sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Há um hospital todo equipado no Interior, mas está fechado há meio ano. Miranda do Corvo.

Falta de acordo entre a Fundação Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional e a Administração Regional de Saúde do Centro tem impedido a abertura da unidade hospitalar em Miranda do Corvo.

O Hospital Compaixão, em Miranda do Corvo, apetrechado para funcionar há meio ano, permanece por abrir, devido à falta de um acordo de cooperação com a Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC).

Ao queixar-se de a Fundação ADFP (sem fins lucrativos), proprietária do equipamento, estar a ser marginalizada, o médico Jaime Ramos aponta a agentes do Estado "práticas sectárias" e imputa-lhes "desejo de proteger interesses instalados, avessos a concorrência". "Sentimos que só por isso não está a ser negociado connosco um acordo de cooperação", declarou à SÁBADO Jaime Ramos, em cujo ponto de vista há agentes do Estado que "não gostam dos dirigentes da Fundação".

Antigo líder do Município de Miranda do Corvo, eleito em quatro ocasiões pelo PSD (há mais de 30 anos), Ramos também se queixa de indiferença por parte da Câmara local (PS), independentemente do apoio proporcionado pela autarquia, e estranha o alheamento da presidente da ARS/Centro, Rosa Reis Marques.

Em ofício que acabou de chegar à Fundação ADFP, presidida pelo médico, o Ministério da Saúde diz que a ARSC não dispõe para 2020 de qualquer verba no esboço do seu orçamento capaz de lhe permitir dar início ao processo conducente a uma proposta de acordo de cooperação ao abrigo do Decreto-lei nº. 138/2013.

O Hospital Compaixão possui 40 camas para cuidados continuados (30 de convalescença e 10 para cuidados paliativos), mas o único gesto da ARS/Centro tendente a aproveitar o equipamento não passou de um aceno da Equipa Regional de Cuidados Continuados.

"Fomos visitados pela drª Maria José Hespanha, em 2018, e ficámos com a ideia de que tratando-se de camas necessárias à Equipa Regional de Cuidados Continuados seriam alvo de contratação para começarem a funcionar no ano seguinte", assinala o antigo autarca, que também foi deputado à Assembleia da República.
Instalado num terreno cuja superfície é superior a um hectare – perto da primeira Casa do Gaiato que o Padre Américo [Monteiro de Aguiar] criou em Portugal – o Hospital Compaixão corresponde a uma área de construção de 4.000 metros quadrados.

A unidade assistencial, projectada pela engenheira Gabriela Morais, está dotada de meia centena de camas para internamento, em quartos duplos e individuais, com instalações sanitárias privativas, televisão, climatização e gases medicinais. A edificação importou em cerca de 4,50 milhões de euros e o equipamento em 2,50 milhões.

A par de tomografia computorizada, o Hospital Compaixão está apetrechado com quatro valências de imagiologia clínica e com intensificador de imagem (concebido para auxiliar as equipas médicas na realização das mais exigentes intervenções cirúrgicas).

Segundo Gabriela Morais, o bloco operatório dispõe de condições físicas e tecnológicas de excepção, graças a um sistema de iluminação que melhora substancialmente a visualização da área de intervenção e elimina o efeito de sombra.

Interior, parente pobre
Para o presidente da Fundação ADFP - Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional, "o esforço feito para inverter o esvaziamento característico da interioridade está a ser injustamente desprezado".

Ao fazer notar que "em toda a sub-região do Pinhal Interior não há uma cama de cuidados continuados de convalescença ou de paliativos", o médico deixa a seguinte pergunta: "qual a razão capaz de justificar que o Estado só tenha sido sensível a contratualizar unidades de convalescença com entidades ligadas à banca"?

Se o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra tem, "diariamente, ente 70 e 100 camas ocupadas por internamentos sociais" (pacientes já com alta médica), "por que não contratualiza a ARS/Centro 40 camas existentes no Hospital Compaixão, mais baratas, mais humanizadas, mais próxima das famílias"?, questiona Jaime Ramos.

Propriedade de uma instituição do sector social, a unidade hospitalar, se for abrangida por acordo de cooperação outorgado pela ARSC, não acarreta aumento de encargos públicos. "A generalidade dos serviços que iremos prestar corresponde a outros que, hoje em dia, são pagos pelo Estado a entidades privadas, de natureza lucrativa, algumas de capitais multinacionais", acentua o presidente da Fundação ADFP.

O Hospital Compaixão traduz o maior investimento privado, de interesse público, realizado no concelho de Miranda do Corvo desde a construção do convento de Semide (século XII), assinala Jaime Ramos.

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/ha-um-hospital-todo-equipado-no-interior-mas-esta-fechado-ha-ano-e-meio?ref=DET_Recomendadas_pb

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