Isabel Moreira, estalou-lhe o verniz?
Eu acho que Isabel Moreira devia agradecer a André Ventura ele existir. Existir e ser deputado. Porque de facto se André Ventura não existisse todas as “Isabéis Moreiras” da vida não tinham neste momento quaisquer 10 segundos de fama.
Autor: Rodrigo Alves Taxa – jornal ‘i’ – 6-6-2020
Isabel Moreira é talvez das figuras mais caricatas que em 46 anos de Democracia passaram pelo Parlamento português. E quando digo caricato não estou necessariamente a dizer que isso seja mau. Num edifício como o de S. Bento, em que o peso das instituições se sente de forma tão particular também faz falta haver alguém que nos faça rir.
Como eu adoro uma boa comédia! São tantos os episódios da série em que gosta de ser actriz principal que tenho dificuldade em escolher o melhor. Mas recordo com especial divertimento o dia em que estava a pintar as unhas no plenário de S. Bento num debate sobre o Orçamento do Estado. Pormenorizada e cuidadosamente. Pincelando com suavidade a aspereza das suas unhas por natureza tão aguçadas.
A única circunstância que me entristece é saber que, afinal, é para isso que os portugueses lhe pagam o ordenado. Para pintar as unhas em pleno local de trabalho. São opções Isabel. Num país decente, ou se a noção do ridículo ou vergonha de si constasse, talvez pudesse continuar a pintar unhas, mas em casa. Mas Isabel Moreira não é só a comédia do Parlamento. É a comédia no Parlamento. Querem um exemplo? Eu dou. Então não é que foi Isabel Moreira quem disse que, e cito: “A vida não é um direito absoluto”? Quero acreditar que quando disse tamanho disparate estivesse medicada. Medicada como naquele célebre episódio eternizado pelo youtube em que, subindo ao palanque para discursar, disse e cito novamente “Senhor Presidente estou um pouco drogada. Drogas lícitas”.
Confesso que aqui não achei muito engraçado. Achei só ridículo. Ridículo que alguém faça um papel ridículo sem sequer perceber o ridículo do seu ridículo. Percebeu Isabel? Calculo que não porque na verdade a Sra. Deputada não consegue perceber o que de mais básico tem o ser humano: a vida. Claro que os patetas arregimentados das caixas anónimas que comentam artigos vão começar já a destilar veneno, mas estou-me nas tintas. Aqui chegados e quando eu penso que não me posso rir mais das aparições de Isabel Moreira sou sempre surpreendido.
Esta semana, como tantos outros encartados, chamou André Ventura de racista. Isto em plena comissão parlamentar tendo sido de imediato chamada à atenção pelo Presidente dessa mesma comissão. Eu acho que Isabel Moreira devia agradecer a André Ventura ele existir. Existir e ser deputado. Porque de facto se André Ventura não existisse todas as “Isabéis Moreiras” da vida não tinham neste momento quaisquer 10 segundos de fama. Depois, e isso já não me diverte, muito pelo contrário, entristece-me profundamente, é que não é André Ventura quem dissemina racismo. Quem dissemina e intoxica a sociedade com o tema do racismo são, uma vez mais, todas as “Isabéis Moreiras” do regime.
O que seria da esquerda parlamentar se estes temas não fossem por si empolados? A esquerda parlamentar precisa que haja pobreza, dificuldade, drama social, necessidades, racismo, crise, dor, sofrimento, precariedade, desemprego, contestação e confronto para existir. Se não houver, de que falarão? É que ó Isabel, desculpe, e agora voltando ao que em si me diverte, alguém a conhece por algo que tenha contribuído para a melhoria concreta do país? Ninguém. Perguntar-me-á: E ao André Ventura alguém conhece? Calma sra. Deputada. André Ventura leva meses de mandato. A senhora já vive do regime há 9 anos. Contributos para o país, zero. Bola. Mas aí também em sua defesa lhe digo que não é a única. Tem essa desculpa. Fraca. Mas tem. Mas Isabel, sra. Deputada Isabel Moreira, a sra. que tem a política nos genes sanguíneos, seja mais sóbria, mais ponderada, mais assertiva, mais produtiva, e permita-me também um pouco mais educada.
Aquela educação que eu sei que lhe deram, mas que me questiono se por vezes terá esquecido, sempre que, por exemplo, ao passar por algumas pessoas nos corredores de S. Bento nem um simples bom dia lhes diz. Pela parte que me toca não me fazem falta, mas há mínimos. Deixe lá o André Ventura. Ele pode ser a sua maior irritação, mas é também o seu maior seguro de vida política. Espero não levar a mal o meu artigo.
Afinal quem com tanta convicção chama alguém de racista, estou certo perceber que não pode levar a mal quem lhe ache só ridícula.
Disse.
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