No dia em que o “Tridente” chega a Portugal, um argumentário para colocar a questão dos submarinos no seu devido lugar
1. A história dos submarinos
1. A história dos submarinos
“Claro que António Campos tem toda a razão! Quem ainda não percebeu que esta história, aliás mal contada, da regionalização outra coisa não é senão uma forma de satisfação de clientelas partidárias, sempre à espera de um assento na nomenclatura do estado? Ou para ser mais prosaico, uma fonte de tachos.
Quem não entendeu ainda que este país, que se atravessa com uma mijadela (desculpem lá a grosseria), não precisa da regionalização para nada? O que este país, embora pequeno mas com assimetrias de estarrecer, precisa é que os governos dêem mais atenção ao interior, que não centralize tudo e mais alguma coisa no Terreiro do Paço, i.é., que desconcentre, que descentralize. Ou seja, que crie condições de fixação das populações nas suas zonas de origem, a falta das quais (condições) leva sobretudo os jovens a acudir à cidade, quando não a atravessar as fronteiras. Isso sim, é que deve acontecer, ou por outra, já devia ter acontecido. Por que cargas d''água todos os ministérios, todas as secretarias de estado, todas as directorias hão de estar sediados na capital?
Será que há alguém que pense que se a Regionalizão avançar, se acabarão as assimetrias, i.é., todas atingirão a igualdade? Não, não, haverá sempre regiões mais desenvolvidas que outras, até pela simples razão relacionada com as diversas potencialidades e especificidades de cada zona. E claro, com as capacidades de gestão e criatividade de cada órgão directivo regional.
Portanto, arquivem lá essa coisa da regionalização e passem a ter um olhar mais abrangente na hora das decisões. porque o país não é só Lisboa e o resto é paisagem.
C.F.”
Histórico do PS arrasa regionalização: https://sol.sapo.pt/artigo/667710/historico-do-ps-arrasa-regionalizacao
Por esse mundo fora, os socialistas orgulhosos de o ser há muito que deixaram discretamente cair a palavra “socialista” dos títulos com que pomposamente batizam os seus partidos. Nos países da Cortina de Ferro os motivos são óbvios. De Estetino no Báltico, a Trieste no Adriático, os partidos socialistas não aglomeram mais que uns quantos saudosistas das senhas de racionamento e das prisões arbitrárias. Socialistas italianos e gregos, outrora orgulhosos dos seus partidos, literalmente votaram os respectivos partidos socialistas à extinção, à medida que se apercebiam que esses supostos baluartes ideológicos não passavam de agências de nepotismo e corrupção (rings a bell?).
Apesar de não terem conseguido escapar ao socialismo em si, gregos e italianos foram pelo menos capazes de implementar o salutar hábito de mudar as moscas. Em França o PS agoniza enquanto os seus eleitores se dividem entre o socialismo aparentemente tecnocrata de Macron e o socialismo disfarçadamente ecológico de Mélenchon. Na zona de influência do protestantismo, do qual pouco ou nada resta, a palavra Socialismo nunca vingou. Os anglo-saxónicos fugiram dela a sete-pés, enquanto que o resto dos godos normalmente preferem o eufemismo “social-democrata”, mesmo quando esse fosse o nome do partido que, na Rússia imperial, albergou um grupo de psicopatas sanguinários mais conhecidos como bolcheviques. Que em Portugal o Partido Social Democrata seja considerado “de direita” é uma triste manifestação das preferências eleitorais do eleitor medio nacional. Se para Churchill em Inglaterra uma conversa de cinco minutos com o tal eleitor era o melhor argumento contra a Democracia, em Portugal ao estadista inglês bastaria um olhar furtivo para declarar-se absolutista.
