sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Na margem sul, toujours!

Em princípio, todos os aviões vão ser obrigados a aterrar em ponto morto. As aeronaves que se dirigirem para aquele aeroporto terão de ir mascaradas de cegonha, para não atemorizar a avifauna local.

Primeiro, um ministro do PS disse que um aeroporto, na margem sul, jamais. Depois, o presidente do PS acrescentou que fazer um aeroporto na margem sul facilitava a vida aos terroristas, porque lhes bastava dinamitar uma ponte para criar um grande problema em termos de aviação internacional. A seguir, toda a gente passou a ser intensamente ambientalista. Pilinhas ambientalistas foram medidas para verificar quem amava mais o nosso planeta e a sua biodiversidade, campeonato que decorre ainda, com participantes empenhados em demonstrar a sua devoção ecológica. E agora, ao que parece, o governo do PS vai avançar para a construção do novo aeroporto no Montijo, a seis quilómetros da Reserva Natural do Estuário do Tejo, habitat natural ou ponto de passagem migratória para milhares de aves. Os altares em talha dourada que se ergueram durante a campanha eleitoral em homenagem a Greta Thunberg precisam certamente de ser limpos, porque as imagens da santa sueca devem estar a chorar lágrimas de sangue.

A não ser que o governo tenha tomado medidas que amenizem o impacto ambiental do aeroporto. Como não duvido da sinceridade dos novos ambientalistas, até porque fico impressionado com a força com que eles batem no peito ecologista, imagino que essas medidas sejam reais e importantes. Por exemplo, em princípio, todos os aviões vão ser obrigados a aterrar em ponto morto. As aeronaves que se dirigirem para aquele aeroporto terão de ir mascaradas de cegonha, para não atemorizar a avifauna local. Cada turista, além de pagar uma taxa extra, será obrigado a trazer consigo um saquinho de alpista, para que as aves do estuário se habituem a associar a chegada dos aviões ao almoço. Antes de tudo, no entanto, os pontos cardeais serão invertidos em Portugal por decreto, para que o aeroporto fique na margem norte do Tejo, contribuindo assim para não desfeitear os governantes do passado e estragando os planos aos terroristas do presente e do futuro. Tenho a certeza de que estas e outras medidas serão tomadas, para efectiva conciliação do aeroporto do Montijo com a saúde do planeta.

Ricardo Araújo Pereira

Ricardo Araújo Pereira

( Crónica publicada na VISÃO 1392 de 7 de novembro)

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