segunda-feira, 29 de maio de 2023

MUNDO NOVO… O QUE VEM AÍ?....

Algumas previsões muito interessantes, mas também assustadoras:

1.) As oficinas de reparação de automóveis desaparecerão.
2.) Um motor a gasolina/diesel tem 20.000 peças individuais.  Um motor eléctrico tem 20. Os carros eléctricos serão vendidos com garantia vitalícia e só são reparados pelas concessionárias.  Leva apenas 10 minutos para remover e substituir um motor eléctrico.
3.) Motores eléctricos defeituosos não são reparados na concessionária, mas são enviados a uma oficina regional que os repara com robôs.
4.) A luz de mau funcionamento do seu motor eléctrico acende, então você dirige-se até ao que parece ser um lava-rápido. O seu carro é rebocado e enquanto você toma uma xícara de café lá vem o seu carro com um novo motor eléctrico!
5.) As bombas de gasolina irão desaparecer.
6.) As esquinas das ruas terão medidores que dispensam electricidade.  As empresas irão instalar estações de recarga eléctrica;  na verdade, eles já começaram no mundo desenvolvido.
7.) Grandes fabricantes de automóveis inteligentes já destinaram dinheiro para começar a construir novas fábricas que só constroem carros eléctricos.
8.) As indústrias de carvão irão embora.  As companhias de gasolina/petróleo irão fechar. A perfuração de petróleo irá parar.  Portanto, diga adeus à OPEP! O Oriente Médio estará em apuros.
9.) As residências produzirão e armazenarão mais energia eléctrica durante o dia e em seguida, usarão e venderão de volta para a rede.  A rede armazena e distribui para os que são grandes consumidoras de electricidade.  Alguém viu o telhado do Tesla?
10.) Um bebé de hoje só verá carros pessoais em museus.  O FUTURO está se aproximando mais rápido do que a maioria de nós podemos imaginar.
11.) Em 1998, a Kodak tinha 170.000 funcionários e vendia 85% de todo o papel fotográfico em todo o mundo.  Em poucos anos seu modelo de negócios desapareceu e eles faliram.  Quem teria pensado que isso aconteceria?

12.) O que aconteceu com a Kodak e a Polaroid acontecerá em muitos sectores nos próximos 5 a 10 anos… e a maioria das pessoas não imagina isso.
13.) Você pensava em 1998 que 3 anos depois, você nunca mais tiraria fotos em filme?  Com os smartphones de hoje, quem é que ainda tem uma câmara hoje em dia?
14.) As câmaras digitais foram inventadas em 1975. As primeiras tinham apenas 10.000 pixels, mas seguiam a lei de Moore.  Assim, como acontece com todas as tecnologias exponenciais, foi uma decepção por um tempo, antes de se tornar muito superior e se tornar dominante em apenas alguns anos.
15.) Agora vai acontecer de novo (mas muito mais rápido)  Artificial, saúde, carros autónomos e eléctricos, educação, impressão 3D, agricultura e empregos.
16.)  Esqueça o livro “Choque do Futuro”, bem-vindo à 4ª Revolução Industrial.
17.) O software interrompeu e continuará a perturbar a maioria dos sectores tradicionais nos próximos 5 a 10 anos.
18.) UBER é apenas uma ferramenta de software, eles não possuem nenhum carro e agora são a maior empresa de táxi do mundo!  Pergunte a qualquer motorista de táxi se ele percebeu isso
19.) O Airbnb é hoje a maior empresa hoteleira do mundo, embora não possua propriedades.  Pergunte aos hotéis Hilton se eles previram isso.
20.) Inteligência Artificial: Os computadores tornam-se exponencialmente melhores na compreensão do mundo.  Este ano, um computador venceu o melhor Go-player do mundo, 10 anos antes do esperado.
21.) Nos EUA, jovens advogados já não conseguem empregos.  Por causa do Watson da IBM, onde você pode obter aconselhamento jurídico (por enquanto, o básico) em segundos, com 90% de precisão em comparação com 70% quando feito por humanos. Portanto, se você estuda Direito, repense imediatamente, pois haverá 90% menos advogados no futuro, (que ideia!) Apenas os especialistas permanecerão.
22.) O Watson já ajuda enfermeiras a diagnosticar cancro, e é 4 vezes mais preciso do que as enfermeiras humanas.
23.) O Facebook agora tem um software de reconhecimento de padrões que pode reconhecer rostos melhor do que humanos.Em 2030, os computadores se tornarão mais inteligentes do que os humanos (porém nunca serão humanos).
24.) Carros autónomos: Em 2018 já chegaram os primeiros carros autónomos. Nos próximos 5 anos, toda a indústria começará a ser interrompida.  Você não vai querer mais ter um carro, pois você ligará para um carro com seu telefone, ele aparecerá em sua localização e o levará ao seu destino.
25.) Você não precisa estacionar, você só paga pela distância percorrida e pode ser produtivo enquanto dirige.  As crianças de hoje nunca terão carteira de motorista e nunca terão carro.
26.) Isso mudará as nossas cidades, porque precisaremos de 90-95% menos carros.  Podemos transformar antigas vagas de estacionamento em parques verdes.
27.) Cerca de 1,2 milhões de pessoas morrem a cada ano em acidentes de carro em todo o mundo, incluindo distracção ou condução embriagada.  Agora temos um acidente a cada 60.000 milhas;  com condução autónoma cairá para 1 acidente em 6 milhões de milhas.  Isso salvará mais de um milhão de vidas em todo o mundo a cada ano.
28.) A maioria das montadoras tradicionais irá sem dúvida à falência. Eles tentarão a abordagem evolucionária e apenas construirão um carro melhor, enquanto as empresas de tecnologia (Tesla, Apple, Google) farão a abordagem revolucionária e construirão um computador sobre rodas.
29.) Veja o que a Volvo está fazendo agora;  não há mais motores de combustão interna em seus veículos a partir deste ano com os modelos 2019, usando todos eléctricos ou híbridos apenas, com a intenção de eliminar gradualmente os modelos híbridos.
30.) Muitos engenheiros da Volkswagen e Audi estão completamente apavorados com Tesla e deveriam estar.  Veja todas as empresas que já oferecem os seus veículos eléctricos.  Isso era inédito, apenas há alguns anos atrás.
31.) As seguradoras terão grandes problemas porque, sem acidentes, os seguros ficarão mais baratos.  Seu modelo de negócio de seguro automóvel desaparecerá.
32.) Os imóveis vão mudar.  Porque se você puder trabalhar enquanto se desloca, as pessoas abandonarão as suas torres para se mudar para bairros mais bonitos e acessíveis.
33.) Os carros eléctricos se tornarão populares em 2030. As cidades serão menos barulhentas porque todos os carros novos funcionarão com electricidade.
34.) As cidades também terão um ar muito mais limpo.
35.) A electricidade se tornará incrivelmente barata e limpa.
36.) A produção solar está numa curva exponencial há 30 anos, mas agora você pode ver o impacto crescente.  E está apenas aumentando.
37.) As empresas de energia fóssil estão tentando desesperadamente limitar o acesso à rede para evitar a competição das instalações solares domésticas, mas isso simplesmente não pode continuar - a tecnologia cuidará dessa estratégia.
38.) Saúde: O preço do Tricorder X será anunciado este ano.  Existem empresas que irão construir um dispositivo médico (chamado "Tricorder" de Star Trek) que funciona com o seu telefone, que faz a varredura da retina, sua amostra de sangue e sua respiração.  Em seguida, analisa 54 biomarcadores que irão identificar quase todas as doenças.  Existem dezenas de aplicativos de telefone por aí agora para fins de saúde.
BEM-VINDO AO AMANHÃ- que na verdade, já chegou há alguns anos...

Se observamos com cuidado, podemos detectar a aparição de uma nova faixa social que não existia antes: pessoas que hoje têm entre sessenta e oitenta anos.
A esse grupo pertence uma geração que expulsou da terminologia a palavra envelhecer, porque simplesmente não tem em seus planos actuais a possibilidade de fazê-lo.
É uma verdadeira novidade demográfica, semelhante ao surgimento  da adolescência; na época, que também era uma nova faixa social, que surgiu em meados do século XX para dar identidade a uma massa de crianças desabrochando, em corpos adultos, que não sabiam, até então, para onde ir ou como se vestir.
Este novo grupo humano, que hoje tem cerca de sessenta, setenta ou 80 anos, levou uma vida razoavelmente satisfatória.
São homens e mulheres independentes que trabalharam durante muito tempo e conseguiram mudar o significado sombrio que tanta literatura latino-americana deu por décadas ao conceito de trabalho.
Longe dos tristes escritórios, muitos deles procuraram e encontraram, há muito tempo, a actividade que mais gostavam e na qual ganham a vida.
Supostamente é por isso que eles se sentem plenos; alguns nem sonham em se aposentar.
Aqueles que já se aposentaram desfrutam plenamente de seus dias, sem medo do ócio ou solidão, crescem internamente. Eles desfrutam do tempo livre,  porque depois de anos de trabalho, criação dos filhos, carências, esforços e eventos fortuitos, vale bem a pena contemplar o mar, a serra eo céu.
Mas algumas coisas já sabemos que, por exemplo, não são pessoas paradas no tempo; pessoas de sessenta, setenta ou oitenta, homens e mulheres, operam o computador como se tivessem feito isso durante toda a vida.
Eles escrevem e vêem os filhos que estão longe e até esquecem o antigo telefone para entrar em contato com seus amigos para os quais escreveme-mails ou mandam whatsapps.

Hoje, pessoas de 60, 70 ou 80 anos, como é seu costume, estão lançando uma idade que AINDA NÃO TEM NOME. Antes, os que tinham essa idade, eram velhos e hoje não são mais... hoje estão física e intelectualmente plenos, lembram-se da sua juventude , mas sem nostalgia, porque a juventude também é cheia de quedas e nostalgias e eles bem sabem disso.
Hoje, as pessoas de 60, 70 e 80 anos celebram o Sol todas as manhãs e sorriem para si mesmas com muita frequência ... Elas fazem planos para suas próprias vidas, não com as vidas dos demais.
Talvez, por algum motivo secreto que apenas os do século XXI conheçam e saberão, a juventude é carregada internamente.
A diferença entre uma criança e um adulto é, simplesmente, o preço de seus brinquedos.


Nota: Por favor, não guarde, passe adiante, sei que você tem uma juventude acumulada, não importa se são 60, 70, 80 ou mais...
A VIDA É PRA QUEM SABE VIVER...!!

domingo, 28 de maio de 2023

Governo oculta pensões milionárias de políticos

CNPD recusa pronunciar-se sobre o tema e remete para parecer da CADA que defende o acesso a essa informação.

Ana Mendes Godinho ,como “democrática” e fiel seguidora, mostra-se com a sua atitude! Não é um comportamento criminoso?

“A ministra da Segurança Social e a Caixa Geral de Aposentações (CGA) insistem em esconder o valor real da pensão mensal vitalícia que é paga, neste momento, a 298 beneficiários. O valor inicial da subvenção mensal vitalícia (SMV) atribuída aos Ex-titulares de cargos políticos e juízes do Tribunal Constitucional (TC) poderá ter duplicado, nos termos da lei n.º 4/85 (já revogada), quando os beneficiários perfizeram 60 anos de idade.
Depois de a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) ter considerado que a informação “não é de acesso reservado” e deve ser facultada ao CM, foi a vez de a Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) deixar isolada a CGA e o Ministério da Segurança Social na pretensão de ocultarem o valor real da SMV paga aos antigos titulares de cargos políticos e juízes do TC.
Na sequência desse parecer da CADA, emitido em Dezembro último, a CGA informou, no início de Fevereiro último, que tomara “a iniciativa de consultar de imediato a CNPD” e aguardava pela “pronúncia da autoridade competente de modo a clarificar o enquadramento da matéria em termos de protecção de dados pessoais”. A 11 de Maio último, em resposta ao CM, a CNPD afirmou: “Sendo esta uma matéria da competência da CADA, e havendo inclusivamente um parecer já emitido pela CADA, a CNPD não tem que se pronunciar sobre esta matéria, não se colocando por isso a questão de emitir uma decisão formal sobre o assunto”. E acrescentou: “A CNPD enviou ontem [este sábado] uma resposta ao EPD [encarregado de protecção de dados] da CGA nesse sentido, clarificando que a decisão final sobre o acesso e o seu alcance caberá sempre à CGA.” Desde então, a CGA e o gabinete da ministra da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, não responderam se permitem o acesso ao valor real da pensão mensal vitalícia paga aos beneficiários. Ao contrário da pensão de reforma, em que são feitos descontos do salário para ter acesso a essa prestação social, os beneficiários da SMV nunca fizeram descontos do ordenado para receber a SMV.


Subvenção mais do que duplicou no caso de Vara
O Ex-ministro Armando Vara é o único beneficiário da subvenção mensal vitalícia (SMV) cujo valor actual é público. Desde a atribuição, em 2003, o valor da SMV mais do que duplicou: passou de 2014 euros para 4590 euros, segundo o acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa n.º9152/21.5T8LSB.L1-5. Foi um aumento de 128%. Vasco Rocha Vieira, Ex-governador de Macau, tem a SMV mais elevada: 13 607 euros brutos.”

https://www.cmjornal.pt/politica/detalhe/governo-oculta-pensoes-milionarias-de-politicos?ref=HP_PrimeirosDestaques

Quem conta uma moeda de 5 euros

Lembra-se das notas de conto? Se não se lembrar, não se atire já para um poço.


Miguel Esteves Cardoso, Publico.


Quem conta uma moeda de 5 euros

Sabe porque é que a nova moeda de 5 euros tem um dinossauro? É uma homenagem às criaturas como eu que roncam: “É pá, isso é um conto de réis!”

Lembra-se das notas de conto? Se não se lembrar, não se atire já para um poço. Eu vou explicar, para que a moeda de 5 euros lhe pese mais um agradável bocadinho no bolso. Se é que consente que uma moeda lhe estrague a linha das calças.

