quarta-feira, 26 de abril de 2023

Alimentos para soltar o intestino do bebé

Alguns alimentos que podem ser incluídos na alimentação do bebé a partir dos 6 meses, para ajudar a soltar o intestino, são:

  • Frutas, como mamão, laranja, abacate, banana nanica, uva, kiwi, melão, figo, ameixa, melancia, manga, abacaxi;
  • Legumes, como abóbora, almeirão, tomate, pepino, couve, espinafre, batata doce, vagem e vegetais folhosos;
  • Cereais integrais, como aveia em flocos, arroz integral, macarrão integral e milho;
  • Leguminosas, como grão de bico, ervilha, lentilha e feijão.

Além disso, bebés acima de 1 ano também já podem consumir iogurte natural, que contém probióticos que melhoram a flora intestinal e combatem a prisão de ventre. Veja alguns laxantes caseiros para bebés.


4 laxantes naturais e seguros para bebés e crianças

A prisão de ventre é comum em bebés e crianças, principalmente nos primeiros meses de vida, porque o sistema digestivo ainda não está bem desenvolvido, e por volta dos 4 a 6 meses, quando começam a ser introduzidos novos alimentos. Existem alguns remédios caseiros que são considerados seguros e que podem ser usados para regular o trânsito intestinal da criança, auxiliando no tratamento da prisão de ventre, como a água de ameixa ou o xarope de figo com ameixa.

No entanto, no caso dos bebés com menos de 4 meses os remédios caseiros podem não ser indicados, sendo recomendado pelo pediatra medidas que ajudam a melhorar o funcionamento do intestino do bebé e aliviar as cólicas, como massagem na barriga do bebé, e que a mão evite o consumo de alimentos que podem causar gases. Veja mais dicas do que fazer para aliviar as cólicas no bebé.

Mesmo com a ajuda destes remédios caseiros, se o bebé não ganhar peso, se chorar com dores e não conseguir evacuar, deve-se estar atento para levá-lo ao pediatra, caso o problema se mantenha.

1. Água de ameixa

Colocar 1 ameixa num copo com cerca de 50 ml de água e deixar descansar durante a noite. Dar ½ colher de sopa da água ao bebé pela manhã e repetir o processo 1 vez por dia, até o intestino voltar a funcionar.

Para bebés com mais de 4 meses, pode-se espremer a ameixa através de uma peneira e dar 1 colher de chá por dia do suco.

2. Xarope de figo e ameixa

O xarope de figo e ameixa está indicado para crianças maiores de 3 anos de idade.

Ingredientes

  • 1/2 xícara de figos picados com casca;
  • 1/2 xícara de ameixas picadas;
  • 2 xícaras de água;
  • 1 colher de melaço

Modo de preparo

Colocar numa panela os figos, as ameixas e a água e deixar descansar por aproximadamente 8 horas. Em seguida, levar a panela ao fogo, acrescentar o melaço e deixar ferver por alguns minutos, até que as frutas amoleçam e o excesso de água evapore. Retirar do fogo, bater tudo no liquidificador e guardar num pote de vidro com tampa, que tenha sido esterilizado em água a ferver por 10 minutos.

Pode-se tomar 1 colher do xarope por dia, sempre que houver necessidade.

3. Papa de aveia

Substituir as papas de arroz, trigo ou maisena pela papa de aveia, pois é rico em fibras que ajudam a melhorar o trânsito intestinal do bebé e da criança.

Além disso, é importante oferecer bastante água no intervalo das refeições, que ajuda a hidratar as fezes e tornar mais fácil a sua passagem pelo intestino.

4. Suco de laranja e ameixa

Espremer 50 ml de sumo de laranja lima, adicionar 1 ameixa preta e bater no liquidificador. Para crianças maiores de 1 ano, dar o sumo 1 vez por dia, por, no máximo, 3 dias consecutivos. Se a prisão de ventre persistir, deve-se falar com o pediatra.

Para crianças menores de 1 ano, deve-se oferecer de 10 a 30 colheres de chá apenas do sumo de laranja lima.

Quando usar supositórios e levar ao médico

Deve-se procurar o pediatra se a prisão de ventre durar mais de 48 horas, pois ele pode recomendar o uso de supositórios e lavagem intestinal.

Além disso, é preciso estar atento à presença de feridas no ânus do bebé ou de sangue nas evacuações, pois as fezes ressecadas podem causar fissuras anais. Essas fissuras fazem a evacuação ser muito dolorosa para o bebé, e ele automaticamente retém as fezes para evitar a dor. Nestes casos, também é preciso procurar o pediatra o mais brevemente possível. Saiba mais sobre fissura anal.

Veja outros alimentos que são bons para soltar o intestino do bebé.

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10 alimentos laxantes que soltam o intestino

Os alimentos ricos em fibra, como mamão, ameixa, abóbora, laranja, aveia e chia, têm efeito laxante, pois contribuem para a formação do bolo fecal, sendo uma excelente opção para soltar o intestino.



Muitos destes alimentos também têm óptimas quantidades de água, outro elemento fundamental para ajudar na eliminação das fezes. Por isso, é também recomendado beber

É importante incluir esses alimentos laxantes diariamente numa dieta balanceada não só para ajudar a soltar o intestino, mas também para evitar as crises de prisão de ventre.

Principais alimentos

Alguns dos principais alimentos com efeito laxante que que ajudam a soltar o intestino são:

1. Mamão

Cada 100 g de mamão tem em torno de 2g de fibras, além de ter boas quantidades de magnésio, um mineral que estimula os movimentos intestinais, ajudando na eliminação das fezes. Além disso, o mamão também é rico em água, elemento essencial para ajudar a soltar o intestino.

Como consumir: para manter uma dieta variada e balanceada, a quantidade recomendada da fruta é de ½ mamão papaia ou 1 fatia pequena de mamão formosa por dia, na forma natural, que pode ser consumido no pequeno almoço, lanche da manhã ou da tarde. Outras formas de incluir mamão na alimentação é em salada de frutas, sucos ou vitaminas.

2. Aveia

A aveia é um cereal rico em beta-glucanas, uma fibra solúvel com funções pré-bióticas, que serve de alimento para as bactérias benéficas do intestino, os probióticos, ajudando a equilibrar a flora intestinal, regulando o funcionamento do intestino.

Como consumir: para ajudar a soltar o intestino, é importante consumir 1 colher de sopa de aveia em flocos por dia, que pode ser usada em mingaus ou adicionada a frutas ou iogurte.

3. Iogurte natural

O iogurte natural é um alimento probiótico, pois contém as bactérias benéficas Bifidobactérias e Lactobacilos, que ajudam a equilibrar a flora intestinal, mantendo o bom funcionamento do intestino.

Como consumir: é importante priorizar a forma mais natural do iogurte, evitando as versões com adição de corantes, açúcar ou adoçantes, podendo ser consumido 1 vez por dia, junto com frutas, aveia ou sementes, no pequeno almoço, no lanche da manhã ou da tarde.

4. Ameixa

Por ser uma fruta com boas quantidades de fibra, a ameixa é um alimento que ajuda a soltar o intestino. Além disso, a versão fresca da fruta também é rica em água, amolecendo e facilitando a eliminação das fezes.

Como consumir: a ameixa pode ser consumida na forma fresca, sendo aconselhada a ingestão de 1 a 2 unidades por dia, ou na forma desidratada (sem açúcar), sendo recomendada a ingestão de no máximo 2 unidades por dia.

5. Laranja

A laranja é uma fruta com óptimas quantidades de água, que ajuda a amolecer as fezes, facilitando o trânsito intestinal. O bagaço da fruta também é rico em fibras, que ajudam a formar o bolo fecal, soltando o intestino.

Como consumir: para ajudar a soltar o intestino, a laranja deve ser consumida inteira e com o bagaço, sendo sugerido consumir 1 laranja por dia, que pode ser após o almoço ou jantar.

