de bicicleta, de trotineta.Teremos mais veículos elétricos, movidos a hidrogénio.


Melhor qualidade do ar, menos ruído com menos motores a combustão, menos trânsito, mobilidade partilhada.

Mais espaços verdes. Possivelmente sem aeroporto no centro de Lisboa.

Eventualmente com uma boa ligação à Europa com um comboio noturno e de qualidade para Paris, por exemplo. Este é o país de Francisco Ferreira, investigador, professor, engenheiro doAmbiente, presidente da associação ambientalista Zero, para 2052. “Estou confiante de que teremos uma história de sucesso”, confessa. “Teremos melhores acessibilidades comparativamente com o que agora temos, com menos constrangimentos, com menos poluição.”Teremos menos plástico, menos embalagens, mais materiais alternativos, mais reutilização – ou o discurso da economia circular iria por água abaixo. A reciclagem será porta a porta, maximizada, pagaremos de acordo com o que produzimos. E a população continuará concentrada no litoral.

O futuro mostra cidades voadoras que se montam em qualquer lugar num piscar de olhos, veículos no Espaço, drones que fazem cargas e descargas. Paula Teles, fundadora e presidente da MPT – Mobilidade e Planeamento doTerritório, engenheira civil, tem os pés no chão, não descola dos seus 30 anos de trabalho junto das autarquias de norte a sul do país.

Sabe dos empecilhos burocráticos e financeiros, instrumentos de planeamento que encravam e atrasam a mudança. evoluída, um conjunto de circuitos mais eficiente. Não haverá metro como em Lisboa e no Porto noutras cidades, não se justifica e é demasiado caro. PaulaTeles vê metrobus bonitos, confortáveis, seguros, mais baixos do que os autocarros de hoje, com pneus escondidos. “Espero que 50% do asfalto seja ocupado pelo transporte público rodoviário.”

Francisco Ferreira vê cidades com maior densidade para evitar deslocações e habitação na periferia. Centros históricos ocupados, espera. “As cidades vão estar mais bonitas no sentido da qualidade urbana”, diz. Mas teremos momentos de seca, aumento das temperaturas, subida do nível do mar com ameaça de praias e habitações na primeira linha de costa, fenómenos extremos, e a biodiversidade estará em causa. “As consequências das alterações climáticas pesarão bastante”, avisa o presidente da Zero. Teremos dificuldade na reabilitação de edifícios, a ocupação do território poderá ainda ser um bicho de sete cabeças.

Como construir, onde construir.

Paula Teles mantém os pés no chão.

Mobilidade sustentável e cidades amigas do ambiente, sim, redes de partilha entre os diversos modos de transporte, sim, energias mais sustentáveis. Mas vê também um país assimétrico entre Litoral e Interior. Aldeias desabitadas e o turismo como motor para manter vivos alguns lugares recônditos do país. “O Interior daqui a 30 anos poderá ser melhor do que o Interior que tivemos nos últimos 30 anos”, admite. Já há gerações a recuperar casas, que querem viver em ambientais naturais, que valorizam a agricultura. Em 2052, poderá haver frutos. Paula Teles não desliga de velhas questões. “Temos um país muito desorganizado territorialmente, os PDM [Planos Diretores Municipais] demoram 15 a 20 anos a serem feitos, temos problemas de instrumentos de planeamento, temos de andar mais rápido.”

A tecnologia pula e avança, a ciência e o conhecimento não sossegam, a evolução é constante.Teremos frigoríficos que detetam que falta manteiga ou leite e tratam automaticamente da encomenda.Teremos carros sem condutores.Teremos computadores mais avançados, máquinas mais inteligentes. Banda larga em todo sítio que nos ligará à Internet das Coisas. Usaremos mais energias alternativas. Teremos mais painéis solares nas casas e a resistência térmica será mais robusta.Viveremos mais tempo, teremos mais saúde e qualidade de vida. “O futuro é uma caixinha de surpresas e ainda bem que assim é”, observa Carlos Fiolhais, físico, professor, ensaísta, cientista, que, todavia, faz um reparo: os profetas enganam-se na maior parte das vezes. Uma coisa é certa. “O destino de Portugal está ligado ao destino do Mundo, sobretudo ao destino da Europa. Ou temos destino com a Europa ou não temos destino nenhum.”

Avancemos para 2052. Obteremos energia de modo diferente, continuaremos a comprar os últimos gadgets, quem pode, claro. “Somos mais consumidores do que criadores e esse é um grande drama nacional.” Continuaremos sobretudo consumidores da inovação mundial, portanto.A computação quântica revelará ainda mais o seu poder no processamento de informação. Se já achamos a velocidade surpreendente, Carlos Fiolhais garante que ainda não vimos nada.

E as casas e as cidades? Como serão?

Adaptadas aos modelos de vida, com certeza. Casas com quartos e salas maiores,

porque o teletrabalho assim pede, com eletrodomésticos inteligentes, jardins aproveitados para plantar o que consumimos, prédios não muito altos com varandas e terraços generosos, zonas comuns de convívio para moradores, não apenas com uma coluna de elevadores e um lanço de escadas. Cidades inclusivas, amáveis, acolhedoras, agradáveis. O arquiteto Gonçalo Byrne, presidente daOrdem dosArquitetos, desenha uma utopia concretizável se as metas definidas forem cumpridas. O Pacto Ecológico Europeu estabelece zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa em 2050, que ninguém nem nenhuma região seja deixado para trás, zero acumulação de lixo. “As cidades não têm guetos, são todas inclusivas, e todos têm direito a uma vida de qualidade e condigna.” Basta respeitar a sustentabilidade ambiental, social, económica.

Viveremos próximo de tudo, tudo estará perto, o trabalho, as escolas, os hospitais. Cidades mais arborizadas, menos carros nas ruas, automóveis partilhados, aviões movidos a hidrogénio. Mais floresta, bolsas de áreas rurais para produzir o que necessitamos para cozinhar.

Casas com menos betão e mais materiais alternativos que não arranquem matéria-prima da Natureza. Casas mais luminosas, mais luz natural, ventilação natural, com mais painéis solares. Casas partilhadas pelos modos de vida, pelo trabalho nómada. Turismo democrati-

zado na plenitude. Este é o retrato de Gonçalo Byrne. “Tem uma carga de utopia muito grande, mas está nas mãos dos políticos.”

Como nos relacionaremos? Como serão as famílias? JoãoTeixeira Lopes, sociólogo, professor da Universidade do Porto, apresenta dois cenários bem diferentes, o que significa que há escolhas a fazer, o que significa regulação. O cenário otimista é o de integração da diversidade. O pessimista, de exclusão da diversidade. No primeiro, Portugal é um país interétnico, com mais migrantes, maior natalidade, dois a três filhos por casal, famílias diversas “sem qualquer tipo de monopólio quanto à questão do género” e orientação sexual. “A distinção entre famílias normais e famílias atípicas deixa de existir.” Teixeira Lopes fala em superavit da Segurança Social que permitirá criar novos postos de trabalho em duas áreas fundamentais. No cuidar dos idosos e na preservação do ambiente. Portugal será um país envelhecido, não há como contornar – segundo um relatório das Nações Unidas, será o quarto mais envelhecido do Mundo em 2050, ano em que cerca de 40% da nossa população terá mais de 60 anos. No cenário pessimista, menos população, menos um a dois milhões (as previsões apontam para uma perda de 1,2 milhões de habitantes até 2050 em Portugal), menos filhos (há um cenário que indica 1,6 filhos por mulher em 2050), mais desigualdades sociais, despovoamento, assimetrias territoriais, sentimentos de xenofobia, exclusão do outro, exclusão da diferença.