A Dona Maria era os anos 60 em Portugal. Era com uma destas que se comprava o Sgt. Pepper’s dos Beatles e ainda se ficava com dinheiro para jantar como um lorde, ir ao Van Gogo e pernoitar num hotel do Guincho.

Os anciões gostam de fingir que, nesses tempos, tudo era muito certinho e bem contado, que um escudo era um escudo e que cem escudos era uma fortuna. Cem escudos eram 50 cêntimos em dinheiro de hoje.

Mas havia um erro terrível que só agora, graças à moeda de 5 euros, se pode começar a esquecer.

O mal deve-se ao facto de o escudo ser uma moeda muito efémera. Os portugueses, que não gostam nada de alterações passageiras, continuaram a falar em reis.

100 mil reis eram cem escudos. O truque, já se viu, é juntar “mil reis” ao número de escudos. 1 euro são 200 escudos e logo 200 mil reis. 50 escudos são 50 mil reis e 500 escudos são 500 mil reis.

Já está a ver o problema? É que 1000 escudos não são um conto de reis. São um milhão de reis.

Aquilo que ocultaram é que, antes da tolice dos escudos, um conto era um milhar de reis. Dois contos de reis eram dois mil reis, ou seja, 2 míseros escudos ou 1 ainda mais mísero cêntimo de euro.

É espectacular que, no mundo dos escudos, o povo tenha chamado “um conto de reis”, que correspondia apenas a mil reis (1 escudo), a um milhão de reis (1000 escudos).

É uma redução muito mais violenta do que aquela que tornou 200 mil reis (200 escudos) num só euro.

Do ponto de vista psicanalítico, a culpa desta mentira, deste roubo semântico, emerge depois para amaldiçoar o euro e fingir amor ao desamado escudo.

sábado, 27 de maio de 2023

CRISTIANO RONALDO

Sobre:

CRISTIANO RONALDO: "Nenhum jogador está completo além de mim, porque sou bom de cabeça, dos pés, dos chutos livres e outros"

MICHEL PLATINI: "Se eu sou o demónio do futebol, CR7 é o Satanás"

ZINEDINE ZIDANE: "Vou dizer aos meus filhos que treinei o melhor jogador do planeta"

PEP GUARDIOLA: "O único adversário que me assusta e a minha equipa é o CR7 mesmo"

DIEGO MARADONA: "CR7 é um anjo que foi convidado para jogar entre os humanos"

JOACHIM LOW: "CR7 é uma máquina de golos"

CARLOS ANGELOTTI: "Ter CR7 na tua equipa é como começar uma partida de 1-0"

ARSENE WENGER: "O único erro que nunca consigo perdoar a mim mesmo é não comprar CR7 quando tive a chance"

DIER DESCHAMPS: "Depois da vitória de Portugal na Euro, CR7 conseguiu onde Messi falhou com a Argentina"

ROBERTO CARLOS: "No futebol se eu sou Deus filho, CR7 continua sendo Deus pai"

XAVI HERNANDES: "Odeio o Real Madrid mas não o CR7 porque ele é a estrela favorita da minha família"

FRANCESCO TOTTI: "O melhor momento da minha vida é quando vejo a camisa do CR7 na minha casa"

DANIS ALVES: "O único atacante no futebol que me faz tremer quando jogo contra ele é o CR7"

GERARD PIQUE: "CR7 faz coisas que outras pessoas não conseguem"

MARCELO: "O futebol nos controla, mas CR7 controla o futebol por ele"

NEYMAR: "Gostaria que CR7 fosse um jogador do Barcelona, ele é um génio"

MOHAMED SALAH: "O único jogador que joga melhor que o Messi é o CR7"

LIONEL MESSI: "CR7 é um fenómeno"

FLORENTINO PEREZ: "Eu vou para o céu graças a esta transferência de CR7 depois que eu morrer"

UEFA: "A Liga dos Campeões tornou-se agora uma competição CR7"

ENRIQUE IGLESIAS: "Sou uma estrela da música mas o futebol inspira-me graças a CR7"

O único objectivo L

Cristiano Ronaldo!

Torcedores do Al Nassr FC e Ronaldo Unidos.

Henry Kissinger por etapas.

DOIS PAÍSES

Nasceu a 27 de Maio de 1923 na Alemanha. Aos 15 anos a família fugiu para os EUA, para escapar às perseguições nazis.

NOVO NOME

Em 1943 adquiriu a cidadania americana e trocou o nome original, Heinz, por Henry. Alistou-se no exército americano durante a II Guerra Mundial.

HARVARD

Foi aluno e professor. Doutorou-se em 1954, com tese sobre o Congresso de Viena (1815), vertida no livro “A World Restored”. Ainda estudante, cria a revista “Confluence”.

PODER

Conselheiro do Presidente Richard Nixon entre 1968 e 1973, ano em que foi nomeado secretário de Estado (ministro dos Negócios Estrangeiros, terceiro na hierarquia do Estado). Permaneceu no cargo até 1977, já que Gerald Ford o manteve após a demissão de Nixon.

NEGOCIADOR

Acordo de paz do Vietname, negociações no Médio Oriente, degelo das relações dos EUA com a China. Equilíbrio nuclear com URSS e aposta numa nova diplomacia africana.

FAMÍLIA

Tem dois filhos de Ann Fleischer, de quem se divorciou em 1964. Casou-se com Nancy Maginnes em 1974.

De: Expresso

sexta-feira, 26 de maio de 2023

Parque Escolar: contas aprovadas pela tutela a “toque de caixa”. Dívida subiu para 1.213 milhões de euros em 2021

Nos últimos quatro anos, a Parque Escolar – escolhida agora para dinamizar a habitação pública – não mostrava contas e nem se incomodava com críticas dos partidos da oposição nem com notícias da imprensa. O PÁGINA UM meteu um processo de intimação no Tribunal Administrativo de Lisboa no passado dia 8. Esta semana, os Ministérios das Finanças e da Educação apressaram-se a aprovar os relatórios de 2019, 2020 e 2021. E prometem para breve o de 2022. Para já, ficou-se a saber que a dívida total ascende aos 1.213 milhões de euros, e há ainda um conjunto de anomalias contabilísticas detectadas pelo auditor.

por Pedro Almeida Vieira // Maio 25, 2023

A Parque Escolar – a empresa estatal que, em breve, ficará com a função de construção pública, mudando mesmo de denominação – colocou esta tarde os relatórios e conta de 2019, 2020 e 2021 no seu site. Esta decisão vem no seguimento de uma intimação apresentada no mês passado pelo PÁGINA UM no Tribunal Administrativo de Lisboa.

A administração desta empresa – que passará a denominar-se Construção Pública, tendo o diploma da sua reestruturação sido promulgado pelo Presidente da República na semana passada – remeteu também ao PÁGINA UM os ofícios enviados à tutela com as contas dos exercícios a partir de 2019, para aprovação, mas que estamos “engavetados”.

De acordo com as datas desses ofícios, agora na posse do PÁGINA UM, o relatório de 2019 estava na posse da Secretaria de Estado do Tesouro e do Ministério da Educação desde Novembro de 2020, o relatório de 2020 desde Maio de 2021 e o relatório de 2021 desde Maio de 2022.

No que diz respeito ao relatório e contas do ano passado, em ofício enviado esta tarde ao PÁGINA UM, a secretária-geral da Parque Escolar, Alexandra Viana Ribeiro, diz que “ainda não se encontra concluído, designadamente por aguardar o parecer do conselho fiscal (…) e a respectiva aprovação pelas tutelas”, prometendo o seu envio posteriormente.

Este é, para já, o corolário de mais uma vitória do PÁGINA UM em prol da transparência da Administração Pública, uma vez que a Parque Escolar, que passará a assumir funções de promoção de habitação pública, tinha o ano de 2018 como o último com contas aprovadas e disponibilizadas.

E, mesmo assim, este relatório de 2018, bem como os dos anos de 2016 e 2017, apenas foram publicados em Março do ano passado, o que suscitou então questões da Iniciativa Liberal junto do Ministério das Finanças, que tutela a empresa pública. Segundo informações avançadas na altura pelo Jornal de Negócios, a dívida da empresa em 2021 seria de 981,7 milhões de euros.

Contudo, na verdade, e de acordo com análise rápida do PÁGINA UM, a dívida é bem superior. O passivo corrente – com previsão de pagamento em menos de 12 meses – era então de 151,7 milhões de euros, mas o passivo não corrente ascendia aos 1.061,4 milhões de euros. No total, o passivo total situava-se nos 1.214,1 milhões de euros, um pouco mais de 232 milhões do que o valor apontado pelo Jornal de Negócios.

O aumento da dívida acaba por relativizar os resultados líquidos positivos, até porque os activos da Parque Escolar beneficiaram bastante pelo aumento de capital estatutário no valor de cerca de 342,5 milhões de euros por incorporação de 138 escolas e por conversão de um empréstimo da Direcção-Geral do Tesouro e Finanças, após dação em cumprimento do Palácio Valadares, no Largo do Carmo, em Lisboa.

Um dos aspectos mais relevantes dos relatórios e contas, agora disponibilizados e que estará na base do atraso de anos na sua divulgação, prende-se com as reservas feitas pelo auditor das demonstrações financeiras, a cargo da Grant Thornton.

Por exemplo, no relatório de 2019 – que somente agora vê a luz do dia, após a intervenção do PÁGINA UM –, o auditor critica a forma de cálculos das depreciações das propriedades de investimento (que incluem escolas), que além do mais, em diversas obras em curso, não tiveram ainda os terrenos transmitidos para a empresa pública, nem foram “objecto de avaliação por peritos independentes”.

Também é considerado que os cerca de 37 milhões de euros de provisões – devidos a processos judiciais em curso – podem não ser suficientes.

Mais grave ainda é o alerta transmitido pelo auditor de que “na realização de diversos concursos públicos, verificou-se que houve concertação de preços entre as empresas fornecedoras de monoblocos, no que respeita ao preço de transporte, montagem, aluguer e desmontagem dos mesmos, durante as várias fases de realização das obras”.

A Grant Thornton escreveu então que “esta situação originou gastos adicionais (…), cujo montante total não foi, ainda, possível de quantificar.”

Outra situação irregular passa-se com o mobiliário escolar e sobretudo com o equipamento informático. O auditor salienta que “não foram objecto de inventariação física”, acrescentando que, desse modo, “não podemos concluir, na presente data, sobre a existência de todos os bens e, consequentemente, do respectivo valor registado no balanço”.

Os alertas de desconformidades mantiveram-se no relatório de 2020 e 2021, praticamente nos mesmos moldes.

Saliente-se que depois de se recusar tacitamente a disponibilizar os documentos solicitados, a Parque Escolar acabou por optar por satisfazer o pedido antes de ser obrigado por sentença judicial.

Em requerimento hoje apresentado no Tribunal Administativo de Lisboa, o advogado da empresa pública diz que “nada disse [ao PÁGINA Um], apenas e só, porque alguns documentos solicitados (…) não estavam finalizados (…), porquanto faltava a aprovação dos relatórios e contas pela tutela para concluir os processos.”

Na verdade, ao juiz do processo a Parque Escolar admite mesmo que o relatório e contas de 2019 foi apenas aprovado pela tutela na passada segunda-feira, enquanto os relativos a 2020 e 2021 acabaram sendo aprovados hoje, dia 25 de Maio.

Apesar deste contra-relógio, a Parque Escolar deverá vir a ser condenada pelo tribunal ao pagamento das custas, uma vez que não respondeu favoravelmente antes da entrada da intimação do PÁGINA UM. O montante das custas gastas pelo PÁGINA UM serão aplicadas em similares processos de intimação por não divulgação de documentos públicos, através do seu FUNDO JURÍDICO.

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N.D. Todos os encargos do PÁGINA UM nos processos administrativos, incluindo taxas de justiça e honorários de advogado, têm sido suportados pelos leitores e apoiantes, através do FUNDO JURÍDICO. Neste momento, por força de 18 processos em curso, o PÁGINA UM faz um apelo para um reforço destes apoios fundamentais para a defesa da democracia e de um jornalismo independente. Recorde-se que o PÁGINA UM não tem publicidade nem parcerias comerciais, garantindo assim a máxima independência, mas colocando também restrições financeiras.

https://paginaum.pt/2023/05/25/parque-escolar-contas-aprovadas/

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Funcionários públicos ganham mais do que privados com as mesmas qualificações.

Em 2021, os funcionários públicos ganhavam, em média, mais do que os trabalhadores do privado com o mesmo nível de qualificação.

Um estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que, em 2021, a média dos salários públicos foi maior do que a dos salários dos trabalhadores do privado.

Naquele ano, a remuneração bruta mensal média por trabalhador no público era 2.019 euros, e no privado 1.335 euros.

O INE divulgou as novas estatísticas sobre remunerações por trabalhador, com base na informação da Declaração Mensal de Remunerações, transmitidas pelas empresas à Autoridade Tributária e remetida mensalmente ao Instituto.

“A informação diz respeito a cerca de 4,6 milhões de trabalhadores [740.900 na administração pública e 3.799.600 trabalhadores no sector privado], considerando todos os tipos de rendimento do trabalho”, esclareceu o INE.

O Expresso expôs os números e reparou que, em 2021, a remuneração bruta mensal média dos trabalhadores da administração pública foi superior à dos trabalhadores do sector privado, em todos os níveis de escolaridade.

O INE refere que “este resultado pode estar associado, entre outros factores, à diferente composição etária dos trabalhadores”. A idade média de um funcionário público é 53 anos e a de um trabalhador do sector privado é 43 anos.

No entanto, tendo em conta apenas os trabalhadores com ensino superior, frisa o Expresso, a discrepância etária é ainda maior. No público a média mantém-se nos 53 anos, mas no privado desce para os 40 anos.

“A este facto, associam-se maior acumulação de capital humano e de experiência profissional, com tradução nas remunerações auferidas pelos trabalhadores”, diz o INE.

A administração pública é mais qualificada

O estudo do INE também revelou aquele que poderá ser o factor-chave para os funcionários públicos são mais bem remunerados.

Do universo dos trabalhadores da administração pública, em 2021, mais de 55% tinham o ensino superior. Já no sector privado, essa parcela não chegou aos 23%.

