sexta-feira, 30 de setembro de 2022

La gestión del agua

https://elpais.com/diario/1993/11/12/madrid/753107087_850215.html

SANTIAGO MARTÍN BARAJAS

12 NOV 1993

En la Comunidad de Madrid se consumen alrededor de 600 hectómetros cúbicos anuales, lo que significa que gastamos a razón de más de 300 litros por habitante y día, lo que nos coloca entre las personas que más agua consumen de Europa y entre los primeros del mundo. Además, salvo este año, el nivel de consumo se incrementa progresivamente.Para satisfacer esta demanda existen 13 embalses, con una capacidad superior a 900 hectómetros cúbicos, por lo que, en un año normal, el agua almacenada es bastante superior a las demandas de la población, vertiéndose, por tanto, agua de los embalses. Sin embargo, en algunos años secos, el volumen de agua obtenido es inferior a la demanda, siendo estos años en los que los promotores de embalses y otras grandes infraestructuras presionan para la construcción de otros nuevos. Éstos producen, en general, un enorme impacto ambiental, al destruir valles completos, con su vegetación y su fauna, así como un enorme impacto social, al destruir pueblos y amplias extensiones de tierras de cultivos. Si las carreteras y autovías hubiese que dimensionarlas para los días y horas punta, deberían tener cada una 20 carriles o más. Igual de absurdo es diseñar un sistema de embalses de cara a los años o meses más secos del siglo…

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- https://www.eldiario.es/opinion/tribuna-abierta/inutilidad-grandes-embalses_129_2149603.html

O exemplo do golfe, em Espanha

Quando se fala em escassez de água e do uso e abuso deste recurso é inevitável recorrer a um exemplo elucidativo que vem de Andaluzia onde estão instalados 109 campos de golfe que representam um quarto do total nacional.

Um metro quadrado de espaço arrelvado num campo de golfe consome entre 1500 a 2000 litros de água por ano em regiões secas como a Andaluzia. De tal forma que um campo de golfe de 18 buracos consome o equivalente a uma população entre 10.000 e 15.000 habitantes, segundo o cálculo oferecido por Santiago Martín Barajas, engenheiro agrónomo e ambientalista andaluz.

Os 109 campos de golfe “gastam o mesmo que uma população de mais de um milhão de pessoas por ano” realça. O relatório dos Planos Hidrológicos espanhóis 2022-2027, revela que o golfe consome cerca de 2% do consumo total de água na Andaluzia na “mais importante concentração de campos de golfe do mundo”, diz ainda o documento.

https://www.publico.pt/2022/09/20/azul/noticia/chegou-outono-guerra-agua-espanha-vista-2021191

Ajudar o Governo a encontrar o rumo certo.

Aníbal Cavaco Silva

Publico

30 de Setembro de 2022


É fundamental que os partidos da oposição, as instituições da sociedade civil e a comunicação social contribuam para que o primeiro-ministro e o Governo saiam da situação de imobilismo e encontrem um rumo que permita que Portugal volte, dentro de 10 anos, à 15.ª posição em termos de desenvolvimento entre os 27 países da União Europeia em que se encontrava em 2002, depois de ter caído nos anos recentes para o 21.º lugar.
Em Abril deste ano escrevi que, ao fim de seis meses de vida do Governo de maioria absoluta do PS, talvez já existisse informação objectiva que possibilitasse uma avaliação da sua coragem política para fazer as reformas decisivas para colocar a economia portuguesa numa trajectória de crescimento sustentável superior à dos países da União Europeia nossos concorrentes. Tal é indispensável para que Portugal deixe de ser um país de salários mínimos, com uma classe média empobrecida, pensões de reforma que não permitem uma vida digna e serviços públicos de saúde e educação de baixa qualidade.
Passados seis meses, não posso deixar de concordar com Ricardo Reis, um dos economistas portugueses mais respeitados internacionalmente, quando afirma que o Governo, “apesar de todas as promessas, continua sem anunciar uma verdadeira reforma cuja intenção seja abanar a economia”.
O Governo, pelo contrário, tem sido abundantemente qualificado na comunicação social como um conjunto desarticulado e desorientado de ministros desgastados, sem rumo, sem ambição e vontade reformista, um governo à deriva navegando à vista.
A situação é tanto mais preocupante quando existem estudos sobre as reformas que devem ser feitas para colocar o país numa rota de crescimento económico e melhoria do nível de vida dos portugueses promovidos por instituições credíveis, como a Fundação Calouste Gulbenkian, a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a Sedes.

