Helena Matos
Enquanto Mariana não é ministra vamos fazendo os exercícios da gramática esquerdista. Porque sim. E porque o país se habituou a aceitar como destino aquilo que o Bloco de Esquerda quer.
1Regra nº 1: só têm relevância os assuntos que o BE e seus compagnons definem como relevantes.
“Grupo de 20 homens cerca polícias e liberta detido em Almada. Suspeito conseguiu escapar. PSP chamou reforços mas teve de libertar o homem.” — Supor-se-ia que um grupo de vinte homens a cercar dois agentes da polícia a meio da tarde em Almada seria por si um facto capaz de suscitar várias perguntas: donde apareceram os vinte homens? Como é que a polícia apesar de ter recebido reforços não foi capaz de manter detido o homem que acabara de prender? O que levara à detenção do homem?…
Na verdade supõe-se mal: o caso não mereceu atenção. Esta desatenção é tanto mais estranha quanto na zona de Almada se acumulam casos que provam não só que a lei não se aplica a todos de igual modo mas também que alguns impõem já sem qualquer entrave a sua própria lei: há dois meses um grupo de sete homens invadiu a casa de uma agente da GNR durante a noite. Um grupo de sete homens a entrarem a meio da noite na casa de uma agente da GNR não é banal nem pode ser banalizado. Nem sequer o facto de o marido da agente ter sido barbaramente agredido e de na casa se encontrarem duas crianças, as filhas do casal, foi suficiente para que a notícia saísse das páginas do Correio da Manhã. O país debate amestradamente a violência que os observatórios, o ISCTE e os diversos departamentos universitários que parecem secções do BE dizem ser uma chaga. Sobre o resto impera o silêncio.
2Regra nº 2: perante o falhanço das políticas socialistas repetir três vezes a palavra “desigualdades”.
Saíram os rankings das escolas e mais uma vez a diferença de resultados entre escolas públicas e privadas está a servir de pretexto para que se invoquem as “desigualdades”. Não deixa de ser espantoso que tendo o sistema de ensino sido concebido em boa parte para combater as desigualdades acabe neste momento a reforçá-las. Mais espantoso é que ninguém pergunte: como é isto possível? Como é que aqui chegámos? O que falhou?..
É óbvio que o meio em que se nasce conta tal como conta ser-se mais ou menos inteligente. Mas para a grande maioria dos alunos, ou seja aqueles que não são génios e também não são nem ricos nem pobres, o que pode ser decisivo é a forma como a escola funciona e as expectativas que tem perante os seus alunos. Até prova em contrário a melhor forma de combater as desigualdades é assegurar um ensino de qualidade num escola que funcione com regras claras. Ora acontece que os esquerdistas que mandam na 5 de Outubro transformaram os alunos do ensino público em problemas sociológicos: eles não vão à escola para aprender mas sim para serem alvo de programas de combate a isto e àquilo. Pior, dá-se como adquirido que só baixando a exigência conseguirão obter resultados.
Mariana Mortágua não será ministra da Educação (Louçã acalenta para ela o sonho da pasta das Finanças) mas também não precisa: o Ministério da Educação está transformado numa madrassa do activismo esquerdista. Consequentemente temos a discussão reduzida às “desigualdades” e ao papel dos rankings na promoção das desigualdades. Sobre o ensino propriamente dito nem uma palavra.
3Regra nº 3. A principal indústria do país socialista é a produção de fascistas.
A chegada de Mariana Mortágua a ministra depende em absoluto da produção de fascistas: a cada fascista combatido outros milhares logo surgirão. E a cada combate desses cresce a inevitabilidade de Mariana ser ministra. O combate aos fascistas reais e imaginários desempenha também o papel de poupar a esquerda e seus apoiantes a explicar o que aprovam para lá da gritaria e o que decidem nos bastidores. Quanto mais de esquerda mais um governo depende dos fascistas. Afinal, se se descobrisse que não existem fascistas, os esquerdistas teriam de explicar o que é e onde nos está a conduzir o socialismo. Mariana a provável ministra precisa de um fascista a cada esquina.
4Regra nº 4. As pessoas que não sabem que palavras usar para referir a realidade acreditam em tudo.
Em Ceuta temos migrantes, imigrantes ou refugiados? A confusão entre os termos não é casual. A partir do momento em que a utopia da descolonização foi substituída pelo activismo da multiculturalidade, instituiu-se a ideia de que a Europa pode e deve acolher todas as pessoas que procuram entrar nas suas fronteiras. Uma vez cá dentro esperam os seus auto-denominados defensores que estes “imigrantes/ migrantes/refugiados” desagreguem o qb o quotidiano da sociedade. De todos os problemas gerados por esta visão instrumentalmente ideológica dos imigrantes há um particularmente grave e por isso mesmo pouco ou nada abordado. Esse problema são os chamados menores não acompanhados. As imagens que agora chegam de Ceuta dão conta de centenas e centenas de crianças a passar para o lado espanhol. Espera-se que muitas delas regressem às suas famílias. Mas é preciso ter em conta que várias não regressarão e que em Espanha existem milhares de menores estrangeiros, sem família, que estão a cargo do Estado até atingirem a maioridade. São os chamados “MENAS” (menores estrangeiros não acompanhados).
Em 2019 eram 12.300, o dobro dos contabilizados em 2017. Em França no mesmo ano de 2019 eram 40 mil.
A institucionalização de menores traz sempre problemas, mais a mais se eles forem estrangeiros e estiverem desligados das suas famílias. As redes de exploração sexual e criminal captam vários desses menores. Os encargos com o seu acolhimento são grandes e não é difícil perceber que têm de ser alargados para lá da maioridade: aos 18 anos. sem família por perto, estes jovens tornam-se independentes como?
As consequências da Europa ter entregue o controlo das suas fronteiras à Turquia e a Marrocos são visíveis na forma como estes países usam os fluxos dos ditos imigrantes/migrantes/refugiados para obterem vantagens. (Alguém se lembra do que tinha ido a senhora Ursula discutir com Erdogan quando este a deixou sem sofá?) Mas para lá deste problema que é enorme há que ter em conta que ele encerra outros como é o caso dos menores não acompanhados.
Abordar este assunto tornou-se quase um tabu. O número real dos menores não acompanhados gera discussões. Os encargos com o seu acolhimento são um terreno minado. Os activistas consideram-nos a sua reserva não de índios mas de futuros ressentidos.
Que as imagens de Ceuta sirvam para que se pergunte: para onde vão estas crianças?
5Regra nº 5. Não é bem uma regra mas sim o resultado de uma constatação: proponho que se institua o Prémio Jornalístico Mariana Mortágua. O mesmo visa distinguir os jornalistas pelo seu abnegado esforço de promoção do BE em geral e desta sua dirigente em particular.
Observador
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