Dos 45% da função pública que sobraram, cerca de 27% tinham o ensino secundário e pouco mais de 18% tinham estudos , pelo menos, até ao 9.º ano de escolaridade.

Do lado dos privados, dos 77% que não tinham ensino superior 45% estudaram, pelo menos, até ao 9.º ano e só 32% chegaram ao secundário.

Ou seja, a média de qualificação dos funcionários públicos é, em todos os níveis de escolaridade, superior à média de qualificação dos trabalhadores do sector privado.

Por este prisma é fácil entender que os trabalhadores da administração pública sejam, em média, mais bem pagos do que os funcionários de empresas privadas.

No entanto, mesmo para os trabalhadores com o mesmo grau de escolaridade, o salário médio bruto da função pública volta sair por cima.

No grupo dos que estudaram, no máximo, até ao 9.º ano, a média mensal do salário foi 1.265 euros no público e 1.114 euros no privado.

Quem passou pelo secundário, em média, aufere por mês de um salário de 1.514 euros no público e 1.348 euros no privado.

Por fim, a média salarial mensal de quem tem curso superior é de 2.957 euros na função pública e de 2.263 euros no sector privado.

Ver o estudo aqui: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=611915613&DESTAQUESmodo=2

Publicado por: https://zap.aeiou.pt/funcionarios-publicos-ganham-mais-com-as-mesmas-qualificacoes-537149

terça-feira, 23 de maio de 2023

Uma República de Garotos

Pelo carácter atrabiliário e irascibilidade adolescente. Pela palavra gratuita, pela moral que muda, pela crueldade, pela hipocrisia: muitas destas pessoas não deviam ter acesso a postos de comando

Podemos ter a certeza: neste caso da TAP, dos respectivos antecedentes e das devidas sequelas, há, entre os seus intervenientes, um ou vários malfeitores. O problema consiste em saber se são todos ou só alguns.

É ainda certo que há alguém a preparar um roubo, a cometer uma fraude, a obter algo indevidamente, a tentar assassinar politicamente alguém, a liquidar um adversário e a destruir quem sabe segredos. Só não sabemos se é só um, se são vários ou se são todos os intervenientes.

Sabemos também que estão envolvidos titulares de cargos políticos, altos funcionários do Estado e altíssimos responsáveis da Administração Pública, universo este que pode incluir um primeiro-ministro, vários ministros e Ex-ministros, diversos secretários de Estado e Ex-secretários de Estado, chefes de gabinete, adjuntos, assessores, auditores jurídicos e administradores de empresas públicas. Uma vez mais, não sabemos se todos ou só alguns têm culpas e responsabilidades.
É seguro que algo está em causa, mais importante do que um computador, dois socos, três bofetadas e uma ameaça de agressão. Num ministério como este, das Infra-Estruturas, é difícil encontrar documentos confidenciais muito sérios. Também num país como o nosso, não é crível haver segredos de Estado vitais, ainda por cima gravados no computador de um adjunto! Muito dinheiro, muitos interesses, enormes favores e imensas negociações: eis o que pode estar em causa.
Temos diante de nós a coreografia ou o cenário perfeito da mentira: do mesmo acontecimento, dos mesmos factos, com os mesmos protagonistas, existem pelo menos duas versões contraditórias, dois elencos factuais diferentes e opostos e evidentemente dois perpetradores.

Um bando em funções de Estado, instituições supostamente respeitáveis, departamentos governamentais com responsabilidades, deputados eleitos e representantes directos dos cidadãos, empresas públicas, escritórios de advogados famosos, salteadores de capitais internacionais, funcionários de Estado obrigados a limpar as estrebarias e empresas internacionais de consultadoria estão atarefados à volta de um ministério. Este, por sua vez, ocupa-se de tudo quanto é importante na economia futura do país: aviões, aeroportos, comboios, caminho-de-ferro, portos fluviais e marítimos, grandes pontes, energia, rede eléctrica nacional, barragens e centrais térmicas e mais, tanto mais, em duas palavras, quase tudo, nas mãos de um ministro… É isso que está em causa! São decisões de muitos milhares de milhões! São os marcos da economia futura do país. É o maior investimento de que há memória e de que haverá crónica no futuro! É isso que está em causa, não é um computador, um telemóvel, uma ameaça contra quatro mulheres, um murro de um homem, uma grosseria de um ministro, um engano de um telefonema…

Já se percebeu que houve mentira, traição, ciúme, engano, ameaça, violência e abuso. Mas porquê? O que estava em causa realmente? Dinheiro? Interesses estrangeiros? A companhia de aviação? O aeroporto? O lítio? Os comboios e o TGV? A rede eléctrica nacional? As “renováveis”? Uma coisa parece certa: para que os intervenientes se tenham deixado enredar em cenas ridículas próprias de telenovela, é necessário estarem de acordo sobre um ponto: o silêncio sobre o essencial. Fica-nos a certeza de que este silêncio e a zanga têm origem num passado de cumplicidade.
Ao longo deste processo, pelo que se sabe, alguns ou todos se portaram mal, abusaram de poder e de funções, mentiram, esconderam, ameaçaram, agrediram, roubaram, destruíram, quebraram, negaram, tentaram liquidar, apagaram documentos, “limparam” telemóveis e computadores, sonegaram provas, esconderam fontes e acusaram falsamente outras pessoas. Todos? Só alguns? Quem?
Raramente, nestas décadas que levamos de democracia, se atingiu um ponto tão baixo de miséria moral, de atentado político, de vilania, de imoralidade e de sem vergonha! Há gente que, por bem menos, reside actualmente na penitenciária, em Custóias ou em Pêro Pinheiro. Raramente como agora a justiça portuguesa esteve tanto em causa. Raramente como agora o Estado de direito esteve tão ameaçado.
Na máfia, nos gangs de Nova Iorque, entre oligarcas de Moscovo, nas redes de tráfico de droga, no mercado do sexo e de trabalhadores clandestinos, nos serviços de imigrantes, no comércio de armamento, nos arranha-céus de magnates do petróleo ou nos resorts dos bilionários dos metais raros, há procedimentos parecidos com aqueles que se adivinham neste processo. Com a diferença de montantes e de pessoas envolvidas, com certeza. Mas com uma similitude moral indiscutível.
Pelo que se julgam superiores e infalíveis. Pela superioridade moral de que crêem usufruir. Pela inteligência sistémica com que tratam as estratégias de longo prazo e nada entendem da vida real. Pelo desprezo com que avaliam os outros, a opinião pública e os eleitores. Pelo modo como substituem as regras e as leis pelos seus gestos, os seus gostos e os seus valores. Pelo seu carácter atrabiliário e pela irascibilidade adolescente. Pela palavra gratuita, pela moral que muda, pela crueldade constante, pelo cinismo indisfarçável e pela hipocrisia como hábito e regra: por estes e outros atributos, estas pessoas, algumas destas pessoas, muitas destas pessoas não deveriam ter acesso a postos de comando, nem ter a capacidade de influenciar a vida de outros. Estamos perante pessoas que só têm regras claras e precisas: eles próprios, os seus amigos, os seus partidos, as suas famílias, as suas empresas e as suas auréolas de glória narcisista que designam por interesse público. Estes Garotos divertem-se com o mal dos outros, brincam e desprezam os inferiores e os menos dotados, odeiam e perseguem os superiores e mais capazes. E têm enorme consideração por si próprios.
Parece a República dos Garotos. Pelo que se julgam superiores e infalíveis. Pela superioridade moral de que crêem usufruir. Pela inteligência sistémica com que tratam as estratégias de longo prazo e nada entendem da vida real. Pelo desprezo com que avaliam os outros, a opinião pública e os eleitores. Pelo modo como substituem as regras e as leis pelos seus gestos, os seus gostos e os seus valores. Pelo seu carácter atrabiliário e pela irascibilidade adolescente. Pela palavra gratuita, pela moral que muda, pela crueldade constante, pelo cinismo indisfarçável e pela hipocrisia como hábito e regra: por estes e outros atributos, estas pessoas, algumas destas pessoas, muitas destas pessoas não deveriam ter acesso a postos de comando, nem ter a capacidade de influenciar a vida de outros. Estamos perante pessoas que só têm regras claras e precisas: eles próprios, os seus amigos, os seus partidos, as suas famílias, as suas empresas e as suas auréolas de glória narcisista que designam por interesse público. Estes Garotos divertem-se com o mal dos outros, brincam e desprezam os inferiores e os menos dotados, odeiam e perseguem os superiores e mais capazes. E têm enorme consideração por si próprios.

Como é possível que alguns ministros capazes, alguns governantes decentes, alguns altos funcionários competentes, alguns deputados honestos e alguns profissionais honrados se deixem enlamear por estes Garotos? Nunca se perceberá a razão pela qual académicos probos, professores dedicados, engenheiros competentes, autarcas responsáveis, sindicalistas empenhados, intelectuais com sentido moral da vida e políticos ciosos do bem comum se deixam envolver nesta história a todos os títulos tão sórdida.


António Barreto

O autor é colunista do PÚBLICO

Um engenheiro informático para a dra. Mónica Quintela

Infelizmente, não basta detectar os problemas — é preciso encontrar soluções sensatas para os resolver.

A deputada do PSD Mónica Quintela respondeu ao meu artigo “Um forte candidato ao Óscar de ideia mais parva de sempre”, sobre as novas e demenciais regras de distribuição electrónica de processos em tribunal, com um artigo no PÚBLICO onde se propõe “esclarecer” aqui este vosso criado sobre a necessidade da nova lei. É logo o primeiro equívoco: nunca coloquei em causa a necessidade de melhorar a transparência do processo de distribuição dos juízes. Aquilo que disse — e reafirmo — é que esta é uma maneira extremamente palerma de o fazer. A ideia é boa. A lei é estúpida. O que não é uma novidade: o que mais há por aí (outro exemplo: a obtusa lei dos sefarditas) é legislação cheia de boas intenções e de péssimos efeitos. Esta é mais uma delas.

Mónica Quintela escreveu no diário As Beiras que “a Operação Lex permitiu que viesse a público a falta de fiabilidade” do sistema de escolha de juízes, e que não é por acaso que o Ministério Público exigiu “assistir à distribuição do processo Marquês por temer que o sorteio fosse manipulado”. No seu entender, essa “é uma possibilidade bem real”. Está certo. Outras ideias com as quais concordo: a falta de sindicância do famoso algoritmo é um problema grave, tal como é um problema que a gestão e administração do sistema informático Citius esteja na dependência do Ministério da Justiça, logo, do Governo.

Infelizmente, não basta detectar os problemas — é preciso encontrar soluções sensatas para os resolver. Ora, na sua resposta, Mónica Quintela começa por garantir que juízes, procuradores e advogados não estão convocados apenas para ver um oficial de justiça teclar e clicar num computador, para logo de seguida explicar que eles estão convocados precisamente para ver um oficial de justiça teclar e clicar num computador. O suposto desmentido de Quintela é, afinal, uma confirmação do que escrevi.

As palavras são suas: “A fiscalização da distribuição impõe-se, desde logo, para assegurar que todos os nomes dos juízes daquele tribunal sejam inseridos no sistema, e não apenas alguns.” Se o oficial de justiça “só introduzir um nome no sorteio, é esse nome que é sorteado e o juiz escolhido. Além disso, pode o funcionário fazer os sorteios que entender até sair determinado nome e sem que alguém saiba. E para que isso não suceda é necessária a tal ‘burocracia’”.

Só que não é. Mónica Quintela exemplificou a sua tese com os sorteios de antigamente, feitos com esferas. Antes do sorteio, certa esfera era aquecida ou congelada para o responsável pelo sorteio saber qual tirar. “Os operadores judiciais não vão só assistir ao tirar a esfera do saco”, explica a advogada do PSD. “Vão ver se todas as esferas foram postas no saco para garantir que todos os juízes são sorteados.”

Esta explicação é abracadabrante em 2023. A deputada Mónica Quintela não tem de perceber de computadores, mas deve saber que já não vivemos no tempo das esferas. Para cada problema que colocou, uma equipa de engenheiros informáticos minimamente competente encontrará soluções infinitamente mais eficientes do que desperdiçar centenas de horas de trabalho inútil de agentes judiciais. É tudo uma questão de programação, de registos de entrada e de inventariação dos vários passos do sorteio, para futura sindicância. Será que não há assessores no Parlamento? Não há informáticos? A não ser que Mónica Quintela ainda se desloque de coche para a Assembleia da República, os seus argumentos são incompreensíveis.

João Miguel Tavares

O autor é colunista do PÚBLICO

segunda-feira, 22 de maio de 2023

A Bula papal «MANIFESTIS PROBATUM EST ARGUMENTIS»


Reino de Portugal

(Datada de 23 de Maio de 1179)

ALEXANDER EPISCOPUS, SERVUS SERVORUM DEI, KARISSIMO IN CHRISTO FILIO ALFONSO ILLUSTRI PORTUGALENSIUM REGI EIUSQUE HEREDIBUS, in perpetuum.

Manifestis probatum est argumentis quod per sudores bellicos et certamina militaria inimicorum christiani nominis intrepidus extirpator et propagator diligens fidei christiani sicut bónus filius et princeps catholicus multimoda obsequia matri tua Sacrosancte Ecclesie impendisti, dignum memoria nomen et exemplum imitabile posteris derelinquens. Equum est autem ut quos ad regímen at salutem populi ab alto dispensatio celestis elegit Apostolica Sedes affectione sincera diligat pro iustis postulationibus studeat efficaciter exaudire.

Proinde nos attendentes personam tuam prudentia ornatam, iusticia preditam atque ad populi regímen idoneam, eam sub Petri et nostra protectione suscipimus et regnum Portugalense cum integritate honoris regni et dignitate que ad reges pertinet necnon et omnia loca que cum auxilio celestis gratie de sarracenorum manibus eripueris in quibusi ius sibi non possunt christiani príncipes circumpositi vendicare excellentie tue concedimus et auctoritate apostólica confirmamus.