UM PROFESSOR E UM ROBÔ, CONTINUIDADE OU RAIVA NA ECONOMIA

Sónia Moreira continua dentro de uma sala de aula de 2052.O professor tem um par pedagógico digital, concebido através da IA, ou seja, um robô. Sónia atribui-lhe um nome, chama-lhe Dodi. “Dodi, com capacidade de analisar quantidades massivas de informação, ajuda a identificar melhor as aprendizagens realizadas pelos alunos de uma forma transversal, respeitando os seus diferentes estilos de aprendizagem e o ritmo de cada um.” “A mudança mais influente que Dodi proporciona na vida escolar é  o fim dos testes e dos exames nacionais”,

refere. E isso acontece graças ao trabalho da dupla, um ser humano e um robô que, sustenta, “de uma forma pormenorizada asseguram a informação atualizada de todo o processo de aprendizagem de cada aluno, incluindo o seu estado emocional e motivacional.” Mais.

“Por detrás deste trabalho permanenteestão câmaras de filmar que permitem a Dodi recolher, organizar, interpretar e aconselhar, em tempo real, dados que possibilitam observar o que os alunos fazem, e monitorizar a concentração, o envolvimento e a motivação, sem que nenhum aluno fique para trás.”

O papel do professor será insubstituível. As salas de aula continuarão a ter quem ensina e quem aprende. Sónia Moreira avança 30 anos e vê um professor com “total disponibilidade para circular pelos grupos de trabalho cooperativo, observando e disponibilizando uma orientação personalizada, com feedback útil e atempado, apercebendo-se e reconhecendo o valor da sua ajuda humana no valor das competências sociais, reconstruindo relações com o ser humano, com o Planeta e com a tecnologia.”

Teremos Governo, tal como o conhecemos, teremos Parlamento, teremos partidos políticos, teremos democracia (se não houver uma catástrofe). O voto eletrónico será generalizado.

O único instrumento para prever o futuro é o passado, realça António Costa Pinto, politólogo, investigador coordenador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Portugal, país pequeno e periférico, será influenciado e condicionado pela ordem internacional. “Se há uma mudança na Europa, a probabilidade de se refletir em Portugal é grande.” A evolução da democracia portuguesa “vai depender muito da União Europeia, enquanto clube de países democráticos”, acrescenta. Continuaremos um país com regime semipresidencialista se não houver alterações profundas. Com partidos políticos, de Esquerda, de Direita, de extremos. Não serão os mesmos, poderão ter outros nomes. “Há variáveis que estruturam as democracias europeias que não se alteram.”Os partidos que as representam é que se vão alterando. As grandes famílias políticas não mudam de um dia para o outro. No sistema político, poucas ou

nenhumas alterações. “Nos últimos 40 anos de democracia, mantivemos uma capacidade de experimentação nula.”O sistema eleitoral é o mesmo, a lei eleitoral é a mesma.

Quem aterrar em Portugal em 2052  não estranhará a economia. Não será muito diferente de agora.Teremos moeda, teremos euro, teremos instituições bancárias, teremos comércio de rua, faremos mais compras online, teremos meios eletrónicos mais sofisticados de pagamento. João César das Neves, economista, professor catedrático, fala em dois cenários possíveis, um mais provável do que outro. Um cenário de continuidade, mais previsível. E um cenário de raiva, um país zangado. Na primeira possibilidade, as mudanças do costume.

“A economia vai ser muito parecida. Um governo a dizer que o país está ótimo e a oposição a dizer que está a andar para trás”, resume. Continuamos na União Europeia, temos euros na carteira e no banco. “É provável que o dinheiro esteja bastante desmaterializado, faremos mais pagamentos com o telemóvel, mas não vai desaparecer o papel da moeda.”

As notas andarão a circular, portanto.

“Seremos um país mais rico, mas continuaremos a ter problemas, continuaremos a ter pobres, continuaremos a ter desigualdades.”

E o cenário de raiva. César das Neves fala das lutas da China e da Rússia, do BE e do Chega, dos sindicatos, as pessoas zangam-se, destrói-se tudo, a lógica económica muda, inverte-se o pensamento. “Pensamos em como vamos arranjar bombas e destruir o vizinho.”

Este panorama é menos provável, embora o 24 de fevereiro, o início da guerra na Ucrânia, tenha aberto portas inimagináveis até agora.


MAIS MÍOPES, MAIS SAÚDE DIGITAL, MENOS CRÍTICOS

O sociólogo Boaventura de Sousa Santos, professor, investigador, diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, faz uma ressalva. “Os sociólogos são treinados para prever o passado, não o futuro.” Mesmo assim, se acordasse em 2052, talvez dissesse ou escrevesse o seguinte de um país mais pobre, mais desigual. Um Portugal acrítico e precário. “É preocupante a frustração e o desalento que se apoderou da sociedade portuguesa à medida que se foram aprofundando as desigualdades sociais, que se estendeu a largos setores da opinião pública o racismo, o sexismo e a xenofobia que há uns 30 anos eram bandeiras da extrema-direita e que a produção de pensamento crítico nas universidades e na comunicação social foi sendo desencorajada e mesmo proibida.” Olhando para o passado, teremos saudades. “Há uma nostalgia difusa de um tempo em que Portugal tinha um serviço nacional de saúde de razoável qualidade, em que a educação era considerada um bem público e não um negócio, em que a política, ainda que distorcida por muita corrupção, era um campo de diferenças ideológicas em que as eleições eram fortemente disputadas e os programas políticos eram distintos,

sobretudo os que se identificavam como sendo de Esquerda e de Direita.” 2052 será diferente, muito diferente. “Entretanto, generalizou-se a categoria dos oli-

garcas e são eles quem manda no país.”

Boaventura está em 2052. “Se dantes ‘os donos de tudo isto’ eram incomodados com processos judiciais, hoje são perseguidos todos os que ousem denunciá-los. Não sei mesmo se esta nota será publicada e se eu não perderei o meu emprego por tê-la escrito.” Censura? “Não

é que haja censura nem que estaremos em ditadura. A distinção entre liberdades autorizadas e não autorizadas tornou-se crucial e o problema é ninguém saber quem a faz e com que critério. É-nos reconhecido o direito a não ter direitos.”

Seja como for, a saúde será melhor do que agora. Mais tecnologia disponível em casa, saúde digital.Os cancros serão doenças crónicas, as doenças ligadas ao envelhecimento continuarão, as previsões indicam que um terço da população europeia terá mais de 65 anos em

2060. O astigmatismo e a miopia serão patologias prevalentes. As viroses não vão desaparecer, as infeções bacterianas e a resistência aos antibióticos continuarão a dar dores de cabeça.

Os hospitais portugueses, como estruturas, não serão muito diferentes.Teremos SNS? “É inevitável existir, particularmente para proteção dos mais frá-

geis”, responde Mário Barbosa, professor catedrático emérito da Universidade do Porto, investigador do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, especialista em Bioengenharia, que está a preparar um encontro sobre as perspetivas da Bioengenharia em 2050 no conceito de saúde integrativa – homem, animal, ambiente. Será a 27 de outubro deste ano na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto.

