terça-feira, 9 de junho de 2020

Bases científicas sobre o uso de máscaras para protecção individual e social

    Gabriel Branco

    Director do Serviço de Neurorradiologia do Hospital Egas Moniz


    As máscaras são para ser usadas por pessoas doentes em contacto com pessoas saudáveis, pelos cuidadores de pessoas doentes e por quem desinfecta zonas hospitalares referenciadas, por mais ninguém.

    A população em geral tem sido aconselhada ou obrigada por Lei a usar máscaras que cobrem a boca e nariz, sem que as autoridades responsáveis por essas sugestões ou ordens tenham fundamentado de forma clara as provas da eficácia dessa prática, no que se refere à prevenção de doença respiratória viral.

    Parece ser útil no interesse da saúde pública conhecer os dados científicos disponíveis sobre a eficácia dos diversos de tipo de máscaras na protecção contra estes agentes.

    Existem basicamente 3 tipos de máscaras:

    1. Máscara têxtil reutilizável após lavagem;

    2. Máscara de tipo cirúrgico, de elásticos ou atilhos;

    3. Máscara filtro respiratório, designadas P1 a P3;

      1. As máscaras cirúrgicas foram concebidas para proteger o campo operatório, filtrando 95% das bactérias expiradas, por reterem partículas a partir de 1000 nm. Não foram concebidas como filtros respiratórios de protecção individual.

        A letra P é uma abreviatura de FFP (Filtering Face Piece); estas são as únicas máscaras que podem ser consideradas como filtros respiratórios. A maior parte das máscaras FFP contêm um filtro plástico central, mas muitas máscaras correntemente em uso em Portugal, com código KN300, não têm esse componente, embora possam ser classificadas como P1 ou P2.

        Nos EUA a sigla N95 é equivalente a P2 ou P3 na Europa. Os números 95 e 300 significam que há uma capacidade de filtrar 95% ou mais de partículas de dimensão igual ou superior a 300 nm.

        Revendo a literatura científica, devemos considerar a superioridade dos RCT sobre os artigos gerais. RCT são Estudos Randomizados Controlados e representam o grau de prova máxima que é possível obter em ciências médicas e biologia.

        Especificamente sobre a protecção de máscaras contra os vírus da gripe, destaca-se um grande artigo de revisão crítica sobre a eficácia das máscaras, cuja conclusão passo a citar: “Nenhum dos estudos estabeleceu uma relação conclusiva entre o uso de máscara/respirador e a protecção contra a infecção por gripe (influenza): Influenza Journal (DOI:10.1111/j1750-2659.2011.00307.x)

        A eficácia da máscara cirúrgica é definitivamente colocada em causa num RCT de boa qualidade, que compara a eficácia da máscara cirúrgica com os filtros respiratórios: A cluster randomized clinical trial comparing fit-tested and non fit-tested N95 respirators to medical masks to prevent respiratory virus infection in health care workers. Influenza and Other Respiratory Viruses (DOI:10.1111/j.1750-2659.2010.00198.x)

        De facto, olhando para as especificações técnicas dos fabricantes de máscaras não é surpreendente a falta de provas científicas sobre a eficácia das máscaras das doenças tipo gripal. O Ortomixovirus, que é o agente da gripe A (influenza nos EUA) tem dimensão de 180 nm, portanto abaixo da capacidade filtrante das máscaras. O diâmetro do Coronavirus é de apenas 80 a 120 nm, o que o torna ainda mais difícil de filtrar que o Ortomixovirus.

        Para além disso o Ortomixovirus tem tendência para formar aglomerados filamentosos, o que motiva a formação de partículas maiores, enquanto esse fenómeno não se verifica tanto nos Coronavirus.

        Quanto às máscaras têxteis, o seu uso não só não protege como agrava o risco de infeção viral: A cluster randomized trial of cloth masks compared with medical masks in healthcare workers. BJM Open 2015;5:e006577.doi:10.1136/bmjopen-2014006577).


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