Ut autem ad devotionem et obsequium beati Petri apostolorum principis et sacrosancte Romane Ecclesie vehementius accendaris, hec ipsa prefatis heredibus tuis duximus concedendi eosque super his que concessa sunt, Deo propitio, pro iniuncti nobis appostolatus officio defendemus. Tua itaque intererit, fili karissime, ita circa honorem et obsequium matris tue sacrosancte Romane Ecclesie humilem et adevotum existeres et sic te ipsum in eius oportunitatibus et dilatandis christiane fidei finibus exercere ut de tam devoto et glorioso filio Sedes Apostolica gratuletur et in eius amore quiescat. Ad indicium autem quod prscriptum regnum beati Petri iuris existat pro amplioris reverentie argumento statuisti duas marcas auri annis singulis nobis nostrisque successoribus persolvendas. Quem utique censum ad utilitatem nostram et successorum nostrorum Bracarensi archiespiscopo, qui pro tempore fuerit, tu et sucessores tui curabitis assignare.

Decernimus ergout nulli omnino hominum liceat personam tuam aut heredum tuorum vel etiam prefatum regnum temere partubare aut eius possessiones auferre vel ablatas retinere, minuere aut aliquibus vexationibus fatigare.

Si qua igitur in futurum ecclesiastica secularisve persona hanc nostre Constitutionis paginam sciens contra eam temere venire temptaverit, secundo terciove commonita nisi reatum suum digna satisfactione correxerit, potestatis honorisque sui dignitate careat reamque se divino iudicio existere de perpetrata iniquitate cognoscatet a sacratissimo Corpore ac Sanguine Dei et Domini Redemptoris nostri Ihesu Christi aliena fiat atque in extremo examine districte ultioni subiaceat.

Cunctis autem eidem regno et regi sua iura servantibus, sit pax Domini Ihesu Christi quatinus et hic fructum bone actionis percipiant et apud districtum iudicem premia eterne pacis eiveniant. AMEN. AMEN.

Petrus + Paulus

Alexander PP. III. BENE VALETE

Vias tuas, Domine,

demonstra mihi.

Ego Alexander catholice Ecclesie episcopus SS

+ Ego Hubaldus Hostiensis episcopus SS

+ Ego Theodinus Portuensis et Sancte Rufine episcopus SS

+ Ego Petrus Tusculanus episcopus SS

+ Ego Henricus Albanensis episcopus SS

+ Ego Bernerus Prenestinus episcopus SS

+ Ego Johannes presbiter Cardinalis sanctorum Joannis et Pauli tituli Pamachii SS

+ Ego Johannes presbiter Cardinalis tituli Sanctae Anastasie SS

+ Ego Johannes presbiter Cardinalis tituli Sancti Marci SS

+ Ego Petrus presbiter Cardinalis tituli Sancti Susane SS

+ Ego Vivianus presbiter Cardinalis tituli Sancti Stephani in Celio Monte SS

+ Ego Cinathyus presbiter Cardinalis tituli Sancte Cecilie SS

+ Ego Hugo presbiter Cardinalis tituli Sancti Clementis SS

+ Ego Arduinus presbiter Cardinalis tituli Sancte Crucis in Jerusalem SS

+ Ego Matheus presbiter Cardinalis tituli Sancte Marcelli SS

+ Ego Iacinctus diaconus Carduinalis Sancte Marie in Cosmydyn SS

+ Ego Ardicio diaconus Cardinalis Sancti Theodori SS

+ Ego Laborans diaconus Cardinalis Sancte Marie in Porticu SS

+ Ego Rainerius diaconus Cardinalis Sancti Geiargii ad Velum Aureum SS

+ Ego Gratianus diaconus Cardinalis Sanctorum Cosme et Damiani SS

+ Ego Joannes diaconus Cardinalis Sancti Angeli SS

+ Ego Rainerius diaconus Cardinalis Sancti Adriani SS

+ Ego Matheus Sancte Marie Nove diaconus Cardinalis SS

+ Ego Bernardus Sancti Nicholai in Carcere Tulliano diaconus Cardinalis SS

Datum Laterani per manum Alberti Sancte Romane Ecclesie Presbiteri Cardinalis et Cancellarii, X kalendas Iunii, indictione XI, Incarnationis Dominice anno Mº Cº LXXº VIIIIº, pontificatus vero domini ALEXANDRI pape III anno XX.

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TRADUÇÃO para a língua Portuguesa

ALEXANDRE, BISPO, SERVO DOS SERVOS DE DEUS, AO CARÍSSIMO FILHO EM CRISTO, AFONSO, ILUSTRE REI DOS PORTUGUESES, E A SEUS HERDEIROS, in perpetuum.

Está claramente demonstrado que, como bom filho e príncipe católico, prestaste inumeráveis serviços a tua mãe, a Santa Igreja, exterminando intrepidamente em porfiados trabalhos e proezas militares os inimigos do nome cristão e propagando diligentemente a fé cristã, assim deixaste aos vindouros nome digno de memória e exemplo merecedor de imitação. Deve a Sé Apostólica amar com sincero afecto e procurar atender eficazmente, em suas justas súplicas, os que a Providência divina escolheu para governo e salvação do povo.

Por isso, Nós, atendendo às qualidades de prudência, justiça e idoneidade de governo que ilustram a tua pessoa, tomamo-la sob a protecção de São Pedro e nossa, e concedemos e confirmamos por autoridade apostólica ao teu excelso domínio o reino de Portugal com inteiras honras de reino e a dignidade que aos reis pertence, bem como todos os lugares que com o auxílio da graça celeste conquistaste das mãos dos sarracenos e nos quais não podem reivindicar direitos os vizinhos príncipes cristãos.

E para que mais te afervores em devoção em devoção e serviço ao príncipe dos apóstolos S. Pedro e à Santa Igreja de Roma, decidimos fazer a mesma concessão a teus herdeiros e, com a ajuda de Deus, prometemos defender-lha, quanto caiba em nosso apostólico ministério. Continua, pois, a mostrar-te, filho caríssimo, tão humilde e devotado à honra e serviço de tua mãe, a Santa Igreja Romana, e a ocupar-te em defender os seus interesses e dilatar a fé cristã de tal modo que esta Sé Apostólica possa alegrar-se de tão devoto e glorioso filho e não duvide da sua afeição. Para significar que o referido reino pertence a São Pedro, determinaste como testemunho de maior reverência pagar anualmente dois marcos de oiro a Nós e aos nossos sucessores. Cuidarás, por isso, de entregar, tu e os teus sucessores, ao Arcebispo de Braga «pro tempore», o censo que a Nós e a nossos sucessores pertence.

Determinamos, portanto, que a nenhum homem seja lícito perturbar temerariamente a tua pessoa ou as dos teus herdeiros e bem assim o referido reino, nem tirar o que a este pertence ou, tirado, retê-lo, diminuí-lo ou fazer-lhe quaisquer imposições.

Se de futuro qualquer pessoa eclesiástica ou secular intentar cientemente contra o que dispomos nesta nossa Constituição, e não apresentar satisfação condigna depois de segunda ou terceira advertência, seja privada da dignidade da sua honra e poder, saiba que tem de prestar contas a Deus por ter cometido uma iniquidade, não comungue do Santíssimo Corpo e sangue de Jesus Cristo nosso divino Senhor e Redentor, e nem na hora da morte se lhe levante a pena.

Com todos, porém, que respeitarem os direitos do mesmo reino e do seu rei, seja a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo, para que neste mundo recolham o fruto das boas obras e junto do soberano juiz encontrem o prémio da eterna paz. Amen. Amen.

Pedro + Paulo

Alexandre Papa III BENE VALETE

Senhor, ensina-me os

teus caminhos.

Eu Alexandre Bispo da Igreja Católica, subscrevi

+ Eu Ubaldo Bispo de Óstia SS

+ Eu Teodino Bispo de Porto e Santa Rufina SS

+ Eu Pedro Bispo de Frascati SS

+ Eu Henrique Bispo de Albano SS

+ Eu Bernardo Bispo de Palestrina SS

+ Eu João Cardeal presbítero dos Santos João e Paulo, do título de Pamáquio SS

+ Eu João Cardeal presbítero do título de Santa Anastásia SS

+ Eu João Cardeal presbítero do título de S. Marcos SS

+ Eu Pedro Cardeal presbítero do título de Santa Susana SS

+ Eu Viviano Cardeal presbítero do título de Santo Estêvão no Monte Celio SS

+ Eu Cíntio Cardeal presbítero do título de Santa Cecília SS

+ Eu Hugo Cardeal presbítero do título de S. Clemente SS

+Eu Arduino Cardeal presbítero do título de Santa Cruz em Jerusalém SS

+ Eu Mateus Cardeal presbítero do título de S. Marcelo SS

+ Eu Jacinto Cardeal diácono do título de Santa Maria em Cosmedin SS

+ Eu Ardício Cardeal diácono do título de S. Teodoro SS

+ Eu Laborans Cardeal diácono do título de Santa Maria em Porticu SS

+ Eu Rainério Cardeal diácono do título de S. Jorge em Velabro SS

+ Eu Graciano Cardeal diácono do título de Santos Cosme e Damião SS

+ Eu João Cardeal diácono do título de Santo Ângelo SS

+ Eu Rainério Cardeal diácono do título de Santo Adriano SS

+ Eu Mateus Cardeal diácono do título de Santa Maria-a-Nova SS

+ Eu Bernardo Cardeal diácono do título de S. Nicolau in Cárcere

Tulliano SS

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Dada em Latrão, por mão de Alberto, Cardeal presbítero e Chanceler da Santa Igreja Romana, a 10 das kalendas de Junho (23 de Maio), indicção XI, ano M.C.LXX.VIIII da Encarnação do Senhor e XX do Pontificado do Papa Alexandre III [1].

É interessante notar o 5º e penúltimo parágrafo da versão dactilografada da bula papal.

O Papa ameaça com a excomunhão (incluindo a proibição de um funeral católico) todo e qualquer Rei que ameace a integridade física e/ou inicie alguma guerra contra o nosso Rei ou algum dos futuros Reis de Portugal. Os Reis de Portugal estavam – enquanto se ‘portassem bem’ – sob a sua protecção!

Sabendo quão católica era a Europa Ocidental daqueles tempos, era de facto uma ameaça muito pior que a da ‘bomba atómica’!

Igualmente é interessante referir que o título de Bispo era – no século XII – parecia ser hierarquicamente mais importante que o de Cardeal.

Repare-se nas assinaturas das 24 personalidades da Igreja Católica que subscrevem a bula (e que se encontram agrupadas): a do Papa (ele próprio, o Bispo de Roma e da Igreja Católica), as de 5 Bispos, as de 9 Cardeais presbíteros e as de 9 Cardeais diáconos.


[1] Esta tradução não é minha; é da autoria do Professor Doutor Rebelo Gonçalves e é datada de 1940. Os dois ‘SS’ que se mantém à frente das assinaturas dos Bispos e dos Cardeais significam: Subscrevi.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

CCDR: o que muda na gestão da “empresa” chamada Estado? Perguntas e respostas

As empresas fazem reestruturações e o Estado também. Em curso está uma mudança de competências, que vão passar das direcções regionais para as CCDR.

É comum ouvir falar de reorganizações empresariais – tarefas que passam de um departamento para outro ou departamentos que absorvem competências que estavam disseminadas. Mas o Estado também pode alterar a forma como se organiza. É o que está a acontecer.

As Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional​ (CCDR) vão ter um papel reforçado com a decisão do Governo de integrar nestas entidades os serviços desconcentrados do Estado central que estavam a cargo das diferentes direcções regionais. Esta passagem de competências comporta muitas dúvidas e confusões, desde logo a ideia de que se trata de um processo de descentralização, quando, na verdade, consiste em integrar serviços já descentralizados nas direcções regionais nas CCDR. O PÚBLICO tenta responder a algumas das perguntas sobre o assunto.

O que são as CCDR?

As CCDR são serviços que pertencem à administração directa do Estado, mas que estão situados de forma periférica no território. Ou seja, não estão em Lisboa (com excepção da CCDR de Lisboa e Vale do Tejo), mas sim junto da região que representam. Funcionam como uma espécie de pólos do Estado nas regiões. Existem cinco CCDR: a do Norte, com sede no Porto, a do centro, com sede em Coimbra, a de Lisboa e Vale do Tejo, que tem sede em Lisboa, a do Alentejo, que se situa em Évora, e a do Algarve, que fica em Faro.

Estes serviços têm autonomia administrativa e financeira e cabe-lhes coordenar e articular várias políticas sectoriais, como as de ambiente, ordenamento do território e cidades, prestam apoio técnico às autarquias e têm um papel activo na gestão de fundos europeus.

Quem vai liderar as CCDR e como serão escolhidos?

A ministra da Coesão Territorial tutela as CCDR. Actualmente, cada uma tem um presidente e dois vice-presidentes. Tanto o presidente como um dos "vices" são eleitos de forma indirecta. Ou seja, o presidente da CCDR é eleito por um conjunto alargado de eleitos locais da respectiva área de incidência da CCDR. Um dos vice-presidentes é eleito pelos presidentes das câmaras municipais da área geográfica da CCDR. O outro é indicado pelo Governo, depois de consultados o presidente e o vice-presidente eleitos das CCDR.

Quando foram as últimas eleições para as CCDR?

As primeiras eleições, e até agora únicas, para as CCDR aconteceram a 13 de Outubro de 2020. A eleição, embora indirecta, é uma novidade recente, já que antes os responsáveis máximos das CCDR eram nomeados directamente pelo Governo. A regra é que os mandatos sejam de quatro anos, mas na primeira eleição ficou estabelecido que o mandato inaugural seria de cinco anos para que os responsáveis acompanhassem as negociações dos fundos de Bruxelas.

Qual é o calendário da transferência de competências?

Até ao final deste mês de Janeiro, está previsto que sejam alteradas as leis orgânicas das CCDR para que possam receber de forma total ou partilhada as atribuições que até agora estavam concentradas nos serviços desconcentrados da administração pública. Depois, até ao final de Março deste ano, devem ser reestruturados os serviços desconcentrados que vão perder ou partilhar com as CCDR essas atribuições. A última fase prevista no calendário decorre até ao final do primeiro trimestre de 2024. Esta etapa serve para concluir todos os processos anteriores.