6. Abóbora

Por ser um vegetal com óptimas quantidades de fibra e água, a abóbora é importante para formar e umedecer as fezes, melhorando o trânsito intestinal.

Como consumir: a abóbora pode ser consumida assada ou ainda pode ser usada em ensopados, sopas e saladas, ao longo da semana, intercalando com outros vegetais com propriedades laxantes.

7. Sementes

As sementes, como chia, linhaça, girassol e gergelim contêm boas quantidades de ómega 3, uma gordura saudável que, entre outros benefícios, ajuda a lubrificar o intestino, facilitando a eliminação das fezes.

Por serem ricas em fibras, as sementes também ajudam na formação do bolo fecal e melhoram o trânsito intestinal.

Como consumir: a quantidade de ingestão diária das sementes pode variar, sendo normalmente recomendada 1 colher de sopa por dia, que pode ser adicionada em saladas, iogurtes ou frutas.

8. Vegetais folhosos

Os vegetais folhosos, como espinafre, bertalha, acelga, rúcula, alface e couve são ricos em fibras com propriedades laxantes, soltando o intestino. Além disso, quando esses vegetais são consumidos crus, fornecem óptimas quantidades de água, facilitando a eliminação das fezes.

Como consumir: os vegetais folhosos podem ser consumidos diariamente no almoço e jantar e de preferência na forma crua, quando possível, como saladas ou em sumos. Outra possível forma de consumo desses vegetais é como refogados ou ensopados.

9. Leguminosas

As leguminosas, como feijão, grão de bico, tremoço ou lentilha são ricos em fibras solúveis que promovem a formação das fezes, ajudando a soltar o intestino. Além disso, as leguminosas também possuem boas quantidades de magnésio, um mineral importante para estimular o movimento do intestino.

Como consumir: a recomendação de ingestão diária de leguminosas é de 3 a 6 colheres de sopa por dia, que pode ser na forma de caldos, sopas ou saladas, no almoço e no jantar.

10. Cereais integrais

Os cereais integrais naturais, como o arroz integral, o trigo integral ou quinoa, têm óptimas quantidades de fibras insolúveis que aumentam o volume das fezes e estimulam o movimento peristáltico, soltando o intestino.

Como consumir: os cereais integrais, como arroz integral, pão integral, quinoa ou amaranto, podem ser consumidos diariamente no pequeno almoço, almoço e jantar.

Cardápio para soltar o intestino

A tabela a seguir traz o exemplo de um cardápio de 3 dias com alimentos laxantes para ajudar a soltar o intestino:

Este cardápio é apenas um exemplo que varia de acordo com o estado de saúde actual e as preferências individuais, sendo aconselhado realizar uma consulta com um nutricionista para uma avaliação completa e elaboração de um cardápio personalizado.

Além dos alimentos laxantes, é fundamental beber de 1,5 a 2,0 litros de água por dia, para hidratar as fezes, soltando o intestino e evitando a prisão de ventre.

Veja com a nutricionista Tatiana Zanin outras dicas para soltar o intestino:

https://youtu.be/9774cBPI-2Q

Como fazer: Panqueca de banana com linhaça

Receitas saudáveis com semente de linhaça.



Ingredientes:

    • 1 banana;

    • 2 colheres de sopa de aveia;

    • 1 ovo;

    • 1 colher de chá de linhaça triturada;

    • Canela a gosto;

    • 1 fio de mel.

      Modo de preparo:

      Amassar a banana com um garfo. Adicionar o ovo, a aveia, a linhaça e misturar bem com uma colher, ou espátula. Aquecer, no fogo, uma frigideira antiaderente e fazer a panqueca, dourando dos dois lados. Transferir a panqueca para um prato, polvilhar com a canela em pó, colocar o mel e servir.


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      Como fazer: Pão de linhaça

        Receitas saudáveis com semente de linhaça.



        Ingredientes:

        • 2 ½ xícaras de chá de farinha de trigo integral;

        • 2 ½ xícaras de chá de farinha de trigo comum;

        • 2 xícaras de chá de farinha de centeio;

        • 1 xícara de chá de semente de linhaça triturada;

        • 1 colher de sopa de fermento químico em pós;

        • 1 colher de chá de mel;

        • 2 colheres de chá de manteiga;

        • 2 ½ xícaras de chá de água morna;

        • 2 colheres de chá de sal;

        • 1 ovo para pincelar.

          • Modo de preparo:

            Misturar todos os ingredientes em uma bacia e sovar até a massa ficar homogênea e lisa. Cobrir a massa com um pano e deixar descansar por 30 minutos. Modelar os pães e colocá-los em forma untada, assando em forno pré-aquecido a 180ºC por 40 minutos.

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          segunda-feira, 24 de abril de 2023

          Os ‘americanos’

          Em Lisboa, a linha de transportes colectivos sobre carris – os ‘Americanos’ – foi inaugurada a 17 de Novembro de 1873 entre a Estação da linha Férrea Norte e Leste (Stª. Apolónia) e o então extremo oeste do Aterro da Boa Vista (Santos). A rede cresceu nas décadas seguintes, foi alterada na sua bitola, e finalmente alterada em 1900 para tracção eléctrica.

          Um ‘Americano’ a passar em frente ao teatro Nacional, no Rossio.

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          …A lanterna vermelha do ‘americano’, ao longe, no escuro, parara. E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço.

          Ainda o apanhamos! Ainda o apanhamos!

          De novo a lanterna deslizou e fugiu. Então, para apanhar o ‘americano’, os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela Rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia.

          (Assim termina, em Janeiro de 1887, esse extraordinário romance ‘OS MAIAS’, de Eça de Queiroz).

          Os ‘Chora’

          Os maiores concorrentes dos “Americanos” de tracção animal na Lisboa do século XIX eram os carros do “Chora”, propriedade de Eduardo Jorge, que nunca os vendeu, nem à Carris.

          Nos anos 30 do século XIX, começaram a circular em Lisboa os primeiros transportes públicos de tracção animal, formando-se algumas décadas depois várias companhias dos chamados “Americanos”, comprados a uma empresa de Nova Iorque.

          A primeira linha de “Americanos” começou a funcionar na capital em 1873, concorrendo com estes os “Jacintos”, os “Simplícios”, os “Florindos” ou os carros do “Chora”. Estes, criados por Eduardo Jorge em 1888, e não recorrendo a carris, transformaram-se nos mais famosos concorrentes dos “Americanos”.

          Eduardo Jorge era um rapaz pobre que tinha vindo da província trabalhar para Lisboa, como moço de cavalariça dos “Americanos”, e o nome dado aos seus carros tem duas versões. Ou era uma corruptela da firma ‘Shore’, que os fabricava; ou então a alcunha que os empregados de Eduardo Jorge lhe puseram, por ele se estar sempre a chorar de ter poucos lucros com a empresa.

          Em 1901, apareceram os eléctricos da Carris. Em 1905, com toda a rede já electrificada, os únicos carros de tracção animal que ainda resistiam eram os do “Chora”. Eduardo Jorge só desistiu em 1917, por causa das dificuldades trazidas pela I Guerra Mundial. Vendeu os cavalos e as mulas, pagou a todos os empregados e mandou incendiar os seus “Chora”, para a Carris não ficar com eles.

          Em 1929, fundou na Amadora a Viação Eduardo Jorge, com as suas célebres camionetas amarelas, que duraria até 1995.

          Comentário a "Habituámo-nos"

          Ao ler uma lista de membros do governo, a fraca qualidade de algumas das muitas afirmações mentirosas que fazem e a ‘estupidez e incompetências visíveis’ do que dizem, aparece-me, logicamente, uma pergunta:

          Porquê (‘Meu Deus’)?

          A explicação é simplesmente um facto da vida (e com que deparei várias vezes ao longo das minhas quatro décadas de actividade profissional).          

