domingo, 6 de novembro de 2022

O inseparável Putin

Dantes era a esquerda que fazia a distinção entre a Rússia e Putin. Agora, também a direita alinhou.

Gosto dos russos e gosto da cultura russa e gosto da Rússia, para além de gostar, como toda a gente, da literatura russa e da música russa e do cinema russo e da arte russa, que não são nada a mesma coisa que a cultura russa, embora se possa dizer que fazem parte dela.

Gosto da Rússia, porque a Rússia nunca fez mal a Portugal ou aos portugueses. É-me fácil gostar da Rússia. Seria dificílimo eu arranjar maneira de não gostar dela.
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Mas já não aguento que me digam que os ucranianos estão zangados não tanto com a Rússia mas com Putin. Ou, quando muito, com a Rússia de Putin.

Dantes era a esquerda que fazia a distinção entre a Rússia e Putin. Agora, também a direita alinhou. Esta fantasia mentirosa culmina na ideia que bastará eliminar Putin para voltar a concórdia entre a Rússia e a Ucrânia.

Ora, é preciso não saber absolutamente nada de História para pensar que o ódio à Rússia é de agora e que se deve, fundamentalmente, ao ódio a Putin.
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Há tantos países maltratados pela Rússia e pela União Soviética, que têm razão para ter medo da Rússia, que a Ucrânia está longe de estar sozinha.

Esse medo e essa desconfiança são o resultado de experiências históricas causadas por russos. Estou a ser o mais abstracto possível para não me pôr a falar da Polónia ou da Lituânia ou de qualquer outro país que já foi dominado ou prejudicado pelos russos.

A invasão da Ucrânia só piorou a russofobia. Aliás, a russofobia estava tão bem estabelecida que o espírito imperialista que presidiu à invasão pode muito bem ter sido o “perdido por cem, perdido por mil”.

Imagine-se que se dissesse de todos os países antiamericanos deste mundo que eles não são contra os EUA, não, eles são é contra o Joe Biden e, antes dele, o Donald Trump.

É sempre mau sinal quando o país invasor diz que é irmão do país que invade. Quando a Ucrânia resistiu, a Rússia protestou “mas nós somos irmãos!” – e carregou ainda mais.

Putin é apenas um russo particularmente odiado.

Miguel Esteves Cardoso

https://www.publico.pt/

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