“A comunicação vai continuar a ser facilitada pelos meios informáticos que temos à disposição.”A pandemia mostrou que é possível termos uma vacina em nove meses. “O que é preciso, política económica e socialmente, é que sejamos capazes de mobilizar os recursos existentes, capazes de perceber a gravidade dos problemas.” Mário Barbosa fala na centralização de recursos mais caros e descentralização da tecnologia por centros de saúde e outras estruturas. “Mas nada vai substituir o médico, o enfermeiro, os profissionais de saúde.”Os portugueses terão mais acesso à informação. “Cada vez mais, os cidadãos têm de estar melhor informados.Os profissionais de saúde, os cientistas e a comunicação social têm um papel fundamental na informação de qualidade. Melhor informado não é mais informado.” Saber procurar informação, aprender o que há de novo. E há dois pontos fundamentais quando se olha para o futuro, segundo Mário Barbosa. A alimentação e o exercício físico para o bem-estar físico e mental.


TRADICIONAIS À MESA, CONSERVADORES NA ROUPA

Como nos relacionaremos?Teixeira Lopes volta a apresentar dois cenários. À distância, a reboque do capitalismo da vigilância, ou face a face, à antiga. “A plataformização das vidas é cada vez maior, a vigilância é total, perdemos privacidade, as relações sociais são cada vez mais remotas.” Viveremos em bolhas sociais, em realidades virtuais.Ou não.

Comunicaremos face a face, corpo a corpo, pele com pele. O espaço de encontro será presencial porque é mais denso, mais rico, mais sensorial.

O trabalho, tal como o conhecemos, não desaparecerá, a tecnologia transforma o mercado laboral há muito tempo, o teletrabalho será mais rotineiro.As máquinas, os computadores, a inteligência artificial estão a libertar o ser humano para outras tarefas. “O presencial continuará a ser muito importante”, adianta César das Neves. Teremos patrões mais vigilantes e novos problemas. Mas nada de novo no mercado de trabalho. O economista não vê robôs a transformar o que existe. “Os salários vão crescer poucochinho.”O que naturalmente terá impacto no poder de compra.

Na banca, preveem-se mudanças significativas.Aqui, Portugal continuará nas mãos dos políticos e do que for regulado. “A questão é saber se os bancos são portugueses ou se estão nas mãos dos estrangeiros. Se vamos entrar a sério no mercado financeiro europeu, que ainda não existe”, indica César das Neves.

Voltemos à política.A democracia participativa não teve avanços significativos, é um caminho por desbravar, mas uma coisa parece certa. “Daqui a 30 anos, não existirão democracias sem partidos políticos”, defende o politólogo Costa Pinto. “O grande desafio é encontrar uma classe política mais competente e menos marcada pela carreira política.”

O discurso do desenvolvimento não de aparecerá da boca dos políticos. “Não estaremos no centro da Europa dentro de 30 anos, não seremos a Suíça da Europa nos próximos 30 anos, passarmos a ser um país nórdico do sul não vai acontecer nos próximos 30 anos. Nós melhoramos, mas os outros também.”

Na alimentação, voltamos às origens, ao que é nosso. Consumiremos o que produzimos, mais preocupados com a pegada ambiental, a agricultura de subsistência voltará, seremos autossuficientes em determinados produtos. A tendência é essa e será mais evidente.

Como país de prato cheio e mesa farta, de tradições gastronómicas vincadas, de carne e de peixe, os insetos e outros seres estranhos serão um nicho, a exceção, não a regra.

“Estaremos voltados para o que é nosso, para o que é de época. Se o inverno me dá nabos, vou comer nabos. Se o inverno me dá couves, vou comer couves”, atira o chef Óscar Geadas, estrela Michelin. Vamos olhar à volta, respeitar o ciclo da Natureza, consumir o que a terra dá e o que sai do mar. Há ainda o fator cultural. “Não é em três ou em quatro gerações que alteramos o que é cultural na alimentação.” Haverá restaurantes e o hábito de almoçar ou jantar fora. E a mesa será sempre um lugar de encontros. “O Mundo passou por duas guerras mundiais e os restaurantes resistiram.

No tempo dos nossos reis, os tratados e as conquistas eram celebrados à mesa.

O conceito de restaurante vai estar sempre presente pois temos necessidade de conviver, de confraternizar, e a mesa é um ponto de partida.”

O que vamos vestir em 2052? Como será a nossa relação com a moda? A estilistaAna Salazar não vislumbra nada de novo.A sustentabilidade continuará a ser uma preocupação, teremos tecidos amigos do ambiente, a tendência para comprar em segunda mão não passará, teremos mais lojas e mais plataformas para tal. Mas o passado é vaidoso e inspirador. “Continuaremos a ir buscar grandes e fortes influências às décadas anteriores”, diz a estilista. Os portugueses serão conservadores no modo vestir, nas peças, nos padrões. A moda reciclará ideias e os portugueses que compram menos e mais caro farão sempre parte de um nicho.

Portugal de hoje desaparece do mapa.Boaventura está em 2052. “O que havia antes desapareceu há tanto tempo que nem sequer a nostalgia consegue identificar aquilo de que tem saudade. Isto é particularmente verdade no caso dos jovens. A indiferença com que olham os estudos e o trabalho é tão intensa quanto a recusa em imaginar o futuro para além de amanhã, uma condição que antes era específica dos pobres e dos imigrantes”, assinala. “O trabalho, que dantes se designava como precário, é agora o único que há quando há, ou seja, quando, por alguns acontecimentos climáticos extremos ou ataques terroristas, uns e outros cada vez mais frequentes, os robôs da inteligência artificial avariam e ficam inoperacionais.” Quando é que tudo começou a descambar? É difícil dizer. Boaventura partilha a conversa de um velho general, guardado em anonimato. Tudo começou a descambar depois de 2022, quando estalou uma guerra entre os Estados Unidos e a China:

“Começou por ser uma guerra com a Rússia, a principal aliada da China, ainda que não fosse travada bem na Rússia nem nos EUA. Foi travada nas planícies de um povo mártir e inocente, o povo ucraniano”. “Não sei se é verdade, mas não há dúvidas que desde então o dinheiro público que havia foi quase todo gasto em armas. Estamos muito mais seguros.Também muito mais pobres, mais infelizes e individualmente mais inseguros, mas esse é o preço da segurança coletiva.” Como será Portugal em 2052?

Quem sabe?

Sara Dias Oliveira

29.05.2022 Notícias Magazine

Truques simples para arrefecer uma casa sem AC durante a onda de calor.

Portugal vai enfrentar temperaturas elevadas nos próximos dias. Onde a maioria das casas não tem ar condicionado, como proteger-se dentro de casa?

Nos próximos três dias, Portugal vai enfrentar uma onda de calor com temperaturas máximas a rondar os 40ºC (prevê-se para Évora e Castelo Branco uma máxima de 44ºC, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera) e com mínimas sempre acima dos 20ºC. A Direcção-Geral de Saúde (DGS) emitiu vários conselhos à população, em particular aos mais vulneráveis, para que se protejam das temperaturas perigosas.

