quinta-feira, 9 de junho de 2022

OBRIGADINHO POR CELEBRAREM O DIA EM QUE BATI A BOTA

OPINIÃO

Por Luís Vaz de Camões

Meus caros filhos do heroico Luso e netos de ébrio Baco, os deuses reunidos no concílio do Olimpo informaram-me, através das asas rápidas de Hermes, que amanhã dedicam mais uma vez o feriado nacional à minha humilde pessoa e deixe-me que vos diga o agradecido que estou por esse povo, a cuja gesta dediquei toda a minha amargurada vida, ter resolvido homenagear-me celebrando o preciso dia em que bati as botas, perdendo assim a oportunidade de celebrarem, sei lá, outras datas merecedoras de euforia generalizada, como o dia em que um soldado otomano usou uma adaga para sacar-me o olho, ficando com a órbita vazia como as de uma sardinha assada na noite de São António. Obrigadinho também por juntarem o dia em festejam efusivamente a minha solitária morte à celebração das “comunidades portuguesas”, misturando assim o maior poeta da língua portuguesa com os milhões de luso-descendentes que passam as “vacanças” em Portugal e votam de quatro em quatro anos na Marine Le Pen. Isto, claro, partindo do pressuposto que misturarem o meu nome com as difusas e anónimas “comunidades portuguesas” não é uma maneira de celebrarem eu ter sido atirado, depois de morto, para uma vala comum, como um cão sarnoso. De qualquer maneira, deixo-vos outra data festiva em que se podem embebedar: o dia 16 de maio, quando, ainda na Índia, tomei liberdades com um macaco num templo hindu e contraí a varíola que me faria bater o balde um mês depois. Ou – p... da loucura! - o dia 13 de junho, quando, depois de supostamente quinar três dias antes, finalmente desisti de tentar sair do buraco para onde fui precipitada e negligentemente atirado ainda vivo. Não têm de quê. E, não se esqueçam, feliz 10 de junho! V.E.

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