Assim pois, temos aqui na Península Ibérica a duvidosa honra de ser os únicos países democráticos (ia dizer civilizados) do mundo onde os partidos socialistas não só ainda atendem pelo nome como, pasme-se, governam. Não que não tenham sofrido reveses eleitorais. Tanto em Portugal como em Espanha, os partidos socialistas chegaram ao poder com os piores resultados eleitorais da sua história, montados à cabeça de uma coligação de socialistas e socialismos surtidos, cujos líderes não perceberam o que Mário Soares e Felipe González tinham percebido há já quatro décadas – que o seu inimigo eram os outros socialistas. É que a política ibérica é como o Highlander. Só pode existir um. O presidente do governo, seja ele quem for, é o dador da vida, como os faraós do Egipto, e toda a estrutura burocrática do partido e do estado se curva voluntariamente perante ele. E o que dizer do eleitorado, essa minoria que ainda se resigna em ir às urnas cumprir o seu “dever cívico”?
Obviamente que calamidades localizadas, como pontes que caem pelo peso de autocarros cheios de pessoas, ou incêndios que matam por incúria do aparelho do estado, por exemplo, não contam porque, como o SIDA ou ganhar o Totobola, só acontecem aos outros. Enquanto não houver uma calamidade generalizada, seja a caída pronunciada do preço da habitação, o alto desemprego, uma crise do petróleo, uma intervenção do FMI por deficit excessivo ou uma inflação galopante, o chefe do governo aguentará ileso e todo-poderoso. Só num destes casos é que políticos, burocratas e empresários, outrora amigos do grande líder, discretamente se colocarão de perfil enquanto os votantes lhe retiram o tapete. Só um acontecimento deste tipo é que tem o condão de acordar o eleitorado do estupor em que permanentemente vive. De outro modo, este manifesta inequivocamente a sua preferência “pelo que já lá está”, seja ele quem for. Fazendo jus à velha máxima, de que é melhor o mal conhecido que o bem por conhecer. Foi isto que Costa e Sanchéz perceberam. Os seus parceiros de assalto ao poder acharam que não, ou que desta vez ia ser diferente, ou que a recompensa era suficiente, porque o apoio não foi grátis, em política nunca é.
No fundo é compreensível a atitude dos eleitores, tanto dos que vão votar como dos que não. Se nos duzentos anos em que tiveram essa possibilidade nunca conseguiram eleger um governo decente, porque é que na próxima eleição iriam acertar? Pensam, se calhar com razão, que concurso está amanhado. É que o concurso está amanhado, mas são os próprios eleitores quem o amanha, porque querem viver num socialismo qualquer. Exigem do estado aquilo que ele não pode dar: que todos possam viver felizes à custa dele. E como não podem todos todos viver felizes à custa dele, alguns vão vivendo felizes à custa de todos. No entanto, e enquanto esta lição não for aprendida (e temo que não será aprendida nunca) convinha, pelo menos, ir distinguindo os maus socialistas dos piores. Por exemplo, é certo que Portugal e Espanha são ambos governadas por partidos socialistas, mas não é certo que esses partidos socialistas sejam iguais. O Partido Socialista português pode comparar-se em vileza, quanto muito, ao PSOE da Andaluzia, não coincidentemente a região mais pobre (e corrupta) de Espanha. É certo que a mulher de Pedro Sanchéz, Begoña Gómez, também viu recentemente melhorada a sua condição laboral ao ser contratada por uma fundação privada com projectos sociais para África, e que o próprio Pedro voa, ao supermercado se for preciso, no Falcon presidencial para se recordar constantemente de quão bom e especial é (ou julga ser). Pedro Sanchéz é claramente um homem feliz por se ter conhecido.