De acordo com um estudo do site idealista publicado em Julho de 2021, só 21% das casas para comprar ou arrendar em Portugal tinham sistema de ar condicionado, apontado como uma das principais ferramentas para lidar com o aumento das temperaturas. Numa casa sem essa instalação, como lidar com o calor?
No seu site, a DECO dá várias dicas, como a de abrir as janelas de manhã cedo e ao final do dia para refrescar a casa. Caso a essas alturas do dia as temperaturas ainda se mantenham elevadas, pode fazê-lo à noite.
Durante o dia, quando bate o sol, os estores, persianas e cortinados devem ser mantidos fechados.
As plantas altas colocadas ao pé das janelas também ajudam a criar sombra.
Quando quiser refrescar a casa à noite, deve abrir duas janelas em lados opostos da casa para criar correntes de ar. Ao arrefecer as paredes, faz com que a casa resista melhor às altas temperaturas durante o dia.
Outra forma de maximizar o uso das cortinas é borrifar água num lençol e cobrir a abertura da janela com ele: a brisa passará entre o tecido e a humidade do lençol ajuda a arrefecer a sala.
Segundo a DECO, "o ideal é combinar arejamento intensivo periódico com técnicas de ventilação": "O ar deve entrar através das divisões principais (quartos e salas) e sair pelas de serviço (cozinha e casa de banho)."
Já o site da Avail, um software de gestão de propriedades para senhorios, indica outras ideias, como assegurar que as janelas estão bem fechadas e tapadas, porque "76% da luz solar que entra em casa se transforma em calor".
Para tapar as janelas, cita o Departamento de Energia dos EUA, que sugere cortinados com cores neutras e forro de plástico branco para reduzir o calor ou cortinados blackout.
Além disso, aconselha que se evitem duches quentes: com água mais fresca, a temperatura do corpo vai reduzir-se e evita-se maior calor em casa.
As portas devem ser fechadas e isoladas. Ao fechar algumas divisões da casa, concentra o ar mais fresco num só lugar.
O uso de eletrodomésticos no geral deve ser evitado, porque criam calor. Desligue os que puder desligar e não use o forno. Caso seja mesmo necessário, deve só ocorrer à noite e com a janela aberta.
Outra opção passa pela troca de lâmpadas: as incandescentes produzem muito calor, ao contrário das lâmpadas fluorescentes compactas ou LED's.
As ventoinhas podem ser boas aliadas, apesar de só movimentarem o ar em vez de o refrescarem. Mas aqui vai uma sugestão: coloque uma taça cheia de gelo à frente da ventoinha, o que vai libertar ar mais fresco.
O ideal é, caso tenha mais que uma ventoinha, criar uma corrente de ar entre ambas. Coloque uma delas na zona mais fresca da casa, em direção à mais quente: o ar mais frio obrigará à saída do mais quente (mais leve).
O site da Reader's Digest sugere que, se tiver uma ventoinha de tecto, as pás devem rodar no sentido contrário aos ponteiros do relógio, para criar uma corrente de ar em direção ao chão.
Em casas húmidas, considere comprar um desumidificador, para tornar a casa mais confortável em vez de ter que lidar com o calor húmido.
Segundo o site Real Homes, a colocação de recipientes com água pela casa pode ajudar a refrescar a área.

Sábado

Leonor Riso

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Acreditar no Pai Natal

Pedro Nuno Santos hipotecou numa cartada o crédito de uma vida. Agora, ou constrói o aeroporto, resolve os problemas de habitação dos portugueses, endireita a TAP sem necessidade de pedir mais milhões ao erário público e moderniza o transporte ferroviário, ou entra na galeria dos políticos falhados.


Acreditar, como alguns acreditam, que Pedro Nuno Santos, no auge de um maquiavelismo encartado, geriu bem a crise do célebre despacho clandestino dos três aeroportos, alegadamente para obrigar António Costa a sair da hesitação táctica de partilhar a decisão com o líder do PSD, ou coisa que o valha, é o mesmo que acreditar no Pai Natal.

A tese é simples. Pedro Nuno Santos não inventou o despacho. Ele foi fabricado em reuniões onde estavam outros ministros, como Fernando Medina e Mariana Vieira da Silva, e terá sido Costa a esquecer-se de partilhar a decisão com o Presidente da República, bem como com o novo líder do PSD.

Nesta narrativa, como diria um conhecido Ex-líder do PS que adora este tipo de jogatanas, o ministro é uma vítima de uma omissão de Costa e ter-lhe-á batido o pé, num quadro próximo da chantagem, dizendo que a sua demissão implicaria outras, em particular a dos restantes ministros envolvidos na decisão. Resumindo, o ministro terá acabado a safar Costa de uma crise institucional com Marcelo e, por isso, reforçado na corrida à sucessão deste. A solução bizarra da pantomina dá crédito a todo o tipo de teorias, incluindo esta, mas são só isso, teorias. Coladas com cuspo.

Caro leitor, como já percebeu, tudo o que conhecemos até hoje sobre a motivação de cada um dos intervenientes é absolutamente irrelevante.

Na perspectiva da defesa do interesse público, que é a única que importa, todos saíram muito mal. O ministro e o primeiro-ministro limitaram-se a criar um episódio de pura politiquice, apenas com o vespeiro interno do PS na mira, dispensável a um País que enfrenta a brutal incerteza da inflação, um galopante aumento do custo de vida, combustíveis e habitação a escaldar, uma saúde em cacos. Que enfrenta, ainda, as consequências de uma guerra na Ucrânia que, lá para o Outono, poderão ser ainda mais pesadas no bolso de cada um. A Alemanha e meia Europa estão já a racionar gás. Se a economia alemã destrambelha, lá virá o famoso espirro germânico, que dará uma gripe em todo o continente. O que interessa aqui a guerrilha entre Nuno Santos e Costa? O que interessa aqui a historieta do “erro de comunicação”, versão atabalhoada do “erro de percepção mútuo” de Mário Centeno nas conversas com o banqueiro António Domingues sobre a obrigatoriedade de entrega das declarações de rendimentos no Tribunal Constitucional? Tudo soa a desculpa esfarrapada, para um cínico acordo de base mínima entre duas pessoas que não se suportam. Que vivem num clima de permanente intriga e suspeição e testaram aqui os limites do poder de cada um sobre o outro.

Costa ganha duas ou três coisas com esta saída. Evita ter de substituir um ministro, a três meses apenas do início de um longo jogo de quatro anos e meio, desgastando ainda mais a sua já esburacada maioria absoluta. Com a dificuldade acrescida de encontrar um substituto para uma pasta recheada de dossiês muito difíceis. Por outro lado, evita a tal crise institucional com o Presidente da República e quase liquida as aspirações do ministro a ser líder do PS. Como bem se viu na irreprimível felicidade com que falou do erro do ministro e respectivo acto de contrição. Mas a sua autoridade sai ferida, a sua maioria e o Governo muito desgastados.

De resto, não subsistam ilusões sobre o futuro de Pedro Nuno Santos. Sai de rastos deste episódio. Maquiavelices saloias à parte, foi penosamente tratado como um político infantil, sem maturidade, apesar da muita experiência que já tem, obrigado a uma cruel e maoista retratação, naqueles que serão os cinco minutos de vida pública e televisão mais mortais de que há memória, em democracia e fora dela, e que lhe estarão literalmente colados à pele para toda a sua vida política.

Quem vai, a partir de agora, acreditar na palavra, na autoridade e autonomia deste ministro e deste dirigente político? A política não deixa de ser, é certo, o território da velha luta entre memória e esquecimento, que marca a vida de todos nós. Mas Pedro Nuno Santos hipotecou numa cartada o crédito de uma vida. Agora, ou constrói o aeroporto, resolve os problemas de habitação dos portugueses, endireita a TAP sem necessidade de pedir mais milhões ao erário público e moderniza o transporte ferroviário, ou entra na galeria dos políticos falhados. Acreditar que vai conseguir fazer tudo isso é outra história. Não deixa de ser, também, uma forma de acreditar no Pai Natal.

Eduardo Dâmaso

Sábado

08-07-2022

Para onde vai Portugal?

A vida política, económica e social portuguesa está mergulhada na maior confusão, com problemas a surgirem de todos os lados e sem que o Governo, mas também as oposições, tenham uma visão coerente sobre o que fazer. Pior do que isso, as medidas que vão sendo adoptadas são contraditórias, incoerentes e não poucas vezes inúteis. Pelo meio somos enganados com análises falsas das situações, frequentemente mentirosas, destinadas a iludir e a obscurecer a realidade.