Seria normal que um Governo de maioria absoluta, confrontado com a trajectória de empobrecimento relativo em que o país se encontra, adotasse como uma das suas primeiras prioridades o desenvolvimento de uma estratégia reformista de médio e longo prazo, o que se justificava ainda mais pela pandemia e a guerra na Ucrânia.

É do interesse colectivo que ocorra com urgência uma mudança de atitude do Governo do PS, na medida em que se prevê que se mantenha em funções até 2026. A possibilidade de essa mudança se verificar depende muito do primeiro-ministro e do Conselho de Ministros. A sua acção é decisiva para a qualidade da governação.

Ao primeiro-ministro cabe um papel chave: liderar a política geral do executivo e coordenar, orientar e estimular a acção dos ministros no sentido da realização dos objectivos definidos e garantir a coerência das políticas.

Por outro lado, é igualmente importante a credibilidade do Conselho de Ministros como o centro do processo político de decisão, por onde devem passar todas as grandes decisões e onde se consolida a convergência de posições e o princípio da solidariedade governamental, devendo o primeiro-ministro reservar para si o controlo da respectiva agenda.

No entanto, há hoje o receio de que os comportamentos politicamente reprováveis de alguns membros do Governo que, a par do caos no funcionamento do Serviço Nacional de Saúde, têm marcado a vida do executivo, possam tolher a acção do primeiro-ministro e do Conselho de Ministros e acentuar a sua tendência para a inércia.

Dois deles não podem ser levados à categoria de fait-divers, por aquilo que revelam de negativo para a visão reformista que ao Governo se exige.

Por um lado, a gravidade da afronta política do ministro das Infra-estruturas ao primeiro-ministro sobre a questão do novo aeroporto de Lisboa. Quem já exerceu essa função sabe que o primeiro-ministro não podia deixar de demitir o ministro. Ao não fazê-lo, evidenciou falta de força política – a razão é ainda uma incógnita –, pondo em causa a sua autoridade e, ao mesmo tempo, atingindo a credibilidade do Conselho de Ministros e o respeito pela colegialidade que o deve caracterizar. O ministro, por sua vez, saiu inequivocamente reforçado como candidato à sucessão do primeiro-ministro como líder do PS.

O segundo comportamento politicamente reprovável teve como protagonista a ministra da Agricultura. Ao ser confrontada com a crítica da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) sobre a falta de apoios públicos perante a seca extrema que afetava o país afirmou publicamente: “É melhor perguntar porque é que, durante a campanha eleitoral, a CAP aconselhou os eleitores a não votar no PS”.

Tratou-se de uma declaração inqualificável e a crítica vinda dos mais variados quadrantes foi, em geral, direcionada à pessoa da ministra e centrada na sua falta de bom senso político, uma qualidade da maior importância para um membro do Governo, a par da capacidade de relacionamento com a sociedade civil, como escrevi em devido tempo.

A gravidade da declaração da ministra vai, no entanto, para além da sua pessoa, ao contrário da falta de bom senso revelada pela secretária de Estado da Administração Interna ao afirmar, perante o drama dos fogos florestais, que, segundo os algoritmos, “ardeu 70% do que era suposto arder” ou da ministra da Presidência que, face ao incêndio que devastou cerca de 25% do Parque Nacional da Serra da Estrela, ao anunciar um plano de recuperação dos estragos, afirmou que a serra iria “ficar melhor do que estava”.

Todavia, não deixa de ser preocupante o alastramento da falta de bom senso político entre os membros do executivo como se tem vindo a verificar.