          Detalhando:

          (De vez em quando) Alguém consegue obter uma posição hierárquica de PODER, que está nitidamente acima da sua capacidade de a desempenhar com o nível de inteligência que essa posição exige e que ‘ele’ não tem.

          ‘ele’na realidade não consigo lembrar-me de nenhum caso em que o ‘promovido’ nesta situação, tenha sido uma ‘ela’ (certamente existem; mas acho que só são frequentes na política).

          Há muitos factores que contribuíram para essa situação. Desde o ‘Princípio de Peter’, em que o ‘promovido está inocente’ pois limitou-se a estar por acaso no local certo à hora certa sem ter feito nada de específico para tal, até outros factores – em que já não são tão inocentes – como uma ambição desmedida, demonstrações públicas de subserviência (fingida ou não), elogiosos comentários defendendo o PODER, esperteza e dinamismo, e até ‘deslealdade e traição’ para conseguir a abertura de uma ‘vaga’ no nível acima do seu.

          Em TODOS estes casos há uma característica que se mantém inalterável:

          NUNCA os ‘promovidos’ escolhem para assessores/adjuntos, colegas de profissão mais inteligentes que eles. É simplesmente um procedimento básico de auto-defesa.

           Não, não tenho razões para me espantar perante a mediocridade generalizada, a incompetência visível e a estupidez e falta de inteligência que emanam dos membros do governo.

          Habituámo-nos

          O caso do aeroporto. O caso do Hospital Militar. O caso do adjunto e do pavilhão fantasma. O caso do assessor.

          Não é uma colecção de crime e mistério.

          É o dia a dia a que nos habituámos.

          23 abr. 2023, Helena Matos, ‘Observador’

          O excesso de casos a envolver este governo teve entre os portugueses o mesmo resultado que o consumo excessivo de medicamentos: perdeu-se o efeito. Habituámo-nos. Esta governação de António Costa reformulou a velha certeza de que os governos são afectados pelos casos. Sim, é verdade. Ou melhor, é verdade mas apenas se os casos não forem muitos e constantemente renovados. Pelo contrário se estes se sucederem a um ritmo constante ou até crescente não só se perde a noção do que está em causa como se gera uma espécie de habituação. No limite, indiferença. Quase cansaço. Desde que o Governo tomou a 30 de Março de 2022 que o caso novo apaga o velho.

          Na entrevista que deu à Visão  em Dezembro do ano passado António Costa, para lá daqueles “Habituem-se” de que depois se arrependeu,  desvalorizava o que definia como  “casos e casinhos”, criações da “central de criação de soundbites da direita”. Foi uma perigosa ilusão. A verdade é que a ocupação da máquina do estado pelo PS e a redução do Governo a uma espécie de sala de exame da Prova Geral de Acesso a Sucessor de António Costa contribuíram decisivamente para que vivamos em estado de caso muito antes de a Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP se ter transformado na novela portuguesa de um país a mexicanizar. É só fazer as contas, que é como quem diz seguir o rasto dos casos:

          *O caso do aeroporto. A 29 de Junho de 2022 um despacho assinado pelo secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, anunciou não um mas sim dois aeroportos: Montijo e posteriormente  o Campo de Tiro de Alcochete eram as localizações indicadas. O ministro Pedro Nuno Santos explicou na televisão que o país não tinha tempo a perder.: o aeroporto da Portela ia ser desmantelado. Os concursos que estavam a decorrer para avaliar os impactes ambientais de diferentes localizações eram anulados… O presidente da República não foi informado. Também se deixara de lado a promessa de contar com a nova liderança do PSD. Quem disse ter sido “apanhado de surpresa” com o despacho foi António Costa que nesse dia 29 de Junho estava em Madrid. O despacho foi anulado a 30 de Junho. Pedro Nuno Santos continuou no governo. António Costa terá considerado mais seguro mantê-lo no executivo que fora dele.

          *O caso Sérgio Figueiredo. Estava-se em Agosto de 2022 quando se sabe que o ministro das Finanças, Fernando Medina, contratara o ex-director de informação da TVI Sérgio Figueiredo “com salário de ministro para fazer avaliação das políticas públicas“. Para lá do salário, da estranheza de Sérgio Figueiredo ir fazer “avaliação das políticas públicas” (vários departamentos e serviços têm essa tarefa a seu cargo, que está longe de ser tarefa para uma pessoa) havia o facto de Sérgio Figueiredo, enquanto director de informação da TVI, ter contratado para comentador Fernando Medina. A polémica cresce quando se sabe que na autarquia de Lisboa, Fernando Medina já contratara Sérgio Figueiredo para uma campanha de sensibilização para compras a pequenos comerciantes. O orçamento da campanha pareceu claramente desproporcionado face ao trabalho dispendido. Sérgio Figueiredo demitiu-se. Fernando Medina culpou os “ares do tempo“.

          *O caso Miguel Alves. Outubro de 2022. Durante várias semanas o nome de Miguel Alves, secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, está em todos os noticiários. Afinal o homem com que António Costa contava para evitar a descoordenação do Governo tornou-se o seu maior problema quando se soube que estava a ser investigado pelo Ministério Público por causa de um contrato-promessa que celebrara, quando era presidente da Câmara de Caminha, para a construção de um pavilhão. Na prática a autarquia pagara 300 mil euros por um pavilhão que não existia. O Governo reafirma que está tudo esclarecido. Novas revelações agravam a situação de Miguel Alves que acaba a demitir-se. Já não bastava ao PM dizer que o caso estava esclarecido para que se tornasse num caso encerrado. António Costa não sabe mas a saída de Miguel Alves do governo vai ser o sopro que faltava para que os “ares do tempo” mudem de vez.

          *O caso Alexandra Reis. Com a saída de Miguel Alves, António Costa já não arriscou ir buscar alguém de fora para o lugar de secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro. Assim o escolhido foi António Mendonça Mendes, até então secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (e irmão de Ana Catarina Mendes). Como é óbvio era necessário convidar alguém para o cargo. A escolha recaiu no sub-diretor da Autoridade Tributária  Nuno Félix. Fernando Medina criou mais uma secretaria de Estado, a do Tesouro, para a qual convidou Alexandra Reis. Estava-se no final de Novembro. Menos de um mês depois, a 24 de Dezembro, o Correio da Manhã  revela que “A nova secretária de Estado do Tesouro recebeu uma indemnização da TAP de cerca de 500 mil euros, por cessação antecipada do cargo de administradora executiva. Quatro meses depois de sair da companhia aérea, Alexandra Reis foi nomeada presidente da NAV, também uma empresa pública.” António Costa apressa-se a  esclarecer  “desconhecia em absoluto os antecedentes” de Alexandra Reis  e que solicitou esclarecimentos aos ministros das Finanças, Fernando Medina, e das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos. A 27 de Dezembro, Fernando Medina pede a Alexandra Reis que apresente o seu pedido de demissão como secretária de Estado do Tesouro. O ministro das Finanças garantiu desconhecer a indemnização paga pela TAP a Alexandra Reis quando a convidou para secretária de Estado do Tesouro. Estava instituído o estado de caso.

          *O caso Pedro Nuno Santos. 29 de Dezembro. Um comunicado do gabinete do ministro das Infraestruturas e da Habitação informa que “face à perceção pública e ao sentimento coletivo gerados” em torno da polémica da indemnização da TAP a Alexandra Reis, o ministro Pedro Nuno Santos “entendeu, neste contexto, assumir a responsabilidade política e apresentou a sua demissão ao primeiro-ministro”. A este comunicado do ainda ministro Pedro Nuno Santos respondeu o primeiro-ministro com outro comunicado declarando que aceitou o pedido de demissão do ministro das Infraestruturas e Habitação. Quem “face às circunstâncias” entendeu também ter chegado a hora de apresentar a sua demissão foi o Secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes, o mesmíssimo que assinara em Junho o Despacho dos novos aeroportos. Há-de tornar-se famoso por causa das mensagens por whatsapp e por ser obviamente o elo politicamente mais fraco da série de casos que têm a TAP como denominador comum.