A comunicação social salta de tema em tema, da pandemia para a violência doméstica, da criminalidade para a inflação, dos custos da energia para as falhas da Justiça, dos casos de pobreza extrema para o crescimento da mortalidade e para as falhas do Serviço Nacional de Saúde, dos problemas ambientais para a inutilidade de muitos investimentos. Tudo sem uma visão clara do que fazer e sem uma qualquer hierarquia das prioridades. Portugal vive uma patética falta de direcção, uma autêntica manta de retalhos governativa.

Esta semana foi a morte de uma criança de três anos em Setúbal, devido a maus tratos familiares e a abusos sexuais, que causou uma indignação generalizada e mostrou uma multiplicidade de serviços do Estado e da sociedade numa azáfama de explicações para o sucedido. Explicações para todos os gostos e destinadas à defesa de cada coutada e não para debater, uma vez por todas, o que fazer e as causas para a ausência de uma estratégia nacional para a superação do buraco em que vivemos.

Um exemplo: neste caso da morte da criança em Setúbal toda a gente tentou explicar as razões porque tendo sido detectada a situação familiar da criança no primeiro mês de vida, todas as muitas instituições existentes falharam em detectar o perigo e em encontrar a solução. Espantosamente, ninguém se surpreendeu que a criança nunca tenha frequentado uma creche. Espantosamente, não ouvi falar do principal método de detecção e de prevenção de maus tratos das crianças que reside sua escolarização, com alimentação e transporte, desde os primeiros meses de vida, como ando a pregar há trinta anos. E qual o maior crime, não detectar uma criança em perigo pelos inúmeros serviços do Estado, ou o crime do Estado em não garantir que todas as crianças, desde que nascem, frequentam disciplinadamente as creches e o pré-escolar?

Aparentemente, ninguém olhou para uma solução integrada, global, válida para todos, em vez de mil pretensas soluções contraditórias consumidoras dos recursos nacionais, ou seja, falhou neste caso, como em quase tudo o resto, aquilo que se resume a uma única ideia: estratégia e método para a executar.

Por estratégia e método quero dizer definir os mais graves problemas do país e a solução adequada, sendo que, a meu ver, o maior problema à procura de solução reside na ignorância que origina a pobreza e a miséria humana de uma parte relevante da nossa população e a solução reside na educação, principalmente nos primeiros anos de vida das crianças. Repito, com alimentação e transporte. A miséria humana que vai dos abusos sexuais aos maus tratos de milhares de crianças, até à miséria das claques de futebol, da criminalidade perigosa à ganância de empresas, da inoperância de organizações até à corrupção. Ou seja, a solução central para os nossos problemas reside na simples melhoria da qualidade dos portugueses e isso só se consegue nos primeiros anos de vida das crianças.

A educação é a solução, mas não uma educação qualquer. Trata-se de fornecer às nossas crianças e jovens conhecimentos, sem dúvida, mas não iremos longe se a formação das crianças não comportar, com igual relevância, a formação dos comportamentos e a aquisição das competências. Cumprir disciplinadamente os horários pode ser tão importante como saber nadar e ambos como ter conhecimentos de geografia. Trata-se de uma revolução no conceito de educação, mas uma revolução necessária para superar a miséria em que vive uma boa metade da sociedade portuguesa.

Na procura de soluções para os nossos problemas precisamos de método. Temos de aprender a procurar as causas das outras causas que estão na origem dos nossos problemas e parar de encontrar 100 soluções para cada problema, de criar novas instituições, comissões, gabinetes e barómetros para nos concentrarmos no que pode melhorar a nossa qualidade como seres humanos e a nossa capacidade individual para viver de forma positiva em sociedade.

Depois chegam as outras questões, a democracia versus a autocracia, a solidariedade versus a exploração, o primado da lei e da ordem versus a anarquia, a vida versus a
doença e a morte. Tudo com base na ideia de que é na qualidade individual de cada ser humano que se pode construir a diferença.

Ao ver as imagens do ataque ao Capitólio, sede da democracia americana, como nos clãs do nosso futebol, vejo muitos licenciados e porventura até doutores, para concluir que o modelo educativo concentrado apenas nos conhecimentos é hoje obsoleto. Fornecer competências e comportamentos positivos às nossas crianças, acredito, fará toda a diferença no nosso futuro. Ou seja, generalizar a todos os seres humanos o que ao longo dos séculos foi a tarefa de muitas boas famílias, com a ideia que talvez um dia possamos voltar a usar o método da formação no seio da família.

Os governos portugueses mostram uma preocupante ausência de estratégia e de método. É todos ao monte e fé em Deus. Existem dezenas de instituições e leis para cuidar da pobreza, outras tantas da saúde, muitas ainda para a educação, muitas mais para garantir a justiça. Todavia os maiores criminosos andam à solta, os hospitais são muros de lamentação anarquizados, metade dos portugueses são perigosamente ignorantes e a fome é uma realidade em Portugal. Há coisas bem feitas, com certeza, há portugueses que se sacrificam pelo bem público, sem dúvida, mas, apesar disso, Portugal é hoje um país atrasado, com níveis de pobreza e de ignorância elevados e estamos a ficar para trás em todos os índices económicos e sociais. Outros países, como a Suíça ou a Irlanda, a Dinamarca ou a Finlândia, são uma miragem para os portugueses.

O que se passa connosco? Porque misturamos tudo? A verdade e a mentira são uma e a mesma coisa? O trabalho e a preguiça são unidades do mesmo valor? A sabedoria e a esperteza são igualmente respeitáveis? A honorabilidade e a corrupção são marcas do mesmo fadário? Para onde vai Portugal? ■

Henrique Neto

O Diabo

07/07/2022

Exportação portuguesa vai ficar refém dos comboios espanhóis

 O “Manifesto – Portugal uma ilha ferroviária”, publicado no ‘Expresso’ por um conjunto de cidadãos subscritores, coloca frontalmente em causa as políticas seguidas por vários governos no passado, de privilégio da mobilidade rodoviária, o abandono da ferrovia e, igualmente, as opções do Governo de António Costa neste domínio.

De facto, não lembraria ao diabo gastar dois mil milhões de euros na chamada modernização das centenárias linhas ferroviárias portuguesas em bitola ibérica, quando a vizinha Espanha está a levar a cabo a mudança de todo o seu sistema ferroviário para bitola europeia, privilegiando compreensivelmente as ligações à Europa, quer a Sul a partir de Barcelona, quer a norte atravessando os Pirenéus, em grande parte através de túneis. Ou seja, o Governo do PS planeia transformar Portugal numa ilha ferroviária, um caso de estudo mundial pelas piores razões, através da aposta num modelo ferroviário único na Europa.

Neste contexto, o Governo do PS foge à verdade, o que já vem sendo hábito, ao considerar publicamente que a ferrovia portuguesa “praticamente toda em bitola ibérica, concordante com a utilizada em Espanha, país com quem Portugal tem, naturalmente, maior relacionamento neste modo de transporte”. Maior relacionamento e único, a partir do momento em que entreguemos às plataformas logísticas espanholas das regiões de Badajoz, Salamanca e Vigo o encargo de levar as exportações portuguesas por via ferroviária para a Europa.

HENRIQUE NETO

jornal O Diabo, em 07-08-2017

Por

O calamitoso isolamento da ferrovia portuguesa

Há uma semana procurei demonstrar as razões porque António Costa se transformou no coveiro da economia portuguesa. Entretanto, é claro que ele não está sozinho e são vários os ajudantes que colaboram entusiasticamente na missão de promover o nosso atraso no contexto dos outros países europeus. Um é um homem da casa, Pedro Nuno Santos, e outro é uma nova aquisição, o ministro da Economia, António Costa Silva.

