quinta-feira, 11 de julho de 2019

Mais carros, menos restauração. Como mudaram os padrões de consumo dos portugueses?

A forma como o Instituto Nacional de Estatística (INE) muda o cálculo da inflação ao longo dos anos permite perceber como evoluem os padrões de consumo dos portugueses. O Negócios analisou o período entre 2013 e 2019.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) actualizou em Janeiro deste ano a estrutura de despesa do cabaz de bens e serviços através do qual calcula a taxa de inflação a cada mês. O objectivo desta actualização anual é que a ponderação feita para apurar a evolução dos preços em Portugal reflicta a evolução dos padrões de consumo dos cidadãos. Uma análise dos últimos seis anos mostra que os carros ganharam importância no consumo dos portugueses ao passo que a restauração perdeu.

"Esta actualização é feita todos os anos, de modo a garantir que o cabaz do IPC se mantém representativo do padrão de consumo das famílias portuguesas", esclarece o INE ao Negócios, referindo que actualiza os dados através de várias fontes, nomeadamente os resultados definitivos de 2016 e preliminares de 2017 das Contas Nacionais que "permite incorporar, de forma sistemática, as alterações de preços e de quantidades dos bens e serviços adquiridos pelas famílias". 

Pesos das categorias de despesa na ponderação da inflação

A evolução destes pesos entre 2013 e 2019 reflectem as mudanças nos padrões de consumo dos portugueses.

Em termos práticos, a redução (o aumento) da ponderação de determinadas categorias de bens ou serviços sinalizam que estes passaram a ser menos (mais) consumidos pelos portugueses. O Negócios comparou os dados de 2019 com os de 2013, o primeiro ano para o qual é possível fazer esta comparação, para analisar a evolução dos padrões de consumo dos residente sem Portugal.
De acordo com a evolução dos pesos de cada despesa (ver gráfico), é possível concluir que os transportes destacam-se como a categoria que mais peso ganhou nestes seis anos.
Esta categoria divide-se entre a aquisição de veículos, a utilização de equipamento para transporte pessoal (essencialmente combustível) e os serviços de transportes. Enquanto os dois últimos perderam peso, a compra de carros aumentou o seu peso em mais de 10 pontos percentuais em seis anos.

Seguem-se os ganhos de importância dos "produtos alimentares e bebidas não alcoólicas", da "habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis" - onde se destaca o aumento do peso das rendas das casas, tendo as restantes categorias baixado - e do "vestuário e calçado".
Por outro lado, as despesas com "restaurantes e hotéis" foram que as perderam mais peso neste período. Dentro desta categoria, foram as idas aos restaurantes que perderam peso ao passo que as estadias em hotéis reforçaram a sua importância. A queda da restauração pode parecer estranha face ao dinamismo do sector do turismo, mas tal poderá ser explicado pelo facto do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) não contabilizar as despesas realizadas pelos turistas (ao contrário do IHPC do Eurostat).

Também entre as categorias que perderam peso está a saúde e a educação. No caso da saúde caiu a subcategoria de equipamentos médicos, que não foi compensada pela subida dos serviços para doentes ambulatórios. No caso da educação, a principal queda registou-se no ensino pré-primário e primário, o que reflecte a queda da natalidade em Portugal.
Não é possível recuar mais na série do INE uma vez que esta começa em 2013. Convém, portanto, alertar que esta comparação com 2019 pode ser influenciada pelo impacto relevante da crise. 2013 foi o pior ano da recessão económica em Portugal, altura em que os consumidores tendem a gastar menos em bens duradouros (como é o caso dos carros) enquanto mantêm as despesas de primeira necessidade, como é o caso da alimentação. 
No ano passado, tal como avançou o ECO, o INE integrou informação do Inquérito à Despesa das Famílias 2015/2016, o que resultou na entrada / saída de bens e serviços da amostra, o que também reflecte - num grau mais pormenorizado - as alterações dos padrões de consumo dos portugueses. O arroz basmati, os iogurtes gregos, as leggings, as lâmpadas LED, as massagens de beleza e também os robôs de cozinha são exemplos de inclusões. Por outro lado, saíram do cabaz o sabão azul e branco, a varinha mágica, o CD-ROM e o trabalho de marceneiro.

Maria de Fátima Bonifácio e a cristandade

É sempre uma chatice quando pessoas de quem gostamos escrevem textos de que não gostamos, e é ainda uma chatice maior quando nos sentimos moral e profissionalmente obrigados a comentá-los em público. Se este meu artigo sair mais coxo do que é habitual, dêem-me o desconto: eu conheço, gosto e admiro intelectualmente Maria de Fátima Bonifácio. Infelizmente, não gosto nem um bocadinho do artigo “Podemos? Não, não podemos”, não reconheço nele a mulher que admiro, nem percebo como pôde ele ser intelectualmente sustentado com tantas generalizações de cair o queixo — e que, sim (custa-me muito dizer isto), entram mesmo no campo do racismo.
Porque é que não fico calado, então, e escrevo sobre outra coisa qualquer? Porque sinto que não devo, nem quero participar numa jogatana esquerda-direita nesta matéria, como alguns já se preparam para fazer, com a claque pró-Bonifácio a defender que ela disse grandes verdades que ninguém tem a coragem de verbalizar, e a claque anti-Bonifácio a garantir que o seu artigo é incitação ao ódio e merece perseguição criminal. Seria fácil para mim ignorar o texto original e atirar-me às reacções descabeladas que já ouvi por aí (José Eduardo Agualusa, homem habitualmente ponderado, escreveu que Bonifácio e o PÚBLICO deveriam responder “perante a justiça portuguesa”, por amor de Deus), mas sendo uma estratégia fácil também seria cínica, até por causa de uma palavra que foi invocada e me é muito cara: cristandade.
Maria de Fátima Bonifácio afirma no seu artigo que nem africanos nem ciganos “fazem parte de uma entidade civilizacional e cultural milenária que dá pelo nome de Cristandade”. Não só isso é factualmente errado (estima-se que 40% dos africanos sejam cristãos e os ciganos tendem a adoptar a religião dos países onde se instalam), como a própria história da cristandade é, desde a sua fundação, baseada no universalismo e no desejo de abertura a todos, sejam eles brancos, amarelos ou vermelhos, lusitanos, africanos ou ciganos. A discussão entre Pedro e Paulo sobre se os gentios, por não serem circuncidados, poderiam ser cristãos, foi ganha por Paulo no século I — ou seja, quase dois mil anos atrás. Faz algum sentido retomar essa discussão hoje em dia, assumindo que há uns que podem partilhar os valores da cristandade (os circuncidados do século XXI), e outros, coitados, que não podem?