          *O caso Carla Alves. Foi secretária de Estado da Agricultura por 25 horas e 53 minutos. Tomou posse a 4 de Janeiro de 2023 e demitiu-se a 5. Primeiro soube-se que tinha contas arrestadas. Depois que o seu marido, e antigo presidente da Câmara de Vinhais, estava a a ser investigado, num processo que envolve mais de 4,7 milhões de euros. Depois que tinham acontecido outros processos-crime. A ministra da Agricultura disse que não sabia de nada e também não parece ter-se interrogado sobre se deveria ter procurado saber.

          *O caso do Hospital Militar de Belém e do ministro que já foi da Defesa. A 20 de Dezembro de 2022, o agora ministro dos Negócios Estrangeiros, que tutelou a Defesa entre 2018 e 2022, disse que “não” autorizou nem lhe foi solicitado “que autorizasse” que mais que triplicasse a despesa com as obras no Hospital Militar de Belém: estavam orçamentadas em 750 mil euros e acabaram a custar mais de 3,2 milhões de euros). Mas em Fevereiro de 2023, quando vai a uma audição ao parlamento, João Gomes Cravinho declara algo de substancialmente diferente: a Direcção-Geral de Recursos da Defesa Nacional (DGRDN) enviara um mail  a 20 de Abril de 2020 com o real custo da requalificação do Hospital Militar de Belém mas só dois meses depois tomou conhecimento desta mensagem porque os anexos excediam o limite e foi “recusado pelo servidor“. Dias antes fora Pedro Nuno Santos a lembrar-se que afinal dera “anuência política” por Whatsap para saída da TAP de Alexandra Reis e, não menos importante, que foi informado do valor final do acordo, ou seja dos 500 mil euros que a TAP pagou a Alexandra Reis. Isto não é para acreditar, pois não?

          Tal como no passado os “casos e casinhos” não eram criações da “central de criação de soundbites da direita”, também agora não é um equívoco o caso do parecer sobre o despedimento da CEO da TAP que Ana Catarina Mendes e Mariana Vieira da Silva afirmavam existir e ser tão relevante quem nem podia ser divulgado e que Fernando Medina veio depois dizer que nunca existira. Ou a reunião secreta do PS com a CEO da TAP.

          Toda esta sucessão de factos resulta da forma como António Costa concebeu este governo: fechado sobre o PS.

          quarta-feira, 19 de abril de 2023

          Jogadores problemáticos devem custar milhões aos contribuintes

          SEBASTIAN HAW 19 DE ABRIL DE 2023

          O Ministério dos Impostos estima que o problema custará aos contribuintes 10 milhões de coroas por ano

          O estado dinamarquês está pronto para usar alguns de seus recursos para combater o problema crescente do vício do jogo pela primeira vez, de acordo com um comunicado de imprensa publicado ontem pelo Ministério dos Impostos.

          Alguns parlamentares temem que o uso de actores e desportistas famosos na publicidade de empresas de jogos de azar tenha tornado o jogo mais atraente para um público mais jovem.

          Pilou Asbæk de 'Borgen' e 'Game o Thrones', bem como o Ex-jogador de futebol Brian Laudrup, apareceram em anúncios de jogos de azar dinamarqueses, e alguns estão pedindo a proibição desses endossos de celebridades.

          Sinais preocupantes
          O Ministério dos Impostos sublinhou os perigos do vício do jogo – especialmente para crianças e jovens.

          “A evolução a que assistimos na área do jogo é muito preocupante”, afirmou o ministro dos Impostos, Jeppe Bruus. “O vício em jogos de azar pode ter consequências importantes e duradouras para os envolvidos, e temos uma obrigação especial de proteger crianças e jovens e outros grupos vulneráveis.”

          Bruus também comentou sobre os efeitos prejudiciais da publicidade de jogos de azar, muitas vezes envolvendo pessoas famosas, que ele diz glamorizar o jogo sem avisar sobre seus perigos.

          “Se você conversar com o Center for Gambling, viciados em jogos de azar e parentes, eles dizem que a publicidade contribui significativamente para o desenvolvimento de um vício”, observou Bruus. “Este é o caso, sejam crianças, jovens ou adultos.”

          “Também ajuda a normalizar os jogos, então os dinamarqueses pensam nisso como algo inofensivo, porque está em todo lugar. E eu posso entender isso. Mas jogar por dinheiro não é inofensivo.”

          Jogando dados com a morte
          Existem agora 500.000 'jogadores problemáticos' na Dinamarca, de acordo com um
          relatório de Rambøll realizado no ano passado para a Autoridade de Jogos da Dinamarca (Spillemyndigheden).

          Isso representa quase um dinamarquês em cada dez e também custará ao contribuinte dinamarquês 30 milhões de coroas nos próximos três anos.

          Em outros países, como o Reino Unido, a publicidade de jogos de azar foi alvo de duras críticas, com rumores de proibir as empresas de apostas online de anunciar em camisas de jogadores de futebol profissionais.

          https://cphpost.dk/2023-04-19/news/problem-gamblers-set-to-cost-taxpayer-millions/

          TAPitô

          Ficarei muito desgostoso se venderam a TAP à Lufthansa. Não me apetece nada ter de aprender alemão para poder assistir às peripécias da TAP nas comissões de inquérito do Bundestag.

          José Diogo Quintela



          Estou empolgado com ficção televisiva de qualidade! Fico sempre assim quando estreia a nova temporada de uma das minhas séries predilectas. E na semana passada estrearam logo duas: Succession, na HBO, e As aventuras da TAP, na ARTV. Uma é a saga da empresa milionária e das traições, maroscas, esbanjamento imoral e tolices de quem quer mandar nela; a outra é a história de Logan Roy e família.

          Depois de assistir aos primeiros dois episódios de ambas, já decidi: vou dedicar o meu tempo à da TAP. Enquanto esta temporada de Succession é mais do mesmo, a da TAP, dedicada à Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP, introduz personagens novos que trazem frescura à narrativa. Até porque vêm tão focados limpar a imagem do Governo, que parecem lixívia com aroma floral.

          O episódio de estreia é a audição a António Ferreira dos Santos, Inspector-Geral das Finanças, responsável pela elaboração do relatório que concluiu que Christine Ourmières-Widener é a única culpada pela indemnização ilegítima que Alexandra Reis recebeu. O episódio começa com a apresentação de Ferreira dos Santos, que diz aos deputados: “Entendemos que era importante ouvir as pessoas envolvidas ou que havia indício que conheciam o processo. Optámos por ouvir Alexandra Reis, o chairman, também o CFO e o ex-Secretário de Estado, a ideia era que eram as pessoas que havia indícios suficientes que tinham envolvimento directo no processo. As restantes, achámos que bastava por escrito”. Ou seja, a CEO, que é quem manda na empresa, que está tão envolvida que até é a principal responsável, não é ouvida. Numa frase, fica apresentada a personagem do Inspector-Geral das Finanças, mistura de dois outros famosos inspectores do audiovisual: o Inspector Clouseau, pela trapalhice, e o Inspector Max, pela fidelidade ao superior hierárquico.

