quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

E o rabinho de palha lavado com Ivo Rosa?

São tantos os responsos que Ivo Rosa leva da Relação que, mais do que juiz instrutor, é um juiz instruendo, sempre a ser corrigido pelos professores. Devia andar sempre com uma errata.

Nos últimos anos, Portugal ganhou uma galeria de juízes peculiares, cada um com o seu protagonismo específico. Temos Carlos Alexandre, o Super-Juiz que açambarca os processos mais mediáticos do TCIC; Neto de Moura, o juiz de Neanderthal e as suas sentenças medievais sobre violência doméstica; Rui Rangel, o juiz-a-dias, que se oferece para limpar cadastros a bandidos; e, agora, Ivo Rosa, o juiz boomerang, que vê as decisões todas voltarem para trás. Os arguidos favorecidos pelas decisões de Ivo Rosa já nem festejam, sabem que têm de esperar pelo VAR.

Pela 11ª primeira vez desde 2017, o Tribunal da Relação reverteu uma decisão de Ivo Rosa. Desta feita, os juízes desembargadores decidiram que Ivo Rosa se equivocou ao considerar que as declarações de Ricardo Salgado no âmbito dos processos Monte Branco e GES não eram válidas para o caso Marquês. O juiz quis desvalorizar o que Salgado disse, que é o que os investidores do GES gostavam de ter feito, antes de serem convencidos a pôr lá o seu dinheirinho.

São tantos os responsos que Ivo Rosa leva da Relação que, mais do que juiz instrutor, é um juiz instruendo, sempre a ser corrigido pelos professores. Trata-se de um magistrado que não emite decisões, emite rascunhos. Devia andar sempre com uma errata. De cada vez que Ivo Rosa cumprimenta com um “bom dia!”, é melhor abrir logo o guarda-chuva.

Aposto que, se em Portugal os juízes usassem martelo, Ivo Rosa usaria um martelinho de São João, daqueles que apitam. É que parece que as suas decisões são todas a gozar. Suponho que cada veredicto proferido, além de ir escrito a lápis, vá sempre acompanhado de um envelope com a sua morada, para ser mais fácil mandar para trás.

Simpatizo com os juízes da Relação. Tenho um filho de um ano e também estou sempre a corrigir as tolices que faz. Se me é permitida a sugestão, diria que o melhor que a Relação tem a fazer é proibir Ivo Rosa de tomar decisões antes da sesta, para não estar rabugento. É nessas alturas, com a birra do sono, que o meu filho mais precisa de ser corrigido. Às vezes, com tautau.

Normalmente, as decisões revertidas têm que ver com travões que Ivo Rosa quer impor às investigações do Ministério Público, no sentido de proteger os direitos dos arguidos. À primeira vista, é um óptimo princípio, o de proteger os cidadãos de possíveis abusos do Poder Judicial. À segunda vista, importa ver de que cidadãos estamos a falar: Armando Vara, José Sócrates, Ricardo Salgado, Manuel Pinho. Uma coisa é proteger os indefesos, outra é proteger os que não têm defesa.

Por exemplo, Ivo Rosa quis extinguir a caução de 300 mil euros a Armando Vara. Só se percebe esta atenção se Vara a quis pagar com uma nota de 500 mil e o tribunal não tinha troco disponível. Também quis, em várias ocasiões, impedir o uso de algumas provas contra Manuel Pinho. É a segunda vez que Manuel Pinho deixa um grupo de portugueses às escuras. Primeiro, os mais pobres, por causa dos preços exorbitantes da electricidade; agora, os Procuradores do Ministério Público, por causa da picuinhice de Ivo Rosa.

Ivo Rosa quis ainda arquivar as acusações a um marroquino suspeito de pertencer ao Estado Islâmico e de recrutar terroristas em Portugal. Queria apenas acusá-lo de falsificação de documentos e de contrafacção de moeda. A Relação desautorizou-o e o arguido acabou por ser acusado e condenado por terrorismo. É possível que o marroquino tenha entregue um cartão de sócio do “Clube dos bombinhas do Daesh” ao recruta e Ivo Rosa só tenha considerado crime o facto de o documento ser falso. Se Ivo Rosa julgasse Bin Laden, provavelmente só lhe passava umas multas de estacionamento, por ter parqueado mal dois aviões em Nova Iorque.