Mas a diferença é que, em geral, os familiares mais chegados aos socialistas espanhóis, pelo menos a nível nacional, normalmente ainda fazem carreira naquela iniciativa privada que está mais além do mero enriquecimento através do Diário da República. Aliás, não deixa de ser com ironia que observo que muitos dos filhos de socialistas anti-capitalistas espanhóis estudaram nos Estados Unidos e trabalham em empresas de Private Equity ou Hedge Funds com um credo tão manifestamente capitalista que faria o Karl Marx corar de vergonha. Algo que não sucedeu nem sequer quando este contou à mulher que tinha engravidado a criada. Também é certo que a segunda medida de Sanchéz quando chegou ao governo, depois de ter mandado mudar o colchão na Moncloa (como confessou num livro escrito por uma jornalista que, como recompensa, foi nomeada secretária de estado), foi colocar os amigos que o ajudaram a medrar no PSOE em cargos de confiança em empresas públicas. Mas isso é o normal em política em qualquer lado. Qualquer socialista, de esquerda ou de direita, de cima ou de baixo, de trás ou da frente, vai apoiando e apoiando-se noutros socialistas para chegar a esses lugares.
O que é extraordinário é que, à mofa com que as notícias sobre os familiares do PS no governo português são divulgadas pelos jornais ditos de direita em Espanha, junta-se com sorna o El País, jornal independente da manhã (mas dependente do PSOE) que explica aos seus leitores como, “a endogamia política de um país pequeno, com uma classe dirigente escassa, chegou ao extremo em que se sentem, no mesmo conselho de ministros, um matrimónio, um pai e uma filha”.
Mesmo para um país socialista, governado por um plagiador vaidoso e inane, como é a Espanha actual, a política portuguesa tem requintes terceiro-mundistas que eles julgam estar bastante abaixo do que é possível num país civilizado. E eu confesso que também.
Ricardo Dias de Sousa
Professor em Madrid
08-08-2019 por Eduardo Dâmaso
Nuno da Costa Nata
Não discutimos o óbvio. Não discutimos a ética. Não discutimos a lei. Discutimos opiniões. Discutimos as nossas crenças, as nossas paixões. É de génio, há que reconhecer.
Inauguraram-se novos tempos na política portuguesa. Augusto Santos Silva será o pai da autopoiese política. O termo conhecia, até então, definições nas áreas da biologia, da sociologia e da filosofia. Nunca na política. Teria que ser um português. Só um português seria capaz de redefinir o seu esqueleto, colando a coluna vertebral aos pés e o cérebro à anca para garantir a sua subsistência no meio, quando as condições exógenas lhe são adversas. A autopoiese mais não é do que um sistema isolado construído pelos componentes que o próprio cria, num processo de auto-preservação e numa rede de interacção circular e recursiva.
Confuso? Passemos a explicar:
Se até hoje todos pensávamos que as leis eram para cumprir, fruto da sua generalidade e abstracção, estávamos todos errados. A lei é como o absurdo, é à la carte. Só se cumpre quando dá jeito…
Sócrates, que não o filósofo, testou: “Pagar a dívida é ideia de criança”; Ferro, que não o central, validou: “Tou-me cagando para o segredo de justiça” e Santos Silva, que não o antifascista, postulou: “Seria um absurdo uma interpretação literal da lei”.
Candidato ao Guiness pelo contorcionismo ideológico, estribou o argumentário na falta de clareza do diploma legal, o que não deixa de ser estranho já que a redacção actual (proposta pelo BE), foi aprovada em plenário sem qualquer voto contra. Mais estranho ainda quando, à data, era Ministro dos Assuntos Parlamentares. Não achou, nem ele nem ninguém, que a lei fosse pouco clara. E é fácil perceber porquê. Estão em causa apenas dois artigos da lei: o 8º, que define o regime das incompatibilidades entre os titulares de um cargo político ou de soberania, que detenham (eles, o cônjuge, ascendentes, descendentes ou colaterais até ao 2º grau) percentagem superior a 10% de uma sociedade e a realização de negócios entre essas sociedades e o Estado; e o 10º, que prevê a demissão do titular do cargo, nesses casos.
Mais: os lentes em direito constitucional já vieram a terreiro dizer que tais contractos são nulos e podem implicar a restituição das verbas comunitárias.
Clarinho e transparente como a água…
Surge, porém, um problema: fazer cumprir a lei implicaria que Artur Neves se demitisse (e não que pusesse o lugar à disposição), mas também levantaria o véu sobre as relações entre o pai do ministro Pedro Nuno Santos, o marido da ministra Francisca Van Dunem e os pais e irmão da ministra Graça Fonseca. Começa a ser muita gente. Começa a ser preocupante. Começa a ser um problema.