          Ferreira dos Santos explica porque é que optou por não ouvir presencialmente a CEO: “A questão para nós foi o facto de estarmos a falar – talvez achem graça – línguas diferentes. Percebemos, da audição que a senhora teve aqui, que talvez isso tenha sido utilizado para não responder a questões colocadas por deputados”. Vê-se que o Inspector-Geral fez o trabalho de casa. Assistiu à audição que Christine Ourmières-Widener já tinha prestado na Assembleia da República e apercebeu-se que, muitas vezes, ela não respondia directamente às perguntas que lhes eram colocadas. E apercebeu-se bem. Pelos vistos, a finta a questões é uma atitude típica de responsáveis quando são inquiridos. Basta ver que, nem uma hora depois de Ferreira dos Santos ter dito isto, alguns dos deputados que lhe estavam a fazer perguntas queixaram-se ao Presidente da Comissão de que o Inspector-Geral não se estava a deixar inspeccionar. Disse Hugo Carneiro do PSD: “Quando os deputados colocam perguntas, as perguntas têm de ser respondidas. A não ser que o depoente, ao abrigo dos seus direitos fundamentais, invoque, por exemplo, alguma causa que o possa prejudicar na sua defesa própria. E, se quiser, até se pode fazer acompanhar por advogado. Portanto, era bom termos perfeitamente noção do que estamos aqui a fazer. Se eu coloquei uma questão que não foi respondida, independentemente do meu tempo ter terminado, tenho direito a que a resposta seja dada, a não ser que alguma das causas que referi seja invocada”. E, momentos depois, Filipe Melo do Chega: “Eu entendo que, por estarmos numa Comissão de Inquérito, todas as questões devem ser respondidas. O sr. Inspector-Geral tem-no feito, de alguma forma, sem receio das palavras. Mas de outras notamos que tem alguma resistência em responder concretamente ao que é solicitado”.

          Ora, como Ferreira dos Santos não se esquivou em francês, conclui-se que, quando fala em “línguas diferentes” se deve estar a referir ao facto da CEO ter uma língua bífida, como as serpentes. Está a chamar-lhe ardilosa. Daí não ter querido encará-la pessoalmente, para não ser endrominado pelas sibilantes.

          Como todos os bons primeiros episódios, a audição de Ferreira dos Santos termina com uma revelação bombástica: a TAP tem uma nova rota! Até agora, o voo mais longo da TAP era para São Francisco, mas, depois do depoimento do IGF, descobrimos que Fernando Medina foi transportado para um sítio ainda mais longínquo. Deve ser a Lua, porque Medina consegue estar mais afastado de qualquer responsabilidade na TAP do que eu, que o máximo prejuízo que dei à companhia foi ter ficado com os headphones num voo que fiz há 3 anos.

          O segundo episódio também não desilude. Trata-se da audição do CFO da TAP, Gonçalo Pires. São quase cinco horas, todas passadas com Gonçalo Pires a afirmar, repetir, reiterar e repisar que não teve nada, absolutamente nada a ver com o processo da saída de Alexandra Reis, do qual, aliás, apenas teve vago conhecimento informal. Qualquer espectador com um mínimo de experiência a assistir a filmes de terror sabe que, se o realizador está a esforçar-se muito para mostrar que um túmulo está vazio, é óbvio que, quando achamos que a fita acabou, vai saltar lá de dentro um zombie. Neste caso, foi no pós-genérico: um dia depois da audição, a CNN publicou duas conversas de WhatsApp entre a CEO e o CFO, da altura em que se negociou a saída de Alexandra Reis. A primeira:

          CEO: Acordo alcançado com a Alexandra.

          CFO: Pensava que ia demorar mais tempo. Parabéns.

          A segunda:

          CEO: A Alexandra respondeu?

          CFO: Não.

          CEO: Liga-lhe, se fora necessário: Claro que tu não sabes de nada.

          CFO: Claro.

          Percebe-se que, afinal, Gonçalo Pires sabia do processo. Tanto que até tinha uma opinião sobre quanto tempo poderia demorar a ser alcançado. E participou nele, ao ponto de ter uma ordem da CEO para falar com Alexandra Reis, uma espécie de missão secreta sobre a qual deveria negar saber o que fosse. Ordem que, diga-se, cumpriu com excelência, como se comprovou pelas respostas que deu na audição.

          Quanto à diferença que o CFO quis sublinhar entre conhecimento oficial e informal, fica uma bocado esbatida quando constatamos (também pela reportagem da CNN) que a informalidade das mensagens por telemóvel é a mesma que é usada nas comunicações entre a CEO e o Secretário de Estado da tutela a propósito das decisões do Ministro das Infraestruturas. Que, recorde-se, era Pedro Nuno Santos, outro que na altura também não sabia de nada. Logo, na TAP, o WhatsApp não é uma mera aplicação de telemóvel para combinar jogos de padel com os colegas, é uma ferramenta profissional utilizada ao mais alto nível. Gonçalo Pires está a fazer confusão entre “conversa informal” e “conserva em formol”. Só esta última permite a preservação.

          Espero que nunca privatizem a TAP. Ficarei muito desgostoso se a venderam, especialmente se for à Lufthansa. Não me apetece nada ter de aprender alemão para poder assistir às peripécias da TAP nas comissões de inquérito do Bundestag. Já desliguei as legendas a ver uma série escandinava e não é nada divertido.

          Observador

          04-04-2023

          terça-feira, 18 de abril de 2023

          Os professores e o ensino

          A escola é sem dúvida construída por sua comunidade – e, assim como o gestor ou a equipe directiva da unidade tem seu papel na organização do projecto escolar, é preciso que toda comunidade esteja envolvida na implementação e construção do projecto.

          Assim, professores e estudantes são fundamentais na articulação do projecto da escola e devem participar activamente da sua construção. Na educação integral, todos são co-responsáveis e trabalham juntos na construção de uma educação de qualidade. Nessa perspectiva, mais de 50 especialistas* (organizações e indivíduos) em Educação Integral indicam as seguintes recomendações às escolas:

          Papel de professores

          Numa escola de educação integral, a equipe de professores identifica as expectativas e necessidades de desenvolvimento integral dos seus estudantes e propõe ou articula oportunidades educativas capazes de atendê-las.

          Assim, cabe ao professor:

          Coerência: actuar em sintonia com o Projecto Político Pedagógico da escola, compreendendo seu papel e cumprindo suas metas.

          Integralidade: compreender o estudante de forma integral, buscando identificar suas necessidades de desenvolvimento no nível intelectual, físico, emocional, social, cultural.

          Reconhecimento: conhecer a realidade do aluno, da sua família e da comunidade em que a escola e estes estudantes estão inseridos.

          Empatia: acolher as diferenças, reconhecendo que cada estudante é único, aprende de uma forma diferente e vive em um contexto próprio.

          Sonhos: conhecer os interesses, anseios e/ou o projecto de vida dos seus alunos e apoiá-los a alcançar seus objectivos.

          Tempo Integral: considerar o estudante durante todo o tempo em que está na escola e não apenas na sua sala de aula.

          Cumplicidade: conhecer as famílias de seus alunos, dialogar com elas e criar vínculos para fortalecer o seu desenvolvimento integral.

          Trilhas: construir roteiros educativos que integrem disciplinas tradicionais com actividades complementares, saberes académicos e populares.

          Colaboração: trabalhar de forma colaborativa com outros professores da escola, criando comunidades de aprendizagem para compartilhar desafios e propor estratégias articuladas que respondam às demandas do desenvolvimento integral.

          Relacionamento: estabelecer uma relação mais igualitária e dialógica com seus alunos, reconhecendo seus saberes e legitimando a sua capacidade de contribuição com seu próprio processo de desenvolvimento.

          Mediação: ser um mediador, facilitador e articulador do conhecimento, provocando o aluno a aprender a partir de seus próprios questionamentos.

          Pesquisa: convidar o estudante a perceber a realidade como objecto de estudo.

          Protagonismo: promover o protagonismo do aluno como autor e proponente do seu próprio processo pedagógico.

          Participação: colaborar com a equipe gestora no sentido de apontar necessidades de infra-estrutura, propor projectos e acções inovadoras e se envolver com actividades do programa que extrapolem a sua sala de aula.

          Acompanhamento: avaliar continuamente os processos de ensino-aprendizagem, em conjunto com seus estudantes, estimulando que reconheçam o que precisam fazer para alcançar seus objectivos individuais e colectivos.

          Aprendizagem: admitir que pode errar e aprender enquanto ensina, inclusive com seus alunos.

          Veja as propostas e depoimentos na íntegra

          O Professor é um articulador fundamental na escola: ele deve apoiar a relação entre famílias, alunos e gestores.

