terça-feira, 22 de novembro de 2022

Vem dizer o quê, o vídeo?

Não vou dizer nada sobre este vídeo. Faça o favor de procurar Les Petits Chanteurs d’Asniéres rendent hommage à Serge Gainsbourg.

Não vou dizer nada sobre este vídeo. Se estiver a ler em papel, faça o favor de procurar Les Petits Chanteurs d'Asniéres rendent hommage à Serge Gainsbourg.

A gravação é de 1988. Gainsbourg morreria em 1991, com 62 anos. A canção, escolhida (e adaptada) para a homenagem, chama-se Je suis venu te dire que je m'en vais e foi escrita em 1973, depois de ele ter sofrido um enfarte.

Gainsbourg, cujos hábitos hepáticos e pulmonares sugeriam a imortalidade ou o suicídio, pensava que ia desta para melhor. Tinha 45 anos e continuava apaixonado por Jane Birkin, com quem tinha gravado, em 1969, Je t'aime... moi non plus.

Em 1973, a filha deles, Charlotte Gainsbourg, ainda era muito pequenina, tendo nascido no Verão de 1971. Foi assim que escreveu e cantou Je suis venu te dire que je m'en vais, a lembrar-se da Chanson d'automne de Verlaine, que acaba assim:

Tout suffocant

Et blême, quand

Sonne l'heure,

Je me souviens

Des jours anciens

Et je pleure;

Et je m'en vais

Au vent mauvais

Qui m'emporte

Deçà, delà,

Pareil à la

Feuille morte.

Ouvem-se os soluços de Jane Birkin ao longo da gravação, mas, segundo o jornalista Yann Plougastel, que é o especialista em Gainsbourg do Le Monde, a canção foi escrita para Françoise Pancrazzi, com quem foi casado entre 1964 e 1966, e com quem teve dois filhos.

Estes são os dados mínimos e as datas mínimas para poder situar minimamente a homenagem feita a Gainsbourg num programa muito popular da televisão francesa, com os muito populares pequenos cantores d'Asniéres.

Agora, sim, posso perguntar: qual foi a sua primeira reacção ao vídeo? E a segunda? É que é muito mais interessante saber como se reage, aqui em Portugal em 2022, do que estar a impor uma só interpretação pessoal.

Riu-se? Ficou chocado? Comoveu-se? Ou tudo ao mesmo tempo? Ou primeiro uma coisa e depois outra? Acha que seria possível hoje? Em França? E aqui em Portugal, em 1988? E nos EUA?

Tem sempre muita graça, o tempo. Resta saber qual.

Miguel Esteves Cardoso
O autor é colunista do PÚBLICO

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