quarta-feira, 17 de junho de 2020

Mário Centeno é a nova Whoopi Goldberg

Também a estátua do Gil, a mascote da Expo 98, foi vandalizada. Mas o problema não eram os opressores homens brancos? Ou de agora em diante também vão tirar desforço das inofensivas criancinhas azuis?

Quem não se lembra do clássico dos anos 90 “Do Cabaré para o Convento”, película em que Whoopi Goldberg é uma vedeta de cabaré que testemunha um crime e é enviada para um convento, com uma nova identidade, para poder continuar a sua vida? Pois é, vem aí sequela, desta vez protagonizada por Mário Centeno. Nesta nova versão, o Ex-Ministro das Finanças é a vedeta de um autêntico circo chamado Governo do PS que, depois de testemunhar o crime que foi a sua política de cativações nos serviços públicos, é enviado para o Banco de Portugal para continuar a sua vida, qual diácono da supervisão, a fiscalizar condutas de comportamento do sistema financeiro. Anseio pela estreia, com a certeza que estará a salvo das hordas de activistas que levaram a HBO a retirar do seu catálogo o “E Tudo o Vento Levou” por perpetuar estereótipos racistas. É que, nesta nova trama, Mário Centeno perpetua estereótipos, sim, mas são estereótipos socialistas. E esses são estupendos, como é óbvio.

O pano de fundo desta filantrópica censura é, dizem, uma guerra cultural. De um lado estão os conservadores e do outro está a turba progressista de socialistas e comunistas das várias estirpes, instigadora das causas fracturantes geradoras de minorias educadas na vitimização e manipuladas a seu bel-prazer como mero instrumento de poder. Muito resumidamente, acho que é isto. No entanto, estou convencido que a teoria da guerra cultural tem uma falha grave. Por exemplo, quando o movimento Antifa — que supostamente significa “anti-fascista” — condena o legado e vandaliza a estátua de Winston Churchill, ou quando manifestantes anti-racismo exigem a retirada de monumentos a Abraham Lincoln, o que me ocorre é que este lado da tal guerra cultural não está exactamente a esforçar-se por demonstrar os méritos da sua perspectiva do conhecimento, da moral e da lei, uma vez que estes amotinados não possuem nada do primeiro, o que quer que seja da segunda, e teimam em violar a terceira.

Motivo pelo qual, especialmente nos Estados Unidos da América, a situação continua explosiva. Literal e metaforicamente. Eu vejo alguns paralelos com os tempos da Guerra do Vietname. Não tanto no que às motivações dos protestos nas ruas diz respeito, mas mais quanto à natureza do inimigo da América. No fundo, em ambos os casos, estamos perante guerrilhas. Só que enquanto no Vietname os vietcongues atacavam e voltavam para os seus túneis, a grande maioria destes modernos arruaceiros ataca e volta para a cave de casa dos pais.

Entretanto, a moda de vandalizar estátuas chegou a Portugal e a abrir o desfile esteve um trabalho realizado num monumento ao Padre António Vieira. O modelo de vandalismo apresentado foi um daqueles básicos, em que se condena à luz da moral dos nossos dias alguém que faleceu há escassos 323 anos, complementado com a sempre irónica imbecilidade de desconhecer que a vítima da pichagem foi, na verdade, percursor dos direitos que os hodiernos meliantes dizem defender. Esteve bem o Presidente da República ao afirmar que “Vandalizar estátuas é imbecil”. No entanto, esta declaração foi proferida ainda antes da notícia, essa sim chocante!, de que também a estátua do Gil, a mascote da Expo 98, foi vandalizada. Acto merecedor de repreensão muitíssimo mais veemente. Mas então o problema não eram os opressores homens brancos? Ou de agora em diante também vão tirar desforço das inofensivas criancinhas azuis?

Já em Inglaterra, o mundo académico tenta ainda redimir-se das pateticamente apocalípticas previsões do Imperial College London acerca do número de vítimas da Covid-19. Desta vez foi a Universidade de Oxford a tentar cair nas boas graças do cidadão comum, publicando um estudo no International Journal o Obesity em que garante que “Ter gordura gluteofemoral, que é como quem diz, ter um rabo grande, é importante para a saúde metabólica e cardiovascular”. Obrigado pela informação, Universidade de Oxford, esta noite haverá fritos, gorduras e doces por esses lares do mundo fora, tudo em nome da saúde metabólica e cardiovascular. Mas agora a sério. E se, em vez de andarem a inventar desculpas para analisar rabos, descobrissem mas era a vacina para o coronavírus?

Tiago Dores

Observador

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