quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

A discreta Igreja portuguesa

Apesar da enorme influência espiritual e cultural, e do seu papel nevrálgico junto dos mais desprotegidos, a Igreja portuguesa mantém-se mais reservada do que há uns anos.

1. Em Portugal, só existe verdadeiramente uma igreja: a Católica Apostólica Romana, para cuja construção planetária Portugal foi matricial e à qual se deve, desde sempre, a maior obra social existente entre nós, ultrapassando a do próprio Estado, por via de muitas instituições que a Igreja criou e gere directamente, em benefício de muitos milhões de pessoas.

Hoje, Portugal é também dos países que têm das figuras mais reconhecidas da Igreja, pela sua fé, dedicação, estudo e capacidade intelectual. Tem cardeais, bispos, cónegos e padres excepcionais. Muitos estão colocados em altas posições eclesiais fora do país, designadamente no Vaticano. As ordens instaladas em Portugal são também elas influentes e importantes, sendo muitos dos seus membros exemplos notáveis de inteligência e bondade. A importância e reconhecimento da Igreja portuguesa está, aliás, bem patente na circunstância de Lisboa ir acolher, em 2022, a próxima Jornada Mundial da Juventude, que deverá trazer cá mais de um milhão de crentes.

Apesar disso, e da quantidade de portugueses que se afirmam católicos mesmo que não praticantes, a voz da Igreja não se ouve como há uns anos acontecia. Os mais velhos hão de lembrar-se das intervenções de D. António Ribeiro, antes e depois do 25 de Abril. E certamente não poderão esquecer as homilias de D. José Policarpo, e muitos os outros bispos diocesanos que obrigavam o poder político a justificar-se por actos, omissões e falhas de toda a espécie. D. Manuel Martins, considerado por alguns como o “bispo vermelho”, foi, por seu lado, um exemplo na denúncia da fome em Setúbal, o que muito irritou o Governo de Mário Soares à época. Com mais ou menos conotações políticas de direita ou de esquerda, havia muitas vozes da Igreja a fazerem-se ouvir.

Hoje, tudo é mais discreto e feutré. Nos média, a Igreja não tem o mesmo impacto e repercussão. Há menos proclamações públicas em questões essenciais que afetam a sociedade, como a pobreza, a exclusão social ou matérias de natureza fraturante. Verifica-se igualmente uma retração na abordagem de temas tão sérios como os relacionados com o direito à vida. Não é, porém, verdade que a Igreja portuguesa esteja menos activa no campo social. Pelo contrário, talvez nunca como até aqui tenha desempenhado um papel tão importante. Não é de crer, também, que se sinta complexada por ter menos fiéis nos locais de culto. Não é de crer, ainda, que sejam os média que de repente deixaram de lhe dar cobertura, sobretudo agora que temos um Presidente da República profundamente católico e objetivamente defensor da sua doutrina social, que promove como ninguém. Além disso, a Igreja mantém hoje uma vasta influência no sistema educativo a todos os níveis, com reconhecida influência e mérito. Por isso, não é fácil encontrar uma explicação para este relativo apagamento que só é levemente compensado aqui e ali nas grandes quadras católicas, com uma ou outra intervenção ou entrevista.

São intrigantes as causas da voz mais suave da Igreja portuguesa, até porque ela está praticamente isenta dos vexames a que certos membros do clero sujeitaram muitas das suas congéneres por comportamentos indignos. Talvez a discrição seja o custo de não perder alguns apoios por parte do Estado e que lhe permitem ajudar a cumprir a missão humanitária que desenvolve. Para além da sua palavra direta aos católicos praticantes, a voz da Igreja, o seu diagnóstico, o seu pensamento sobre os grandes temas como a saúde, a solidariedade, a solidão, o ambiente e a ética são essenciais e fazem falta na sociedade portuguesa, mesmo aos que não são tocados pela fé.

2. Uma das tarefas mais difíceis que há é desempenhar funções de diretor num órgão de comunicação social. Há sempre questões e controvérsias, internas e externas. E ainda mais se se tratar de uma instituição pública. É o tipo de lugar onde se passa de bestial a besta num ápice. Ultimamente, Flor Pedroso tem sido contestada internamente, mas há um passado que lhe dá crédito positivo. Como diria Cavaco Silva, alguns dos seus críticos internos da televisão pública teriam de nascer duas vezes para ser tão sérios como ela – isto, independentemente de também dever ser escrutinada.

3. O inigualável caos lisboeta. Avenida Columbano Bordalo Pinheiro, direção Praça de Espanha. Nove da manhã. Não se anda! Uma só faixa para milhares de carros! Uma via BUS onde alguns tentam furar para não ficarem horas parados. E, logo ali, um polícia que está lá só para multar. Só para isso, confessadamente! Lindo! Uma atenção municipal. E de quem é a culpa? Do faltoso automobilista? Não do dr. Medina, que ia fazer obras na Praça de Espanha. Obras que só limitaram o trânsito, mas têm a particularidade de não estarem em curso. Quando começarem mesmo, para remodelar a Praça de Espanha, vai ser o bom e o bonito.

Eduardo Oliveira e Silva

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