José Diogo Quintela

A discreta Igreja portuguesa

Apesar da enorme influência espiritual e cultural, e do seu papel nevrálgico junto dos mais desprotegidos, a Igreja portuguesa mantém-se mais reservada do que há uns anos.

1. Em Portugal, só existe verdadeiramente uma igreja: a Católica Apostólica Romana, para cuja construção planetária Portugal foi matricial e à qual se deve, desde sempre, a maior obra social existente entre nós, ultrapassando a do próprio Estado, por via de muitas instituições que a Igreja criou e gere directamente, em benefício de muitos milhões de pessoas.

Hoje, Portugal é também dos países que têm das figuras mais reconhecidas da Igreja, pela sua fé, dedicação, estudo e capacidade intelectual. Tem cardeais, bispos, cónegos e padres excepcionais. Muitos estão colocados em altas posições eclesiais fora do país, designadamente no Vaticano. As ordens instaladas em Portugal são também elas influentes e importantes, sendo muitos dos seus membros exemplos notáveis de inteligência e bondade. A importância e reconhecimento da Igreja portuguesa está, aliás, bem patente na circunstância de Lisboa ir acolher, em 2022, a próxima Jornada Mundial da Juventude, que deverá trazer cá mais de um milhão de crentes.

Apesar disso, e da quantidade de portugueses que se afirmam católicos mesmo que não praticantes, a voz da Igreja não se ouve como há uns anos acontecia. Os mais velhos hão de lembrar-se das intervenções de D. António Ribeiro, antes e depois do 25 de Abril. E certamente não poderão esquecer as homilias de D. José Policarpo, e muitos os outros bispos diocesanos que obrigavam o poder político a justificar-se por actos, omissões e falhas de toda a espécie. D. Manuel Martins, considerado por alguns como o “bispo vermelho”, foi, por seu lado, um exemplo na denúncia da fome em Setúbal, o que muito irritou o Governo de Mário Soares à época. Com mais ou menos conotações políticas de direita ou de esquerda, havia muitas vozes da Igreja a fazerem-se ouvir.

Hoje, tudo é mais discreto e feutré. Nos média, a Igreja não tem o mesmo impacto e repercussão. Há menos proclamações públicas em questões essenciais que afetam a sociedade, como a pobreza, a exclusão social ou matérias de natureza fraturante. Verifica-se igualmente uma retração na abordagem de temas tão sérios como os relacionados com o direito à vida. Não é, porém, verdade que a Igreja portuguesa esteja menos activa no campo social. Pelo contrário, talvez nunca como até aqui tenha desempenhado um papel tão importante. Não é de crer, também, que se sinta complexada por ter menos fiéis nos locais de culto. Não é de crer, ainda, que sejam os média que de repente deixaram de lhe dar cobertura, sobretudo agora que temos um Presidente da República profundamente católico e objetivamente defensor da sua doutrina social, que promove como ninguém. Além disso, a Igreja mantém hoje uma vasta influência no sistema educativo a todos os níveis, com reconhecida influência e mérito. Por isso, não é fácil encontrar uma explicação para este relativo apagamento que só é levemente compensado aqui e ali nas grandes quadras católicas, com uma ou outra intervenção ou entrevista.

São intrigantes as causas da voz mais suave da Igreja portuguesa, até porque ela está praticamente isenta dos vexames a que certos membros do clero sujeitaram muitas das suas congéneres por comportamentos indignos. Talvez a discrição seja o custo de não perder alguns apoios por parte do Estado e que lhe permitem ajudar a cumprir a missão humanitária que desenvolve. Para além da sua palavra direta aos católicos praticantes, a voz da Igreja, o seu diagnóstico, o seu pensamento sobre os grandes temas como a saúde, a solidariedade, a solidão, o ambiente e a ética são essenciais e fazem falta na sociedade portuguesa, mesmo aos que não são tocados pela fé.

2. Uma das tarefas mais difíceis que há é desempenhar funções de diretor num órgão de comunicação social. Há sempre questões e controvérsias, internas e externas. E ainda mais se se tratar de uma instituição pública. É o tipo de lugar onde se passa de bestial a besta num ápice. Ultimamente, Flor Pedroso tem sido contestada internamente, mas há um passado que lhe dá crédito positivo. Como diria Cavaco Silva, alguns dos seus críticos internos da televisão pública teriam de nascer duas vezes para ser tão sérios como ela – isto, independentemente de também dever ser escrutinada.

