O pivot da Geringonça: MFA, Povo e Porsche
Pedro Nuno de Oliveira Santos nasceu em São João da Madeira, em abril de 1977. Começou, como tantos, pela política associativa. Foi presidente da associação de estudantes da sua escola secundária, em São João da Madeira, presidente da mesa da reunião geral de alunos (RGA) do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), onde se licenciou em Economia, e pertenceu à direção da sua associação de estudantes. Foi presidente da Assembleia de Freguesia de São João da Madeira, deputado da respetiva assembleia municipal, presidente da Federação de Aveiro da Juventude Socialista e secretário-geral da Juventude Socialista entre 2004 e 2008. Eleito deputado na X e XII Legislaturas, foi responsável pela Comissão de Economia e pela Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BES. Foi vice-presidente do grupo parlamentar do PS e membro da comissão permanente da Assembleia da República. Presidiu ainda à Federação de Aveiro do PS.
Numa fotografia publicada pela revista Sábado em 2017 e tirada em casa de Pedro Nuno Santos, por trás dele que, embevecido, pega no filho Sebastião, vê-se um cartaz revolucionário, emoldurado, com a representação da chamada aliança POVO, MFA dos tempos do PREC. A sério: o cartaz da revolução está pendurado na cozinha de Pedro Nuno de Oliveira Santos, ele que nasceu depois do 25 de Abril de 1974, no dia em que Jerónimo fazia 30 anos, longe de redutos comunistas, numa família que lhe deu uma infância confortável própria da alta burguesia abastada.
Este é o perfil de um homem de esquerda. Ninguém se engane com o Maserati do pai e com o Porsche que ele próprio tinha – e que, fazendo um mea culpa, entretanto vendeu. Pedro Nuno Santos é o socialista mais à esquerda dos socialistas portugueses. Costuma rejeitar o rótulo, dizendo que é apenas socialista, que não existe ala esquerda no PS – só uma ala direita, e pequena. Para bom entendedor, bastará.
Começou a trabalhar na atual solução governativa antes de ela ser, sequer, Geringonça. Esteve sempre nas negociações dos socialistas com os comunistas, que começaram no dia 7 de outubro de 2015, na sede do PCP, na Soeiro Pereira Gomes, em Lisboa.
Não dormia enquanto não eram discutidas com os «primos» as medidas mais emblemáticas que teriam de ser aprovadas pelos socialistas, quer no governo, quer no Parlamento. Não descansava enquanto não recebia uma mensagem confirmando que o texto de uma proposta de lei fora aprovado ou que a reunião entre o ministro da Economia e o líder parlamentar do PCP estava confirmada.
Podia pensar-se que essa vida de mediador negocial entre o governo e os «primos» do Bloco e do PCP acabaria quando, em fevereiro de 2018, subiu a ministro das Infraestruturas e deixou na secretaria de Estado o seu grande amigo Duarte Cordeiro, que o governo foi buscar à Câmara de Lisboa, onde estava como «vice» de Fernando Medina. Nada mais errado. O seu talento e a experiência como negociador continuaram a ser de uma utilidade extrema. Foi ele que mediou o conflito entre a ANTRAM e o novo Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas, que praticamente paralisou o país em janeiro de 2019 e obrigou o governo da Geringonça a decretar uma requisição civil.
Pedro Nuno lidera o chamado grupo dos jovens turcos do PS, que cresceu tendo como companheiros e amigos jovens do PCP e do Bloco.
Tem uma característica que costuma sair cara na política: tende a dizer o que pensa. Com o passar dos anos e a necessidade de vir a corrigir declarações, afirmando estarem «fora de contexto» e outros eufemismos para recuar sem perder a face, Pedro Nuno tem aprendido a conter-se. Mas nem sempre consegue.
Uma das suas características marcantes é a ambição. Não entrou na política para ser deputado. Quer suceder a António Costa. E, naturalmente, tentará ser primeiro-ministro.
Quando em outubro de 2018, preparando a terceira remodelação do governo, o primeiro-ministro António Costa o convidou para seu ministro dos Assuntos Parlamentares, ele disse que não. Pedro Nuno, dizem no PS, queria ser ministro da Economia. E não ia aceitar um «prémio de consolação».Fonte próxima do antigo secretário de Estado explica: «Pedro Nuno Santos queria a Indústria, que é a sua área. Em outubro foram-lhe oferecidas três possibilidades. O cargo era apenas um “caramelo”, uma forma de António Costa fingir que o promovia, sem lhe dar uma verdadeira pasta.» Como ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno limitar-se-ia a fazer o mesmo trabalho que fizera nos três anos anteriores. Não teria mais peso, nem mais orçamento. Nem mais poder.
«Eu simplesmente achei que não fazia sentido nenhum passar a ministro porque não me acrescentava nada», explica Pedro Nuno Santos.
António Costa tinha outros planos para o Ministério da Economia. O primeiro-ministro sabe que para tentar a maioria absoluta precisa de votos do centro. Daqueles eleitores que votam indistintamente no PS ou no PSD – e mesmo daqueles que, votando no PSD, ciclicamente se zangam com o partido, castigando-o com o voto no PS. Ainda por cima, apesar da estabilidade da Geringonça, muito do eleitorado de centro continuava a desconfiar de uma solução de governo apoiada por partidos de extrema-esquerda. Para tentar captar esses votos era preciso um ministro da Economia moderado, que tivesse bom nome junto dos empresários e junto do centro-direita. Nada melhor para isso do que o seu amigo Pedro Siza Vieira, advogado que foi managing partner da Linklaters, sociedade de advogados com uma faturação e um leque de clientes bastante respeitável. Inês Serra Lopes, in A geringonça – Poligrafo
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