Qual é a diferença entre este processo e o da transferência de competências para as autarquias?

São processos diferentes e que vão passar a acontecer em paralelo. A descentralização de competências para as autarquias permite à administração central passar para as câmaras municipais uma responsabilidade que era sua até agora. Por exemplo: na educação, as autarquias passaram a assumir a responsabilidade pelas refeições escolares. No caso da transferência de competências para as CCDR, a passagem é feita dos serviços regionais das várias direcções para as CCDR. O que dará mais responsabilidades a estas, que passam a agrupar competências em várias áreas relativamente ao espaço geográfico em que actuam.

Ou seja, ganham escala e uma visão de conjunto do território. Voltando ao exemplo da educação. Uma das atribuições actualmente assumidas pelas cinco direcções regionais da Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares e que passarão para as CCDR é a de identificar as intervenções nos edifícios escolares.

Vão ter um orçamento?

Sim. Está previsto que juntamente com as novas atribuições sigam para as CCDR os recursos humanos, patrimoniais e financeiros necessários à nova missão. Actualmente – e ainda antes desta alteração – as CCDR já têm um orçamento. Por exemplo, a CCDR Norte tinha 302 trabalhadores em 2021 com os quais gastava mais de 11 milhões de euros.

Porque é que este processo surgiu agora?

Este processo surge na sequência de outro – o da descentralização. Em 2018, o Governo e o PSD assinaram um acordo para a descentralização de competências para as autarquias. Depois, o Governo incluiu no seu programa a transferência de competências das direcções regionais da administração central para as CCDR. A lógica é promover a unidade do território nacional concentrando num único serviço de cada região serviços que estavam separados de forma sectorial.

O que são as direcções regionais?

São serviços periféricos da administração directa do Estado, com uma competência territorialmente limitada e que respondem directamente ao respectivo ministério. Na prática, são um braço da tutela (Cultura ou Agricultura e Pescas, por exemplo) numa dada região.

Quais os serviços periféricos da administração directa e indirecta do Estado que vão passar para as CCDR?

De acordo com a resolução do Conselho de Ministros de Dezembro, são nove as áreas que serão "objecto de transferência e de partilha com as CCDR": Economia; Cultura; Educação; Formação Profissional; Saúde; Conservação da Natureza e das Florestas; Infra-estruturas; Ordenamento do Território; Agricultura e Pescas.

Poderá haver despedimentos devido a eventuais duplicações entre serviços?

Não, pelo menos é essa a garantia dada pelo Governo e em particular pela ministra da Coesão Territorial. Ana Abrunhosa explicou ao PÚBLICO que "os serviços das antigas direcções regionais não desaparecem" e que os trabalhadores das diferentes direcções regionais não serão despedidos e irão continuar a exercer as suas funções, com uma diferença: passam a trabalhar sob a coordenação das respectivas CCDR e deixam de responder a Lisboa.

E os trabalhadores poderão ter de mudar de local/cidade?

Outra das garantias dadas pelo Governo é a de que ninguém terá de mudar de local de trabalho. "Os serviços e postos de trabalho mantêm-se, as pessoas não vão mudar de local de trabalho. Há uma garantia que eu posso dar, não vamos tirar as pessoas do sítio onde estão, se estão em Mirandela continuarão a trabalhar em Mirandela", assegurou a ministra Ana Abrunhosa.

Como será feita a transferência para as CCDR na área da saúde?

A resolução do Conselho de Ministros prevê um conjunto de atribuições actualmente exercidas pelas administrações regionais de saúde e que passam para as CCDR. São três, uma delas a atribuição será partilhada e duas delas passam para as CCDR. "Assegurar o planeamento regional dos recursos humanos, financeiros e materiais, a execução e acompanhamento dos necessários projectos de investimento das instituições e serviços prestadores de cuidados de saúde, em articulação com a direcção executiva do Serviço Nacional da Saúde" é uma das missões que passa para a esfera das CCDR. No entanto, a resolução determina que o director Fernando Araújos ainda terá uma palavra a dizer. Ao PÚBLICO, a ministra da Coesão, Ana Abrunhosa, admitiu que tanto o calendário geral deste processo como as próprias atribuições podem ser revistos pela direcção executiva do SNS.

A contratação dos professores passa a ser feita pelas CCDR?

Não. A resolução do Conselho de Ministros, publicada no final do ano, é clara e o ministro da Educação, João Costa, sublinhou-o na última ida ao Parlamento, marcada já pelas greves dos docentes. A transferência de competências em curso “não comporta nenhuma atribuição na área do recrutamento de professores”, disse o governante.

Em matéria de recursos humanos, a única transferência de competências diz respeito ao pessoal não docente (assistentes operacionais e assistentes técnicos) que já eram da responsabilidade das câmaras municipais.

As 13 competências a transferir para as CCDR estavam, até agora, todas entregues à Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares. Este organismo já funciona descentralizadamente, tendo herdado parte das equipas das antigas direcções regionais de Educação no Norte, centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.

As comissões regionais ficam com responsabilidades, por exemplo, pela definição e acompanhamento da requalificação e conservação da rede de escolas. No entanto, as obras continuam a ser feitas pelos municípios. A definição da rede escolar mantém-se centralizada no Ministério da Educação.

Muda alguma coisa na gestão dos fundos europeus?

No imediato, não. As actuais CCDR já participam nas autoridades de gestão dos fundos europeus e assim continuará a ser, como o confirma o decreto-lei publicado esta semana e que estabelece o modelo de governação do PT 2030. Por inerência, os presidentes das cinco CCDR do continente presidem à comissão directiva dessas autoridades. Porém, acredita-se que a partilha ou transferência de novos poderes para as CCDR pode dar um novo enquadramento à gestão dos fundos europeus, sejam os de âmbito regional, sejam os temáticos.

Que diagnóstico faz o relatório da Comissão Independente para a descentralização?

Em termos de fundos europeus, conclui que o modelo vigente era muitas vezes “cego” às especificidades regionais.

No relatório final, a Comissão presidida por João Cravinho propôs que “na primeira fase, de arranque e transição”, as CCDR devem ver “reforçadas capacidades de intervenção”, designadamente “em termos de decisão e de coordenação”, em domínios como desenvolvimento regional, ordenamento do território e cidades, ambiente e cooperação regional transfronteiriça.

Mas isto tem de ser acompanhado por “maior intervenção dos poderes regionais na concepção dos programas regionais e dos programas temáticos, com particular incidência na região que beneficia de Fundos Europeus Estruturais e de Investimento” – ou seja, Norte, centro e Alentejo.

Os programas já estão definidos e aprovados, pelo que qualquer ganho a partir daqui pode vir a acontecer na gestão, acompanhamento e aprovação de projectos. Ou seja, na execução.

O relatório recorda que a OCDE considera Portugal “um dos países mais centralizados da UE e da OCDE”. E lembra que isso pode ser combatido através das CCDR, que ganharam nas últimas décadas “uma influência e um reconhecimento crescentes à medida que foram ocupando uma posição relevante na gestão de programas e fundos comunitários”.

Além disso, a administração central do Estado encontra-se “fortemente sectorializada (reforçada por uma gestão igualmente sectorializada dos fundos europeus), pouco articulada entre si (favorecendo a fragmentação de políticas) e, em alguns domínios, com uma tradição de formulação de políticas nacionais territorialmente cegas, isto é, não regionalmente diferenciadas”.

As CCDR vão agilizar a execução de fundos europeus?

As CCDR já têm experiência e competência na execução de fundos e são, no quadro actual, parte importante do modelo de governação. Conseguiriam ser mais eficazes e rápidas na resposta e na gestão desses fundos se receberem outros poderes que hoje em dia estão delegados na tal administração pública “fortemente sectorializada”? Nesta fase de arranque, é difícil dizer que sim. Embora essa seja a expectativa. Mesmo que, por agora, não se passe de uma transferência ou partilha de tarefas administrativas, pode-se ganhar dias, semanas, meses na tramitação dos processos.

Mas vai ser preciso esperar para ver como é que a partilha ou transferência de competências se concretiza, e com que meios. É apenas aliviar trabalho burocrático das direcções regionais ou há uma efectiva cedência de meios e poder? Essa é a pergunta a que ainda ninguém responde, mas há sinais.

Na Agricultura e Pescas, as direcções regionais deverão ceder às CCDR o poder de “executar, de acordo com as normas funcionais definidas pelos serviços e organismos centrais, as acções necessárias à recepção, análise, aprovação, acompanhamento e validação dos projectos de investimento apoiados por fundos nacionais e europeus, bem como promover a tramitação relativa à recepção, análise e validação conducente ao pagamento dos respectivos apoios".

Museus e monumentos vão passar para as CCDR?

Ninguém sabe ainda o que acontecerá ao importante conjunto de museus, monumentos e áreas arqueológicas tutelados pelas Direcções Regionais de Cultura – do visitadíssimo Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, às principais sés do país – quando estas forem extintas e as respectivas competências integradas nas CCDR. O Ministério da Cultura esclarece que a resposta dependerá da reestruturação em curso da Direcção-Geral do Património (DGPC), que por sua vez justifica que a Cultura tenha sido “excepcionada do calendário previsto para outras áreas governativas”.

E adianta apenas que “não está prevista a transferência de monumentos e museus para as CCDR”, reconhecendo que esta é uma “questão particularmente relevante no quadro da reorganização da DGPC e do processo de descentralização também a decorrer”. Uma frase compatível com muitos cenários. Por exemplo este: vincular alguns museus mais relevantes à DGPC, num movimento que seria, aliás, inequivocamente recentralizador, passando o resto para os municípios, no âmbito do citado “processo de descentralização”.

https://www.publico.pt/2023/01/27/politica/noticia/ccdr-muda-gestao-empresa-chamada-estado-perguntas-respostas-2036364

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Resumo fundamentado de um ano de guerra na Ucrânia

Comentário Pessoal:

Para os ‘licenciados em ciências militares’ será certamente um artigo interessante (que, provavelmente, aprovarão numas áreas e não tanto, noutras).

Para mim – que não tenho capacidade para fazer essa análise – é um ‘artigo para ler sem poder fazer a minha habitual crítica analítica (e para arquivo).

estatuadesal.com

(Roberto Buffagni, Observatoriocrisis, 02/02/2023, Tradução de ‘Estátua de Sal’)


Um ano após o início da guerra, está claro que uma vitória militar ucraniana sobre a Rússia é materialmente impossível, mas a ajuda ocidental à Ucrânia pode prolongar o conflito. Agora, se eu tiver que arriscar um palpite, acho que a Rússia continuará a guerra de desgaste por muito mais tempo…


Neste artigo analiso, com a maior brevidade e clareza, o percurso estratégico e a dinâmica que conduziu à atual quarta fase da guerra na Ucrânia, fase que considero transformadora. Não insiro notas a não ser uma, referente a um grande estudo da RAND Corp., publicado enquanto preparava este texto, no final de janeiro de 2023.

Agradeço sinceramente ao General Marco Bertolini, ao historiador Giacomo Gabellini e Giuseppe Germinario, que tiveram a gentileza de ler este rascunho e me aconselhar. Claro que a responsabilidade pelos defeitos e limitações do artigo é exclusivamente minha.

ETIOLOGIA DA GUERRA NA UCRÂNIA. NATUREZA E FINS DA GUERRA DO PONTO DE VISTA RUSSO E OCIDENTAL

Sobre a etiologia da guerra na Ucrânia compartilho a interpretação histórica do professor John Mearsheimer. O conflito é consequência da expansão da NATO para leste e do desejo dos EUA de criar um reduto militar ocidental na fronteira russa, integrando a Ucrânia na NATO: uma estratégia que a Federação Russa declarou absolutamente inaceitável desde a Cimeira da NATO em Bucareste em 2008, em que esta organização militar anunciou a sua intenção de integrar a Geórgia e a Ucrânia na Aliança Atlântica.

Entre 2008 e 2022, os Estados Unidos gradualmente integraram a Ucrânia na NATO, embora de facto e não de jure. Em 2014, pressionaram pela desestabilização do governo recém-eleito e instalaram um regime amigo, e nos anos seguintes elevaram as forças armadas ucranianas para o nível de prontidão da NATO. Em 2014, a Federação Russa anexou a Crimeia sem conflito militar.

No entanto, em 2021, registou-se uma aceleração significativa do processo de integração de facto da Ucrânia na Organização Militar Atlantista: importantes fornecimentos de armas, grandes exercícios militares conjuntos e, em novembro desse ano, foi renovada uma Convenção bilateral EUA-Ucrânia que reafirmou a intenção comum de integrar a Ucrânia na NATO, desta vez de jure.

De acordo com esta interpretação etiológica, do ponto de vista russo, a guerra na Ucrânia é uma guerra preventiva em defesa de interesses russos vitais, e não uma guerra imperialista de anexação/conquista e não é o prólogo de uma qualquer expansão territorial russa na Europa. Este último objetivo é, ao contrário, a definição da natureza e dos propósitos da intervenção russa adotada pelos Estados ocidentais.

PRIMEIRA FASE DA GUERRA (24 DE FEVEREIRO A PRIMAVERA DE 2022). ESCALADA MILITAR RUSSA: INVASÃO DA UCRÂNIA. ESCALADA POLÍTICA OCIDENTAL: REJEIÇÃO DE QUALQUER NEGOCIAÇÃO DIPLOMÁTICA.

Em dezembro de 2021, a Federação Russa, que nos meses anteriores havia destacado um contingente militar pronto para intervir na fronteira ucraniana, propôs uma solução diplomática aos EUA, na fórmula inusitada de um projeto de tratado tornado público. As principais reivindicações russas eram, fundamentalmente: a Ucrânia neutra e a aplicação efetiva dos acordos de Minsk para a proteção das populações de língua russa de Donbass, onde ocorre uma guerra civil desde 2014, apoiada não oficialmente pelos governos ucraniano e russo. Os Estados Unidos não responderam à proposta de forma satisfatória para os russos (adiaram, paralisaram, recorreram à “ambiguidade estratégica”).