3. O inigualável caos lisboeta. Avenida Columbano Bordalo Pinheiro, direção Praça de Espanha. Nove da manhã. Não se anda! Uma só faixa para milhares de carros! Uma via BUS onde alguns tentam furar para não ficarem horas parados. E, logo ali, um polícia que está lá só para multar. Só para isso, confessadamente! Lindo! Uma atenção municipal. E de quem é a culpa? Do faltoso automobilista? Não do dr. Medina, que ia fazer obras na Praça de Espanha. Obras que só limitaram o trânsito, mas têm a particularidade de não estarem em curso. Quando começarem mesmo, para remodelar a Praça de Espanha, vai ser o bom e o bonito.

Eduardo Oliveira e Silva

Eu canto, tu cantas, ele canta mal mas mal.

Tiago Dores


Foi uma lição de política, pois ao levar para o Programa da Cristina a mulher, os dois filhos e a nora, António Costa exemplificou na perfeição como funciona o Conselho de Ministros no governo do PS.

Nem a auditoria ao Novo Banco, nem a cimeira Trump-Kim, nem a situação na Venezuela. O grande assunto de semana foi indiscutivelmente o Festival da Canção. Até a Ex-ministra da Cultura Gabriela Canavilhas comentou o concurso ao vivo no Twitter: “Se o Conan Osíris ganhar isto, o Festival da Canção entra novamente na idade das trevas durante muitos anos”, vaticinou esta Zandinga do cançonetismo nacional. Tendo em conta que em 2009 a então ministra da Cultura também terá prognosticado que José Sócrates daria um estupendo primeiro-ministro prevê-se um futuro risonho para o certame musical da RTP.

E bem precisa o canal público de programas de sucesso para concorrer com o que parece ser o novo canal público, a SIC. Desde que a estação começou o novo show matutino já houve mais políticos n’ O Programa da Cristina que no Canal Parlamento. Depois de Marcelo Rebelo de Sousa, Assunção Cristas e Marisa Matias, foi agora a vez de António Costa. O primeiro-ministro pretendia ensinar a fazer cataplana de peixe, mas acabou por dar uma aula de política. Primeiro porque a cataplana é, no fundo, uma geringonça culinária: é uma salganhada de peixes que não têm nada a ver uns com os outros, mas como não havia garoupa suficiente arranjou-se uns mais pequenos para fazer número. Depois porque, ao levar para o programa a mulher, os dois filhos e a nora, António Costa exemplificou na perfeição como funciona o Conselho de Ministros no governo do PS.

Mas divago. Não percamos de vista o tema fundamental da semana. Assim que Conan Osíris ganhou o Festival da Canção, o Comité de Solidariedade com a Palestina, o SOS Racismo e as Panteras Rosa — diz que é a “Frente de Combate à LesBiGayTransFobia”, segundo a Wikipédia — apelaram ao artista para não ir a Israel representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção. Defendem estas organizações que Israel nega os direitos mais básicos aos palestinianos de Gaza e Cisjordânia. Eu também acho que Conan Osíris não deve ir a Israel. Giro, giro, era ir ao Festival da Canção de Gaza. Em vez de cantar a música “Telemóveis” apresentava uma nova versão do tema chamada “Telemóveis Armadilhados para Rebentarem numa Rua de Tel Aviv Repleta de Civis”. E, na plateia, os membros do Comité de Solidariedade com a Palestina, do SOS Racismo e das Panteras Rosa vibrariam com a actuação enquanto desfrutavam da calorosa recepção que tradicionalmente os fundamentalistas islâmicos reservam a indivíduos de raças e credos diferentes, a pessoas com orientações sexuais alternativas e às mulheres em geral. Aliás, só para terem uma ideia, em Gaza o respeito pelos direitos das mulheres faz o juiz Neto de Moura parecer a Isabel Moreira.

Por falar em direitos das mulheres, a Victoria’s Secret está em crise. A marca não descarta, inclusive, a hipótese de acabar com o tradicional desfile dos “anjos”. O meu pensamento está com estas mulheres que atravessam uma fase delicada da sua vida, em que a instabilidade laboral pode levar a perderem o posto de trabalho, com as dificuldades que daí advêm ao nível da sua auto-estima e independência financeira, numa sociedade que continua a colocar inúmeros obstáculos ao percurso profissional das mulheres. Este seria, sem dúvida, o momento certo para as modelos da Victoria’s Secret ouvirem uma palavra de conforto de todas as activistas feministas. Ou uma palavra de conforto, ou o clássico “Tão magras. Estúpidas. Bem feito”.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Carta à Menina Ai-Jesus


 

Tiago Dores

Não só metade da energia que produzimos no nosso país vem de fontes renováveis, como renegamos a viciosa energia nuclear. Claro que, de permeio, pagamos a energia mais cara da Europa.

