sexta-feira, 8 de julho de 2022

O calamitoso isolamento da ferrovia portuguesa

Há uma semana procurei demonstrar as razões porque António Costa se transformou no coveiro da economia portuguesa. Entretanto, é claro que ele não está sozinho e são vários os ajudantes que colaboram entusiasticamente na missão de promover o nosso atraso no contexto dos outros países europeus. Um é um homem da casa, Pedro Nuno Santos, e outro é uma nova aquisição, o ministro da Economia, António Costa Silva.

Pedro Nuno Santos, ministro das Infra-estruturas e da Habitação, já o sabemos, é um especialista da meia-verdade e da obscuridade. Na questão da TAP, a empresa apresentou um prejuízo de 1600 milhões de euros num único ano e o ministro, em vez de explicar as razões e informar os portugueses dos planos da companhia para alterar a situação de constantes prejuízos no bolso dos portugueses, afirma que tudo vai bem e que haverá lucros no futuro, só não diz quando. É ainda um especialista em não responder às inquietações dos empresários, mesmo as mais óbvias, como, por exemplo, como pensa o Governo fazer chegar os comboios portugueses ao centro da Europa, ou permitir que os comboios europeus cheguem a Portugal. Ou qual o tempo de vida do aeroporto Humberto Delgado, como condição necessária para decidir sobre a necessidade de um novo aeroporto e que aeroporto.


Em presença da opção sistemática dos investidores internacionais pela Espanha e a perda de muitos investimentos pela indústria portuguesa o ministro não comenta. Por exemplo, recentemente tivemos o caso da “Volkswagen”, que preferiu a Espanha para investir 4,500 milhões de euros numa fábrica de baterias, com a criação de 3500 postos de trabalho, pelo motivo de ter em Valência uma ligação ferroviária directa para as suas fábricas em toda a Europa. Mais recentemente, a empresa portuguesa “Simoldes”, anunciou que vai investir quarenta milhões de euros em Espanha para produzir componentes de automóvel destinados a fornecer as fábricas dos seus clientes em Espanha e no resto da Europa. A razão de investir em Espanha e não em Portugal é simples e racional, a mesma razão da “Volkswagen”, usar o transporte ferroviário de mercadorias em bitola UIC, antecipando as dificuldades futuras do transporte rodoviário. A Espanha, naturalmente, agradece e investe 23.500 milhões de euros até 2025 no transporte ferroviário em bitola UIC, com apoios da União Europeia no valor de 12.000 milhões.

Nada que interrompa o silêncio do ministro e a estagnação da economia portuguesa, porque na ilustre cabeça de Pedro Nuno Santos a ideologia basta para dar de comer aos portugueses. Ainda, como frequentemente afirmado, o ministro acredita que inviabilizando a modernização da ferrovia portuguesa em bitola UIC e impedindo a entrada em Portugal dos comboios europeus, o Governo evita a concorrência internacional, o que favorece o apoio do PCP e da empresa monopolista “Medway”.

Acabo de saber que o ministro Pedro Santos falou, mas, como habitualmente, para enganar e não para esclarecer. Disse o ministro: “O desafio que aqui lancei é para que a Espanha dê corda aos sapatos, para não haver o risco de chegarmos com uma linha à fronteira e não termos nada do outro lado”. Espantoso: (1) o ministro não sabe que governo de Durão Barroso assinou na Figueira da Foz um acordo com o governo espanhol de ligar as duas redes em bitola UIC, com datas de execução e tudo, mas foram os governos portugueses seguintes que não construíram um único quilómetro dessa via; (2) o ministro aparenta também desconhecer que o governo espanhol aproveitou a inoperância nacional para usar os fundos comunitários para investir no corredor Mediterrânico até Algeciras e nas ligações à Galiza, com prejuízo do corredor Atlântico, de ligação a Portugal; (3) o ministro não esclarece a razão da linha entre Lisboa e o Porto, com ligação à Vigo, estar prevista em bitola ibérica e sem possibilidade de ligação à Europa; (4) o ministro aparenta não saber para que servem as cimeiras ibéricas e que existe a União Europeia com a função de dar corda aos sapatos aos países que não cumprem os planos previstos; (5) o ministro deveria saber que foi um governo socialista que tentou cumprir os acordos assinados por Durão Barroso e encomendou o projecto de uma linha de bitola UIC de via dupla do Poceirão ao Caia, com um custo de 150 milhões de euros, que o governo do senhor ministro cancelou para contruir a mesma via em bitola ibérica e em via única.

Junto um mapa da rede ferroviária espanhola para que o senhor ministro possa, finalmente, compreender que a Espanha anda há muitos anos a dar corda aos sapatos e que são os sapatos do senhor ministro a quem falta a corda.

O novo ministro da Economia, António Costa Silva, tornou-se conhecido pelo seu programa megalómano que deu origem ao PRR, programa governamental de recuperação e de resiliência. Dotado de muitas leituras sobre tecnologia e ciência, transferiu esse conhecimento para cerca de 150 páginas dos projectos mais variados a serem pagos pelos fundos europeus, Ora, como sabemos, em Portugal nunca faltam candidatos a receber esses fundos, o problema reside apenas em que o plano não demonstra existir uma linha coerente que tenha a capacidade de alterar positivamente o modelo económico e promova em Portugal o crescimento da economia e o emprego melhor remunerado. Além de que as ideias do ministro não levam em conta a realidade que vive nas cabeças dos empresários portugueses e estrangeiros que sustentam as nossas exportações.

António Costa Silva, logo que chegado, inventou um novo imposto para lucros excessivos das empresas e numa semana anunciou que talvez não, para acabar por desistir da ideia. Sobre o ministro, o jornal “Sol” anunciou esta semana com pompa: “António Costa Silva apresentou o projecto ‘Frente Atlântica da Europa’ a António Costa e o PM aprovou-o”. Boas notícias, só que o plano existe há anos por iniciativa dos Estados Unidos, interessados em vender o seu gás na Europa e se foi decidido agora avançar ainda bem, só que, tal como o célebre investimento no hidrogénio, tratam-se de iniciativas de capital intensivo que criam poucos empregos e, por isso, não alteram o grave problema existente na metade mais pobre da economia dual portuguesa, que precisa de criar muitos empregos para trabalhadores pouco qualificados, sendo que apenas a indústria transformadora pode criar esses empregos e com melhores salários.

Acresce que também este ministro deve informar os portugueses de qual é a tecnologia secreta para fazer chegar os comboios de bitola ibérica à Europa, porque esta é uma questão essencial para atrair o investimento estrangeiro e para promover o crescimento da economia.

Henrique Neto

O Diabo

28/04/2022

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