Em 24 de fevereiro de 2022, a Federação Russa intervém militarmente na Ucrânia. Não é possível saber ao certo porque foi escolhido esse momento. Talvez, mas esta é apenas a minha inferência lógica, porque de acordo com as informações que possuo, a Federação Russa acreditava que o exército ucraniano estava prestes a intervir contra as milícias de Donbass, uma vez que destacou a maioria de suas tropas que estavam em posições defensivas. que eles construíram ao longo dos anos, a fim de evitar uma possível intervenção militar russa e torná-la muito mais difícil, cara, incerta.

Os russos intervêm com um contingente militar de cerca de 180 a 200.000 homens, em condições de inferioridade numérica relativamente ao exército ucraniano em cerca de 3:1, embora os manuais tácticos prescrevam uma relação inversa atacantes/defensores (pelo menos 3:1 a favor do atacante, para compensar a vantagem da defesa).

Os russos desenvolvem ataques em cinco linhas, tanto no sudeste quanto no noroeste da Ucrânia. Os ataques no Noroeste são ataques secundários, uma grande manobra diversiva destinada a colocar tropas ucranianas em defesa de Kiev e outros centros afetados pela manobra, para moldar o campo de batalha no Sudeste, no Donbass, para onde se dirigem. Ao interpretar a manobra russa dessa maneira, concordo com a interpretação oferecida por “Marinus”, provavelmente o pseudónimo do tenente-general (ret.) Paul Van Riper.

Em três ou quatro semanas, a manobra de diversão russa foi bem-sucedida. No final de março, as tropas russas que haviam realizado ataques secundários no Noroeste retiraram-se, enquanto o grosso das forças russas se desdobrou em praticamente todo o Donbass, infligindo pesadas perdas, especialmente materiais, ao exército ucraniano graças a um clara superioridade em poder de fogo de artilharia e foguetes. A ação militar russa evita cuidadosamente o envolvimento de civis, não toca nas infraestruturas de uso civil e militar (por exemplo, a rede elétrica) e, em última análise, assume a forma de “diplomacia armada”: os russos tentam obter, com pressão militar moderada, os objetivos que não foram alcançados com a crescente pressão diplomática de vários anos.

Até ao final de março de 2022, parece que a “diplomacia armada” russa pode ter sucesso: entre 24 de fevereiro e o final de março, sete reuniões diplomáticas são realizadas entre a Rússia e a Ucrânia e, no final de março, o presidente Zelensky declara oficialmente a jornais russos independentes que está pronto para negociar a neutralidade da Ucrânia e a solucionar o problema das populações de língua russa de Donbass.

Primeira escalada política ocidental

Mas, em 7 de abril de 2022, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, visita o presidente ucraniano e declara oficialmente que a Ucrânia ”contra as probabilidades, desafiou e empurrou as forças russas para fora das portas de Kiev, realizando a maior façanha de combate do século XXI”. A partir desse momento, cessaram todas as relações diplomáticas entre a Ucrânia e a Federação Russa.

A interpretação ocidental “aquela pequena Ucrânia derrotou a grande Rússia no campo de batalha” é baseada numa leitura das primeiras semanas da guerra que é radicalmente diferente daquela que propus acima.

De acordo com esta interpretação, o objetivo russo teria sido a tomada de Kiev e a “mudança de regime”, o derrube do governo ucraniano e a sua substituição por um governo fantoche pró-Rússia, e os ataques no noroeste seriam ataques principais fracassados, não ataques secundários fazendo parte de uma ampla manobra de diversão. É uma interpretação possível, que, se verdadeira, denuncia uma grave insuficiência militar e política da Federação Russa: é impossível atingir objetivos tão ambiciosos com um desdobramento tão reduzido de forças e uma intensidade tão baixa do conflito.

As facções mais extremistas do campo ocidental e do governo ucraniano confiam cegamente nessa interpretação dos eventos militares, sejam elas corretas ou incorretas, genuínas ou enganosas. No Ocidente cristaliza-se a certeza oficial de que é possível infligir uma derrota militar decisiva à Rússia, sendo por isso realista propor objectivos estratégicos maximalistas, como a sangria da Rússia e a sua desestabilização política, tanto por pressão militar como por pressão económica através de sanções e a ativação de forças centrífugas. O objetivo final: a expulsão da Rússia das fileiras das grandes potências, o estabelecimento de um governo pró-ocidental e possivelmente a fragmentação política da Federação Russa.

Esses objetivos maximalistas foram reivindicados oficialmente em 24 de abril pelos secretários de Estado e de Defesa dos Estados Unidos. Assim, os países europeus e da NATO, exceto a Turquia e a Hungria, alinham-se sem escrúpulos e votam, por maioria parlamentar esmagadora, por duras sanções económicas à Rússia e remessas de armas para a Ucrânia. A Suécia e a Finlândia, historicamente neutras, anunciam sua intenção de se tornarem membros da NATO. A “diplomacia armada” russa falhou.

SEGUNDA FASE DA GUERRA (PRIMAVERA – MEADOS DO VERÃO DE 2022). CONQUISTA RUSSA DE DONBASS. A CONDIÇÃO DE POSSIBILIDADE DE VITÓRIA PARA A UCRÂNIA.

A conquista russa de Donbass continua com sucesso, com confrontos urbanos altamente violentos, de casa em casa em Mariupol e em outros lugares. As tropas russas presentes na linha de contato com o inimigo são principalmente as milícias Donbass, as formações de voluntários chechenos e o grupo Wagner. As formações do exército regular russo atuam principalmente (não só) no apoio, com artilharia, mísseis e comando operacional. A ação militar russa não tem como alvo a infraestrutura civil e militar (de uso duplo) da Ucrânia.

A proporção de perdas ucranianas para russas é claramente desfavorável aos ucranianos, tanto por causa do poder de fogo russo superior, quanto porque as operações militares ucranianas são fortemente influenciadas pela necessidade de justificar, aos governos ocidentais e à opinião pública, o colossal e quase unânime apoio político e financeiro à Ucrânia, apoio que tem sérias repercussões políticas e económicas nos países europeus, especialmente na Alemanha, que se vê excluída do fornecimento de energia russa barata, na qual baseia há décadas, a sua prosperidade.

Em suma, os ucranianos são obrigados a “vender” resultados no terreno, resistência inflexível e agressividade constante. Esta é a sustentabilidade política do indispensável apoio ocidental: a perspectiva de uma futura vitória militar ucraniana sobre a Rússia.

Claro, a corajosa resistência ucraniana não pode ser atribuída apenas a isso: para grande parte da população, o conflito com a Rússia transformou-se numa guerra de libertação nacional, que é complementada por uma guerra civil e uma guerra por procuração dos Estados Unidos. Estados Unidos/NATO contra a Rússia

A condição de possibilidade de uma vitória militar ucraniana

No entanto, a condição para a possibilidade de uma vitória militar decisiva da Ucrânia sobre a Rússia é baseada numa suposição.

É um pressuposto que funciona como princípio ordenador da estratégia de dissuasão desenvolvida pelo general francês Gallois: tornar a relação custo/benefício da vitória sobre a potência mais fraca desfavorável para a potência mais forte.

De acordo com a tese de Gallois, se uma grande potência nuclear atacasse a França, certamente poderia destruir o país completamente, mas a ativação de sua força nuclear infligiria danos politicamente inaceitáveis ​​para a potência mais forte.

Resumindo: para vencer, o poder mais fraco deve assegurar que a vitória do poder mais forte não lhe custe uma guerra total inaceitável. A Ucrânia é fraca, a Rússia é forte.

Mesmo com a ajuda ocidental, os recursos estratégicos da Ucrânia (população, poder económico latente, poder militar manifesto, tropas mobilizadas e mobilizáveis, profundidade estratégica) ainda são em ordem de grandeza inferiores aos recursos estratégicos da Rússia, porque a Rússia tem 145 milhões de pessoas, pode mobilizar até 25 milhões de homens, possui enormes recursos naturais e capacidade de transformá-los, uma grande base militar-industrial e uma profundidade estratégica de 11 fusos horários. (“Profundidade estratégica” é o espaço dentro do qual um exército atacado pode recuar, se reorganizar e contra-atacar, assim como os soviéticos fizeram após a devastadora série de avanços da Wehrmacht no início da Operação Barbarossa.)

Repito: uma potência muito mais fraca pode vencer uma potência muito mais forte apenas se tornar o custo/benefício da vitória desfavorável para a potência forte.

Foi assim que o Vietname e o Afeganistão derrotaram os Estados Unidos (foi assim também que os afegãos derrotaram a URSS). O que aconteceu é que se essas duas grandes potências tivessem decidido comprometer totalmente os seus ativos estratégicos, o Vietname e o Afeganistão não poderiam ter evitado a derrota total. Mas os EUA e a URSS não o fizeram porque consideraram que uma guerra desse tipo era politicamente insustentável: perdas muito altas, compromisso político, económico e militar de longo prazo inaceitável, crescente oposição interna à guerra, etc. Em suma, os EUA e a URSS decidiram perder porque avaliaram que, para eles, a relação custo/benefício da derrota era mais vantajosa do que a relação custo/benefício da vitória.

O que está em jogo para a Rússia

Mas hoje os objetivos estratégicos declarados oficialmente pelo governo americano e relançados pela NATO e pelos países europeus são objetivos maximalistas: sangramento e enfraquecimento permanente do poderio económico e militar da Rússia, desestabilização do governo, ativação de forças centrífugas dentro da Federação Russa, expulsão de Rússia da lista de grandes potências, possível fragmentação territorial. Particularmente aterrorizante para a Rússia – que historicamente se constituiu como um império multiétnico, multinacional e multirreligioso – é a possibilidade de ativação de forças centrífugas étnicas, religiosas e nacionais, num cenário semelhante ao da Jugoslávia na década de 1990.

Em suma, os objetivos declarados do Ocidente constituem uma ameaça existencial ao governo, estado, sociedade e nações russas. Assim, a liderança russa convenceu-se de que apostas absolutas estão em jogo na guerra da Ucrânia e, portanto, estão dispostas a fazer literalmente qualquer coisa para a vencer, e repetidamente o têm dito oficialmente. Na verdade, eles estarão dispostos, até compelidos, a fazer pleno uso de todos os recursos estratégicos russos para vencer a guerra: vencer a Ucrânia e, eventualmente, se for um conflito direto, vencer também a NATO.

Assim, a condição de possibilidade de uma futura vitória ucraniana é eliminada: que para a Rússia a vitória sobre a Ucrânia não valeria uma guerra até ao amargo fim da vitória. Para conquistar o “mundo russo”, a Ucrânia e seus aliados ocidentais teriam que obter uma vitória decisiva sobre uma Federação Russa disposta, ou melhor, forçada a comprometer plenamente, pelo tempo que for necessário, todos os seus recursos estratégicos: em suma, eles deveriam fazer a Rússia capitular.

Ao mesmo tempo, os EUA e seus aliados ocidentais, ao se comprometerem publicamente com objetivos maximalistas, estão fechando o espaço de manobra da diplomacia e a aumentar as apostas políticas das suas classes dominantes, que correm o risco de serem varridas pela derrota; apesar de um resultado desfavorável da guerra não prejudicar, como tal, os interesses vitais de suas nações, nenhuma das quais corre o risco de desestabilização após uma derrota ucraniana.

A única nação do campo ocidental que arrisca tudo é a Ucrânia, que só pode esperar terríveis desastres com a continuação da guerra e provável derrota.

TERCEIRA FASE DA GUERRA (FIM DO VERÃO – OUTONO DE 2022). SUCESSO DA CONTRA-OFENSIVA UCRANIANA . ESCALADA POLÍTICA RUSSA: ANEXAÇÃO DE QUATRO PROVÍNCIAS DE DONBASS. ESCALADA MILITAR RUSSA: BOMBARDEIO DE ALVOS MILITAR E CIVIL DE USO DUPLO. GUERRA DE MANOBRA E GUERRA DE ATRITO.

As forças russas estão estacionadas em Donbass, ocupando quase 20% de todo o território ucraniano e posicionadas numa frente de, aproximadamente, 1.500 km. Reorganiza-se o aparelho militar ucraniano, alarga-se a mobilização convocando os reservistas e estendendo-se o serviço militar obrigatório até aos 60 anos, abastece-se de novas armas ocidentais (em grande parte de material ex-soviético) para substituir as destruídas na anterior fases do conflito, o país é intervencionado por um envolvimento mais intenso do estado-maior da NATO e por uma estruturação mais capilar das funções ISR (Inteligência, Vigilância e Reconhecimento)… e em setembro de 2022 lança uma contra-ofensiva, tendo como alvo principal Kharkiv.

A contra-ofensiva ucraniana é bem-sucedida. Os russos tiveram de recuar ao longo de toda a frente, recuando mais ou menos em ordem. Motivo: o cobertor russo é muito curto. As unidades russas conquistaram vastos territórios que não podem manter com o pequeno número de tropas envolvidas na “operação militar especial”. Devem, pois, resistir retirando-se o mais ordenadamente possível, encurtar a frente, reduzir os territórios a defender e fortificá-los para neles se instalarem, reconfigurar o dispositivo militar e reforçá-lo.

A Rússia ajusta-se à nova realidade no terreno. O comandante-geral das operações na Ucrânia, general Surovikin, propõe à Duma, que vota por unanimidade, a mobilização parcial de 300 mil reservistas. Também estão mobilizadas as indústrias militares, que trabalharão em três turnos de oito horas.

Escalada política russa: anexação dos quatro oblasts de Donbass

O governo propõe à Duma, que também votou por unanimidade em outubro, a anexação de quatro oblasts de Donbass: as regiões de Donetsk, Lugansk, Zaporizhzhya e Kherson, após um plebiscito organizado pelas autoridades russas de ocupação.