Nem ao Pai Natal, nem ao Menino Jesus. Este Natal, o ministro do Ambiente e Acção Climática, João Pedro Matos Fernandes, decidiu antes escrever uma carta à sua menina predilecta, a sua ai-jesus, Greta Thunberg. Na missiva, o ministro lembra que os portugueses têm sido uns meninos muito lindos e que nos temos portado mesmo bem. Não só metade da energia que produzimos no nosso país vem de fontes renováveis, como renegamos a viciosa energia nuclear. Claro que, de permeio, pagamos a energia mais cara da Europa. “Mas quê, agora os valores morais têm preço, é?”, perguntarão os portadores de uma rectidão moral que faz o Gandhi parecer o Bernie Madoff. Por acaso estes têm e é de 1.200 milhões de euros por ano em subsídios às energias renováveis.

No fundo, na carta enviada a Greta, o ministro roga à Nossa Senhora da Anunciação do Fim do Mundo que interceda junto dos arcanjos da estratosfera, dos querubins da camada de ozono e dos serafins dos ciclos solares para que protejam o nosso Portugal, que consta ser dos países europeus que mais sofrem com as alterações climáticas. E eu até percebo que o ministro não tenha escrito ao Pai Natal, ou ao Menino Jesus. Para quê pedir mais presentes para encher o sapatinho, quando já temos todos o saco cheio à conta destas histórias do mundo ir acabar daqui a 12 anos? Isto depois de, em 2006, Al Gore ter garantido que tínhamos 10 anos para evitar que o mundo acabasse e de, já em 1989, a ONU ter avisado que seríamos dizimados se não revertêssemos o aquecimento global até ao ano 2000. Eh pá, decidam-se lá de vez quando é que isto arrebenta para uma pessoa organizar a sua vida!

Entretanto, o barco em que Greta Thunberg viajou desde os Estados Unidos atracou em Lisboa, ligando de novo a história do nosso país à das grandes odisseias marítimas. Embora, desta feita, sob uma perspectiva totalmente nova. Se, nos Lusíadas de Camões, o Velho do Restelo agoirava enquanto as embarcações se faziam ao mar, nos dias que correm a Jovem de Estocolmo agoira enquanto a sua embarcação chega do mar. Dizia o poeta “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Esqueceu-se de acrescentar o poeta: “Menos a vontade de estar sempre a rezingar”.

Mas não é só a vontade de resmungar que se mantém. Em Portugal, também podemos sempre contar com humorismo de qualidade em tudo o que sucede no processo Operação Marquês. Um dos últimos episódios giros foi o de Carlos Santos Silva ter ido rezar antes de falar com o juiz Ivo Rosa. Estava capaz de apostar uma boa maquia em como a coisa se passou assim:

  • Ó Carlos, então tu andaste a branquear capitais, Carlos?
  • Senhor padre, o senhor sabe que eu caio sempre na tentação de andar com dinheiro vivo.
  • Oh, Carlos. Vais para casa rezar uns pais-nossos e umas ave-marias, está bem? Olha, até te vou oferecer um terço.
  • Obrigado, senhor padre. Assim sendo, logo que sair daqui, vou entregar os outros dois terços ao Sócrates.

Quer dizer, talvez isto já seja parvo. É capaz de não fazer sentido. Até porque, de acordo com a comunicação social, José Sócrates pagava a Carlos Santos Silva, pelo estupendo serviço de circulação de dinheiro, uma comissão de apenas 10%. Altura ideal, então, para lançar um desafio matemático ao leitor: Santos Silva ficou com um terço e entregou os outros dois terços a José Sócrates. Mas, tendo em conta que a comissão que o Ex-primeiro-ministro tem de pagar é de apenas 10% — e não 33% –, com quantas contas do Rosário ficou no final Carlos Santos Silva?

Autoridades investigam alegada burla de milhares em cartório notarial. Vieira do Minho.

MP e PJ receberam mais de 100 queixas de clientes que foram notificados pelas Finanças para pagar impostos que pensavam já estar liquidados. Notária nega ter ficado com as verbas, mas assume que foi negligente.

