quinta-feira, 11 de julho de 2019

Mais carros, menos restauração. Como mudaram os padrões de consumo dos portugueses?

A forma como o Instituto Nacional de Estatística (INE) muda o cálculo da inflação ao longo dos anos permite perceber como evoluem os padrões de consumo dos portugueses. O Negócios analisou o período entre 2013 e 2019.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) actualizou em Janeiro deste ano a estrutura de despesa do cabaz de bens e serviços através do qual calcula a taxa de inflação a cada mês. O objectivo desta actualização anual é que a ponderação feita para apurar a evolução dos preços em Portugal reflicta a evolução dos padrões de consumo dos cidadãos. Uma análise dos últimos seis anos mostra que os carros ganharam importância no consumo dos portugueses ao passo que a restauração perdeu.

"Esta actualização é feita todos os anos, de modo a garantir que o cabaz do IPC se mantém representativo do padrão de consumo das famílias portuguesas", esclarece o INE ao Negócios, referindo que actualiza os dados através de várias fontes, nomeadamente os resultados definitivos de 2016 e preliminares de 2017 das Contas Nacionais que "permite incorporar, de forma sistemática, as alterações de preços e de quantidades dos bens e serviços adquiridos pelas famílias". 

Pesos das categorias de despesa na ponderação da inflação

A evolução destes pesos entre 2013 e 2019 reflectem as mudanças nos padrões de consumo dos portugueses.

Em termos práticos, a redução (o aumento) da ponderação de determinadas categorias de bens ou serviços sinalizam que estes passaram a ser menos (mais) consumidos pelos portugueses. O Negócios comparou os dados de 2019 com os de 2013, o primeiro ano para o qual é possível fazer esta comparação, para analisar a evolução dos padrões de consumo dos residente sem Portugal.
De acordo com a evolução dos pesos de cada despesa (ver gráfico), é possível concluir que os transportes destacam-se como a categoria que mais peso ganhou nestes seis anos.
Esta categoria divide-se entre a aquisição de veículos, a utilização de equipamento para transporte pessoal (essencialmente combustível) e os serviços de transportes. Enquanto os dois últimos perderam peso, a compra de carros aumentou o seu peso em mais de 10 pontos percentuais em seis anos.

Seguem-se os ganhos de importância dos "produtos alimentares e bebidas não alcoólicas", da "habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis" - onde se destaca o aumento do peso das rendas das casas, tendo as restantes categorias baixado - e do "vestuário e calçado".
Por outro lado, as despesas com "restaurantes e hotéis" foram que as perderam mais peso neste período. Dentro desta categoria, foram as idas aos restaurantes que perderam peso ao passo que as estadias em hotéis reforçaram a sua importância. A queda da restauração pode parecer estranha face ao dinamismo do sector do turismo, mas tal poderá ser explicado pelo facto do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) não contabilizar as despesas realizadas pelos turistas (ao contrário do IHPC do Eurostat).

Também entre as categorias que perderam peso está a saúde e a educação. No caso da saúde caiu a subcategoria de equipamentos médicos, que não foi compensada pela subida dos serviços para doentes ambulatórios. No caso da educação, a principal queda registou-se no ensino pré-primário e primário, o que reflecte a queda da natalidade em Portugal.
Não é possível recuar mais na série do INE uma vez que esta começa em 2013. Convém, portanto, alertar que esta comparação com 2019 pode ser influenciada pelo impacto relevante da crise. 2013 foi o pior ano da recessão económica em Portugal, altura em que os consumidores tendem a gastar menos em bens duradouros (como é o caso dos carros) enquanto mantêm as despesas de primeira necessidade, como é o caso da alimentação. 
No ano passado, tal como avançou o ECO, o INE integrou informação do Inquérito à Despesa das Famílias 2015/2016, o que resultou na entrada / saída de bens e serviços da amostra, o que também reflecte - num grau mais pormenorizado - as alterações dos padrões de consumo dos portugueses. O arroz basmati, os iogurtes gregos, as leggings, as lâmpadas LED, as massagens de beleza e também os robôs de cozinha são exemplos de inclusões. Por outro lado, saíram do cabaz o sabão azul e branco, a varinha mágica, o CD-ROM e o trabalho de marceneiro.

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