          O professor deve acolher as diferenças e as considerar no processo de ensino-aprendizagem, reconhecendo que cada estudante aprende de uma forma diferente, tem um contexto próprio e precisa ser reconhecido como indivíduo.

          Ele deve aprender a conhecer a realidade do aluno, da sua família e da comunidade em que a escola e estes estudantes estão inseridos.

          O professor deve trazer a comunidade para a sala de aula, buscando aproximar os conhecimentos comunitários dos conhecimentos académicos.

          Ele deve ser um mediador, facilitador e articulador do conhecimento e não apenas aquele que detém a informação. Ele deve actuar como um pesquisador, que provoca o aluno a ser também curioso e descobrir a partir de seus próprios questionamentos. Deve convidar o estudante a ver a realidade como seu objecto de estudo. Ele é um mediador que deve negociar os conhecimentos que todos têm e apoiar os estudantes a juntos sintetizarem o conhecimento compartilhado.

          O professor deve olhar para o aluno de forma integral, buscando identificar suas diferentes dimensões formativas e como sua actuação – nessa função educadora -, responde ou dialoga com elas.

          O professor deve compreender quem são as famílias de seus estudantes e estabelecer diálogo com as mesmas, estreitando relações e criando vínculos que fortaleçam o processo educativo dos estudantes.

          Ele também deve levar em consideração todo o tempo em que o aluno está na escola, e não só na sua sala de aula. Ele deve actuar de acordo com o Projecto Político Pedagógico (PPP) da escola e pensar no currículo de forma diferenciada, integrando o conhecimento académico aos saberes da comunidade e dos próprios estudantes.

          Professor também deve ter o papel de aluno: deve aprender ao passo que ensina. Professor e alunos devem compartilhar os princípios éticos e a proposta do PPP da escola que vão nortear essa perspectiva de ensino-aprendizagem como um processo dialógico.

          Para entender a formação integral dos alunos, ele deve desenvolver estratégias de trabalho colaborativo com outros professores da escola, criando espécie de comunidade de aprendizagem colaborativa entre professores. Juntos, eles devem compartilhar seus anseios e propor estratégias de trabalho que respondam às demandas que identificaram.

          O professor deve elaborar estratégias de trabalho para dar protagonismo para a aula, para que o estudante possa participar activamente como autor e proponente do seu próprio percurso pedagógico.

          Ele tem que pensar o projecto do seu aluno e apoiá-lo a alcançar esses sonhos. Junto aos estudantes, ele deve ser um avaliador contínuo de todo esse processo, estimulando que o estudante reconheça individualmente e com seus pares o que precisa fazer para alcançar seus objectivos individuais e objectivos colectivos – da turma, da escola e da própria sociedade.

          Apoio aos professores

          Ele precisa de uma equipe pedagógica para ajudar a formar seu currículo em diálogo com o projecto pedagógico da escola. Por isso, é fundamental que o gestor organize em horas de planejamento o apoio necessário ao docente.

          Dessa forma, a gestão deve construir espaços para apresentar o papel desse professor na dinâmica da Educação Integral, discutindo com a equipe docente como o projecto ou programa foi elaborado na secretaria e como ele pode ser implementado na escola.

          O gestor precisa convidar e trazer para troca de experiências e convivência professores que já participam de programas de Educação Integral. Convidá-los a apoiar a equipe docente da escola é uma estratégia importante para apoiar a equipe.
          A escola deve ter um professor que atue como articulador e educador comunitário, estabelecendo as pontes entre oficineiros, parceiros e oportunidades educativas do
          território com o corpo docente e escola.

          O gestor, equipe gestora ou esse professor/ educador comunitário deve reconhecer as lideranças comunitárias e construir junto à escola cardápios de oportunidades educativas no território que apoiem os professores: o plano de aula pode ser complementado ou construído a partir da oferta do território.

          Para garantir o envolvimento desse professor, ele precisa ter tempo na escola. Assim, é fundamental que a gestão pública invista na dedicação exclusiva de professores na escola e que estes tenham garantidas horas de planejamento remuneradas. O plano de carreira do docente deve valorizar seu vínculo com a escola.

          A equipe gestora deve estimular que seu corpo docente acesse novas propostas de práticas pedagógicas e que conheça novas formas de ensinar. Da mesma forma, o professor deve ter apoio para entender o que significam as avaliações externas (como o IDEB, Saeb) e como eles, professores, podem aprimorar suas práticas a partir dos indicadores.

          O professor precisa receber opinião constante de seus gestores e coordenadores pedagógicos. A valorização de seu papel na escola passa diretamente pelo seu acompanhamento – ele não deve estar sozinho em sua função.

          Gestão Pública

          A gestão pública, ao adotar um programa de educação Integral, deve garantir aos docentes a formação continuada em serviço. A formação deve ser sobre Educação Integral e temas correlatos e acontecer como parte da carga horária do profissional.

          Por fim, o professor deve ter acesso à direção para discutir a necessidade de espaços e estrutura, para desenvolver atividades que não aconteçam apenas em sala de aula. Ele precisa se sentir autônomo para propor projetos e ações inovadoras que respondam às suas necessidades didáticas e de aprendizagem dos seus estudantes.

          Participação dos estudantes

          Fundamentalmente, a escola deve garantir a presença de grêmios estudantis efetivos. Para tanto, é preciso que o gestor e corpo docente invistam em formação dos estudantes para a composição, regulamento e ação política dos estudantes.

          A escola deve investir na criação e efetivação de instâncias políticas de decisão. Uma estratégia é a realização de assembleias que deliberem sobre temas e necessidades concretas da escola: como regras de convívio, currículo, PPP, uso de uniformes, etc.

          A escola deve oferecer espaços e o direito para os estudantes conviverem livremente na escola. É preciso que haja um espaço e tempo dedicado ao ócio e ao convívio.

          Os professores devem convidar os estudantes a disporem e pensarem sobre o próprio currículo. Os estudantes devem ser estimulados a responder sobre o que desejam aprender.

          A escola precisa investir em espaços para troca intergeracional e não mediados: ou de estudantes com estudantes, ou de estudantes com outros segmentos da escola, ou de estudantes com estudantes de outras escolas.

          As ações escolares devem ser estabelecidas – para além do PPP -, na construção de um plano plurianual participativo, em que os estudantes tenham voz e possam expor suas expectativas em relação à escola e a sua aprendizagem.

          Cultura colaborativa: relação professor-estudante

          A escola deve estabelecer em seu Projeto Político Pedagógico a relação entre professores e alunos como uma relação mais igualitária, dialógica, em que o professor não se coloca como  aquele que detém todo o conhecimento, mas aquele que orienta percursos de pesquisa e de descoberta do conhecimento.

          O professor deve assumir sua responsabilidade, mas reconhecer os saberes dos alunos.  Essa relação deve se estabelecer a partir da legitimidade desses papeis, construídos em diálogo entre os envolvidos. A relação deve ser não hierárquica e de respeito.

          O professor deve garantir ao estudante seu direito de opinar sobre o currículo e sobre a gestão da escola. Assim, a escola deve estimular que o aluno e o professor compartilhem sonhos e desejos.

          Escola como mundo real

          É fundamental que todos – família, professores, estudantes e direção -, mudem a concepção de que professores e estudantes são sempre ideais. É preciso “admitir” o mundo real, e compreender o professor e o estudante como sujeitos que vivem nesse mundo com seus conflitos e dificuldades.

          Professor que não pode ter preconceito: deve reconhecer e admitir todas as culturas, estimulando que os estudantes também convivam e se relacionem com a diferença.

          O professor deve perceber que quando o aluno é autor e ator do processo de ensino-aprendizagem, ele se sente pertencente à escola.

          O professor também é um ser humano e pode errar. Para tanto, é preciso transparência nessa relação. Ele deve poder admitir que aprende com seus alunos.