A investigação em curso incide no cartório de Vieira do Minho, cuja responsável foi suspensa de funções.

A notária visada defende que tudo se deveu a “excesso de confiança”.  “Eu devia ter controlado  o dinheiro que entrava e saía”, diz.

Ao PÚBLICO, Susana de Sousa negou que tenha usado o dinheiro dos clientes em Benefício próprio, mas que, se há pagamentos em falta, tem de assumir a responsabilidade: “Fui negligente e assumo”, diz.

O Diário de uma Banana.

O Livre propôs um voto de condenação pelo fruto escolhido para ser a estrela da obra de arte. Para o partido, a opção pela banana revela um profundo e revoltante enquistamento do cis-heteropatriarcado.

Livre propôs um voto de condenação pelo fruto escolhido para ser a estrela da obra de arte. Para o partido, a opção pela banana revela um profundo e revoltante enquistamento do cis-heteropatriarcado

Quarta-feira, 4 de Dezembro. Uma galeria de arte em Miami apresenta uma — vá lá — obra, que consiste numa banana presa a uma parede branca com fita adesiva. O galerista que representa o autor do trabalho afirma que as bananas são “um símbolo de troca global, de duplo sentido, e um dispositivo clássico para o humor”. Familiares próximos deste senhor lançam-se de imediato em busca de uma vaga numa instituição psiquiátrica perto da sua área de residência.

Sexta-feira, 6 de Dezembro, pela fresca. Uma mulher francesa adquire a — enfim — obra, que consiste numa banana presa a uma parede branca com fita adesiva, por 108 mil euros. Sem mais demoras, familiares próximos desta senhora contactam os familiares próximos do galerista que representa o autor da — digamos — obra, no sentido de saber se tiveram sucesso na procura de uma clínica de psiquiatria que esteja a aceitar pacientes e perguntam se haverá mais uma cama disponível.

Sexta-feira, 6 de Dezembro, à tarde. Em todo o mundo, comenta-se a banana presa a uma parede branca com fita adesiva, comprada por 108 mil euros. Será isto arte, ou será isto brincadeira parva? Como é óbvio, não é por alguém dar uma fortuna por uma banana que ela passa a ser arte. Uma banana custar 170 ordenados mínimos não é arte. É a Venezuela. Aliás, na sequência desta notícia, o Ministério da Educação já alterou o currículo da disciplina de História de Arte. De agora em diante, além de abordar artistas do Modernismo, como Picasso e van Gogh, nesta cadeira estudar-se-á também Hugo Chávez e Nicolás Maduro, representantes do Minimalismo Quando se Trata de Pôr Comidinha no Prato dos Concidadãos.

Sábado, 7 de Dezembro. Um indivíduo entra na galeria onde estava exposta a banana presa a uma parede branca com fita adesiva, entretanto arrematada por 108 mil euros, e come a banana. O indivíduo enaltece a qualidade do trabalho artístico, confirmando que “estava deliciosa”. E acrescentou: “Desdenha-se muito a arte pós-moderna, mas a verdade é que esta obra é muito mais gostosa do que, por exemplo, o clássico do Caravaggio, Cesta de Frutas, que são todas farinhentas e mal saborosas.”

Domingo, 8 de Dezembro. José Sócrates tenta, a todo o custo, reabrir a fase de inquérito da Operação Marquês. Quer explicar ao juiz Ivo Rosa que se lembrou do porquê das avultadas maquias recebidas de Carlos Santos Silva. É que o ex-primeiro-ministro é artista plástico nas horas vagas e vendeu ao seu amigo, por vários milhões de euros, as suas obras mais emblemáticas: “Cerejas presas a uma parede branca com um pionés”, “Quivi preso a uma parede branca com cola UHU” e “Melancia presa a uma parede branca com um amigo do senhorio”. Infelizmente, Carlos Santos Silva não pode fazer prova da transacção, porque entretanto deu-lhe um ratinho.

Segunda-feira, 9 de Dezembro. Embora não haja dados oficiais que o confirmem, os responsáveis da galeria de arte garantem ao Miami Herald que “aquela banana já foi fotografada mais vezes que a Mona Lisa”. Perante esta notícia, a junta de freguesia lá da zona transforma o polidesportivo local num hospital psiquiátrico de campanha para acolher esta multidão de chalup… fotógrafos.