É a escalada política mais decisiva de toda a guerra, porque com ela a Rússia deita para trás das costas qualquer hesitação e implicitamente anuncia a sua firme disposição de comprometer todos os seus recursos estratégicos até ao fim para obter a vitória sobre a Ucrânia e seus aliados. Para que a Rússia se retire da anexação, devolvendo à Ucrânia os territórios que formalmente se tornaram território nacional da Federação Russa, a Ucrânia e seus aliados teriam que infligir uma derrota decisiva a toda a Federação Russa e fazê-la capitular.

Escalada militar russa. Bombardeio de propósito duplo de alvos militares e civis

A Rússia reconfigura o dispositivo militar em torno da unidade de comando e consolida a frente, enquanto a mobilização dos reservistas ocorre no meio de diversas dificuldades (é a primeira mobilização em oitenta anos e o aparato administrativo e logístico russo não está pronto; milhares dos russos atravessam as fronteiras para evitar o recrutamento).

O Comandante General Surovikin decide sobre escalada militar. Pela primeira vez, alvos civis e militares de uso duplo, em particular a rede elétrica ucraniana, mas também infraestruturas gerais como ferrovias, fábricas, depósitos de material militar e civil, etc., são afetados por uma série incessante de bombardeios de mísseis. A Rússia não ataca civis, mas ao atacar a infraestrutura causa sérios transtornos à população, põe em risco o curso normal da vida quotidiana e, obviamente, causa “danos colaterais”, vítimas civis atingidas por engano pelos seus mísseis e pelo fogo antiaéreo ucraniano.

O general Surovikin também toma a decisão, politicamente difícil e impopular mas correta, de abandonar Kherson, um importante centro formalmente anexado ao território nacional russo, e retirar as tropas que o ocupam para a margem sul do rio Dnieper. A decisão operacional permite não desperdiçar forças evitando uma contra-ofensiva num ponto sensível, mas concentrar esforços no Donbass. Isso levará a resultados concretos benéficos no campo de batalha.

Guerra de manobra, guerra de desgaste. O exemplo histórico da Operação Barbarossa

A “guerra de manobra”, em alemão Bewegungskrieg (guerra de movimento), é o oposto simétrico da “guerra de atrito”, Stellungskrieg, (guerra de posição). Cada guerra combina, em porcentagens diferentes, manobra e desgaste. A guerra de atrito visa desgastar gradualmente as capacidades de combate do inimigo com a aplicação sustentada e constante da força superior. A guerra de manobra visa destruir rapidamente as capacidades de combate do inimigo, criando e explorando habilmente o Schwerpunkt, ou seja o ponto de viragem vital mais fracamente defendido da formação inimiga, contra o qual um ataque rápido e decisivo é lançado.

A vantagem da manobra sobre o desgaste parece óbvia: a manobra oferece a possibilidade de uma vitória rápida e decisiva, mas também ameaça a possibilidade de uma derrota igualmente rápida e decisiva, porque atacar é sempre arriscado e o inimigo sempre pode responder.

Como aponta Clausewitz, não existe “ciência da vitória”, e a lógica que rege a guerra não é linear mas paradoxal, como ilustra o ditado romano “si vis pacem para bellum” (se queres a paz prepara-te para a guerra). A guerra de manobras é utilizada por exércitos que sofrem uma clara desvantagem na guerra de desgaste: são exércitos menos numerosos, com capacidades materiais ou logísticas inferiores às do inimigo.

Nesta fase do conflito ucraniano, que nas duas fases anteriores viu uma combinação de manobra e desgaste, a guerra estabiliza-se na forma de uma “guerra de atrito”, o tipo de conflito onde mais pesa a disparidade de recursos estratégicos entre os contendores. De fato, na guerra de atrito, o que mais conta para a vitória é a capacidade de fornecer forças humanas e materiais de forma sustentável. É onde a Rússia tem a maior vantagem sobre a Ucrânia.

A vantagem russa é reforçada por um fato político essencial: a Ucrânia é totalmente dependente do apoio ocidental, e os líderes ocidentais devem justificar o crescente custo político e económico desse apoio para a opinião pública e para o seu eleitorado. Assim, os ucranianos são obrigados, por motivos políticos, a enviar constantemente tropas, mesmo insuficientes ou despreparadas, para a linha de contacto com os russos, mantendo vivo o conflito, renovando no Ocidente a admiração pela sua resiliência e alimentando a convicção de que a vitória final da Ucrânia é possível.

Do ponto de vista militar, os ucranianos deveriam realmente fazer uma pausa, reorganizar as suas reservas, reforçá-las e treiná-las, e economizar homens e equipamentos para futuras contra-ofensivas. Com efeito, uma potência com recursos estratégicos claramente inferiores ao seu inimigo só pode esperar derrotá-lo com uma hábil, agressiva e rápida guerra de manobra, especialmente rápida: numa guerra de atrito, o tempo corre a favor da potência com maiores recursos estratégicos.

Foram essas considerações fundamentais que ditaram a maneira como o poder militar prussiano, e posteriormente alemão, se desenvolveu e organizou, ou seja, na Prússia estavam os mestres da guerra de manobra agressiva e rápida.

Historicamente, tanto a Prússia quanto a Alemanha tiveram que lidar com a sua própria situação geopolítica: exposição em várias frentes no centro da Europa, fronteiras desprotegidas por obstáculos naturais, recursos naturais e humanos limitados; e, portanto, decidiram resolver esta difícil equação desenvolvendo um aparato militar altamente preparado para travar guerras de manobra rápida com grande agressividade e habilidade. Exemplos dos sucessos do estilo germânico são a magistral Blitzkrieg contra a Polónia e a França na Segunda Guerra Mundial.

No entanto, o fracasso da Operação Barbarossa também é exemplar. A Alemanha invadiu a URSS, obtém vitórias esmagadoras por seis meses, mas não consegue causar o colapso político e social do inimigo e chega ao limite das suas capacidades logísticas. A URSS não capitula, ela reorganiza-se e passa a gerar forças humanas e materiais cada vez maiores e superiores às forças que a Alemanha é capaz de gerar. Serão quatro anos de amargo conflito, mas o destino da Alemanha está selado.

Deve notar-se que na época da Operação Barbarossa todos os Estados-Maiores do mundo, deslumbrados com os esplêndidos sucessos alemães, deram como certa a vitória da Wehrmacht. Mas isso só poderia ter acontecido se a URSS tivesse entrado em colapso após os primeiros meses de derrotas devastadoras. A Operação Barbarossa foi, portanto, uma arriscada aposta estratégica, em que a vitória final dependia inteiramente do colapso da coesão política, militar e social do inimigo. O Alto Comando Alemão, por sua vez, não levou em conta tanto os recursos estratégicos da URSS quanto, e sobretudo, a sua capacidade de gerar novas forças, durante o tempo necessário para encerrar a guerra. vitoriosamente.

É o mesmo tipo de erro que o alto comando ocidental cometeu neste conflito ucraniano.

Eles subestimaram enormemente os recursos atuais da Rússia: esse erro da inteligência militar ocidental explica as constantes alegações de que “a Rússia está prestes a ficar sem reservas de mísseis e projéteis de artilharia”. Esse tipo de desinformação tem-se tornado cada vez mais grotesco e desconectado da realidade; o Ocidente subestimou seriamente a capacidade da Rússia de gerar novas forças humanas e materiais a curto e médio prazo: daí a avaliação incorreta do impacto das sanções económicas sobre a Rússia, erroneamente acreditada; eles também subestimaram seriamente a coesão política e social da estrutura russa, a sua vontade de lutar e de se mobilizar: isso também explica os anúncios cada vez mais ridículos de um derrube iminente do governo russo por setores da classe dominante.

QUARTA FASE DE TRANSFORMAÇÃO DA GUERRA (FIM DO OUTONO 2022 – INVERNO 2022/23). DUAS FACÇÕES NA LIDERANÇA DOS EUA: ESCALADA OU DESCALADA? TRÊS FACTOS SIGNIFICATIVOS. ESTIMATIVAS DE PERDAS PARA UCRÂNIA E RÚSSIA. PREVISÕES. A DUPLA ARMADILHA ESTRATÉGICA

Considero a fase atual da guerra transformadora porque só nesta fase vem à tona a sua natureza de dupla armadilha estratégica. Na quarta fase da guerra, três eventos significativos ocorrem.

Sabotagem Northstream 2

Em novembro de 2022, uma sabotagem submarina desativou o Northstream 2, o gasoduto construído para transportar metano russo para a Alemanha através do Mar Báltico, contornando a Ucrânia. A investigação imediatamente parou, devido à impossibilidade política de identificar os autores: de facto, a lógica sugere que os Estados Unidos são os responsáveis ​​​​pelo ataque.

A operação é provavelmente o resultado de uma colaboração entre a Marinha Real, as forças especiais britânicas e polacas. Motivo da sabotagem: a classe dominante alemã está cada vez mais preocupada com os efeitos desastrosos de longo prazo (desindustrialização progressiva da Alemanha) e a cessação do fornecimento barato de energia russa.

A sabotagem do gasoduto é um verdadeiro ato de guerra contra a Alemanha, destinado a intimidá-la a alinhar-se sem hesitação com a estratégia de oposição frontal à Rússia decidida pelos Estados Unidos. A intimidação é bem-sucedida. A Alemanha está intimidada. O único estado europeu que não adere à linha americana é a pequena Hungria; na NATO, o único estado com alto grau de autonomia política é a Turquia.

Declarações públicas do general Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA

Em novembro, e novamente em dezembro de 2022, o general Mark Milley, presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, emite declarações públicas informais, pedindo a abertura de negociações diplomáticas com a Rússia e afirmando que “não se pode pedir mais aos ucranianos”.

Os comentários improvisados ​​de Milley são uma indicação clara de que duas grandes facções estão em desacordo nos centros de tomada de decisão dos EUA: uma centrada no establishment bipartidário da política externa, a favor da continuação da guerra na Ucrânia até ao fim; e outra, articulada no Pentágono, a favor da desescalada do conflito.

O facto de Milley comunicar publicamente suas posições mostra que, no debate dentro da Administração dos Estados Unidos, a posição do Pentágono é minoritária, e que o choque entre as duas posições é muito amargo.

Como prova adicional da existência desses dois alinhamentos dentro da liderança americana, um estudo muito recente publicado pela RAND Corporation ( Evitando uma longa guerra: a política dos EUA e a trajetória do conflito Rússia-Ucrânia ), analisa, do ponto de vista de o interesse nacional dos EUA, os custos de um prolongamento da guerra na Ucrânia, e recomenda a desescalada e o estabelecimento cauteloso de um processo diplomático que leve a uma conclusão negociada do conflito. A RAND Corporation é um importante e prestigioso think tank que desde sua fundação realiza análises e projetos, sobretudo para o Pentágono.

Reconfiguração da estrutura de comando russa, anúncio da reforma das forças armadas russas

Em janeiro de 2023, o governo russo reconfigurou o comando militar das operações na Ucrânia e anunciou uma reforma estrutural mais geral de suas Forças Armadas. O soldado russo de mais alta patente, General Gerasimov, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Russas, recebe o comando geral das operações na Ucrânia, enquanto o General Surovikin reassume o seu papel anterior como Comandante das Forças Aeroespaciais.

O governo restaura os distritos militares de Moscovo e de Leninegrado, ordena a formação de um novo grupo do exército na Carélia, na fronteira finlandesa, e a criação de doze novas divisões do exército. Também anuncia que até 2026 aumentará o tamanho de seus meios militares permanentes, elevando-os para 1,5 milhão de homens.

Os principais líderes russos começam a declarar publicamente que a guerra em curso na Ucrânia é, de facto, uma guerra entre a Rússia e a NATO. Essas declarações públicas sem precedentes também têm, como sempre na guerra, valor de propaganda interna, mas interpretadas à luz das reformas militares em curso, sugerem, com alto grau de plausibilidade, que os governantes russos estão a preparar-se para o pior cenário, ou seja, para uma intervenção direta das forças ocidentais no conflito ucraniano.

A guerra de desgaste continua. Estimativas de perdas ucranianas e russas

Enquanto isso, a guerra de desgaste continua em solo ucraniano. Os ataques com foguetes contra a infraestrutura civil e militar de uso duplo da Ucrânia continuam. O dispositivo militar russo é consolidado nas posições defensivas ocupadas e fortalecidas após a retirada.

A formação dos reservistas reformados continua e é aperfeiçoada, e a logística adapta-se gradualmente à chegada dos reforços e à continuação dos intensos e constantes ataques de mísseis. Os departamentos russos lançam ataques incrementais contra as linhas defensivas ucranianas, com uso reduzido de tropas e fogo de artilharia intenso e prolongado, para limitar ao máximo as suas perdas. Os ucranianos, continuam presos à necessidade política de atacar o mais rápido possível, para justificar o apoio ocidental,

É impossível, enquanto durar a guerra, ter dados confiáveis ​​sobre as perdas. Enquanto escrevo, no final de janeiro de 2023, fontes ocidentais como a Strategic Forecasting, uma importante agência de inteligência que frequentemente colabora com a CIA, falam de mais de 300.000 ucranianos mortos e perdas irrecuperáveis ​​totais de cerca de 400.000 homens.

As estimativas ocidentais não oficiais mais recentes de perdas russas irrecuperáveis ​​falam de 20.000 mortos e 30.000 feridos graves. Mesmo com todas as precauções necessárias, é bem provável que a relação entre as perdas da Ucrânia e as perdas da Rússia esteja entre 10:1.

Nas grandes batalhas da Segunda Guerra Mundial, a taxa de baixas entre o perdedor e o vencedor girava em torno de 1,3 – 1,5 para 1. O exército ucraniano não parece capaz de preparar uma contra-ofensiva em grande escala num futuro próximo: por ter sofrido um elevado número de baixas, especialmente oficiais veteranos e suboficiais; pela escassez de material bélico, apesar dos renovados carregamentos de armas ocidentais; pela crescente desorganização das estruturas de comando militar; e, pela degradação crescente e progressiva das condições económicas e sociais de toda a Ucrânia.

Eleições operacionais do Alto Comando Russo. Previsões.

Em síntese, na quarta fase da guerra começa a ficar claro que o aparato militar russo alcançou, ou está prestes a atingir, as condições necessárias e suficientes para dar ao conflito o rumo desejado por seu comando militar e político.