Tal como Maria de Fátima Bonifácio, não acredito que todas as culturas se equivalham.

Acredito no progresso; acredito que há culturas superiores a outras; acredito que o multiculturalismo assolapado desembocou numa guetização nefasta em certos países ocidentais; acredito que a cultura que produziu os Direitos Universais é infinitamente superior ao wahhabismo ou às tradições ancestrais de mutilação genital feminina; e acredito que existe demasiada complacência em relação ao tratamento das mulheres nalgumas comunidades.
Só que pular da crítica a uma determinada cultura para a crítica de todos os indivíduos que a integram é um salto inaceitável, precisamente por ir contra os valores que Maria de Fátima Bonifácio quer defender. A razão é simples: não é possível acreditar numa matriz cultural que diz que podes ser salvo até ao último suspiro (Lucas 23, 39-43) e depois pregar que há grupos de gente condenada a ficar às portas da civilização que tanto consideras.
Isso seria, mais uma vez, querer proteger a cristandade traindo os melhores valores que ela tem para nos oferecer.

João Miguel Tavares - Jornalista
jmtavares@outlook.com

Custos na construção sobem 2,2% com custos laborais

O Instituto Nacional de Estatística divulgou á uns dias o Índice de Custos de Construção da Habitação Nova e revelou que em Maio a despesa medida por este indicador terá aumentado 2,2% em termos homólogos, menos 0,1 pontos percentuais (p.p.) que o observado no mês anterior. Das duas rubricas que concorrem para a formação do índice, o custo da mão-de-obra continua a ser aquele que apresenta taxas de variação mais elevadas. Os preços dos materiais de construção aumentaram 0,8% em termos homólogos (fora de 0,9% no mês anterior), mas os custos de mão-de-obra tiveram uma variação de 4,3%, “menos 2 pp que em Abril”.

Depois vem o governo informar-nos que a inflação seja de 1%e outras patranhas do mesmo género. Sabemos e bem todos aqueles que vivem dos seus vencimentos, os preços da alimentação, das rendas, etc..

Estratégia Nacional para os Efluentes Agro-pecuários e Agro-industriais (ENEAPAI)

Mais um… Despacho n.º 6312/2019.

“Autoriza a AdP Energias - Energias Renováveis e Serviços Ambientais, S. A. (AdP Energias), a realizar os estudos técnicos e económico-financeiros necessários à criação de um novo serviço público destinado ao tratamento e à valorização dos efluentes agropecuários e agroindustriais”

O governo descobriu que não tinha ninguém no seu ministério que soubesse sobre este assunto, que fosse capaz de criar interinamente o serviço, ou aglutina-se serviços que responde.se, se é que este serviço é necessário,  a estas questões. Não! O interesse neste novo serviço publico é outro, o “asilamento” de amigos, preferencialmente militantes do PS.

“Despacho n.º 6312/2019

A Estratégia Nacional para os Efluentes Agropecuários e Agroindustriais (ENEAPAI) dá prioridade e primazia à valorização agrícola de efluentes agropecuários e agroindustriais, tirando partido das vantagens agronómicas, com especial enfoque no fecho do ciclo dos nutrientes e na retenção da água, em linha com o definido no Plano de Acção para a Economia Circular, e minimizando os efeitos de índole climática das regiões mediterrânicas, em que a decomposição da matéria orgânica é relativamente rápida, afetando negativamente a produtividade dos solos.

Contudo, em algumas regiões do território nacional a valorização agrícola de efluentes agropecuários e agroindustriais, principalmente pela inexistência de áreas disponíveis para o seu espalhamento nas zonas em que são produzidos, pode apresentar potenciais riscos ambientais, em particular, pelo contributo para o estado das massas de água (ainda longe dos objetivos fixados na Diretiva Quadro da Água) e desafios de complexidade técnica (em função das características físicas, químicas e biológicas dos efluentes e dos solos), que se justifica acautelar.

Relativamente ao encaminhamento do efluente cuja valorização agrícola não seja viável, deverão ser tidas em conta soluções de valorização, tratamento e destino final, individuais ou coletivas, que se venham a revelar técnica, económica e ambientalmente adequadas e ajustadas e que assegurem um modelo de exploração otimizado e de gestão sustentável, contribuindo para ultrapassar as situações de poluição ambiental identificadas ou as que se venham a identificar.

No entanto, algumas das soluções de valorização, tratamento e destino final coletivas que vinham sendo protagonizadas por entidades dos setores geradores de efluentes agropecuários e agroindustriais ao longo dos últimos anos não puderam, por razões diversas, ser executadas, nem se perspetiva que o possam ser a curto ou a médio prazo.

