sexta-feira, 26 de julho de 2019

A prova de fogo para a maioria absoluta.

Mafalda Anjos – Visão

Este jogo de passa-culpas tem sérios efeitos a curto prazo – vale votos em Outubro. A percepção que ficar para os portugueses é determinante para a maioria absoluta.


Começou o calor e o País voltou a arder. O fogo atacou em Castelo Branco e Santarém, galgando muitas zonas de mato e floresta em Vila de Rei, Sertã e Mação. A área ardida desde o início do ano mais do que duplicou ao longo do último fim de semana. Segundo as estatísticas do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais, neste momento, Portugal é já o segundo pior em matéria de áreas ardidas entre os países da União Europeia.

Com o calor vêm os fogos, sempre foi assim. E será – é bom que nos habituemos à ideia –, cada vez pior com as alterações climáticas para os países do Sul da Europa. Vamos ter grandes incêndios nas zonas florestais, de grandes proporções e condições difíceis de dominar, e por isso todos concordam que é preciso agir seriamente na prevenção e no cuidado e limpeza da floresta, e num plano de combate mais racional, mais eficaz e mais coordenado. A jusante é preciso combater o abandono e o envelhecimento do Interior, problemas de base quando se fala do território. Tudo isto é complexo. E não há, infelizmente, varinhas mágicas para evitar que os incêndios aconteçam, nem para os apagar quando entram em zonas de mato muito denso com condições meteorológicas desfavoráveis.

Só que esta espécie de fatalidade geográfica e climática é uma realidade difícil de aceitar quando estamos perante populações aflitas, casas a arder, pessoas feridas pelo fogo. É tentador encontrar um culpado, e o culpado imediato nunca é o pobre vizinho que não limpou os terrenos nem a câmara municipal que não acondicionou as matas. Na cabeça das pessoas, o culpado é o Estado, essa entidade indistinta que, para muitos, falha em todas as frentes: na limpeza, no planeamento e no combate. E, na cabeça das pessoas, o Estado tem um rosto, o do Governo e o primeiro-ministro em funções.

Ninguém quer saber do jogo de passa-culpas entre Governo e entidades locais que já começou. António Costa já disse que os autarcas são os “primeiros responsáveis pela protecção civil em cada concelho”, que devem “prevenir, através da boa gestão do seu território, os riscos de incêndio”, respondendo às críticas do vice-presidente da Câmara Minicipal de Vila de Rei que acusou o Estado de voltar a falhar.

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