Além do imobilismo, do anti-reformismo, da desresponsabilização como modo de ação política, a radicalização será a principal herança que António Costa deixará no PS.
Vai deixar um país mais corrupto! Vai deixar um país mais autocrático, menos desenvolvido, mais funcionários públicos, menos responsáveis...
1Rui Rio tem o que queria: um partido unido. Com a honrosa, corajosa e genuína exceção de Miguel Pinto Luz, todos os seus adversários se submeteram à sua autoridade de líder vencedor de três eleições internas do PSD. Paulo Rangel, Luís Montenegro e muitos outros estão unidos em torno de uma candidatura de Rio. É este o resumo do congresso do PSD — que foi o culminar de um processo de clarificação que, ao contrário do que Rio sempre disse, serviu para fortalecer o partido.
Os discursos de Rui Rio, nomeadamente o de encerramento, mostraram um líder da oposição acutilante e preparado para a guerra. Isso é um bom sinal porque o país, a democracia precisa de alguém que seja alternativa ao PS de António Costa. E, para já, as sondagens indicam que as eleições serão renhidas mas com o PSD com tendência de crescimento e o PS com uma ligeira queda. Traduzindo: Rio tem hipóteses de ganhar as legislativas.
Uma ideia que se reforça quando se ouve o PS a tentar colar Rui Rio ao Chega — uma prova de como os socialistas estão preocupados com o líder do PSD e algo desorientados.
Também é justo dizer que a sua estratégia de se colocar ao centro e de tentar entrar no eleitorado do PS no centro-esquerda tem sido coerente desde a primeira hora em que ganhou a Santana Lopes em 2018. Na realidade, Rui Rio tenta posicionar-se como um político moderado, equilibrado e aberto a acordos com o PS porque pensa no país — e não em si próprio.
É por isso que tentou este fim-de-semana lançar um isco a António Costa: esclarecer se o PS viabilizará um governo do PSD, caso perca as eleições. Isto é algo que não faz sentido à primeira vista porque Costa já disse que, se perder as legislativas, sairá do PS.
Mas Rio não está a pensar só em Costa quando faz esse repto. Está a pensar essencialmente em Pedro Nuno Santos que, neste momento, tem elevadas probabilidades de ser o próximo líder do PS. E o atual ministro das Infraestruturas já disse que a geringonça “não foi um parêntesis” — como quem diz que poderá repetir-se. E de forma mais estrutural.
Com tal repto, e por muito que os socialistas não lhe respondam por agora, Rio consegue posicionar-se ao centro e encostar o PS à extrema-esquerda.
É verdade que tem um ganho de causa para as eleições mas, caso a esquerda mantenha a maioria no Parlamento após o dia 30 de janeiro, arrisca-se a viver o mesmo pesadelo de Passos Coelho: ganha as eleições mas não consegue formar um Governo sustentável.
3O que nos leva a outra questão: a herança que António Costa vai deixar no PS quando abandonar o partido? Em primeiro lugar, e por muito que o próprio não goste, Costa deixará um partido nas mãos de Pedro Nuno Santos — o único dirigente que tem claramente uma posição de controlo maioritário do aparelho do PS.
Aliás, se António Costa perder para Rui Rio e a esquerda mantiver a maioria no Parlamento, ninguém duvida que Pedro Nuno Santos saltará imediatamente para a arena para conquistar a liderança do PS.
Com Pedro Nuno Santos como secretário-geral do PS será claramente um partido mais ideológico e mais radicalizado — um partido à imagem de Nuno Santos, portanto.
Além do imobilismo, do anti-reformismo, da desresponsabilização como modo de ação política, a radicalização do partido será a principal herança que António Costa deixará no PS.
Não se percebe, aliás, como é possível que, perante uma eleições fortemente bipolarizadas entre PS e o PSD, o pragmático António Costa não tenha um esforço considerável na elaboração dos candidatos a deputados para tentar recentrar o partido.
Ainda para mais quando as sondagens indicam claramente que Costa está a ter sucesso no discurso de vitimização face ao voto contra a proposta do Orçamento de Estado do PCP e do Bloco de Esquerda. Mais uma razão para uma aposta no recentramento do PS.
Francisco Assis, Álvaro Beleza, João Ribeiro ou Sérgio Sousa Pinto seriam nomes que dariam um excelente contributo nessa estratégia. Costa, contudo, preferiu deixar os três primeiros de fora e colocou Sousa Pinto em 13.º em Lisboa. Nomes como o socrático João Galamba ou até mesmo Miguel Matos, o líder da Juventude Socialista que disse um dia preferir um ditador (Xi Jinping) a um líder democraticamente eleito (Donald Trump), ficaram à frente de Sousa Pinto.
A questão também pode ser vista de outra forma: em vez de reforçar o capital político dos moderados no PS, onde estão Ana Catarina Mendes ou Mariana Vieira da Silva, Costa optou por não o fazer.
4Na verdade, António Costa parece já estar noutra. Não é que as listas do PSD sejam brilhantes em termos renovação — que não são — mas a falta de frescura das listas do PS é gritante. Entre ministros, secretários de Estado, deputados, altos dirigentes do PS e ex-membros do Governo Costa, não há uma cara nova nos 22 círculos eleitorais.
Este facto reforça a ideia de que as legislativas antecipadas serão, como dizia Luís Marques Mendes este domingo na SIC Notícias, uma espécie de referendo a António Costa e ao seu Governo.
Tendo em conta o cansaço que os eleitores já sentem neste Executivo e no próprio primeiro-ministro, isso não augura nada de bom para Costa. Basta ver as sondagens dos últimos dias para confirmar a tendência de subida do PSD de Rui Rio e a consequente queda do PS.
PS – A vitória de Paulo Colaço para o Conselho de Jurisdição no Congresso do PSD, derrotando Morais Sarmento (candidato de Rui Rio), prova que os congressistas do PSD (e as bases do partido) são sensíveis à ideia constitucional da separação de poderes — algo essencial em qualquer democracia. Liderando o chamado ‘tribunal’ do partido, Colaço sempre resistiu às pressões da direção de Rio. Logo, este é um sério aviso de como o partido não quer que o presidente da Comissão Política insista nos seus sucessivos ataques à independência do poder judicial. Mesmo assim, Rio insiste. No discurso de encerramento voltou a atacar a justiça por não achar “nada estranho e incomum” no negócio da venda do Novo Banco, nomeadamente nos pagamentos contingentes que o contrato celebrado pelo Governo Costa obriga. Não há volta a dar: Rio quer mandar na Justiça.
Luis Rosa Observador
rui xisto
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