A ENEAPAI permite, igualmente, que a promoção e a hierarquização de soluções de encaminhamento dos efluentes e de modelos de gestão eficientes e sustentáveis se materializem através da constituição de uma solução pública que proceda à receção, ao tratamento e ao encaminhamento a destino final adequado daqueles efluentes para as situações em que as unidades produtivas, individual ou coletivamente, não disponham de instalações apropriadas para o efeito, bem como recomenda a fiscalização e a monitorização dos diversos fluxos de materiais orgânicos valorizados e respetivos produtos e subprodutos resultantes do tratamento dos mesmos como fertilizantes agrícolas, através de sistemas de informação interoperáveis que promovam a desmaterialização dos procedimentos existentes, como forma de assegurar a sua correta utilização nas regiões mais adequadas, contribuindo decisivamente para impedir a criação ou a manutenção de passivos ambientais.

Os objetivos de proteção do meio ambiente e de concretização de um modelo de exploração otimizado e de gestão sustentável para os efluentes agropecuários e agroindustriais determinam a necessidade de criação de um novo serviço público destinado ao tratamento e à valorização dos efluentes agropecuários e agroindustriais e que o mesmo seja prestado pelo Estado, através de uma empresa pública do grupo Águas de Portugal, cujo capital social é detido a 100 % pela AdP - Águas de Portugal, SGPS, S. A.. Esta entidade pública, a AdP Energias - Energias Renováveis e Serviços Ambientais, S. A., será a entidade concessionária da exploração e gestão do sistema integrado de tratamento e valorização dos efluentes agropecuários e agroindustriais.

Uma solução nacional permite também o reforço das condições de concorrência equitativas para os setores geradores de efluentes agropecuários e agroindustriais, respeitando-se sempre, e em qualquer caso, o princípio do poluidor-pagador e do utilizador-pagador.

Assim, ao abrigo das competências constantes dos artigos 26.º e 27.º do Decreto-Lei n.º 251-A/2015, de 17 de dezembro, na sua atual redação, os Ministros do Ambiente e da Transição Energética e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural determinam o seguinte:

1 - Autorizar a AdP Energias - Energias Renováveis e Serviços Ambientais, S. A. (AdP Energias), a realizar os estudos técnicos e económico-financeiros, designadamente a preparação de uma proposta de contrato de concessão, necessários à criação de um novo serviço público destinado ao tratamento e à valorização dos efluentes agropecuários e agroindustriais.

2 - Para efeitos do disposto no número anterior, a AdP Energias pode:

a) Solicitar às entidades gestoras de sistemas municipais e multimunicipais de saneamento de águas residuais as informações relativas à capacidade das respetivas infraestruturas para receção e tratamento de efluentes agroindustriais e agropecuários ou outros, desde que compatíveis com aqueles, disponível em cada momento, e demais informação relevante;

b) Solicitar aos organismos das áreas governativas do Ambiente e da Transição Energética e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural as informações relativas ao controlo e à fiscalização do tratamento, valorização e descarga no meio hídrico e no solo dos efluentes agropecuários e agroindustriais, bem como dos respetivos subprodutos, à capacidade produtiva das unidades pecuárias e respetiva quantificação do volume de efluentes produzidos e reportados por cada unidade agropecuária e agroindustrial e ao funcionamento e dimensionamento das soluções de tratamento de efluentes existentes nas unidades agropecuárias e agroindustriais, e demais informação relevante;

c) Propor a celebração de memorandos ou protocolos entre o Estado, as unidades produtivas dos setores geradores de efluentes agropecuários e agroindustriais ou as suas associações representativas, os municípios e as comunidades intermunicipais dos territórios a abranger pela solução pública e os organismos e serviços das áreas governativas do Ambiente e da Transição Energética e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, conjunta ou separadamente, para efeitos do determinado no n.º 1;

d) Recorrer à contratação de serviços por terceiros.

3 - O Fundo Ambiental transfere para a AdP Energias, nos termos de protocolo a celebrar no prazo de 30 dias após a data da entrada em vigor do presente despacho, um montante máximo de (euro)1.000,000,00 (um milhão de euros), para efeitos do apoio à construção de uma solução integrada para a recolha, o tratamento e a valorização dos efluentes agropecuários e agroindustriais no seio do Grupo Águas de Portugal.

4 - O presente despacho entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação.

28 de junho de 2019. - O Ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Soeiro de Matos Fernandes. - O Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Manuel Capoulas Santos.”

Linha do Norte enfrenta risco de desabamento por falta de obra.

O que é interessante é a Teixeira Duarte ter vendido os terrenos, a uma empresa sediada na madeira! E é inacreditável um ministro das infra-estruturas e da habitação vir dizer que desconhece o actual proprietários dos terrenos! Já não se praticam os procedimentos normais de transacção de imoveis que vigorava em Portugal?

A Infra-estruturas de Portugal, a Teixeira Duarte e a Câmara de Santarém não se entendem sobre obras de protecção à via férrea devido ao risco de desabamento de parte da encosta das Portas do Sol.

É necessário e urgente que se efectue uma obra de consolidação na Encosta das Portas do Sol de forma a impedir que os terrenos se abatam sobre a via Infra-estruturas de Portugal” Infra-estruturas de Portugal

Durante o Estado Novo, e sobretudo nos anos 60, a Teixeira Duarte era a empresa que detinha o know-how em engenharia geotécnica, sendo responsável por praticamente todas as obras da CP nessa área. Os ferroviários mais antigos ainda se lembram que o fundador da empresa tinha dificuldade em compreender o conceito de concurso público, pois a Teixeira Duarte confundia-se com a própria CP na área da engenharia e até com o próprio regime.

