terça-feira, 16 de junho de 2020

Francisco Paulo de Almeida - Barão de Guaraciaba: reflexões biográficas e contexto histórico

Francisco Paulo de Almeida, barão de Guaraciaba.

Pode parecer ficção, mas não é e está contada no livro Barão de Guaraciaba - Um Negro no Brasil Império, do historiador Carlos Alberto Dias Ferreira. Francisco Paulo de Almeida foi um homem de negócios brasileiro, do século XIX, que teve centenas de escravos nas plantações de café.

"Não se trata de uma contradição ele ter sido negro e dono de escravos, pois tinha consciência do período em que vivia e precisava de mão de obra para tocar suas fazendas. E a mão de obra disponível era a escrava", disse Dias Ferreira à BBC Brasil.

A sua trineta Mónica de Souza Destro também não vê nada de mais no facto de um negro ter tido a seu cargo escravos negros. "Ainda que nos cause repúdio hoje em dia, o contexto de escravidão era uma coisa normal e era mão-de-obra que existia naquele tempo", comentou.

Francisco Paulo de Almeida nasceu no interior de Minas Gerais em 1826, no Brasil independente, filho de um pequeno comerciante e de uma antiga escrava. Desde novo mostrou grande iniciativa, trabalhando como ourives e a tocar violino nos funerais para complementar os rendimentos.

Aos 15 anos começou a transportar gado entre Minas Gerais e o Rio, ou seja, era tropeiro. Daí para o comércio de gado foi um passo e o seguinte foi comprar terras para plantar café. A fortuna construiu-se também com a herança proveniente dos sogros: chegou a ter várias fazendas de café, centenas de escravos ao seus dispor, empresas (banca, ferrovia, energia) e palácios, como o Palácio Amarelo, hoje sede da Câmara Municipal de Petrópolis.

A princesa Isabel, enquanto regente, concedeu-lhe o título de barão de Guaraciaba em 1887. Depois de ter experimentado o sucesso enquanto empresário, Francisco Paulo de Almeida foi também um benemérito. Morreu em 1901 no Rio de Janeiro, já na república do Brasil.

Tese de: Carlos Alberto Dias Ferreira  

Esta dissertação, definida aqui como uma reflexão biográfica, tem como objecto os caminhos, as relações, as estratégias, as histórias e o contexto histórico de Francisco Paulo de Almeida, nascido no ano de 1826 e falecido em 1901. Homem negro, que no Brasil Império iniciou-se, aproximadamente em 1838, como ourives e, posteriormente, já pelos anos de 1842, como tropeiro. Em 1860, já pertencia a oligarquia cafeeira, com fazendas em Valença, Paraíba do Sul e Arraial de Três Rios, no Rio de Janeiro e na cidade de Mar de Espanha, em Minas Gerais, além de ter sido Provedor da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Valença-RJ. Teve participação importante em parte da construção da Estrada de Ferro do Médio Vale do Paraíba, além de ter sido sócio e fundador de empresas de sociedade anónima e de ter participado do sistema financeiro de Juiz de Fora - MG, na constituição do Banco Territorial e Mercantil de Minas Gerais e o Banco de Crédito Real de Minas Gerais, "O Credireal". Entre as propriedades que possuiu, além das fazendas, tinha uma casa na Corte, situada à Rua Moura Brito e foi dono do Palácio Amarelo, atual sede do Legislativo da cidade de Petrópolis - RJ. Trata-se, aqui, portanto, de uma reflexão biográfico-histórica construída dentro dos padrões da "Nova História Política", aprofundada no debate teórico sobre as formas de como fazê-lo, pesquisando o que se tem escrito sobre as distinções e as adversidades da escrita biográfica. Dentro dos caminhos possíveis optou-se pela metodologia indiciária, muito bem utilizada por Carlo Ginzburg, principalmente nas redes de sociabilidade produzidas através do compadrio. Além disso, articulam-se e exploram-se as trajetórias e histórias de vida com as redes de sociabilidade e as relações de poder permitidas, constituintes dos caminhos trilhados, aqui analisados. Pode ver-se aqui: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=174516

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