terça-feira, 15 de novembro de 2022

Carlos III não quer que André ou Harry o substituam. Até já pediu ajuda ao Parlamento britânico

Carlos III quer evitar a todo o custo ser substituído em funções pelos membros mais polémicos da sua família. O rei britânico pediu ao Parlamento que mude a Lei da Regência para que jamais o seu irmão André ou o seu filho Harry sejam chamados na sua ausência ou incapacidade. Quer, em vez disso, ver empossados os seus irmãos Ana e Eduardo.

No trono há pouco mais de dois meses, o monarca quer que os deputados alterem a designação dos conselheiros de Estado. Estes são actualmente, por lei, o cônjuge do chefe de Estado e os primeiros quatro nomes da linha sucessória que sejam maiores de 21 anos. Que é como quem diz, a rainha consorte Camila; os dois filhos do rei: William, príncipe de Gales; e Harry; o irmão André; e a filha mais velha deste, Beatriz. A lei estipula que o monarca nomeie dois dos conselheiros de Estado para o substituir quando estiver impedido de cumprir funções.

Acontece que dos actuais cinco conselheiros, só Camila e William são membros activos da família real. Seria estranho, dados os motivos para André e Harry se terem afastado, que fossem chamados a representar Carlos em actos como, por exemplo, receber credenciais de embaixadores ou assinar documentos em nome do rei.

 UM SAIU POR OPÇÃO, O OUTRO FOI OBRIGADO

Harry afastou-se por vontade própria. Aos 37 anos, vive na Califórnia com a mulher, Meghan Markle, e os filhos Archie e Lilibet, e dedica-se a iniciativas que vão de podcasts a conferências. Não abdicou de direitos dinásticos, mas foi afastado de deveres oficiais e honras militares por Isabel II.

O também duque de Sussex está prestes a lançar um livro de memórias com o título “Spare” (Suplente), que causa inquietação no palácio de Buckingham pelas revelações polémicas que possa conter. Na memória de todos estará a curta frase “As recordações podem variar” com que a agora defunta avó de Harry reagiu à entrevista que o casal deu e 2021 à apresentadora televisiva Oprah Winfrey.

Já André — 62 anos, terceiro dos quatro filhos de Isabel II — foi obrigado a sair da ribalta devido ao seu envolvimento com o abusador de menores Jeffrey Epstein, que se suicidou na prisão em 2019. O príncipe e também duque de Iorque (título a que a cidade em causa pede que renuncie) era amigo de Epstein, milionário americano.

Uma vítima das redes pedófilas montadas por este último, Virgínia Giuffre, afirmou ter sido obrigada a sexo com André quando tinha 17 anos. O príncipe negou conhecê-la, mas aparece em fotos com Giuffre, em casa de Ghislaine Maxwell, amiga comum de André e Epstein, que atualmente cumpre pena de cadeia por ter sido a recrutadora de menores depois abusadas.

André evitou ir a tribunal através de acordo extrajudicial com a acusadora, de valor não revelado, que a imprensa britânica calcula em 12 milhões de libras (13,6 milhões de euros), no ano passado. Parte do montante foi subsidiado pela fortuna pessoal da rainha. Abandonou a vida pública, perdeu honras militares e só no funeral da mãe teve licença para aparecer.

Beatriz, filha de André, não está envolvida em controvérsias, mas escolheu uma vida independente. Trabalhou em galerias de arte e faz palestras, tendo intervindo várias vezes na Web Summit, em Lisboa, sobre assuntos ligados ao cyberbullying.

NÃO FERIR SUSCETIBILIDADES

Com 74 anos feitos esta segunda-feira, Carlos é o mais velho rei de sempre a subir ao trono, pelo que a questão da substituição é pertinente. Em vez de afastar André e Harry de conselheiros de Estado, o que poderia agravar os relacionamentos já frágeis com dois parentes próximos, opta por pedir a promoção a esse estatuto dos dois irmãos que efetivamente prestam funções oficiais: Ana, Princesa Real (72 anos) e Eduardo, conde de Wessex e Forfar (58 anos).

O pedido do soberano foi “assinado pela mão de Sua Majestade”, segundo o registo parlamentar, e endereçado ao Parlamento. “Para assegurar a eficiência continuada das funções públicas quando estiver indisponível, nomeadamente quando cumpro deveres oficiais no estrangeiro, posso confirmar que ficaria muito contente se o Parlamento aceitasse um aumento do número de pessoas que podem ser chamadas a atuar como conselheiros de Estado ao abrigo dos termos da Leis de Regência de 1937 e 1953, passando a incluir a minha irmã e o meu irmão, a Princesa Real e o conde de Wessex e Forfar, ambos os quais já desempenharam esse papel”, escreve Carlos III. Durante o reinado de Isabel II, Ana e Eduardo já foram conselheiros de Estado.

A missiva régia foi lida e bem recebida na Câmara dos Lordes e na Câmara dos Comuns. “Haverá legislação relacionada com esta mensagem para a Câmara dos Comuns ponderar atempadamente”, anunciou a ministra dos Assuntos Parlamentares, Penny Mordaunt. Entre os lordes ouviram-se vivas. Carlos, que será coroado a 6 de maio na abadia de Westminster, pretende viajar a partir do próximo ano e precisará de ser substituído. Daí a urgência consensual entre palácio e Parlamento em fazer as mudanças pertinentes à lei.

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