Cinquenta anos depois, a construtora refere que, perante a recusa da IP (enquanto sucessora da Refer e da CP) em assumir a titularidade efectiva dos terrenos, iria colocá-los à venda “por um valor simbólico”.

Essa operação já terá sido concretizada, mas desconhece-se o comprador. Foi o que disse o ministro das Infra-estruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, no passado dia 3 de Julho, na Assembleia da República, numa resposta sobre este assunto a uma pergunta feita pelo deputado social-democrata Duarte Marques.”

Nova Ligação Ferroviária entre Évora Norte e Elvas/Caia

Que aconteceu para tanta urgência quando este governo anda há quatro anos, a “enrolar”?

Despacho n.º 6310/2019 - Diário da República n.º 130/2019, Série II de 2019-07-10

“Declara a utilidade pública, com carácter de urgência, da expropriação dos bens imóveis e direitos a eles inerentes, necessários à execução da obra da Nova Ligação Ferroviária entre Évora Norte e Elvas/Caia, da Linha de Évora - Subtroço Alandroal/Linha do Leste”.

“Assim, por resolução do Conselho de Administração Executivo da Infra-estruturas de Portugal, S. A., de 18 de Abril de 2019, foi aprovada a resolução de requerer a declaração de utilidade pública urgente da expropriação, incluindo as plantas parcelares e os respectivos mapas de áreas, relativos às parcelas de terreno necessárias à construção da «Nova Ligação Ferroviária entre Évora Norte e Elvas/Caia, da Linha de Évora - Subtroço Alandroal/Linha do Leste».

Nestes termos, a requerimento da Infra-estruturas de Portugal, S. A., ao abrigo do disposto nos artigos 1.º, 3.º, 14.º, n.º 1, alínea a), 15.º, n.º 2, 18.º e 19.º, n.º 1 do Código das Expropriações, e no uso da competência que me foi delegada pelo Despacho n.º 3396/2019, de 21 de Março, do Ministro das Infra-estruturas e da Habitação publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 61, de 27 de Março de 2019:

1 - Declaro a utilidade pública, com carácter de urgência, da expropriação dos bens imóveis e direitos a eles inerentes, necessários à execução da obra da «Nova Ligação Ferroviária entre Évora Norte e Elvas/Caia, da Linha de Évora - Subtroço Alandroal/Linha do Leste», identificada no mapa de expropriações e nas plantas parcelares n.º 10003624858, 10003624859, 10003518068, 10003518069, 10003518070, 10003518071, 10003518072, 10003518073, 10003518074, 10003518075, 10003518076, 10003518077, 10003518078, 10003518079, 10003518080, 10003518081 e 10003518082, publicados em anexo.”

Sistema de Incentivos à Eficiência da Despesa Pública (SIEF)

Á socapa o governo veio agora publicar uma Portaria n.º 172/2019, com que se comprometera em 2016! Qual o objectivo final?

de 3 de Junho

Uma gestão orçamental rigorosa implica um esforço contínuo na identificação e eliminação de procedimentos e recursos que se traduzam em desperdício na despesa, bem como no estímulo permanente ao aumento da produtividade dos serviços públicos, pelo que a consagração de incentivos que promovam melhorias de eficiência na gestão da despesa pública afigura-se como um importante contributo para o sucesso da gestão orçamental.”

Lendo isto assim,parece conversa de café, para ser benevolente, depois pensamos, mas isto não será outra forma de premiar com dinheiro e outras benesses o funcionalismo publico em geral, para ganhos eleitorais?! Depois recorda-mo-nos de que o governo tem um departamento chamado SIOP, fundado por Passos Coelho, para este suposto fim, de saber quantos funcionários públicos existem, onde estão o que fazem, etc. Eu penso que além disso, haveria mais do que isto, pois é necessário saber também, quantos são sindicalistas, quantos efectivamente vão ao serviço, quantos dias de baixa tiveram, etc. toda a informação legal possível, para assim aquilatar da qualidade de funcionalismo publico e entender porque razão se está sempre a aumentar os ministérios de gente, de dinheiro, de meios e os serviços são piores, no tempo e na qualidade do mesmo!

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Podemos? Não, não podemos

As quotas para negros e ciganos não passam de uma farsa multicultural igualitarista. Não, não podemos integrar por decreto.

6 de Julho de 2019, 6:15

Segundo o PÚBLICO de 29 de Junho, o “PS quer discriminação positiva para as minorias étnico-raciais”. Em causa estão sobretudo africanos e ciganos, independentemente de terem nascido em Portugal ou não. Estas minorias excluídas da Cidade, a sua suposta ou real marginalização, constitui a prova de que Portugal “continua a ter um problema de racismo e xenofobia”, independentemente do efeito – que de resto não sofremos – do drama dos refugiados, com o seu pico mais trágico em 2015.

O entrevistado pelo PÚBLICO, Rui Pena Pires, sociólogo e secretário nacional do Partido Socialista, lamenta “a falta de diversidade no espaço público”, que continua atulhado de homens brancos e mulheres brancas. E, em conformidade com a ideia, grata à esquerda, de que a sociedade e respectiva mentalidade podem ser mudadas por decreto, Pena Pires saúda a possibilidade de que o problema da exclusão de negros e ciganos do espaço público se resolva, ou comece a resolver, estabelecendo quotas para deputados coloridos, de forma a conferir à futura Assembleia da República uma dimensão representativa mais conforme com a composição étnico-racial da sociedade portuguesa. Se as quotas tinham impulsionado a emancipação e igualização de direitos das mulheres, se lhes haviam aberto o espaço público, porque não aplicar a mesma receita às minorias étnicas?