Há um elefante na sala!
Para lá da solução óbvia – fechar a porta e esconder o elefante dos olhares, haveria uma outra, bem mais criativa: chamava-se a Joana Vasconcelos, ela cunharia o elefante de instalação e o povo seguiria a sua vidinha, feliz e contente, ainda pagando ingresso para ver o gigante mamífero. Augusto Santos Silva vê mais longe — deixa o elefante na sala e pergunta: “Será que isto é mesmo um elefante? Não é claro que seja! O melhor é chamar especialistas para se pronunciarem quanto à filologia do animal em questão”. O povo delira, faz filas, alvitra elefantes, mamutes, mastodontes, mutantes e até transgéneros mammalius e segue a sua vidinha, feliz e contente, pagando ingresso. Poupou-se a alvissara da artista e a crítica à arte em causa. A cada um o seu juízo. A cada um o seu palpite, como se fossem parte integrante do espectáculo.
Não discutimos o óbvio. Não discutimos a ética. Não discutimos a lei. Discutimos opiniões. Discutimos as nossas crenças, as nossas paixões. É de génio, há que reconhecer.
Agora experimentem fazer o mesmo quando a polícia vos mandar parar por excesso de velocidade ou quando for necessário pagar um imposto: “Ah e tal… a lei não é clara! Vou pedir um parecer e depois decido se pago”.
Querias, não querias?
É que quando o elefante é teu, é sempre um elefante…
O SOL reuniu as demissões mais polémicas do Executivo de António Costa.
Licenciaturas (ou a falta delas)
Em Outubro de 2016, dois adjuntos do Governo demitiram-se por problemas relacionados com as suas licenciaturas. O primeiro caso envolveu o adjunto do primeiro-ministro para os Assuntos Regionais, Rui Roque, que acabou por se demitir após se ter descoberto que tinha uma licenciatura falsa em Engenharia Electrotécnica. No mesmo mês, Nuno Félix, chefe de gabinete do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, também se demitiu depois de ter sido revelado que o responsável não tinha completado duas licenciaturas, como estava descrito no despacho da sua nomeação publicado em Diário da República.
Raríssimas
Após uma investigação conduzida pela TVI, o secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, demitiu-se, em Dezembro de 2017, pela sua ligação à polémica ex-presidente da instituição Raríssimas, Paula Brito e Costa. Na altura, a reportagem trouxe a público detalhes sobre a gestão da associação que apontavam para o uso indevido de fundos da Raríssimas para despesas pessoais de Paula Brito e Costa. Manuel Delgado abandonou funções depois de ter sido confrontado com o facto de ter feito viagens com a presidente alegadamente pagas com dinheiro da associação.
Galpgate
Em Junho de 2017, três secretários de Estado pediram a demissão devido ao caso conhecido por Galpgate. Rocha Andrade, responsável pelos Assuntos Fiscais, João Vasconcelos (falecido em Março deste ano), da pasta da Indústria, e Jorge Costa Oliveira, da Internacionalização, abandonaram o Governo, na sequência da informação de que tinham aceite viagens pagas pela petrolífera Galp para irem assistir ao Europeu de futebol de 2016, em França. O Ministério Público acusou de corrupção 16 dos 26 arguidos do caso.
Incêndios de 2017
Depois dos trágicos incêndios de 2017 que provocaram 115 mortes, Constança Urbano de Sousa, ministra da Administração Interna pediu a demissão a António Costa. Segundo a antiga executiva, «logo a seguir à tragédia de Pedrógão» tinha «insistentemente» pedido ao primeiro-ministro que a libertasse das funções. Contudo, a demissão só foi oficializada a 18 de Outubro, depois de o Presidente da República ter dito publicamente que o país precisava de iniciar um novo ciclo e que o Governo deveria analisar «quem» poderia servir melhor esse recomeço.