Claro, apenas o Alto Comando Russo sabe qual é esse rumo, mas atualmente parece ser capaz de:

Um: continuar a guerra de desgaste, aplicando constantemente a sua força superior no aparato militar ucraniano e em toda a sociedade e economia ucranianas: economizando assim o seu recurso mais precioso, os homens. Os homens são o ativo mais valioso da Rússia politicamente, por razões óbvias reforçadas pelas próximas eleições presidenciais russas de 2024. Eles também são o ativo mais valioso da Rússia militarmente, e especialmente os veteranos, que precisam treinar reservistas, nenhum dos quais com experiência direta em cargos tão elevados. guerra de intensidade (ninguém no mundo a tem exceto aqueles que nela participaram, de um lado ou do outro).

Dois: Partir para a ofensiva em larga escala, numa ou mais linhas. Objetivos estratégicos previsíveis, aniquilação progressiva da capacidade de combate do exército ucraniano; a reconquista das porções territoriais dos quatro oblasts anexados à Rússia e tomados pela Ucrânia após a retirada russa; a ocupação e a anexação de Odessa e de todo o território de Novorossiya à Rússia, a fim de excluir a Ucrânia do acesso ao mar.

Provavelmente, nas avaliações do alto comando russo estão presentes, e não em segundo plano, as previsões da reação ocidental a uma e outra decisão operacional russa. Continuar a guerra de desgaste permite que os líderes ocidentais adiem decisões político-estratégicas sobre escalada ou desescalada e provavelmente beneficiará a facção pró-desescalada, dando-lhe tempo para se organizar melhor, encontrar aliados, divulgar os seus argumentos.

Passar à ofensiva os força a escolher rapidamente, muito rapidamente, se o ataque pretende ter um êxito claro. A facção dos EUA a favor da desescalada continua sendo uma minoria: a situação no terreno favorece-a, mas carece do apoio aberto de pelo menos um dos mais importantes aliados europeus.

Na minha opinião, é vantajoso para a Rússia evitar uma aceleração do conflito, tanto pelos riscos de fracasso quanto pelos custos humanos – sempre associados a ações ofensivas de grande escala. Isso pode mudar por decisão do “partido da guerra” que, aproveitando um choque emocional, poderia iniciar uma participação direta e formal das forças ocidentais no campo de batalha, por exemplo, com a ação de uma “coligação de vontades” proposta em novembro de 2022 pelo General (ret.) David Petraeus. Ou seja, com tropas polacas, romenas, bálticas, que interviriam sob suas próprias bandeiras, mas não como membros da NATO, a partir de um pedido de ajuda militar do governo ucraniano: uma manobra legal para evitar o conflito direto entre a NATO e a Rússia,

Então, se eu tiver que arriscar um palpite, diria que a Rússia continuará a guerra de desgaste por muito mais tempo.

Vitória decisiva apenas para a Ucrânia. Vitória decisiva com intervenção ocidental direta. chance e probabilidade

Em suma, um ano após o início da guerra, está claro que uma vitória militar decisiva da Ucrânia sobre a Rússia é materialmente impossível, mas a ajuda ocidental pode continuar, ou mesmo aumentar, nas suas formas atuais. A situação só pode mudar com a participação direta das tropas ocidentais.

No entanto, surgiram dúvidas entre as lideranças político-militares ocidentais de que uma participação direta das tropas ocidentais na guerra não seria suficiente para garantir uma vitória decisiva sobre a Rússia. Acima de tudo, as dúvidas são militares: é por isso que a facção dos EUA a favor da desescalada se sedia no Pentágono.

Razões:

A atual estrutura militar da NATO, incluindo os Estados Unidos, não está projetada e preparada para uma guerra convencional de alta intensidade contra um inimigo capaz de travá-la, como a Rússia. Desde o fim da Guerra Fria, todas as nações da NATO reduziram drasticamente as suas forças militares, desmantelaram grande parte das suas instalações logísticas, direcionaram a construção e treino das suas forças armadas e a produção das suas indústrias militares para conflitos de curta duração contra inimigos. geralmente pertencentes ao “Grande Sul do mundo”; uma decisão inteiramente razoável, até que a NATO se opôs à Rússia, que de fato não a ameaçou de forma alguma.

A Rússia, por sua vez, estruturou as suas forças armadas e a sua indústria militar com vista a uma guerra defensiva contra a NATO, tradição histórica de um país que sempre teve de enfrentar e repelir grandes invasões ao seu território. Até agora privilegiou a defesa de último recurso, a tríade nuclear mas, como prova a guerra na Ucrânia, não abandonou a preparação convencional e está a reforçá-la. Ela também ganhou uma relativa superioridade sobre os Estados Unidos em áreas cruciais, como mísseis e defesa aérea. Leva-se anos a compensar tal deficiência.

Um rearmamento ocidental é muito difícil, o seu resultado incerto, os tempos longos. O financiamento, mesmo o crowdfunding, não chega: o dinheiro só compra o que já existe, e o que já existe não chega. Para fazer existir o que falta, é preciso primeiro determinar politicamente a estratégia de segurança coletiva da NATO, processo muito complicado e difícil também pela fragmentação dos centros de decisão.

Se o principal inimigo da NATO é a Rússia, é essencial, no mínimo e apenas para começar: construir um grande número de caças-bombardeiros para serem usados ​​em apoio à infantaria, e capazes de sobreviver às defesas antimísseis russas; construir a infraestrutura logística necessária para uma grande projeção de forças em caso de crise, com o planeamento correspondente; lançar um grande programa de defesa antiaérea integrada do território europeu; lançar um vasto programa de recrutamento e formação de tropas, especialmente oficiais e suboficiais.

Neste sentido, há que ter em conta que a renúncia por parte dos países da NATO ao serviço militar obrigatório tem levado à perda de enormes reservas treinadas a que se pode recorrer em caso de necessidade. Basicamente, no caso de uma guerra que nos envolva (por muito tempo e com perdas significativas), mobilizações como as convocadas por Moscovo e pela Ucrânia são quase impossíveis nos países da Europa Ocidental. É bom ter em mente que a renúncia de recrutamento por parte de todos os países da NATO levou à perda de enormes reservas treinadas, às quais se poderia recorrer em caso de necessidade.

Obviamente, o envolvimento direto do Ocidente na guerra impediria os Estados Unidos de se concentrarem em conter a China, solidificaria a aliança desta última com a Rússia, exporia os Estados Unidos a uma possível guerra em duas frentes contra duas grandes potências nucleares e aumentaria progressivamente o risco das armas nucleares aparecerem no conflito.

Quanto mais direto e intenso for o conflito convencional entre as duas grandes potências nucleares como a Rússia e os Estados Unidos, mais provável é que o contendor que acredite estar sujeito a uma provável derrota decisiva, considere seriamente o uso de armas nucleares.

Igualmente óbvio, num conflito direto entre as forças ocidentais e a Rússia, as baixas ocidentais chegariam a dezenas de milhares, um custo humano difícil de justificar politicamente.

Uma armadilha dupla estratégica

Com a expansão da NATO para o Leste, e insistindo em incluir a Ucrânia, os Estados Unidos armam uma armadilha estratégica à Rússia, obrigando-a a escolher entre duas alternativas, ambas muito perigosas a médio e longo prazo: aceitar a proibição de ter uma esfera de influência e aceitar a presença ameaçadora de uma fortaleza militar ocidental no limiar da Rússia européia; ou intervir militarmente, assumindo o grave risco de um conflito com a NATO, e comprometendo as suas próprias relações políticas e económicas com a Europa. Esta é a primeira “mandíbula” da armadilha estratégica em que a Rússia entrou de olhos abertos, depois de quatorze anos tentando evitá-la.

No entanto, os Estados Unidos subestimaram seriamente as capacidades de reação e resistência militares, económicas, políticas e sociais da Federação Russa e também superestimaram tanto o prestígio dissuasor de sua força quanto a sua atual capacidade e potencial militar e económico. Portanto, eles são forçados a escolher entre duas alternativas, ambas muito perigosas a médio e longo prazo.

A primeira alternativa é a redução de danos, uma desescalada do conflito ucraniano que se traduz numa clara derrota político-diplomática, um forte descrédito dissuasivo, a possível abertura de uma crise por falhas no sistema de alianças e graves retrocessos políticos internos, por exemplo, uma grave deslegitimação geral da classe dominante.

A segunda alternativa é a fuga para a frente, uma escalada total do conflito, com a possível – na verdade provável, porque necessária – participação direta das tropas ocidentais; o risco de uma guerra convencional de alta intensidade para a qual os Estados Unidos e a NATO não estão preparados; o possível envolvimento futuro do território nacional dos Estados Unidos e, em perspectiva, a crescente possibilidade de uma degeneração nuclear do conflito.

A segunda “mandíbula” dessa dupla armadilha estratégica está agora a fechar-se para os estrategas americanos que a implementaram: eles entraram com os olhos fechados e só agora começam a vê-la.

Athes, a deusa que cega os líderes, a princípio os seduz com gestos amigáveis, mas depois os arrasta para redes onde não há esperança de fuga para eles” (Ésquilo, Os Persas, 96-100).

Podem encontrar o artigo original em: https://observatoriocrisis.com/2023/02/02/resumen-razonado-de-un-ano-de-guerra-en-ucrania/


Nota

[1] Charap, Samuel e Miranda Priebe, Evitando uma longa guerra: a política dos EUA e a trajetória do conflito Rússia-Ucrânia. Santa Monica, CA: RAND Corporation, 2023. https://www.rand.org/pubs/perspectives/PEA2510-1.html

Resumo do trabalho da Organização Rand: “A discussão da guerra russo-ucraniana em Washington é cada vez mais dominada pela questão de como ela pode terminar. Para informar essa discussão, essa perspectiva identifica as maneiras pelas quais a guerra poderia evoluir e como trajetórias alternativas afetariam os interesses dos EUA.

Os autores argumentam que, além de minimizar os riscos de uma escalada séria, os interesses dos EUA seriam mais bem atendidos ao evitar um conflito prolongado. Os custos e riscos de uma guerra prolongada na Ucrânia são significativos e superam os benefícios potenciais de tal trajetória para os Estados Unidos. Embora Washington não possa determinar a duração da guerra em si, pode tomar medidas que tornem uma eventual conclusão negociada para a guerra mais provável. conflito. Baseando-se na literatura sobre o fim da guerra, os autores identificam os principais obstáculos para as negociações Rússia-Ucrânia como otimismo mútuo sobre o futuro da guerra e pessimismo mútuo sobre as implicações da paz. A perspectiva destaca quatro ferramentas políticas que os Estados Unidos poderiam usar para mitigar esses obstáculos.


portugueseman.blogspot.com (08fev2023)

Guerra Global: O Ataque ao ‘Nord Stream’


Este blogue está muito focado nos conflitos energéticos entre grandes potências. E sempre dediquei bastante atenção aos novos gasodutos Nord Stream/South Stream/Turquish Stream.

Na conclusão do Nord Stream 2, suspeitei que fosse o início de muita coisa e falei sobre isso em 2021 (Nord Stream 2: A Conclusão Dos Pipelines Para a Europa). Esta ligação é estratégica entre a Rússia e a Alemanha. Demasiado estratégica para os gostos dos EUA.

A partir da conclusão deste pipeline, temos o ultimato da Rússia aos EUA, o início da guerra na Ucrânia e posteriormente o ataque aos gasodutos.

As investigações sobre o ataque passaram a ter resultados secretos. Se alguns países conseguiram identificar os países envolvidos estão de boca selada. Razão? É um acto de guerra. Alguém cometeu um acto de guerra contra a Alemanha e a Rússia. Convém lembrar que a Rússia é uma super-potência nuclear e alguém arrisca-se, caso seja identificado a estar em guerra com uma super-potência.

Eu falei sobre isto e sobre as minhas suspeitas no post Guerra Na Europa: O Ataque À Alemanha e rematei com o seguinte:

Possivelmente, dia 26 de Setembro de 2022, marca o início de uma nova grande guerra na Europa.

Hoje, um jornalista de renome e que no passado descobriu uma série de escandalos sobre acções americanas lança uma bomba sobre o assunto.

How America Took Out The Nord Stream Pipeline

The New York Times called it a “mystery,” but the United States executed a covert sea operation that was kept secret—until now...

[Link]

A coisa deverá estar a ser levada a sério, pois a Casa Branca, já correu a dizer que é falso.

White House says blog post on Nord Stream explosion 'utterly false'

The White House on Wednesday dismissed a blog post by a U.S. investigative journalist alleging the United States was behind explosions of the Nord Stream gas pipelines as "utterly false and complete fiction."

Reuters has not corroborated the report, published by U.S. investigative journalist Seymour Hersh, which said an attack was carried out last September at the direction of President Joe Biden...

[Link]

Jornalista de investigação diz que Marinha dos EUA fez explodir Nord Stream

As alegações de Seymour Hersh foram desmentidas pela Casa Branca. Os dois gasodutos que ligam a Rússia à Europa Central sofreram danos devido a explosões em Setembro...

... O trabalho de Hersh foi feito a partir de relatos de apenas uma fonte anónima “com conhecimento directo do planeamento operacional” da missão.

O jornalista ganhou notoriedade em 1970, quando revelou o massacre de My Lai, no Vietname, cometido pelas forças norte-americanas, pelo qual recebeu o Prémio Pullitzer. Mais recentemente, Hersh divulgou pormenores sobre os abusos de direitos humanos cometidos contra suspeitos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, operada pelos EUA.

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, disse que “a Casa Branca deve comentar todos estes factos”, referindo-se às alegações publicadas por Hersh...

[Link]

Isto tem o potencial de desatar alguns nós na actuação da Rússia. Se forem encontrados os sabotadores, a questão não será a reacção da Alemanha. A grande questão será a reação da Rússia para quem se atreveu a fazer isto.

E suspeito que a resposta terá que ser algo grande. Estratégicamente grande.

Daquelas que se podem perder o controlo sobre a evolução dos acontecimentos.

E que toda a gente sabe, no que costuma dar.

Definitivamente, um assunto a acompanhar.