Quinta-feira, 12 de Dezembro. Na Assembleia da República, o Livre apresenta um voto de condenação pelo fruto escolhido para ser a estrela desta obra de arte. Segundo o partido, a opção pela banana revela um profundo e revoltante enquistamento do cis-heteropatriarcado no mundo das artes, que urge lamentar e combater. O voto de condenação é aprovado pelos deputados do Livre, Bloco de Esquerda, PCP, PAN e PS. Que bananas.

Tiago Dores – Observador

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

PCP insiste em pôr o laboratório militar a produzir medicamentos para combater lobby.

Medida altamente louvável, pois concordo com ela!

Comunistas querem equipar e valorizar  o laboratório militar,  transformando-o num laboratório nacional.

A lista é extensa e tem várias dezenas de medicamentos que a indústria farmacêutica não quer produzir por não ter interesse comercial, que vão desde os analgésicos à metadona para o programa de substituição narcótica, passando por anti-inflamatórios, compostos para a tuberculose ou até algumas soluções orais pediátricas. O Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos já produz medicamentos para o Serviço Nacional de Saúde desde 1979, em especial para colmatar as falhas da indústria, mas tem potencialidades para muito mais. Por isso, o PCP insiste que deve ser valorizado e passar a ter a natureza de Laboratório Nacional do Medicamento e funcionar em  colaboração com outros laboratórios, centros de investigação e universidades. A proposta, que entra esta semana no Parlamento e a que o PÚBLICO teve acesso, é, ipsis verbis, o projecto de lei que foi chumbado há um ano com os votos contra do PS e do PSD, e em que CDS e PAN se abstiveram. Então, o PS garantiu que o Governo não estava refém das farmacêuticas e que o  laboratório servia para dar a resposta adequada às necessidades do SNS. E o PSD apontava problemas de competências legislativas, já que o diploma do PCP punha o Parlamento a Definir questões do Governo. Entretanto, soube-se que o Estado gastou no ano passado mais 109 milhões de euros com medicamentos vendidos nas farmácias e dispensados nos hospitais públicos do que em 2017, num total de 2461 milhões de euros — o que representa mais de um quarto (26,21%) da despesa global do SNS e 1,22 % do PIB (Produto Interno Bruto).  Ora, a questão económica e a da soberania são precisamente dois dos argumentos do PCP para o novo estatuto daquele laboratório. Porque, lembra a deputada Paula Santos, se o laboratório já produz hoje muitos medicamentos, com um reforço do investimento em equipamento e pessoal terá mais capacidade para aumentar a produção e o leque de ofertas, reduzindo custos para o Estado e para os doentes. E com isso aumenta também a sua capacidade de investigação e inovação, podendo abarcar áreas em que o país está completamente dependente da indústria farmacêutica, como se viu nas vacinas da hepatite C e como vai sucedendo nos casos de vacinas para crianças. Na proposta, o laboratório passaria a ter dupla tutela, da Defesa e da Saúde, mas com autonomia administrativa e financeica. Os comunistas alegam que, com uma maior capacidade para investigar e produzir medicamentos e dispositivos médicos que permitisse uma maior independência face à indústria farmacêutica, um laboratório reforçado iria contribuir para a “regulação do sector, designadamente ao nível dos preços”, podendo colocar no mercado medicamentos mais acessíveis. “Hoje não há intervenção pública significativa nesta área; bem pelo contrário”, alega a deputada Paula Santos. Seria, assim, uma forma de libertar o Estado do lobby dos laboratórios e das farmácias — que já hoje também se associaram para produzir genéricos. Paula Santos não tem estimativas das poupanças possíveis porque isso dependeria sempre das substâncias a produzir e a definição disso seria competência do próprio laboratório. Mas a aposta mais imediata poderia ser em medicamentos cuja patente já não tem proprietário e que são hoje classificados como genéricos.

Parlamento

Maria Lopes

Publico

Reforço consular avança em países à volta da Venezuela

Para dar apoio aos luso-descendentes que fogem da Venezuela, Governo reforça embaixadas na Colômbia, Panamá, Chile e Peru, explica  secretária de Estado.

A política do Governo é manter o apoio e até reforçar e, se necessário, ajustar as respostas  às necessidades  da comunidade Berta Nunes Secretária de Estado  das Comunidades.

Na embaixada  no Panamá, estão registadas  5565 pessoas, das quais 90% são luso-venezuelanas.