A comparação com a igualdade ou paridade de género é inteiramente falaciosa. As mulheres, que sem dúvida têm nos últimos anos adquirido uma visibilidade sem paralelo com o passado, partilham, de um modo geral, as mesmas crenças religiosas e os mesmos valores morais: fazem parte de uma entidade civilizacional e cultural milenária que dá pelo nome de Cristandade. Ora isto não se aplica a africanos nem a ciganos. Nem uns nem outros descendem dos Direitos Universais do Homem decretados pela Grande Revolução Francesa de 1789. Uns e outros possuem os seus códigos de honra, as suas crenças, cultos e liturgias próprios.

Os ciganos, sobretudo, são inassimiláveis: organizados em famílias, clãs e tribos, conservam os mesmos hábitos de vida e os mesmos valores de quando eram nómadas. E mais: eles mesmos recusam terminantemente a integração. É só ver a quantidade de meninas ciganas que são forçadas pelos pais a abandonar a escola a partir do momento em que atingem a puberdade; é só ver a quantidade de meninas e meninos ciganos que abandonam os estudos, apesar dos subsídios estatais de que os pais continuam a gozar para financiar (ou premiar!) a ida dos filhos às aulas; é só ver o modo disfuncional como se comportam nos supermercados; é só ver como desrespeitam as mais elementares regras de civismo que presidem à habitação nos bairros sociais e no espaço público em geral. Os ciganos não praticam a bárbara excisão genital das mulheres. Mas, em vez desta brutal mutilação, vulgar e imperativa nas tribos muçulmanas, aos casamentos entre ciganos segue-se, no dia seguinte, obrigatoriamente, a humilhante demonstração da virgindade da noiva, cujo sangue de desfloramento, estampado nos lençóis, é orgulhosamente exibido perante a comunidade. O que temos nós a ver com este mundo? Nada. O que tem o deles a ver com o nosso? Nada.

Africanos e afro-descendentes também se auto-excluem, possivelmente de modo menos agressivo, da comunidade nacional. Odeiam ciganos. Constituem etnias irreconciliáveis, e desta mútua aversão já nasceram, em bairros periféricos e em guetos que metem medo, batalhas campais só refreadas pela intervenção policial. Os africanos são abertamente racistas: detestam os brancos sem rodeios; e detestam-se uns aos outros quando são oriundos de tribos ou “nacionalidades” rivais. Há pouco tempo, uma empregada negra do meu prédio indignou-se: “Senhora, eu não sou preta, sou atlântica, cabo-verdiana.” Passou-se comigo. A cabo-verdiana desprezava as angolanas porque eram africanas, não atlânticas, e muito mais pretas...

Os partidos, nomeadamente o PS, confessam que, para o fim inconfesso de conquistar mais alguns votos, se vêem hoje obrigados a “assegurar a representatividade das diferentes origens étnico-raciais”. Não por acaso, na entrevista com Pena Pires, a visibilidade dessas diferentes origens aparece imediatamente relacionada com a facilitação do acesso ao ensino superior, que deveria abrir-se a todos os alunos, “independentemente da sua nota final” no 12.º ano. “Se fizermos uma política de alargamento de acesso ao ensino superior, já resolvemos parte do problema.

§Não faz sentido ter um ensino virado para os melhores alunos, mas sim para todos os que têm as condições mínimas para entrar.” Pena Pires não explica que condições são essas. Possivelmente, o simples facto de existirem jovens que, apesar de incapazes e preguiçosos, aspiram a um diploma universitário! Pelos vistos, o facilitismo que já reina hoje em dia nas universidades ainda não chega: para resolver “os problemas de racismo e xenofobia” que afligem a esquerda bem-pensante da nossa democracia, teremos de criar um passe de livre-trânsito entre o secundário e a universidade. Quando esta política for oficialmente consagrada e der os seus resultados, teremos um Parlamento ainda mais ignorante e incompetente do que já temos – sem que o País deixe de “ter um problema de xenofobia e racismo”.

A título de complemento do acesso irrestrito ao ensino superior, Pena Pires recomenda também a criação de “um observatório do racismo e da discriminação junto a uma universidade”. Mas como é que se observa o racismo e a discriminação a partir dos gabinetes almofadados onde se sentariam os observadores? A única maneira de observar uma matéria tão fugidia e evanescente é frequentar feiras e supermercados baratos, é entrar nos bairros em que nem a polícia se atreve a pôr os pés. Mas isto é tremendamente maçador e, sobretudo, exige muita coragem física. O observatório não observaria nada e seria perfeitamente inútil, a não ser – isso sim – para criar mais alguns jobs for the boys.

M. Fátima Bonifácio

Publico

terça-feira, 9 de julho de 2019

Franz Kafka

Imagem: Robbie Wild Hudson

Franz Kafka nasceu há 136 anos, em Praga. Estudou Direito, tendo depois ido trabalhar numa companhia de seguros, algo que o deixava insatisfeito. Era obcecado pelo corpo e, mesmo nos invernos rigorosos de Praga, dormia de janela aberta.

É muitas vezes considerado um dos maiores pensadores do século XX e a sua obra, muito centrada no existencialismo, inspira escritores de todo o mundo. Partilhamos consigo algumas curiosidades sobre o autor checo.

1. Mudou de emprego para ter mais tempo para escrever

Depois de concluir o curso de Direito, Kafka começou a trabalhar numa seguradora, com um horário das oito da manhã às seis da tarde. O horário aborrecia-o porque, assim, restava-lhe pouco tempo para escrever.

Um ano depois, decidiu mudar de empresa e optou por um novo emprego, em que terminava a jornada de trabalho às 14 horas e assim podia aproveitar o tempo livre para escrever.