Pedro Nuno Santos, ministro das Infra-estruturas e da Habitação, já o sabemos, é um especialista da meia-verdade e da obscuridade. Na questão da TAP, a empresa apresentou um prejuízo de 1600 milhões de euros num único ano e o ministro, em vez de explicar as razões e informar os portugueses dos planos da companhia para alterar a situação de constantes prejuízos no bolso dos portugueses, afirma que tudo vai bem e que haverá lucros no futuro, só não diz quando. É ainda um especialista em não responder às inquietações dos empresários, mesmo as mais óbvias, como, por exemplo, como pensa o Governo fazer chegar os comboios portugueses ao centro da Europa, ou permitir que os comboios europeus cheguem a Portugal. Ou qual o tempo de vida do aeroporto Humberto Delgado, como condição necessária para decidir sobre a necessidade de um novo aeroporto e que aeroporto.


Em presença da opção sistemática dos investidores internacionais pela Espanha e a perda de muitos investimentos pela indústria portuguesa o ministro não comenta. Por exemplo, recentemente tivemos o caso da “Volkswagen”, que preferiu a Espanha para investir 4,500 milhões de euros numa fábrica de baterias, com a criação de 3500 postos de trabalho, pelo motivo de ter em Valência uma ligação ferroviária directa para as suas fábricas em toda a Europa. Mais recentemente, a empresa portuguesa “Simoldes”, anunciou que vai investir quarenta milhões de euros em Espanha para produzir componentes de automóvel destinados a fornecer as fábricas dos seus clientes em Espanha e no resto da Europa. A razão de investir em Espanha e não em Portugal é simples e racional, a mesma razão da “Volkswagen”, usar o transporte ferroviário de mercadorias em bitola UIC, antecipando as dificuldades futuras do transporte rodoviário. A Espanha, naturalmente, agradece e investe 23.500 milhões de euros até 2025 no transporte ferroviário em bitola UIC, com apoios da União Europeia no valor de 12.000 milhões.

Nada que interrompa o silêncio do ministro e a estagnação da economia portuguesa, porque na ilustre cabeça de Pedro Nuno Santos a ideologia basta para dar de comer aos portugueses. Ainda, como frequentemente afirmado, o ministro acredita que inviabilizando a modernização da ferrovia portuguesa em bitola UIC e impedindo a entrada em Portugal dos comboios europeus, o Governo evita a concorrência internacional, o que favorece o apoio do PCP e da empresa monopolista “Medway”.

Acabo de saber que o ministro Pedro Santos falou, mas, como habitualmente, para enganar e não para esclarecer. Disse o ministro: “O desafio que aqui lancei é para que a Espanha dê corda aos sapatos, para não haver o risco de chegarmos com uma linha à fronteira e não termos nada do outro lado”. Espantoso: (1) o ministro não sabe que governo de Durão Barroso assinou na Figueira da Foz um acordo com o governo espanhol de ligar as duas redes em bitola UIC, com datas de execução e tudo, mas foram os governos portugueses seguintes que não construíram um único quilómetro dessa via; (2) o ministro aparenta também desconhecer que o governo espanhol aproveitou a inoperância nacional para usar os fundos comunitários para investir no corredor Mediterrânico até Algeciras e nas ligações à Galiza, com prejuízo do corredor Atlântico, de ligação a Portugal; (3) o ministro não esclarece a razão da linha entre Lisboa e o Porto, com ligação à Vigo, estar prevista em bitola ibérica e sem possibilidade de ligação à Europa; (4) o ministro aparenta não saber para que servem as cimeiras ibéricas e que existe a União Europeia com a função de dar corda aos sapatos aos países que não cumprem os planos previstos; (5) o ministro deveria saber que foi um governo socialista que tentou cumprir os acordos assinados por Durão Barroso e encomendou o projecto de uma linha de bitola UIC de via dupla do Poceirão ao Caia, com um custo de 150 milhões de euros, que o governo do senhor ministro cancelou para contruir a mesma via em bitola ibérica e em via única.

Junto um mapa da rede ferroviária espanhola para que o senhor ministro possa, finalmente, compreender que a Espanha anda há muitos anos a dar corda aos sapatos e que são os sapatos do senhor ministro a quem falta a corda.

O novo ministro da Economia, António Costa Silva, tornou-se conhecido pelo seu programa megalómano que deu origem ao PRR, programa governamental de recuperação e de resiliência. Dotado de muitas leituras sobre tecnologia e ciência, transferiu esse conhecimento para cerca de 150 páginas dos projectos mais variados a serem pagos pelos fundos europeus, Ora, como sabemos, em Portugal nunca faltam candidatos a receber esses fundos, o problema reside apenas em que o plano não demonstra existir uma linha coerente que tenha a capacidade de alterar positivamente o modelo económico e promova em Portugal o crescimento da economia e o emprego melhor remunerado. Além de que as ideias do ministro não levam em conta a realidade que vive nas cabeças dos empresários portugueses e estrangeiros que sustentam as nossas exportações.

António Costa Silva, logo que chegado, inventou um novo imposto para lucros excessivos das empresas e numa semana anunciou que talvez não, para acabar por desistir da ideia. Sobre o ministro, o jornal “Sol” anunciou esta semana com pompa: “António Costa Silva apresentou o projecto ‘Frente Atlântica da Europa’ a António Costa e o PM aprovou-o”. Boas notícias, só que o plano existe há anos por iniciativa dos Estados Unidos, interessados em vender o seu gás na Europa e se foi decidido agora avançar ainda bem, só que, tal como o célebre investimento no hidrogénio, tratam-se de iniciativas de capital intensivo que criam poucos empregos e, por isso, não alteram o grave problema existente na metade mais pobre da economia dual portuguesa, que precisa de criar muitos empregos para trabalhadores pouco qualificados, sendo que apenas a indústria transformadora pode criar esses empregos e com melhores salários.

Acresce que também este ministro deve informar os portugueses de qual é a tecnologia secreta para fazer chegar os comboios de bitola ibérica à Europa, porque esta é uma questão essencial para atrair o investimento estrangeiro e para promover o crescimento da economia.

Henrique Neto

O Diabo

28/04/2022

Carta da Aldeia (tal&qual)

Cresce em Portugal, desde há uns anos, uma nova tribo urbana: a dos autodenominados ciclistas. Evidentemente, não me refiro aos ciclistas-ciclistas mesmo, aos rapazes do Penedo, de Lousa, de Manteigas, que trepam as madrugadas da serra, à força de perna e pulmão, longe do lixo e do ruído, entrelaçados na mãe-natura, por puro gozo, ou às mocinhas que devaneiam suas pasteleiras por veredas de flores e bosques encantados, pedalando entre sonhos, alfazemas e silvados de amoras. Não: refiro-me à tribo folclórica dos maduros citadinos que se tornaram clientes compulsivos da “fileira da bicicleta”, rendosíssimo negócio.

Dir-me-ão que é simples e autêntica a sua afeição às duas rodas. Mas ao olhar para o espalhafato e a artilharia de que se rodeiam, à fantochada com que se mascaram e à peça de teatro que montam sempre que fingem montar uma bicicleta, não consigo acreditar nestes bravos do pelotão.

Dir-me-ão que é verdadeiro o seu apego à velha máxima de Juvenal, mens sana in corpore sano. Mas olhando para as suas exuberantes licras, verdadeiros sacos de plástico com que se vestem e dentro dos quais fermentam velhos eflúvios em decomposição, combinando secreções pútridas com excreções fétidas, tenho dificuldade em acreditar nestes bandos de pardais à solta.