A secretária  de Estado das Comunidades, Berta Nunes,  vai à Venezuela no início do ano.

Talvez não seja Macron o maior problema da NATO

Quando falamos da importância da relação transatlântica num mundo cada vez menos ocidental, talvez seja tempo de começar a pensar de modo diferente.

Frases

Não somente é cega a fortuna, como ainda, geralmente,  traz cegos aqueles a quem favorece.

Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.), político e advogado romano

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

A diferença entre Greta e Malala.

Uma perspectiva diferente. Não deixem de ler esta versão em português do brasil.
Diante da polémica que gira no mundo e com respingos fortes em um colega jornalista e também advogado aqui na cidade, recebi este artigo que roda na média e resolvi transcrever…
“Nos últimos tempos duas meninas chamaram a atenção do mundo e ambas foram parar na ONU. Duas histórias muito diferentes e duas personalidades totalmente distintas. Uma falou com pleno conhecimento de causa e outra sem conhecimento algum. Uma trazia um sentimento nobre, palavras sensatas e um semblante humilde; a outra exibe uma face arrogante, um discurso malcriado e interesses ocultos nada admiráveis (e que por isso precisam permanecer ocultos).
A que surgiu mais recentemente, a sueca Greta, que nem completou o ensino médio, pretende dar ao mundo aulas de ecologia. A ela não faltou, jamais, qualquer suporte material, desde antes de nascer. Nascida num dos países mais ricos do mundo, nunca viu a miséria de perto, não faz a mínima ideia do que sejam as dificuldades da vida, mas do alto da sua ignorância quer ditar como a humanidade deve viver. O excesso de conforto material não evitou que a mocinha se transformasse num pequeno poço de revolta. Em tom quase histérico anuncia que estamos às portas de uma “extinção em massa”. Com o olhar injectado de ódio e rosto crispado, questiona, sabe-se lá quem: “vocês roubaram a minha infância e os meus sonhos!”.
Como assim? O que lhe faltou na sua infância? Pelo jeito, carinho da família ou dos amigos e uma educação que lhe abrisse os olhos para o fato (evidente) de que o mundo é complicado mesmo e que as coisas não se resolvem do dia para a noite. Talvez conselhos no sentido de não ser tão agressiva e rancorosa. Se foi isso que lhe “roubaram”, garota, procure os culpados na sua casa e na sua escola, não no resto do mundo. Ah,…. mas à escola a menina-que-sabe-tudo não vai mais, exactamente porque já sabe tudo…
Eu me pergunto: roubaram seus sonhos? Foi mesmo? Aos 16 bem vividos anos já não há mais com o que sonhar? Se alguém lhe “roubou” esses sonhos e você não tem mais nenhum, o problema está em você, não no resto da humanidade. Se você não sonha em ter uma profissão ou uma carreira, ganhar a sua vida, ter uma família e, quem sabe, colaborar para construir um mundo melhor, o problema está só em você, que espera que seus “sonhos” lhe sejam entregues sem esforço. Isso não vai acontecer, menina. Melhor se acostumar com a ideia, por frustrante que ela seja. Talvez até hoje seus pais e financiadores ocultos tenham feito o possível para realizar esses tais “sonhos”, mas à medida que o tempo passa, o esforço precisa, cada vez mais, ser seu mesmo. E não adianta inchar a veia do pescoço enquanto esbraveja na ONU, sob os aplausos de uma plateia de idiotas que, avidamente, tentam sorver os ensinamentos que você não tem para lhes oferecer, porque isso não vai trazer seus “sonhos” de volta.
A outra garota anda meio desaparecida, mas não pode, jamais, ser esquecida.
Em tudo difere da petulante suequinha. Refiro-me à paquistanesa Malala. Ela, sim, teve a infância roubada (e quase a vida se foi junto). Malala nasceu nos confins mais atrasados do Paquistão, onde predominam costumes tribais e o fundamentalismo islâmico. Malala tinha um sonho, estudar, e foi esse sonho, tão singelo, que lhe tentaram roubar. Sofreu ameaças, levou um tiro na cabeça. Sua família teve que fugir do país e ela chegou entre a vida e a morte na Inglaterra (num anti ecológico avião a jacto, não num barco a vela), onde foi salva. Malala sobreviveu para contar a sua história, para prosseguir no seu sonho e para ajudar a fazer um mundo melhor, para si e para todas as mulheres que sofrem perseguições e discriminações e, com o seu exemplo, dar-lhes maiores oportunidades. Malala tinha mil razões para odiar e para se queixar, mas sua presença, por onde passa, transmite uma mensagem de serenidade e firmeza na defesa de ideais nobres. Malala não exala ódio, desejo de vingança, ao contrário, cativa pela sua modéstia e seu sincero desejo de fazer o bem.
O contraste entre as duas é brutal. Uma sempre teve tudo e acha que nada presta. A outra, teve uma origem extremamente humilde, não tinha sequer liberdade e quase perdeu a vida por um sonho tão modesto. Não se abateu, não se vitimiza e não se diz “roubada”. Malala quase morreu porque desejava estudar, mas foi em frente. Greta posa de vítima e não vai mais à escola porque, tolamente, pensa que já pode dar lições ao mundo”.