          *Os especialistas estiveram reunidos no lançamento do Centro de Referências, evento da Série de Diálogos: o Futuro se Aprende, iniciativa do Instituto Inspirare, Porvir e Instituto Natura.

          https://educacaointegral.org.br/metodologias/papel-dos-professores-e-participacao-dos-estudantes-nas-escolas-de-educacao-integral/

          sábado, 15 de abril de 2023

          Maioria de Peter

          O PRINCÍPIO DE PETER

          Comentário Pessoal ao texto anexo:

          Tive oportunidade de ver e conviver profissionalmente ao longo da minha vida com alguns exemplos claros das consequências do ‘Princípio de Peter’.

          Acontece com uma certa frequência em empresas que estão em expansão acelerada (devido ao seu êxito no mercado) e a maioria deles/as são ‘boas pessoas – seres humanos normais’ que foram simplesmente empurrados para cima, devido ao ritmo acelerado e à quantidade dos recém-entrados para os quadros da empresa. O ‘timing’ da sua entrada na empresa (anterior à expansão em evolução) foi fundamental para atingirem – sem que verdadeiramente o tenham procurado – posições profissionais em que o seu nível de incompetência é um facto, que eles/elas, mesmo que tentem, não conseguem neutralizar totalmente. ‘Aguentam-se como podem’.

          Num caso até, esse nível de incompetência foi ultrapassado e as suas qualificações básicas não lhe permitiam sequer ‘aguentar-se’. Casos destes ‘acabam sempre mal’. Quando os responsáveis pela sua última promoção foram substituídos, ele ficou desprotegido e era por demais visível. Tanto ele como a empresa procuraram (e encontraram) uma maneira de ele ‘desaparecer’. O que aconteceu. ‘Paz à sua alma’.

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          A grande diferença entre estes casos e o de António Costa é que ele não foi empurrado para cima. Ele usou – certamente entre outras habilidades – a ‘deslealdade e a traição’ para empurrar para o lado e para fora da organização, aquele que queria substituir.

          Por isso considero que o autor do artigo anexo errou (propositadamente?) ao escrever que António Costa foi vítima do seu próprio sucesso. Ele simplesmente usou processos para alcançar o PODER que não estão disponíveis (por uma questão de ‘princípios’) para ‘boas pessoas – seres humanos normais’. E essa é uma enorme vantagem para os da sua laia.

          Não o posso de facto considerar como fazendo parte das ‘boas pessoas – seres humanos normais’ com que qualquer um se pode dar normalmente.

          Isto não seria tão grave se não houvesse em Portugal (desde que António Costa alcançou o PODER) uma ‘Dissolução moral dos fundamentos de qualquer ESTADO de DIREITO’.

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          A situação conforma uma aplicação directa de um velho axioma da Gestão, o “Princípio de Peter”. António Costa é vítima do seu próprio sucesso: foi promovido até ao seu nível de incompetência.

          14 abr. 2023, João César das Neves, ‘Observador’

          Professor da Católica Lisbon School of Business & Economics

          Portugal está numa situação política muito curiosa, misturando solidez com fragilidade. Por um lado, somos o país da Europa com maior estabilidade governativa. O primeiro-ministro António Costa, no cargo há quase 2700 dias, tem já o segundo maior mandato desta Terceira República, apenas superado pelos 3644 dias de Cavaco Silva.

          Isso é tanto mais notável porquanto o nosso sistema político está pensado para não gerar executivos estáveis. Em 22 governos constitucionais só seis terminaram o mandato, incluindo as três maiorias de partido único, duas de Cavaco Silva e uma de José Sócrates. A conclusão tem de ser que vivemos um momento histórico, a quarta vez em 50 anos com uma orientação coerente e duradoura. Além disso, institucionalmente tudo funciona bem, com o Estado a devorar a maior injeção de fundos europeus de sempre.

          Apesar disso, porém, a situação política parece muito precária. No primeiro ano do Governo saíram 14 membros em desgraça. Os casos mediáticos graves multiplicam-se e a contestação sobe nas ruas. A oposição mal precisa de se esforçar, com a atualidade dominada por erros infantis cometidos por governantes que deviam ser experientes. Nunca António Costa pareceu tão frágil como neste momento de poder absoluto. Invocar a dificuldade da conjuntura não colhe num Governo que há três anos enfrentou a maior catástrofe do século, e conseguiu depois disso uma vitória eleitoral retumbante.

          O pior da legislatura é precisamente a falta da tal orientação coerente e duradoura. António Costa é um genial tático. Depois de perder as eleições de 4 de outubro de 2015, conseguiu arquitetar um apoio da extrema-esquerda, deste modo tomando o poder e revolucionando para sempre o quadro político nacional. Durante seis anos governou serenamente em minoria, enfrentando enormes problemas, dos fogos florestais ao vírus assassino, sempre equilibrando os parceiros radicais. Essa habilidade foi recompensada na vitória de 30 de janeiro de 2022.

          Este grande manobrador tem-se mostrado incapaz de governar em maioria, onde os seus principais dotes são desnecessários. O que ele sabe bem é equilibrar, negociar, deslumbrar, apresentando medidas populares que, parecendo lidar com os problemas, satisfazem interesses instalados e granjeiam apoios; mas isso é espúrio em maioria absoluta. Com estabilidade garantida, o que se exige é um plano estratégico, que lide com velhos bloqueios nacionais, conceba reformas estruturais e relance o desenvolvimento do país. Ao fim de um ano, essa grande linha diretora nem sequer se vislumbra.

          Saúde, educação, justiça e outros setores parecem envolvidos numa espiral decadente, com falhas e faltas que não se viam há décadas. Prosseguem os anúncios bombásticos sem substância. No pacote da habitação, como no plano anti-inflação, há apenas medidas avulsas, tratando sintomas sem lidar com causas profundas. A única linha estratégica é a mesma há sete anos: as famosas “contas certas”, agora ajudadas pelo surto inflacionista. Fraco propósito para quem tem poder absoluto. Hoje, finalmente com o país nas mãos, Costa continua a navegar à vista, atento às ondas e incapaz de traçar uma rota. O horizonte são dias, não anos, com o Governo contente com o que está.

          Como explicar esta inanidade? A situação conforma uma aplicação direta de um velho axioma da Gestão, o “Princípio de Peter”, apresentado em 1969 pelo professor canadiano Laurence J. Peter.

          António Costa é vítima do seu próprio sucesso: foi promovido até ao seu nível de incompetência.

          Já não restam trocadilhos com TAP para título

          Para a generalidade dos portugueses, uma companhia aérea é uma empresa de aviões; para o PS, uma companhia aérea é uma acompanhante distraída: pode-se enfiar a mão e abusar à vontade.

          11 abr. 2023, José Diogo Quintela, ‘Observador’

          Estou perplexo por haver quem esteja mesmo convencido que Pedro Nuno Santos já não tem futuro na política. É não perceber nada de estatística. Como toda a gente sabe, a probabilidade de se morrer num acidente de carro é muito maior do que num desastre aéreo. Isso também vale para a morte política. Ora, se Eduardo Cabrita sobreviveu durante vários meses a um atropelamento na A6, é evidente que PNS se vai aguentar, mesmo sendo o principal responsável pelo fiasco da gestão da TAP. Uma frota de aviões não era tão mal gerida desde que a força aérea japonesa achou que seria boa ideia os pilotos jogarem-se contra barcos inimigos. A diferença é que os kamikaze tinham objectivos e cumpriam-nos, destruíam com rigor e eficácia. Pedro Nuno Santos e a sua equipa nem isso conseguem. São kamikazelhas.

          Apesar da espectacularidade do falhanço, estou confiante que ainda vamos ver Pedro Nuno chegar a Primeiro-Ministro. Naturalmente, empossado por José Sócrates, cujo processo entretanto irá prescrever, levando os socialistas a poderem dizer que é inocente, uma vez que não foi condenado.