2. Kafka era vegetariano

Não só por motivos éticos mas também por se preocupar com a saúde, Kafka era vegetariano. Uma vez, terá visto um peixe num aquário e disse: “Agora posso olhar para ti em paz; já não te como”.

3. Viveu sozinho pela primeira vez aos 31 anos

Kafka era o mais velho de seis irmãos, mas os dois irmãos morreram antes de o autor fazer 7 anos.  Ellie e Valli, duas das três irmãs de Kafka, saíram de casa após casarem.

Em 1913, a família mudou-se para um apartamento maior. Depois do início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, as irmãs não sabiam onde os maridos estavam a servir como militares e, por isso, voltaram a para casa da família. Foi assim que o escritor acabou, aos 31 anos, por se mudar para o antigo apartamento da irmã e passou a viver sozinho pela primeira vez.

4. A relação com os pais influenciou a sua escrita

Kafka não tinha uma relação fácil com os pais, principalmente com o pai. A turbulência nas relações familiares acabou por servir de inspiração para muitas obras do autor. O caso mais notável é o do livro

Carta ao Pai, em que  lhe escreve diretamente.

5. Os livros de Kafka quase foram destruídos

Franz Kafka foi diagnosticado com tuberculose em 1917 e deixou de trabalhar no ano seguinte. Até morrer, em 1924, esteve constantemente em sanatórios.

Antes de morrer, terá instruído o seu amigo mais próximo, Max Brod, para que este destruísse todos os manuscritos não publicados e também para que evitasse novas edições das histórias já publicadas.

Brod não quis seguir a vontade do amigo e entre 1925 e 1935 publicou toda a obra, que ganhou notoriedade durante a Segunda Guerra Mundial. A partir da década de 1960, Kafka passaria a ser mundialmente conhecido.

Kafka

Imagem: Literary Hub

Bertrand

Paródia

Paródia, Donald Trump canta , Señorita de Shawn Mendes e Camila Cabello....hilariante

Sem vírus. www.avast.com

A velha desculpa de Cavaco: não fui eu, foi ele

Isto é Aníbal Cavaco Silva vintage:

“Eu nunca acompanhei os financiamentos das campanhas eleitorais em que participei.

Aconselho a falar com Vasco Valdez, que ele é que é o mandatário financeiro. Ele é que sabe.” Digam-me: sou só eu a sentir um leve odor a café da Avenida de Roma (e a Fernando Lima) a espalhar-se pelo ar? O senhor ex-Presidente da República — há que dizê-lo — tem um tique ligeiramente irritante: mal surge no horizonte o mais vago vestígio de um grão de poeira reputacional, a primeira coisa que ele faz é manifestar a sua mais profunda ignorância em relação ao tema e passar as culpas a outro.

O típico lava-mãos cavaquista pode dividir-se em quatro momentos:

1) Proclamar que se é uma pessoa muito séria.

2) Garantir que esse assunto não foi tratado por si.

3) Aconselhar que dirijam as perguntas a quem tratou desse assunto.

4) Aproveitar para relembrar — para o caso alguém já se ter esquecido — que não foi ele, porque é evidentemente uma pessoa muito séria.

Essa foi a estratégia utilizada por Cavaco Silva no caso das acções do BPN. E no caso da compra da casa na Aldeia da Coelha. E no caso das alegadas informações sobre espionagem em Belém. E, agora, no caso do financiamento da sua campanha eleitoral de 2011.

Segundo a investigação feita pela revista Sábado, dez altos quadros do Grupo Espírito Santo (incluindo o próprio Salgado) doaram um total de cerca de 253 mil euros, em nome individual, para a campanha presidencial de Cavaco, graças a um conjunto de dez cheques de cerca de 25.000 euros cada (o máximo permitido por lei). Se esta paixão assolapada da cúpula do BES por Cavaco já não era lá muito normal, a Sábado conseguiu estabelecer ligações entre a saída desses cheques e a entrada de montantes exactamente iguais na conta dos altos quadros do Banco Espírito Santo, via empresa ES Enterprise, hoje mais conhecida como “o saco azul do BES”. Ou seja, em termos práticos, foi Ricardo Salgado e o Banco Espírito Santo quem financiou pelo menos um quinto da campanha de Cavaco Silva (cujo orçamento rondava os 1,5 milhões de euros). O que, claro, é manifestamente ilegal.

Poderia Cavaco não saber nada disto? Poderia, com certeza. Pode ele dizer que nunca acompanhou o financiamento das suas campanhas? Sim, também pode. São essas duas afirmações política e eticamente aceitáveis? Não, não são. Mais até do que a própria notícia da Sábado, a reacção de Cavaco Silva não tem justificação: um candidato presidencial não pode dizer que não acompanha o financiamento das suas campanhas, da mesma forma que um condutor de Fórmula 1 não pode dizer que não acompanha o desenvolvimento dos chassis e do motor do seu carro. É um absurdo, porque são temas demasiado

importantes para um profissional se refugiar atrás de qualquer espécie de ignorância na matéria.

Vasco Valdez estava a trabalhar para Cavaco Silva na campanha eleitoral, e as dúvidas em causa não são de contabilidade. O mandatário financeiro lá teve de vir a terreiro dizer que aquelas pessoas eram “vistas como idóneas” em 2011, o que até pode ser verdade — só que era demasiada idoneidade reunida num só conselho de administração, para mais do banco todo-poderoso do país, e a bater no tecto dos donativos.

Como é óbvio para toda a gente, isto não é uma questão de mapas Excel — é uma questão política. E Cavaco sabe isso muito bem. Tão bem, aliás, que atirou logo a batata quente para cima de outros. Como é seu triste hábito.

