1. “Manuel, sei que estás a organizar a Junta de Freguesia, agora que ganhámos. É preciso por esses tipos fora, que só nos vão sabotar. E não te esqueças de arranjar alguma coisa para a minha filha, que está a acabar o curso e é das nossas. Está já há um ano inscrita na Juventude e é de confiança. Diz-me alguma coisa”.
2. “Doutor, lembra-se do que falámos quando lhe estive a arranjar as janelas em casa? Fiz-lhe um preço de amigo. Estou agora a telefonar-lhe porque me dá jeito aquele trabalhinho no centro de saúde. E o senhor doutor podia falar de mim ao dr. Silveira.”
3. “O meu filho acabou o curso de Gestão, diga ao Eduardo da contabilidade para o pôr a trabalhar com ele, e que o coloque na folha dos pagamentos com um ordenado jeitoso. O rapaz merece e precisa de se endireitar”.
4. “Esse tipo é um lacaio do monhé e por onde passa rouba tudo. Os socialistas são todos assim.” (Comentário não moderado).
5. “A minha amiga não se esqueça de deixar uns dinheiritos para o Alfredo, que nos arranjou a camioneta mais barata. Ele espera ganhar algum e como fez tudo sem recibo, ficou-nos mais barato”.
6. “O que nós precisávamos era de um Salazar para pôr todos estes políticos na ordem”.
7. “Sabes onde é que eu tenho arranjado algum dinheiro? A agência do Frederico, aquela na Estefânia, tem lá um informático que pede a pessoas para dizerem mal de uns restaurantes e bem dos outros e paga-me para pôr comentários no Facebook. Não é muito, mas dá para tomar umas bicas”.
8. “Ó sr. Doutor, aconselha-me a comprar umas antiguidades e ir a umas galerias comprar quadros? É que eu tenho aqui uns dinheiros em cash que queria usar sem problemas. É que agora os bancos fazem muitas perguntas. Como eu não conheço nada dessas coisas, o senhor doutor podia indicar-me aos seus amigos. Ainda tens uns daqueles Dalis com a assinatura? Pede-lhe bom dinheiro porque se ele vir o nome do Dali vai logo atrás e está com pressa de tirar o dinheiro do cofre da tia. Percebes?”.
9. “Olá, Simão. Tenho uma encomenda da vereadora da câmara, sabes aquela que viveu com a Simone, para organizar uma exposição e eu preciso de um curador. Eles têm dinheiro para pagar, não te acanhes.
— Mas para essa exposição não é preciso nenhuma trabalho de curadoria…
— Pois é, mas eles têm dinheiro e assim habituam-se a ter que pagar as artes.
— Está bem, mas aqueles quadros são uma merda e aquilo não presta para nada.
— Pões o teu nome em letras pequeninas na folha de sala.”
10. “O que é que você quer beber? Temos que comemorar o nosso negócio… Ó senhor Lima, uma garrafa de Moët & Chandon…
— Mas isso não é muito caro?
— Não te preocupes: o Estado paga, que é para isso que servem os impostos.”
11. “Não estás a pôr pouca camada de alcatrão?
— Não faz mal, é suficiente.
— E o engenheiro não vem cá verificar?
— Vir, vem, mas ele sabe que eu sou amigo do presidente da câmara e eu mando-lhe um cabaz de Natal.”
12. “Tenho as estufas cheias de nepaleses e se fosse preciso ainda trazia mais. Trabalham com quase 50º nas estufas e para a terra deles ganham muito. — E não veio aí um grupo da Igreja ver as condições em que eles viviam? — Vieram. É tudo do Bloco de Esquerda, mas eu disse-lhes que punham em risco a competitividade da agricultura alentejana. E eles não podem fazer nada porque o secretário de Estado pensa o mesmo.”
13. “Como é que te chamas? — Maria Alberta. — E de que é que te queixas? — Faltei para levar o meu bebé ao hospital que estava com febre. — Mas não disseste nada ao supervisor. — Não tive tempo. — Pois é, mas vais ter multa, e põe-te a pau, que houve quem te visse naquele ajuntamento à entrada a que os comunistas dos sindicatos chamam ‘concentração’. Não te concentres mas é no emprego que não vais ter sorte nesta casa.” 14. “Eu vou é votar no Chega, é metade a trabalhar e metade a roubar” (Comentário no Facebook).
15. “Estás como o Sócrates. Grande escola! Quanto é que eu tenho de pagar por fora?”
16. “Ó Jaime, o chefe de gabinete do ministro não é aquele com quem passas férias no Algarve? Organiza lá um almoço porque precisava de lhe dar uma palavrinha.”
“Ó Jaime, o chefe de gabinete do ministro não é aquele com quem passas férias no Algarve?”
José Pacheco Pereira – Publico
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