Dir-me-ão ainda que eles buscam os grandes espaços ecológicos, o diálogo supremo com o perfeito ambiente. Mas ao ver como insistem em encafuar-se no meio do trânsito compacto dos fins de semana e nos passeios dos tristes, pelas estradas mais movimentadas das metrópoles, entre filas ondeantes de carros, competindo com nuvens de ar poluído e buzinas impacientes, compreender-se-á o meu cepticismo sobre o seu apregoado amor à natureza.

Perdoem-me a franqueza: do que eles gostam, mesmo, é do estardalhaço em que se pintam, do desaforo tribal em que se envolvem, do pequeno poder de que se sentem donos quando saem à rua em suas licras para licrar o mundo com sua licrante e alicraminosa omnipresença. Chiça penico!

Já os tenho apanhado por aí, na estrada, pequenos tiranetes obrigando toda a gente a andar a dez à hora e a formar penosas filas atrás do pelotão. A sensação de superioridade deve ser enorme, para se disporem a receber em troca os gases dos tubos de escape das muitas pessoas que molestam. ¿E que dizer daquele risinho sardónico com que nos deixam finalmente passar, ao cabo de quilómetros e quilómetros de sadismo rodoviário?

Nada tenho contra o desporto do pedal e das duas rodas. Bem pelo contrário: considero-me um ciclista razoável, praticante de seis décadas com uns tantos joelhos e cotovelos esfolados no cadastro. Mas nunca me passou pela cabeça que o genuíno prazer da bicicleta, que eu conheço de calções de caqui, camisa aberta e cabelos ao vento, por montes e valados, pudesse vir um dia a transformar-se na palhaçada que é o autodenominado ciclismo desta tribo urbana. 

Pude há dias observar de perto um grupo destes maduros e aperceber-me da parafernália de que precisam para fingir que andam a praticar um desporto saudável: sapatilhas de pitons, soquetes com calcanhar de bisel, calções e camisola em plástico viscoso, pernitos e manguitos, mochila, luvas aderentes, creme hidratante e cantil de água energizada, câmaras de ar suplentes, conta-quilómetros, velocímetro, GPS, óculos-mosca e capacete em forma de cabeça de abóbora. Vistos assim, completos em todos os seus atavios, pareciam extraterrestres que tivessem vindo ao carnaval de Torres – fora de época!

Não sei que mais deplorar em tudo isto: hesito entre o grotesco da mascarada, a confusão da nuvem com Juno e a escravização da tribo no altar do negócio. O esforço, o tempo e o dinheiro gastos no exercício seriam bem melhor usados num belo passeio de pasteleira, corpo livre campos fora, longe do lixo e do ruído.

Tenham juízo, rapazes: façam ciclismo, sim, mas de verdade. E deixem de infernizar a vida às pessoas.


600 Km de calvário.

O Tal&Qual resolveu testar no terreno a famosa política ferroviária do ministro Pedro Nuno Santos e meteu-se no comboio em Santa Apolónia com destino a Madrid. Íamos dando em doidos! Penámos mais de onze horas para percorrer os 600 quilómetros de linha, com três mudanças de composição – em contraste com os 60 minutos em qualquer avião ‘low cost’. Desde que acabou a ligação ferroviária directa entre as duas capitais ibéricas, a viagem por caminho de ferro transformou-se num longo calvário. Num dos troços parámos em todas as 16 estações e viajámos a uma média de 58 km/h. Exausto, o repórter escreveu ao ministro…

Caro Pedro Nuno Santos,

Escrevo-lhe, mal sentado e aos solavancos, a bordo de uma velha automotora que se arroja carris afora, barulhenta e cansada, na incerteza se vou chegar ao destino. É uma máquina movida a ‘diesel’, importada da Holanda nos anos 50 do século passado. Era originalmente vermelha e tinha bancos de madeira. As oficinas da CP, que a necessidade especializou na arte de fazer do velho novo, prolongaram-lhe o tempo de vida. Até que a automotora, irremediavelmente derreada sob o peso da idade, ganhou o estatuto de antiguidade com interesse histórico e foi retirada de circulação. Voltaram a dar-lhe vida. Percorre a linha do leste, entre o Entroncamento e Badajoz, uma vez por dia, ida e volta.

Já não é encarnada e perdeu os bancos de madeira. Agora, é verde. Os novos assentos, almofadados e coloridos, ficaram acanhados – ainda que os passageiros não tenham a corpulência de lutadores de ‘sumo’. Parada na linha 8 da estação do Entroncamento, a automotora resplandece orgulhosa ao sol. Nem uma arreliadora marca do tempo. Ninguém diz que a pintura imaculada esconde quase 75 anos de esforço. Brilha como nova. Mas é tudo fogo de vista.

Quando o chefe da estação dá ordem de partida, o maquinista acelera – mas a automotora hesita no arranque como um idoso trôpego: falta-lhe entusiasmo. Se o barulho do motor fosse proporcional à força produzida, teria a velocidade de um foguete. Mas não. Vai indo, lentamente, pouca-terra-pouca-terra, parece que se desconjunta, treme, e lá vai a baloiçar, desengonçada, ganhando embalagem.

Lisboa e Madrid, separadas por apenas 600 quilómetros, não têm uma ligação directa por caminho-de-ferro. A separação entre as duas capitais ibéricas vai no sentido contrário da política da Comissão Europeia que aposta nas viagens ferroviárias de longa distância e transfronteiriças – em desfavor do avião e do automóvel, mais poluentes, emissores de maior quantidade de gases com efeito de estufa.

Por estes dias, em que tanto se fala de transição energética, não é possível repetir a gloriosa viagem de 8 de Outubro de 1881 – quando o rei D. Luís, de Portugal, e D. Afonso XII, de Espanha, inauguraram a primeira ligação directa as duas capitais. O monarca português seguiu pelo ramal do Marvão, inaugurado meses antes, no Alto Alentejo, e o soberano espanhol partiu da estação das Delicias (hoje, um museu ferroviário), em Madrid: encontraram-se na povoação espanhola de Valência de Alcântara.

Hoje, quase 150 anos depois da viagem histórica, ir de Lisboa a Madrid é uma aventura para dar em doido. A rede ferroviária ibérica é uma prenda para as companhias de aviação de baixo preço – e elas agradecem de mãos postas aos céus. Até o viajante com um irreprimível temor a aviões há de preferir a inquietação de cruzar os céus ao enfadonho destino de subir o Ribatejo, entrar na Beira Baixa, descer o Alto Alentejo, atravessar a Estremadura espanhola e chegar, por fim, a Castela e à cidade de Madrid. Uma hora no ar passa num instante. Mas a longa jornada sobre carris, que obriga a três mudanças de comboio, dura para cima de 11 horas – uma eternidade.

Cinco anos depois da viagem real, inaugurava-se a linha Sud Expresso – um comboio com restaurante e carruagens-cama que permitia viajar de Lisboa a Salamanca, Madrid, Paris e Calais. Em 1943, ainda a tempestade da Segunda Guerra Mundial incendiava a Europa, o Lusitânia Comboio Hotel começou a ligar diariamente as duas capitais: partia de Lisboa às 10 da noite – primeiro, do Rossio; mais tarde de Santa Apolónia – e chegava a Madrid pelas oito da manhã.

Amália Rodrigues viajou no Lusitânia, escassos meses depois da inauguração da linha, na primeira vez que saiu do país. Foi cantar numa festa da representação diplomática portuguesa em Madrid a convite do embaixador Pedro Theotónio Pereira. Levou os seus acompanhadores habituais, Armandinho (guitarra) e Santos Moreira (viola). Não perdeu o comboio por pouco. Conseguiu saltar para a carruagem mesmo em cima do apito de partida. Simone de Oliveira representou Portugal no Festival da Eurovisão de 1969, realizado em Madrid, com a canção ‘Desfolhada’. A representação portuguesa apanhou um avião para Espanha. Regressou a Lisboa pelo mesmo comboio.