As palavras proferidas pela ministra da Agricultura não podem deixar de reflectir uma convicção enraizada na sua mente de que os apoios financeiros do Governo ao sector privado devem ser orientados prioritariamente para os apoiantes do PS e para aqueles que se abstêm de criticar o executivo. É razoável presumir que uma tal convicção só pode resultar da cultura política por ela apreendida nas reuniões do Conselho de Ministros.

A resposta da ministra às críticas da CAP é, portanto, particularmente grave e perigosa por aquilo que pode revelar de arbitrariedade e abuso do poder por parte do Governo e, consequentemente, negativa para a definição e implementação de uma estratégia reformista indispensável ao crescimento económico e aumento da produtividade. E não haja ilusões de que, sem isso, Portugal continuará a ser um país de salários baixos e classe média empobrecida em que os jovens qualificados e empreendedores fogem para o estrangeiro. Se assim for, no final da década a imprensa continuará a lamentar que Portugal seja um dos países da União Europeia com maior risco de pobreza ou exclusão social, como aconteceu há duas semanas.

Nestas circunstâncias, é fundamental que os partidos da oposição, as instituições da sociedade civil e a comunicação social contribuam para que o primeiro-ministro e o Governo saiam da situação de imobilismo e encontrem um rumo que permita que Portugal volte, dentro de 10 anos, à 15.ª posição em termos de desenvolvimento entre os 27 países da União Europeia em que se encontrava em 2002, depois de ter caído nos anos recentes para o 21.º lugar.

Os partidos da oposição, através de propostas consentâneas com aquele objectivo e de um escrutínio intenso do Governo, denunciando erros, omissões, mentiras e a prática do PS de vetar a chamada de ministros às comissões parlamentares.

As instituições da sociedade civil, através da evidência das consequências para o futuro do país da ausência de uma política de reformas estruturais ambiciosa e persuadindo o Governo a mudar de rumo.

A comunicação social, através de um escrutínio da acção do Governo para além da respiração do dia-a-dia, num quadro de verdade e de independência em relação ao poder político que a deve caracterizar.

Se o fizerem, os portugueses e eu, em nome dos meus filhos e netos em particular, temos razões para lhes estarmos profundamente gratos.

https://www.publico.pt/2022/09/30/opiniao/opiniao/ajudar-governo-encontrar-rumo-certo-2022306

sábado, 24 de setembro de 2022

Supremo do Brasil suspende censura a reportagem sobre imóveis de Bolsonaro.

E o outro é que era corrupto, ou ainda é, como diz o povo.


Decisão ordenava ao portal de notícias UOL que retirasse a reportagem da Internet, depois de um pedido do senador Flávio Bolsonaro, um dos filhos do chefe de Estado.

O tribunal supremo do Brasil suspendeu na sexta-feira a decisão judicial que proibiu uma reportagem sobre o uso de dinheiro vivo por parte do Presidente brasileiro e da sua família para comprar 51 propriedades, classificando-a de censura.

A decisão que ordenava ao portal de notícias UOL que retirasse a reportagem da Internet ficou sem efeito por decisão do magistrado André Mendonça, um dos membros do Supremo Tribunal Federal (STF), em resposta a um recurso apresentado pelo meio de comunicação censurado.

“No Estado Democrático de Direito deve ser assegurado aos brasileiros de todos os espectros político-ideológicos o amplo exercício da liberdade de expressão. O cerceamento a esse livre exercício, sob a modalidade de censura, a qualquer pretexto ou por melhores que sejam as intenções, não encontra guarida na Constituição Federal”, escreveu o magistrado na sentença, reconhecendo assim que a decisão anterior configurava uma forma de censura.

A sentença do tribunal supremo foi anunciada na noite de sexta-feira, poucas horas após a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal de Brasília obrigar o UOL a retirar as reportagens, provocando críticas de diversos organismos de defesa da liberdade de expressão.

A medida tinha sido ordenada pelo juiz Demetrius Gomes Cavalcanti, do Tribunal do Distrito Federal de Brasília, em resposta a um pedido do senador Flávio Bolsonaro, um dos filhos do chefe de Estado, Jair Bolsonaro, causando revolta em vários setores da sociedade brasileira que classificaram a decisão de censura.