          Se Portugal precisava de mais provas de que o Partido Socialista é a maior instituição política do país, basta ver a diferença como o PSD e o PS reagem a infortúnios com aeronaves. Enquanto os sociais-democratas ainda hoje choramingam a queda do Cessna que privou a direita das suas maiores figuras, os socialistas sabem que não é este desaire que vai impedir Pedro Nuno Santos e João Galamba de virem um dia a ocupar os cargos a que estão destinados.

          Mesmo uma figura menor como Hugo Mendes vai safar-se. Apesar de António Costa ter ontem dito que, se tivesse sabido do mail, o teria despedido na hora, a verdade é que isso não significa que Hugo Mendes deixe de ter futuro como rémora de Pedro Nuno Santos. Até porque tudo isto tresanda a injustiça. É óbvio que Mendes nunca deveria estar próximo da TAP, a única qualificação para gerir uma companhia aérea é ter o cabelo de alguém que vai de asa delta para o trabalho, mas tenho sérias dúvidas que seja culpado pelo que se passou.

          A minha teoria: o Governo sofre grande escassez de mão-de-obra e toda a gente é forçada a trabalhar o triplo. Reparem que há 20 ministérios, 40 secretarias de estado, 80 direções-gerais, centenas de grupos de estudo, empresas públicas, comissões e observatórios, e é preciso atafulhar tudo isto com militantes. Mesmo que o ISCTE fosse uma coelheira, com intelectuaizinhos a reproduzirem-se desenfreadamente, seria impossível fornecer o número de jovens quadros necessários para alimentar a voragem socialista e governar o país. O PS é vítima do seu próprio sucesso. Atrapalhado para responder a tantas solicitações, sem assessores disponíveis a quem apelar, o Governo viu-se obrigado a recorrer a um daqueles softwares que conversam com as pessoas, tipo Chat GTP. Só que, para poupar, não compraram Inteligência Artificial, instalaram antes Chico-Espertice Artificial.

          Foi esse programa que respondeu aos mails de Hugo Mendes. Estudou tudo o que o PS diz desde que é Governo, e depois agiu em conformidade, respondendo com a desfaçatez aprendida. Daí ordenar à CEO que transformasse um voo da TAP no jacto privado da Presidência. Só faltou sugerir que, da mesma forma que os americanos têm o Air Force One, chamássemos àquele avião o Presidente Um. O P-Um.

          Também é óbvio que foi a Chico-Espertice Artificial a responder por João Galamba quando Christine Ourmières-Widener lhe perguntou se podia participar na reunião preparatória do seu próprio interrogatório. (Evidentemente, para efeito de comicidade, estou a fingir que acredito na patranha de Galamba). A resposta inteligente seria: “Nem pensar, minha senhora. Tal não é ético”. Mas enquanto a Inteligência Artificial continua a aprender com as circunstâncias, a Chico-Espertice Artificial, preguiçosa, parou de evoluir na altura em que a impunidade do PS ainda era aceite com bonomia.

          Este sub-caso é mais um exemplo do excesso de trabalho a que são sujeitos os membros do Governo. Se não estivesse cansado, Galamba teria percebido que era melhor dizer a verdade. Se tivesse admitido que fora ele a convocar a CEO para a reunião, passava por calculista sem escrúpulos, o que até lhe dá pontos no partido; como optou por dizer que se limitou a aceitar uma sugestão da CEO para participar, passa só por tolo. Bem dormido, tenho a certeza que João Galamba preferiria que o julgassem pérfido em lugar de nabo. Em vez de Maquiavel, saiu palonço.

          Parece-me que o grande ponto de discórdia sobre a TAP deve-se a haver uma diferença de entendimento sobre o que é uma companhia aérea. Para a generalidade dos portugueses, uma companhia aérea é uma empresa de aviões; para o PS, uma companhia aérea é uma acompanhante distraída: pode-se enfiar a mão e abusar à vontade, que ninguém dá por isso.

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          quarta-feira, 12 de abril de 2023

          Marcelo nem dissolve nem sai de cima.

          Com Marcelo e Costa aos comandos, Portugal não irá a lado algum. Estamos condenado ao clássico “ficar a chuchar no dedo”. O que só é positivo se a alternativa for chupar a língua ao Dalai Lama.


          Náuseas, transpiração, alteração do equilíbrio. Tudo sintomas típicos de síndrome vertiginoso. De síndrome vertiginoso, ou da tentativa de acompanhar os casos e casões envolvendo o governo do PS, que nos têm sido apresentados a um ritmo que faz o Livin’ La Vida Loca de Ricky Martin parecer a marcha fúnebre de Frédéric Chopin.
          As minhas desculpas, portanto, a todos os que buscam neste espaço informação actualizada e rigorosa sobre a vida política portuguesa. Por sorte, este grupo de leitores constitui aquilo a que, em matemática, mais especificamente em teoria dos conjuntos, se chama conjunto vazio. Pelo que não me sentirei tão culpado pela incapacidade de esmiuçar a mais recente polémica envolvendo as mudanças de departamento no Ministério das Finanças da esposa do Ministro das Infra-estruturas, João Galamba. Ficando assim com mais tempo disponível para as várias tomas diárias de Vomidrine.

          Bom, mas a verdade é que nada parece convencer o Presidente da República a dissolver a Assembleia. Pelo menos foi isso que, ao fim e ao cabo, preconizou, no seu espaço de comentário na SIC, o boneco de ventríloquo. Perdão. O boneco de Marcelo. Ai. Peço desculpa. O Dr. Marques Mendes, assim é que é. O Dr. Marques Mendes.

          Sim porque, como Marcelo Rebelo de Sousa já deixou sobejamente claro – às vezes até pela sua própria boca – isto não é para andar a trocar de governo como quem troca de cuecas. Tal como, aliás, isto não é para andar a trocar de cuecas como quem troca de calções de banho, na praia, à frente de tudo o que é transeunte, ou jornalista. Ou jornalista mascarado de transeunte, como daquela vez em que a jornalista-transeunte da TVI, Conceição Queiroz, “apanhou” o Presidente, totalmente por acaso, a sair da água qual médio-sereio numa praia da linha de Cascais.

          Não é para andar a trocar sungas de banho à balda, até porque as idas frequentes ao mar acabam por manter uma pessoa lavadinha por baixo. Logo, poupando electricidade na utilização da máquina da roupa. Ainda que com algum prejuízo para a fauna marinha, eventualmente. Enfim, neste deve e haver de sustentabilidade, alguém do PAN que faça as contas ao que é melhor para o nosso planeta, e depois avise-me. Para eu fazer o contrário.

          Mas voltando ao sonho lindo da dissolução do Parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa considera tal cenário um pesadelo. Diz o Presidente que “não faz sentido” na actual conjuntura “falar periodicamente de dissolução”, sublinhando que a marcação de eleições significa “quatro meses de paragem”. Como se isso fosse um problema, uma “paragem”. Quer dizer, o governo do PS conduz este país, tipo chofer de autocarro escolar alcoolizado, rumo a um precipício. E nisto diz Marcelo: “O quê? Parar? Nunca!”. Encetando, de seguida, a famosa canção infantil omnipresente nas excursões da escola: “Senhor condutor, por favor/Ponha o pé no acelerador/Se chocar não faz mal/Vamos todos para o hospital.” A que se impõe um acrescento, em jeito de actualização: “E pedimos ao Senhor, louvado/Que o hospital seja privado.”

          Portanto, aqui chegados e feitas as contas, literal ou metaforicamente, não interessa, estamos bem tramados. Porque literal, ou metaforicamente, ficaremos sempre a chuchar no dedo. O que, até há escassos dias, era uma perspectiva absolutamente deprimente. Eis senão quando, num ápice, ficar a chuchar no dedo transformou-se num cenário até bastante palatável. Convenhamos que é bastante menos péssimo ficar a chuchar no dedo que ter de chupar a língua ao Dalai Lama.

          Observador

          Tiago Dores - Colunista do Observador