O Lusitânia Comboio Hotel, uma parceria entre a CP e a empresa espanhola Renfe, era deficitário – e o prejuízo repartido pelas duas partes. A pandemia virou o mundo de patas ao ar. A população foi obrigada a confinar-se, as fronteiras foram encerradas e as viagens canceladas. O comboio foi suspenso. Quando as medidas de controlo sanitário foram levantadas, você, caro Pedro, esperava que o Lusitânia voltasse aos carris. Mas do outro lado da fronteira as notícias não eram boas – tão más como o vento e tão malvadas como o casamento.  Os espanhóis, à pala do deve e haver do negócio, cancelaram o comboio. E o Pedro, vai-me perdoar a franqueza, não teve argumentos para convencer ‘nuestros hermanos’ de que a suspensão desse autêntico hotel sobre rodas era uma provocação.

Estivesse você nas boas graças do primeiro-ministro, voluntarioso como é, já teria mandado a CP comprar o comboio a Espanha. Mas o tempo não lhe corre de feição. A trapalhada que arranjou com o aeroporto, tão oportuna para o Governo como uma mosca afogada no prato da sopa, aconselha prudência. Arranje lá maneira de pôr o Lusitânia nos eixos, ou outro comboio qualquer que assegure uma ligação directa a Madrid, que as coisas tal como estão não lembra ao diabo!

Abandonei Santa Apolónia às oito e um quarto da manhã de domingo, a bordo de um ronceiro Intercidades com destino à Guarda. Apeei-me no Entroncamento, à tabela, mais minuto menos minuto, cerca das nove e 24. Esperava-me a velha automotora recauchutada, comprovado milagre da engenharia, capaz, segundo o maquinista, de andar a 100 à hora. Mas o estado da linha impõe cautela. Os 175 quilómetros entre o Entroncamento e Badajoz são habitualmente percorridos em três horas – à estonteante média de 58 quilómetros por hora. Partiu, como previsto, à dez horas e vinte e quatro minutos. Seguia a bordo um grupo de três turistas, mochilas às costas, estafados, com o mesmo destino final – Madrid.

É um passeio agradável. O comboio pachorrento acompanha o Tejo entre a Barquinha e a Praia do Ribatejo. A vista, invulgarmente bela, é um regalo. A automotora baloiça como um berço e os três turistas, embalados, dormem indiferentes ao rio e ao castelo de Almourol. O comboio pára em todas as 16 estações. A maior parte está abandonada. Os bilhetes são cobrados a bordo. Os trocos são um problema. Mas os poucos passageiros que entram aqui e ali são conhecidos dos revisores e levam o dinheiro à conta.

A velha automotora com ar de nova passa por Abrantes, Ponte de Sor, Portalegre. À medida que desce o Alentejo, sem pressa, a caminho de Elvas, a paisagem altera-se. A planície estende-se agora à frente dos olhos, seca e desolada. As únicas manchas esverdeadas entre a imensidão cor de palha são as copas dos sobreiros e azinheiras.

Já agora, caro Pedro, diga lá à sua colega da Agricultura que as varas de porcos pretos de focinho no chão, a esgravatarem a terra à sombra dos montados, não são de cá. Vêm de Espanha. Os produtores espanhóis tomam a terra de renda, trazem os animais e deixam-nos ali a engordar à conta da bolota. Quando os porcos atingem o peso conveniente, são carregados para o outro lado da fronteira – onde acabam no matadouro.

É quase uma da tarde, duas horas em Espanha, e ainda não chegámos a Elvas. O comboio espanhol para Puertollano, estação de transbordo para Madrid, parte de Badajoz às duas e meia. A preguiçosa automotora, se conseguir cumprir o horário, chegará a Elvas à uma em ponto, hora portuguesa, e a Badajoz quinze minutos depois – escasso quarto de hora antes da partida do comboio espanhol. “Geralmente, chegamos a horas”, diz o revisor, confiante. Olha para o relógio – e confirma: “Estamos à tabela”.

“À tabela”, neste caso, significa um atraso de dois ou três minutos. A relíquia de ferro, que há muito reclama merecido descanso, esfalfou-se com sacrifício entre o Entroncamento e Badajoz – e conseguiu superar a prova no tempo previsto. Mas sabe o que me fazem lembrar os seus comboios, caro Pedro Nuno Santos? Fazem-me lembrar a Lili Caneças: parecem novas, mas são velhas. Tirando um ou outro caso de modernidade, o resto foi resgatado à ferrugem dos anos – legítimas antiguidades dignas do museu ferroviário recuperadas para o serviço à custa de cirurgias por talentosos serralheiros.

O comboio espanhol, focinho aguçado, imponente, parece pronto a disparar por ali a fora a desafiar a barreira do som. É um engano. Os espanhóis têm a segunda maior rede de alta velocidade do mundo, a seguir à China, mas ela não se aproxima da fronteira portuguesa – nem está previsto que venha a aproximar-se nos tempos mais próximos. Mas isso já o Pedro Nuno sabe…

Aquele comboio espanhol estacionado na estação de Badajoz assemelha-se a um furioso TGV, mas anda à mesma velocidade dos demais. Tem quatro horas e meia de viagem pela frente – até Puertollano. Faz 14 paragens pelo caminho: pára em todas as estações e apeadeiros. Apenas em escassos troços da linha atinge os 120 quilómetros por hora. É confortável. Não abana, não treme, não chocalha – e é silencioso. Não tem ‘wi-fi’, apenas uma tomada em cada banco para carregar baterias.

A paisagem espanhola é diferente. Atravessa-se em Portugal hectares e hectares de terra ao abandono – ou, pelo menos, descurada. Aqui, é ao contrário. Estremadura fora, até em Castela, é difícil encontrar uma leira de terra que não esteja cultivada.

O comboio chega ao destino, às 19h05, com escassos três minutos de atraso. Em Puertollano cruzam-se linhas de toda a sorte de Espanha. É altura do último transbordo antes de Madrid.  A operação é demorada. Toda a bagagem tem que passar pelo ‘raio-X’ antes do embarque. Após o brutal atentado terrorista na maior estação ferroviária da capital, em 11 de Março de 2005, que provocou 192 mortos e quase dois milhares de feridos, os passageiros para Atocha têm de ir à revista. O comboio enche-se em Puertollano com viajantes desembarcados do TGV procedente de Sevilha. Arrancou para Madrid às 19h20, com um ligeiro atraso. Chegou, finalmente, a Atocha pouco passava das oito e meia da noite, hora espanhola, a tempo do jantar. Mais de onze horas depois de ter partido de Santa Apolónia…

Não sei, caro Pedro Nuno, se você devia ter sido demitido pelo caldinho do aeroporto que arranjou ao primeiro-ministro. Mas sei que merecia fazer esta viagem de quase meio dia, em quatro comboios, entre Lisboa e Madrid.

Do seu,

Manuel Catarino

https://talequal.pt/600-km-de-calvario/

https://youtu.be/xy-TxcBMM7c

PS: Eu fiz esta viagem,por mais de uma vez,em férias de Verão e não me recordo de precisar de mudar vez alguma. Como escreve o jornalista, saia á noite e chegava d e madrugada, o que era óptimo.Dormia no comboio e chegava a Madrid, no inicio do dia. O regresso era do mesmo modo.