João Miguel Tavares

Jornalista
jmtavares@outlook.com

Maneiras de reconhecer um populista português moderno.

José Pacheco Pereira

A demagogia é uma componente importante do discurso populista, mas demagogia e populismo não
são a mesma coisa.

Os populistas modernos são, na sua maioria, de direita. Ou melhor, a sua acção comunica mais facilmente com partidos, organizações, homens de direita. Na Europa, nos dias de hoje, os movimentos e governantes populistas, seja no Brexit, seja na Alemanha, Polónia, Hungria, Itália e França, estão todos à direita do espectro político. Podem ficar muito incomodados com esta a afirmação, mas é assim. Não foi sempre assim, nem será sempre assim, mas hoje é assim.
O paralelo entre o populismo de direita e um inventado “populismo de esquerda” é uma das características do populismo moderno, que precisa de companhia para mostrar que vai mais longe do que a direita.
É vulgar ver em artigos de opinião essa comparação, mas é descuidada e falsa. As posições do PCP, do BE podem ser demagógicas, insustentáveis, irrealistas, mas não são populistas. Querer acabar com a propriedade privada, querer aumentos de salários, querer mais regalias para os sindicatos, atacar patrões e grandes
empresas, defender causas “fracturantes” são posições político-ideológicas muito distintas do populismo. No entanto, se tomadas em abstracto, estas podem emigrar para o discurso de direita. Alguns dos grandes populistas americanos, como o padre Coughlin e Huey Long no Luisiana, Fizeram alguns dos mais radicais discursos anticapitalistas.
A demagogia é uma componente importante do discurso populista, mas demagogia e populismo não são a mesma coisa. A demagogia está presente em todo o espectro político da direita à esquerda e, por si só, não caracteriza o discurso populista.
Este caracteriza-se principalmente pela dicotomia “nós” (o povo) e “eles” (os políticos, os poderosos).
Em Portugal, o populismo entrou pela primeira vez numa campanha eleitoral nas últimas eleições europeias. Os cartazes do Chega/Basta, que se encontram ainda colocados, são os primeiros a chegar ao espaço público com palavras de ordem claramente populistas. Foi só começo.

O terreno português do populismo é dominantemente o das redes sociais e do tipo de interacção que elas propiciam. Mas já passou daí para certos programas televisivos e para certo tipo de articulistas justicialistas, que vivem da “denúncia” e da indignação moral, e basta fazer uma lista dos casos para ver como são selectivos e dúplices na indignação. Em todos os casos têm audiências. O populismo ainda não passou nem para o voto, nem para a rua, embora seja uma questão de tempo.
O tema central do populismo é a corrupção, a real, a imaginária e a inventada. A corrupção é o estado natural da política e dos políticos, de “eles”. Ao não se distinguir entre a corrupção real e a inventada, o discurso torna-se genérico e sistémico. Ao atacarem o “regime” e o “sistema”, perceba-se que consideram a democracia o terreno ideal para a corrupção. Não é. É a ditadura, mas não vale a pena lembrar-lhes isso.
No populismo português o tema da corrupção é ainda mais dominante. Os partidos e movimentos na direita que quiseram utilizar outros temas do populismo contemporâneo, como seja a emigração, a islamofobia, ou temas conexos, falharam.
O populismo concentra os seus ataques nos procedimentos da democracia, vistos como uma forma de empecilhos para combater o “crime” e a “corrupção”. Isso inclui os direitos de defesa, as garantias processuais e, em particular, o ónus da prova, a obrigação de ser de quem acusa, que tem que provar.
Os seus heróis são magistrados e juízes. Não todos, mas alguns. E alguns comentadores, alguns blogues, alguns jornais, alguns programas de televisão.

O populista é um activista do ad hominem.
Quando fala e quando escreve, enuncia nas suas falas e nos seus títulos nomes de pessoas.
Depois, passa dos nomes para a família, para os amigos, para os companheiros de partido e por fim para “eles”. Os critérios da culpa são por contiguidade, familiar em primeiro lugar, relacional e partidária. A culpa é nomeada pessoalmente e depois torna-se colectiva. É de X, nome no título para vender, e porque é de X, é de “eles”.
Os populistas votam mais facilmente em determinado tipo de corruptos conhecidos ou até condenados, cuja política lhes parece próxima, do que “neles”. Várias eleições em Portugal mostram que a aparente indignação
contra a corrupção é muito pouco genuína e tem componentes políticas que implicam a duplicidade.
Os populistas estão sempre zangados, vivem num estado de excitação patológica, porque eles são sérios e o resto do mundo é desonesto, ladrão e corrupto. Quanto mais afastados do poder — por exemplo, quando a
conjuntura política favorece os “corruptos” no seu entender —, maior é a zanga. Existe uma forte sensação de impotência na zanga.
Quando os populistas, os políticos que eles gostam, os partidos que eles gostam, estão mais próximos do poder, a zanga transforma-se em arrogância e autoritarismo.
Os alvos dos populistas são aquilo que eles designam como elite. Os políticos, os funcionários públicos, os professores, os médicos, os enfermeiros, os motoristas, os sindicalistas, os que fazem greve. É uma lista
absurda, mas é a dos “privilegiados”. Embora na elite se incluam os banqueiros caídos em desgraça, quase nunca são referidos os principais grupos económicos, as famílias ricas e poderosas, os escritórios de advogados, os consultores financeiros, os dirigentes desportivos e os jogadores de futebol. No quadro de valores de um populista, fugir ao Fisco por parte de um político merece prisão perpétua, mas é uma
mera infracção num jogador de futebol.
Os populistas vivem do apodrecimento do sistema político democrático, da oligarquização dos partidos políticos, da indiferença ou do compadrio dos estabelecidos com a corrupção, da corrupção realmente existente, mas as suas soluções são piores do que os problemas. E são, na sua maioria, antidemocráticas e autoritárias. Há um micro-Bolsonaro dentro deles, mesmo quando juram não quererem nada com ele.