Isaac Averbuch

Um simples teste com os dedos pode revelar sinais de cancro no pulmão

Um simples teste com os dedos pode revelar a presença de uma condição de saúde subjacente, incluindo cancro de pulmão.

O chamado “este da janela de Schamroth” ajuda a identificar um tipo raro de deformidade nos dedos e unhas – conhecido como “hipocratismo digital” ou “hipocratismo digital” – que pessoas com problemas cardíacos ou pulmonares costumam exibir.
De acordo com a Cancer Research UK, o hipocratismo ocorre em estágios. Primeiro, a base da unha amolece e a pele ao lado fica brilhante. Depois, as unhas começam a curvar-se mais do que o normal. Isso é conhecido como “sinal de Scarmouth”. Por fim, as extremidades dos dedos podem aumentar – o que geralmente é chamado de “dedos da baqueta”.
Os cientistas pensam que os hipocratismos são o resultado da recolha de líquidos no tecido mole nas extremidades dos dedos. Isso é causado por quantidades anormalmente grandes de sangue que fluem para a área. No entanto, os mecanismos por trás disso ainda não são bem compreendidos.
O hipocratismo digital ocorre em cerca de 35% das pessoas com cancro de pulmão de células não pequenas, mas apenas em 4% das pessoas com cancro de pulmão de pequenas células. Também é visto num tipo de cancro conhecido como mesotelioma, que geralmente afeta o revestimento dos pulmões e a parede torácica.
“O teste é usado por profissionais médicos como um método parcial de confirmação de condições, mas também pode fazer o teste sozinho e demora apenas alguns segundos”, disse Emma H Norton, da empresa de saúde Bupa U.K., em declarações ao Huffington Post.
Para fazer o teste, bata colocar as mãos em frente aos olhos e colocar os dedos indicadores, com as unhas a tocar-se. Em casos normais, haverá um espaço em forma de diamante entre os dois ângulos feitos pela base das unhas.
Por outro lado, ter hipocratismo digital não é um sinal definitivo de cancro. Esta condição pode ser causada por várias outra doenças do pulmão, como fibrose cística, fibrose pulmonar, bronquiectasia ou asbestose, além de certos defeitos cardíacos, doença hepática ou doença de Crohn. Assim, este teste deve ser usado apenas como um guia, não substituindo uma visita ao médico.





Poema

"Todos vamos envelhecer…. Querendo ou não, iremos todos envelhecer.

As pernas irão pesar, a coluna doer, o colesterol aumentar.

A imagem no espelho irá se alterar gradativamente e perderemos estatura, lábios e cabelos.

A boa notícia é que a alma pode permanecer com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos.

O segredo não é reformar por fora.

É, acima de tudo, renovar a mobília interior: tirar o pó, dar brilho, trocar o estofado, abrir as janelas, arejar o ambiente. Porque o tempo, invariavelmente, irá corroer o exterior.

E, quando ocorrer, o alicerce precisa estar forte para suportar.

Erótica é a alma que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma e faz as pazes com sua história.

Que usa a espontaneidade para ser sensual, que se despe de preconceitos, intolerâncias, desafectos.

Erótica é a alma que aceita a passagem do tempo com leveza e conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o código de barras acima dos lábios.

Erótica é a alma que não esconde seus defeitos, que não se culpa pela passagem do tempo.

Erótica é a alma que aceita suas dores, atravessa seu deserto e ama sem pudores.

Aprenda: bisturi algum vai dar conta do buraco de uma alma negligenciada anos a fio."


Adélia Prado