quarta-feira, 24 de março de 2021

A água devia ser mais cara e os ministros de borla

O preço da água deve subir devido à sua escassez e à pressão do lado da procura.

Já o valor do ordenado a pagar a ministros de embaraçosa qualidade, que brotam de baixo de qualquer calhau, deve descer.

Nota: Este ministro é o mesmo que elaborou uma manigância legislativa, no OE, atropelou a APA e deu de bandeja, mais de 100 milhões em impostos à EDP!!!

24 mar 2021, Tiago Dores, ‘Observador’

Ora, numa altura de profunda crise, provocada pela resposta do governo à pandemia, em que as pessoas com menores rendimentos passam enormes dificuldades financeiras, que estupenda ideia ocorreu ao ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes? Escusam de tentar adivinhar. Não chegam lá. A não ser que sejam o próprio ministro João Pedro Matos Fernandes, ou outro sádico com similares requintes de malvadez. Pois o senhor ministro acha que o preço da água deve aumentar. Como é óbvio. Quem é que precisa de água nos dias que correm? Toda a gente sabe que a hidratação do organismo está muito sobrevalorizada. E que a toma de banhos é, em virtude da escassez do precioso líquido, novel pecado mortal, com entrada directa para o Top 3 do ranking dos mais assassinos pecados mortais.

Este é o exacto ministro que, há pouco mais de dois anos, sugeriu que os portugueses reduzissem a potência dos quadros eléctricos de suas casas para pouparem na conta da luz. E, tendo isto em conta, percebe-se que, afinal, o responsável pela pasta do Ambiente tem uma estratégia até muito bem engendrada em termos de protecção ambiental. Plano esse composto pelos seguintes pontos:

1. Os portugueses reduzem a potência dos quadros eléctricos de seus lares.

2. Vem o Inverno e o frio é responsável por 1 em cada 4 mortos, como aconteceu em Janeiro último.

3. Os portugueses que sobram pensam: “Eh pá, se volta a fazer tanto fresquinho faleço. É melhor aumentar a potência do quadro.”

4. Os mesmo portugueses, de imediato, concluem: “Ah, espera. Não posso aumentar a potência do quadro, porque estou sem trabalho há largos meses à conta do confinamento. Tenho é de reduzir ainda mais a potência do quadro eléctrico, assim é que é. Reduzir. Eu sabia que era qualquer coisa que tinha a ver com a potência do quadro.”

5. Os portugueses consomem menos electricidade.

6. Voltam os dias gelados e os portugueses não conseguem pensar em nada, pois o som dos dentes a bater de frio não lhes deixa escutar o próprio raciocínio.

7. O que os portugueses mais desejavam era tomar um banho quentinho, para desenregelar. Só que para pagarem as contas do gás e da água têm de vender a casa.

8. Os portugueses consomem menos gás.

9. Os portugueses consomem menos água.

10. Enfim, a Mãe Terra prospera e o ministro do Ambiente congemina já a próxima medida que tornará a vida dos portuguesas ainda mais miserável.

No fundo, isto é uma espécie de Decálogo. Só que em vez de ser um conjunto de princípios relacionados com a ética e a adoração a Deus, trata-se de um conjunto de princípios relacionados com a falta de ética e com a adoração do falso deus das Alterações Climáticas. De resto, podia perfeitamente tratar-se de mais uma religião abraâmica.

E é então para potencializar o impacto desta estratégia que o ministro Matos Fernandes quer aumentar o preço da água. Diz ele que a água é “escassa” e que o seu “preço deve reflectir essa escassez”. Alto. Então agora estamos a invocar a lei da oferta e da procura? Um ministro do governo cujo líder afiança que “esta crise foi o maior atestado de falhanço das visões neoliberais” vem-me agora com teorias de fixação de preços num mercado capitalista? Não, não, senhor ministro, tenha paciência. No executivo do qual o senhor faz parte, tal não é admissível. Eu, sim, posso dizer que se porventura o preço da água deve subir devido à sua escassez e à pressão do lado da procura, já o valor do ordenado a pagar a ministros de embaraçosa qualidade, que brotam de baixo de qualquer calhau, deve descer. Aliás, estou convencido que o preço de equilíbrio no mercado deste tipo de ministro será zero.

Mas não nego que tenha estado algo distraído nas aulas de Introdução à Microeconomia

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