O juiz justificou a sua decisão cautelar pela “proximidade do processo eleitoral em que o pai do peticionário concorre a um cargo público de notória expressividade e a continuidade da divulgação dos referidos assuntos trará, não só aos familiares mas também ao candidato, danos à sua imagem e honra”.

Bolsonaro aspira a ser reeleito nas eleições de 02 de outubro, mas as sondagens colocam-no em segundo lugar, com cerca de 33% dos votos, atrás do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, favorito com cerca de 47%.

Depois de analisar 107 transações imobiliárias realizadas por Bolsonaro, seus filhos, suas ex-mulheres e seus irmãos desde 1990, o portal identificou que 51 propriedades foram adquiridas totalmente, ou parcialmente, em dinheiro.

Segundo a reportagem, 13,5 milhões de reais (cerca de 2,6 milhões de euros) em dinheiro foram utilizados para adquirir estas propriedades, que em valores atualizados ascenderiam a 26,6 milhões de reais (cerca de 5,1 milhões de euros).

O portal argumenta que, embora as transações em dinheiro não sejam um crime, podem destinar-se a dificultar a localização de montantes provenientes de fontes ilegais.

Num comício na sexta-feira à noite, Bolsonaro referiu-se à reportagem do UOL como “calúnia” e afirmou defender a liberdade de imprensa.

“Covardia. Covardia com a minha família, com a minha mãe já falecida. Esperar o quê do grupo Folha/UOL, a não ser mentira, calúnia”, disse o Presidente brasileiro, acrescentando: “Eu defendo a liberdade de imprensa mesmo sendo atacado. O outro lado quer controlar a mídia”.

Segundo a sentença do juiz que ordenou a retirada, parte dos dados constantes da reportagem vetada pelo tribunal foi obtida de forma irregular.

Isto porque algumas das informações utilizadas pelo UOL provêm de investigações realizadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro contra os filhos do Presidente, Carlos e Flávio Bolsonaro, por alegadas irregularidades na compra de bens imobiliários, parte das quais foram anuladas pelo sistema judicial por fazerem parte do segredo bancário.

Para o portal, que recorreu para o supremo, a decisão do juiz extrapola e procura evitar o debate político uma semana antes das eleições presidenciais.

Supremo do Brasil suspende censura a reportagem sobre imóveis de Bolsonaro – Observador

Um aluno plantou um “oásis” de biodiversidade dentro da escola. Agora, não resta quase nada. Os “miseráveis” continuam a mandar…

O típico miserabilismo, que grassa em larga medida no ministério da educação, com o apoio das direcções escolares, sindicato dos professores e outros…que de uma forma mesquinha, tratam de muitos assuntos, tal como este, que se segue, exposto no Publico. Nem a coragem de enfrentar os jornalistas tem e estão á frente de uma escola, será que são capazes, para o exercício das funções?

Recordo também o que se passou há uns anos numa escola de Curral de Freiras, na Madeira, em que o director cometeu vários crimes, segundo Sílvia Carvalho é(ra) professora de Filosofia do ensino secundário na Madeira e foi requisitada para ser a instrutora do processo disciplinar que o governo regional abriu contra Joaquim Sousa.. Numa zona isolada da ilha da Madeira, a Escola Básica Curral das Freiras (concelho de Câmara de Lobos) passou de uma das piores do país para a escola pública com melhores resultados académicos a Português em 2015. Tudo graças ao empenho do professor Joaquim Sousa. No continente, este é o homem conhecido por ser o professor que transformou uma das piores escolas do país numa das melhores e a seguir foi despromovido. Joaquim José Sousa transformou a escola do Curral das Freiras numa instituição modelo, mas foi suspenso e esteve seis meses sem ordenado. Chegou a viver na pobreza. Em Dezembro de 2019, o tribunal deu-lhe razão. A escola fechou, passou para outro agrupamento, etc., etc. a mesquinhez, inveja etc. predominou!!!

Voltando a este caso

Guilherme Ramos, 17 anos, passou os últimos dois anos a recuperar um espaço verde na sua escola secundária.

