Os incêndios mais recentes revelaram fragilidades claras na coordenação de meios da Protecção Civil e confirmaram que muito pouco mudou desde as tragédias de 2017. Como todos os especialistas credíveis já disseram, o aparente sucesso de 2018 deveu-se apenas a um Inverno mais húmido, pois, como infelizmente já constatámos este ano, com o regresso do calor e dos ventos fortes a estrutura de combate voltou a colapsar. Se é verdade que sem uma mudança no território não impediremos os grandes fogos, já não é aceitável voltar a cometer os mesmos erros na coordenação e na mobilização de meios que vimos em 2017. Já o caso das golas e toda a sua envolvência acabam por revelar toda uma conduta que chamusca o Governo de António Costa: soberba e irresponsabilidade total com a prioridade a ser dada à propaganda e às clientelas socialistas.
Se o Primeiro-Ministro se apressou a culpar os autarcas, por sua vez Eduardo Cabrita, o inefável Ministro da Administração Interna, subiu o tom e além dos autarcas culpou os jornalistas pelas perguntas incómodas e a oposição pelas críticas feitas. Ou seja, por cumprirem o seu dever. O caso das golas de protecção que afinal são inflamáveis, e que além de não protegerem ainda aumentam o perigo para as pessoas que as receberam, inaugurou um novo episódio na estratégia de passa culpas de Cabrita: a responsabilidade era afinal da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), que ouviu e calou.
Confirmou-se assim o que já muitos suspeitávamos, ao que parece a liderança da ANCP decide muito pouco, aceita sem questionar e é cúmplice de um Governo e de um Ministro da Administração Interna que se intromete em decisões operacionais e administrativas que deveriam ser um exclusivo dos dirigentes e dos operacionais da ANPC.
Depois dos autarcas, dos jornalistas e da Protecção Civil, ontem conhecemos então mais um capitulo de uma história que não pára de nos surpreender: a culpa é agora do Adjunto, do coitado do ex padeiro voluntarista, líder do PS de Arouca que, quiçá verdadeiramente empenhado, tudo fez para ajudar o chefe, o líder, o ex autarca do seu concelho, o Secretário de Estado Artur Neves. Talvez o menos culpado de tudo isto seja o rapaz, que nem deve ter noção da responsabilidade do cargo que ocupou e cujo empenho e dedicação não coloco em causa. Mas alguém acredita que a culpa é sua? Terá feito tudo isto sem falar com o seu chefe? Pois.
Além do mais, temos um Ministro que, depois de desvalorizar o caso das “golas”, pediu um inquérito imediato à IGAI, culpando indirectamente a ANPC, mas que depois de ver um adjunto do seu Secretário de Estado a assumir a culpa e a demitir-se, nada diz. Como qualquer político cobarde e habilidoso, cancela as aparições públicas programadas alegando motivos de “agenda” para não ter que enfrentar a realidade e as perguntas mais incómodas. Será que Cabrita acha que os portugueses são burros e acreditam que os funcionários da ANPC escolheram uma empresa de Arouca, da terra onde o seu Secretário de Estado foi autarca por pura coincidência? Será que também foi por coincidência que a ANPC convidou a empresa do marido de uma autarca do PS de Guimarães para produzir os kits a partir de um Parque de Campismo? Será que a ANPC também convidou a empresa do irmão do marido da autarca de Guimarães por coincidência? Ou foi apenas para fazer o jeito? A trapalhada continua com outra das empresas supostamente convidadas, como obriga a lei, a dizer que afinal não foi sondada. Provavelmente ninguém esperava o embaraço dos lenços inflamáveis e que alguém jamais iria verificar os termos da contratação. Mas enganaram-se, enganaram-se tanto os responsáveis por este processo bem como os que o tentaram inicialmente abafar.
Se a falta de vergonha do Ministro já não me espanta, graças ao seu histórico de arrogância e insolência, já o silêncio cúmplice de um General de três estrelas como Mourato Nunes, o Presidente da ANPC acusado por Eduardo Cabrita e ilibado pelo jovem “padeiro”, já me surpreende. Mourato Nunes, perante a acusação do Ministro, tinha duas soluções: ou desmentia Eduardo Cabrita e revelava o que todos suspeitamos, que foi o Governo e em particular o Gabinete do MAI que coordenou toda a operação das Aldeias Seguras e que a ANPC apenas pagou a conta, ou simplesmente demitia-se. Com qualquer umas destas atitudes defenderia os colaboradores e uma instituição tão importante como a ANPC, honraria o prestígio das Forças Armadas e o seu estatuto de General e não de oficial de fretes do Primeiro-Ministro António Costa e, sobretudo, defenderia a verdade e a transparência como valores fundamentais da nossa democracia.
Isto é um Governo displicente, arrogante, entregue à rapaziada do Partido Socialista, fragilizando instituições, subvertendo as regras do bom senso, violando a lei e fazendo de todos nós parvos.
Quanto aos políticos envolvidos, tenham ao menos um mínimo de dignidade na saída colocando os seus lugares à disposição. A culpa não pode morrer solteira nem nos braços do jovem Adjunto.
Duarte Marques – Expresso
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