O caso de Tancos
O polémico desaparecimento de material militar dos paióis de Tancos levou à demissão do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, em Outubro de 2018. Um após ter estalado o ‘escândalo’ que levou à abertura de uma comissão parlamentar de inquérito, Azeredo acabou por não resistir. Em causa estava se o ministro sabia da encenação ou se tinha comunicado a António Costa a forma ilegal como a Polícia Judiciária Militar tinha reavido o material roubado. Azeredo Lopes acabou por ser constituído arguido em Julho.
‘Familygate’
Antes da polémica das golas infamáveis, o ‘Familygate’ tinha sido o último escândalo a pôr o Governo em cheque. Em Abril, Carlos Martins, secretário de Estado do Ambiente, e o seu primo e adjunto Armindo Alves demitiram-se, após terem sido reveladas as relações familiares entre os políticos. Dias depois, na mesma lógica, João Ruivo, marido da secretária de Estado da Cultura e técnico especialista do Gabinete da Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, também abandonou as funções que tinha assumido há 13 dias.
R.A.
O calendário da rulote para este mês de Agosto já está cheio: por cada fim de semana, uma festa. De aldeia em aldeia no Marco de Canaveses e noutras redondezas do Porto, a rulote amarela do senhor João ganha quilómetros e clientes. Com apenas dois meses de vida, está ainda a adaptar-se às estradas, tal como João Babo do Carmo está a ambientar-se à nova etapa, agora que pôs fim à vida de emigrante. Trinta e dois anos depois de ter partido para a Suíça, levado pela onda de portugueses que para lá fugiram à procura de trabalho, o cozinheiro de 61 anos juntou-se agora à crescente vaga de regressos. Voltou em Janeiro deste ano e com vontade de se agarrar, de vez, à terra onde nasceu.
“Quando fui para a Suíça, por cada 20 portugueses que iam, um regressava. Agora, por cada um que vai, há 20 que voltam”, conta. O número de portugueses a deixar aquele país europeu, durante décadas um dos principais destinos da emigração nacional, está a aumentar há seis anos e disparou nos últimos dois. Só em 2018, foram mais de 10 mil, o dobro de 2013. E pelo segundo ano consecutivo houve mais portugueses a sair da Suíça do que a entrar (ver gráfico). “Chegámos a um ponto em que a comunidade está a diminuir. Isso só aconteceu em destinos não europeus, como os Estados Unidos ou o Canadá”, diz Rui Pena Pires, coordenador do Observatório da Emigração.
Só da cidade de Chaux-de-Fonds, na fronteira com a França, saíram 400 famílias portuguesas no ano passado. E há regiões como Friburgo onde vários prédios quase exclusivamente habitados por portugueses estão agora a ficar sem ninguém.
Os dados da Secretaria de Estado das Migrações da Suíça, enviados ao Expresso, mostram que metade dos portugueses que saíram daquele país no ano passado tinham autorização de residência permanente (ou seja, viviam no país há mais de cinco anos). Cerca de 40% tinham entre 40 e 64 anos, mas tem aumentado a proporção dos que têm mais de 65. E embora não seja certo que todos regressem a Portugal, os investigadores admitem que a maioria está a voltar à terra natal.
Só para o Marco de Canaveses regressaram no último ano 21 emigrantes portugueses na Suíça. João é um deles. Outros 60 já manifestaram vontade de voltar, segundo o Gabinete de Apoio ao Emigrante da autarquia.
“A primeira geração de portugueses a emigrar para a Suíça, no final dos anos 70 e início dos 80, está a chegar à reforma. Muitas pessoas entre os 60 e os 65 anos, que nem pensavam regressar a Portugal porque é na Suíça que têm os filhos e os netos, fizeram as contas e perceberam que a reforma é demasiado baixa para lá viverem sem terem de recorrer às poupanças”, afirma Liliana Azevedo, que tem uma bolsa de doutoramento no CIES — Instituto Universitário de Lisboa para estudar os percursos dos reformados portugueses naquele país europeu. “As rendas são altíssimas e cada pessoa é obrigada a pagar um seguro de saúde mensal entre 500 e 600 euros. Com reformas pouco acima dos mil euros é impossível viverem. Por isso, uns já regressaram e outros estão para regressar.” A realidade não deixa dúvidas a Rui Pena Pires: “A Suíça já é um caso excecional na história da emigração portuguesa na Europa.”