A infância acaba aos 6.

Se continuarmos por aqui, e se não cultivarmos mais as crianças para o brincar, a infância pode estar “à beira da extinção”.

A partir do momento em que a escola se tem vindo a transformar no “trabalho infantil” do século XXI, temos cada vez mais famílias a fazer com que os seus filhos entrem nela mais tarde – aos 7 – para que tenham direito a mais um ano de infância(!). Ou seja, no século XXI a infância parece terminar aos 6! Se, dantes, a escola se caracterizava como “O” indicador mais inequívoco das crianças com direito à infância, hoje, até porque todas elas vão (felizmente!) à escola, aquilo que distingue as crianças que têm infância daquelas que não a “têm” é o brincar. O tempo e a qualidade do brincar diários que os pais reservam para os filhos.

Como as crianças têm menos tempo de infância, menos irmãos e famílias menos alargadas, menos actividade física, menos recreio, menos convívio e menos relação com o ar livre, receio que tenhamos crianças cada vez mais quietas, mais apáticas e mais caladas. Crianças que não crescem aprendendo com o corpo mas contra o corpo. Crianças que convivem com famílias muito pequenas. Que não brincam tanto como deviam. Que vivem espartilhadas em compromissos escolares e confinadas a espaços reduzidos. Que, muitas vezes, mandam muito mais nos pais do que deviam. Que, por isso, se vão transformando em “novos chefes de família”. E que são tratadas como adultos de tamanho “S”. Restam-lhe os amigos. E os jogos! Até porque (já repararam?) as lojas de brinquedos vão morrendo, aos bocadinhos. Por outras palavras, a solidão no crescimento das crianças começa a ser assustadora. Se continuarmos por aqui, e se não as cultivarmos mais para o brincar, para a palavra, para a fantasia e para as histórias – de forma a minimizarmos a relação (cada vez mais hegemónica) que elas têm com as novas tecnologias – por mais que falemos das crianças como nunca o fizemos, a infância pode estar “à beira da extinção”.

É, portanto, urgente que se deixe de entender o brincar como um actividade de lazer. Ou como uma distracção. Ou quase como um proforme que entendemos conceder às crianças sempre que falamos da infância. Brincar é desconstruir mistérios. É intuir e analisar inúmeras hipóteses. É formular problemas. É discorrer sobre eles e resolvê-los. Brincar é, depois de entrar nelas, “desmanchar” as histórias. E entendê-las naquilo que elas nos querem dizer. E reconstruí-las de forma sempre mais simples, mais esquemática e mais sábia. Brincar é recolher imagens e, ao recombiná-las, cultivar e expandir a imaginação. Brincar não serve para distrair; serve para lavrar a atenção. (Aliás, não há nada que incentive mais a atenção do que o brincar!) Brincar é aprender. Brincar é melhor que fazer trabalhos de casa. Brincar educa para a intuição e para a interpretação. Brincar “puxa pela cabeça”, pelo corpo e pela “alma”. Brincar é “trabalhar”. E é pensar!

Ora, sejamos razoáveis, se continuarmos a estruturar o trabalho dos adultos, unicamente, pelas horas que eles lhe dedicam e nunca pelo realização das tarefas a que se comprometem, fazemos por ignorar que as horas que os adultos trabalham nunca correspondem aquelas em que eles conseguem estar, efectivamente, atentos e concentrados, e a produzir em concomitância com tudo aquilo de que são capazes. Trabalharmos muitas horas parece ser, às vezes, uma forma de expiarmos a culpa pela forma como reconhecemos que nunca conseguimos produzir tanto quanto trabalhamos. Aliás, quando distinguimos um  emprego de um trabalho – e somos capazes de estabelecer a distinção entre ambos e a expressão que alguns tornam sua quando afirmam: “Agora que me divirto, já posso deixar de trabalhar” – parecemos assumir que trabalhar é uma actividade monótona, soturna e onde ninguém nos paga para nos divertirmos. Deve ser por isso que consideramos o trabalho como o contrário do brincar. Como se o nosso trabalho e o das crianças fosse sisudo, difícil e, até, penoso. E o brincar leve, descontraído e amigo do prazer. Mas o mais grave é que, com os nossos filhos, reproduzimos estes vícios de forma. E acabamos a considerar que trabalhar é – sempre! – mais importante do que brincar.

É por tudo isto que não podemos deixar que as crianças continuem a perder, como tem vindo a acontecer desde há vinte anos, horas de brincar. É por tudo isto que é urgente que elas brinquem duas horas por dia, todos os dias! É por tudo isso que não podemos continuar a permitir que, na escola, o brincar seja uma actividade sazonal, de Primavera/Verão, e que esteja quase extinta. E é por tudo isso que, em casa, brincar não pode ser, unicamente, uma actividade de fim-de-semana. Da mesma forma como as crianças ganham quando brincam, os pais ganhariam se brincassem. Aliás, é por não saberem brincar que os pais “desconfiam” da sua utilidade! Portanto, deixe-mo-nos de “brincadeiras” e assumamos que é urgente o brincar! Para que o “fim” da infância não coincida com o início da escola. E para que todas as crianças tenham direito ao brincar indispensável sem o qual pode haver crianças sem que haja infância.

Eduardo Sá

Observador