por Diogo Gil Gagean
Corria o ano de 2014 quando o país foi surpreendido com a detenção de José Sócrates em pleno aeroporto de Lisboa. Para uns foi o culminar de uma serie de suspeições que incidiam sobre o ex-primeiro-ministro, para outros foi uma injustiça do tamanho do mundo.
Cabia à Justiça apurar qual dos dois sentimentos iria prevalecer no fim do denominado processo “Operação Marquês”. Tudo neste processo começou mal, desde a aparente sensação de que José Sócrates apenas foi detido para se investigar as suspeições que pendiam sobre ele, até à criação do muito em voga no nosso sistema judicial da “mega-operação”.
Só o nome “mega-operação” era suficiente para me deixar de pé atrás relativamente ao sucesso do processo judicial. Quando se junta muita coisa no mesmo saco é mais provável o saco romper e deixar cair todo o seu conteúdo. Vem este intróito a propósito da notícia da provável prescrição dos crimes de falsificação imputados a José Sócrates, já em 2024.
O juiz Ivo Rosa já deu indícios de que todo o processo está inquinado desde a sua nascença, quer tenha sido por sede de protagonismo, quer tenha sido por quezílias anteriores com o juiz Carlos Alexandre, a realidade é que Ivo Rosa deixou cair vinte e cinco dos crimes que o ministério público imputava a Sócrates. Aqui chegados temos duas hipóteses, ou confiamos na Justiça portuguesa ou não confiamos.
Por princípio confio sempre na Justiça portuguesa, mas quando sei que Ivo Rosa deixa na sua gaveta um recurso de José Sócrates durante mais de um ano, não perco a confiança na Justiça, mas sim nos homens que tem de a aplicar. O Conselho Superior da Magistratura deveria actuar pelo menos com a abertura de um processo de averiguações que invariavelmente não iria dar em nada, mas daria, pelo menos, a aparência do bom funcionamento das instituições.
Aqui chegados, não sabemos o que é pior: se Sócrates ter cometido os crimes de que é acusado, se é apenas uma perseguição da Justiça em prol de interesses ocultos. O que não pode acontecer é um ex-primeiro-ministro ser detido e depois nunca chegar a julgamento, seja por artimanha do seu poderoso exército de advogados, seja por incúria do ministério público ou por inacção dos magistrados judiciais…
O diabo
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