O pânico gerado pelo Fisco
Mas há outras razões para o regresso, como o desemprego ou o facto de os salários não terem acompanhado o aumento do custo de vida. “Alguns portugueses deixaram de esconder a miséria em que viviam. Há quem tenha dívidas porque o salário não chega para as despesas ou porque está desempregado”, alerta Nuno Santos, presidente da Associação de Apoio à Comunidade Portuguesa na Suíça.
A troca automática de informação financeira entre países da OCDE, que permitiu ao Fisco suíço saber se os estrangeiros estão a declarar todo o seu património, é outro fator. “Quase todos os portugueses têm bens em Portugal. A maioria nunca os declarou na Suíça e agora foi obrigada a fazê-lo”, diz Liliana Azevedo. “Alguns cantões exigiram acertos nos impostos e gerou-se um pânico que levou muitas pessoas a antecipar o regresso.”
A decisão de Teolindo e da mulher está quase tomada: regressar a Portugal no próximo ano. Ele está menos entusiasmado do que ela com a ideia de voltar a Castro Verde, concelho alentejano no distrito de Beja de onde os dois saíram para a Suíça a 1 de março de 1978. “É lá que tenho os meus amigos e estou muito ligado às associações de portugueses. É difícil deixar lá os filhos e os netos”, conta Teolindo Florinda, 69 anos, na moradia que começaram a construir em 1989, a pensar nos meses de agosto e não num regresso definitivo.
O que os faz vir não é a tributação suíça, que já conseguiram resolver, mas a baixa reforma, explica. “Pagar renda, despesas, mais cerca de mil euros por mês para os dois seguros de saúde é duro. Viver na Suíça assim é difícil. Aqui em Portugal vive-se melhor com o mesmo dinheiro, ainda que lá consiga rapidamente marcar um exame médico se precisar e cá não seja bem assim.” Quando partiram, recorda Teolindo, foram sem conhecer nada e só a falar português. Começou na agricultura com contratos de nove meses, depois foi para uma empresa de fundição onde esteve 26 anos e, por fim, trabalhou nos serviços de manutenção de um hotel, de onde se reformou há quatro. “Passei estes 41 anos entre trabalho e casa. Amealhávamos dinheiro e vínhamos a Portugal uma vez por ano. Era isto.”
Vaga de retornos sem paralelo
Agora, vêm para ficar. “Em alguns casos, é quase como se estas pessoas estivessem a emigrar novamente”, realça Rui Pena Pires. “Voltam para as aldeias de onde partiram há 40 anos, mas já não é o mundo de onde saíram. Agora não há lá ninguém. Alguns portugueses que emigraram para França também voltaram na reforma, mas nunca houve uma vaga de retornos com esta dimensão.” O caso excecional da Suíça exige respostas, defende. “É preciso dar apoio e informação”, por exemplo mediando o contacto com a Segurança Social ou as Finanças.
João Babo do Carmo chegou ao Marco de Canaveses em janeiro, lançou-se na compra da rulote em junho, mas ainda recorre ao Gabinete de Apoio ao Emigrante para esclarecer dúvidas. Para trás, ficam três décadas de uma vida saltitante: depois de ter deixado a terra em 1987 e ter chegado à Suíça sem emprego nem planos, trabalhou alguns anos como ajudante de cozinha. Chegou a vir para Portugal na década de 90 já com algum dinheiro no bolso e viveu com contratos de trabalho sazonais em Espanha, França e Alemanha. Em 2005 regressou à Suíça e casou-se com Joneide, uma emigrante brasileira a viver naquele país desde a década de 80. Foi quando perdeu o emprego no final do ano passado e o dinheiro começou a faltar que ambos decidiram vir para Portugal.
