terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

EuroBic será comprado com dinheiro da Venezuela. EuroBic é nova etapa da expansão ibérica dos venezuelanos do Banesco.

O venezuelano Banesco é dono do Abanca, que compra 95% do EuroBic, e quer expandir-se no mercado ibérico.

Juan Carlos Escotet fundou o Banesto, que chegou a Espanha há sete anos e ficou com o Abanca, do qual  é presidente. Saída de Isabel dos Santos e compra de 95% do EuroBic permite novo passo no crescimento.

A compra de 95% do EuroBic comunicada ontem pelo Abanca representa mais um passo no crescimento do venezuelano Banesco no mercado ibérico, depois de ter chegado a Espanha no período da crise. O processo começou pelo pequeno Etcheverría e, logo depois, comprou a Novagalicia/NCG, num ciclo de aquisições que envolveu as agências da CGD neste mercado e a rede do Deutsche Bank em Portugal. Por parte dos compradores, o acordo agora anunciado foi rubricado por Juan Carlos Escotet, presidente do Abanca e fundador do Banesco, e por Francisco Bota, presidente executivo do Abanca, numa cerimónia que marcará a saída de Isabel dos Santos do sector financeico português. O anúncio da assinatura do memorando de compra de venda surgiu cerca de duas semanas depois de Isabel dos Santos anunciar a intenção de vender os 42,5% que detém no banco na sequência da pressão do caso Luanda Leaks e das autoridades angolanas. À estratégia de saída de Isabel dos Santos junta-se a dos outros accionistas do EuroBic, perfazendo 95% do capital. Em relação aos 5% remanescentes, há duas hipóteses: ou um dos pequenos investidores angolanos não quis, pelo menos por agora, vender; ou Fernando Teles fez questão de ficar com uma posição minoritária no banco português — é o segundo maior accionista e presidente do BIC em Angola. Os valores do negócio não foram revelados, tendo o Banco de Portugal apenas emitido um curto comunicado onde informou ter recebido a notificação do memorando de entendimento sobre a operação. O negócio está sujeito à autorização do BCE “em articulação com o Banco de Portugal, uma vez recebida e analisada a informação exigível”. Até aqui, não têm sido conhecidos entraves à expansão do banco, tendo Juan Carlos Escotet um historial de compras de activos em dificuldades ou colocados na lista de participações a alienar. Foi isso, aliás, que permitiu ao Banesco chegar a Espanha e pagar mil milhões pela Novagalicia, com o Estado espanhol a perder 8 mil milhões de euros pelo meio. De acordo com o jornal Expansión, o negócio implicou o pagamento de 400 milhões no imediato, tendo o resto sido pago até 2018.  Nascido em Espanha e criado na Venezuela, Juan Carlos Escotet fundou em 1986, com outros sócios, a Banesco Casa de Bolsa. Depois, compraram, de acordo com o site do grupo, o Bancentro, dando origem ao banco Banesco. Em 2002, ao fundir-se com o Unibanca, criando o Banesco Banco Universal. Seguiu-se a internacionalização para mercados como os EUA (Miami) e Colômbia. No final de 2012, o Banesco passou a dominar o capital do banco Etcheverría, depois de ter comprado grande parte das acções à Caixa Novagalicia, já em dificuldades. Esta foi a porta de entrada na Península Ibérica daquele que se apresenta como o maior banco privado da Venezuela. Pouco depois, em Dezembro de 2013, seria a vez da Novagalicia, ela própria um resultado de fusões (com a Caixanova), para tentar fugir aos efeitos da crise. Por esta altura, já a Novagalicia se tinha transformado em NCG, para depois, em 2014, assumir o nome de Abanca. Até há pouco tempo com uma presença incipiente em Portugal, o Abanca expandiu-se no mercado nacional com a compra do negócio de retalho do Deutsche Bank, concluída em Junho do ano passado. Em paralelo, Portugal também lhe permitiu crescer em Espanha, com a CGD a alienar o negócio que tinha neste mercado. No último exercício, o lucro do banco foi de 405 milhões.  Agora, o Abanca dá um novo passo em frente, passando a somar mais activos e passivos, trabalhadores, balcões e clientes. No caso destes três últimos indicadores, os valores do Abanca em Portugal acrescidos aos do EuroBic (que abriu portas em 2008 e cresceu de forma significativa com a compra do BPN ao Estado por 40 milhões, tendo 6148 milhões de euros em depósitos) chegam aos 254 em balcões (o Novo Banco tem 362) e fica com quase 2 mil trabalhadores e mais de 340 mil clientes. Em 2018, os lucros do EuroBic foram de 42,5 milhões.

Um dos últimos grandes negócios de grupos espanhóis em Portugal foi a OPA lançada pelos catalães do Caixabank sobre o BPI (saindo Isabel dos Santos). Em Maio de 2018, a Lusa noticiou que as autoridades venezuelanas tinham detido 11 altos dirigentes do Banesco, no âmbito de uma investigação mais geral, por alegadamente “encobrirem irregularidades que atentaram contra a moeda” na Venezuela.  Na altura, Juan Carlos Escotet anunciou que iria viajar de imediato para a Venezuela para prestar declarações. Segundo a Lusa, a imprensa venezuelana dava conta de que nos últimos anos o Governo venezuelano tinha intenções de comprar o Banesco.

luis.villalobos@publico.pt

Público • Terça-feira, 11 de Fevereiro de 2020

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os comentários são livres e só responsabilizam quem os faz. Não censuro ninguém, por princípio. Só não aceito linguagem imprópria.