Quando o mês de agosto acabar, Teolindo e a mulher ainda regressam à Suíça. Mas João e Joneide já não. Terminadas as festas de verão, vão estacionar a rulote ao pé do estádio do Paços de Ferreira. No menu estarão finos, sumos, bifanas, cachorros e ‘esquisitas’, a receita que inventou com carnes e pimentos empurrados por uma fatia de pão. “Sou capaz de me virar para o futebol o resto do ano. Arranjo ainda outro clube e passo a ter onde estacionar todos os domingos. É desta vida assim que eu gosto.”
Redução de 50% no IRS
A medida faz parte do ‘Programa Regressar’, criado pelo Governo. O desconto aplica-se a quem tenha emigrado até 31 de dezembro de 2015, regresse em 2019 ou 2020, não tenha residido em Portugal nos três anos anteriores, não tenha dívidas ao Fisco e à Segurança Social, nem tenha solicitado a inscrição como residente não habitual. Já será possível obter esta redução nos rendimentos de 2019, bastando assinalar essa opção na próxima declaração de IRS.
Apoio financeiro através do IEFP
O ‘Programa Regressar’ também prevê a atribuição de um apoio pago pelo IEFP aos emigrantes ou lusodescendentes que comecem a trabalhar por conta de outrem em Portugal continental, em 2019 ou 2020 e com contrato sem termo. Aplica-se a quem tenha emigrado até dezembro de 2015. O apoio pode ir até €6536, abrangendo viagem de regresso, transporte de bens e reconhecimento de diplomas. As candidaturas podem ser apresentadas no site do IEFP.
Isenção de impostos
O Regime Fiscal para o Residente Não Habitual, dirigido a portugueses e estrangeiros, prevê que as pensões e rendimentos de trabalho de fonte estrangeira sejam isentos de imposto durante dez anos para quem passe pelo menos 183 dias por ano em Portugal. É obrigatório ter tido a morada fiscal registada noutro país nos cinco anos anteriores ao regresso.
Redução de 20% no IRS
O regime fiscal para os residentes não habituais também prevê uma redução de 20% do IRS para quem venha trabalhar para Portugal numa das profissões de alto valor acrescentado definidas pelas Finanças. A diferença em relação ao desconto de 50% no IRS do ‘Programa Regressar’ é que esta redução de 20% dura 10 anos e não exige que os candidatos tenham emigrado até 2015 (só precisam de não ter vivido cá nos cinco anos anteriores).
Vagas no Ensino Superior
O Ensino Superior tem um contingente reservado a filhos de emigrantes, com um total de 7% das vagas, rondando as 3600. O Governo quer incentivar mais jovens emigrantes a candidatarem-se às universidades nacionais e lançou umas jornadas de sensibilização junto de várias comunidades portuguesas.
Entradas
saldo em 2018
-1550
menos de 20
entre 20 e 40 anos
mais de 40 anos
‘PERMIS L’ – AUTORIZAÇÃO ANUAL
‘PERMIS B’ – AUTORIZAÇÃO DE 5 ANOS
‘PERMIS C’ – AUTORIZAÇÃO PERMANENTE
total em 2018
10.254
fonte: Secretaria de Estado das Migrações da Suíça
Raquel Albuquerque
José António Moreira
A CP assegura um quarto das receitas da empresa do seu novo presidente. 26%, para sermos mais concretos. É um negócio em que o grupo Comboios de Portugal está entre os três maiores clientes da empresa do novo gestor, Nuno Freitas. Incompatível? O Governo assegura que não.
Para este governo, desde que seja nomeação socialista, pode ser o que se quiser. Como é normal para o PS, o Estado é o seu habitat natural, e, portanto faz dele o que bem entende. Lamentavelmente os restantes poderes públicos deixam que isso aconteça; agora a razão porque o faz, deixa-nos a pensar e não pelas melhores razões.