No início do ano lectivo, encontrou-o praticamente destruído após uma limpeza intensiva do espaço, sem aviso prévio.

Guilherme, para quem o activismo é “pôr as mãos na terra”, fala de uma geração desligada da natureza, em que a escola podia ser o elo de ligação.

Há dois anos, quando Guilherme Ramos entrou pela primeira vez na Escola Secundária D. Pedro V, em Lisboa, lançou-se sozinho numa ronda pelos espaços verdes da escola. Estavam todos “estragados”, recorda, referindo-se à pobreza em termos de vegetação. Mas nas traseiras do pavilhão desportivo, Guilherme encontrou algo diferente.

“Era um espaço ao abandono, mas não tinha tantas Oxalis pes-caprae”, explica, referindo-se às plantas invasoras conhecidas como azedas ou trevos amarelos. “Levantei uma tábua e vi uma quantidade absurda de espécies. O que é que se passa neste sítio?”, pensou. “Nem pensar que vou deixar isto perder-se!” Nos dois anos que se seguiram, Guilherme foi um aluno com uma missão: restaurar a fauna e a flora de um espaço triangular de 455m2 e transformá-lo numa sala de aula ao ar livre.

Este ano, Guilherme regressou à escola uma semana antes do arranque das aulas do curso profissional de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos. “Estava à espera de encontrar mais animais, uma data de plantas em flor”, diz. Em vez disso, encontrou um corte intensivo do que ali havia.

“Um trabalho de dois anos que já não existe. Havia abrigos destruídos, tudo o que havia no lago encontrava-se morto”, explica. “Até plantas protegidas por lei foram cortadas”, diz, referindo-se à gilbardeira, um arbusto relativamente comum nas florestas mas cuja colheita na natureza está proibida na Europa, pela Directiva Habitats.

“Vi plantas que deveriam estar em flor este ano cortadas no chão, com uma semana ou duas de corte. Cebola albarrã, pulicária, suspiros-roxos.” Este seria o ano em que o projecto de conservação de biodiversidade autóctone se iria consolidar, abrindo a visitas a outras escolas e organizações. Guilherme tentou perceber o que aconteceu junto da direcção da escola, mas sem sucesso.

Até à data de publicação desta reportagem, o PÚBLICO não conseguiu estabelecer qualquer contacto com o estabelecimento de ensino. O pai de Guilherme endereçou uma carta ao director, à Direcção-Geral de Educação e ao Departamento de Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa. Até hoje, não sabem quem limpou a área daquela forma, nem porquê. “O espaço estava organizado, algumas árvores estavam crescidas. Alguém chegou com uma roçadora e…”, conta o pai, Eduardo Ramos.

Guilherme mostra-nos dezenas de fotografias do espaço antes deste mês de Setembro: nelas é visível vegetação diversa, organizada por áreas de plantação, um pequeno caminho de pedras. Existia até um pequeno lago, abastecido por um reservatório de 200 litros, colocado estrategicamente junto a uma zona com sombreamento, para o tornar mais resistente a períodos de grande calor. No total, Guilherme terá investido do seu bolso cerca de 200 euros na recuperação daquele espaço verde: “Em vez de gastar dinheiro num videojogo, gastei num tanque de água, na estrutura para fazer um lago, em pedras.”

Poderia o que havia ali ter simplesmente secado durante o mês de Agosto? “Não faz sentido o espaço estar naquele estado porque secou. Onde estão as plantas secas?”, questiona Guilherme. “Pelas fotografias percebe-se que houve intervenção humana”, acrescenta David Avelar, biólogo e investigador em adaptação e alterações climáticas na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). Para o pai, Eduardo, cabia à escola a responsabilidade pela preservação daquele espaço. “Podiam mostrar às crianças — não num quadro, não num slide —, olhem, reparem, tem este cheiro, é importante para este insecto sobreviver. Nós dependemos directamente da natureza, mas os jovens não sabem isso”, lamenta.

Um activismo de “pôr as mãos na terra"

Ao longo dos dois anos de projecto, Guilherme conseguiu mobilizar professores e colegas, sobretudo na fase inicial de limpeza do espaço. “Desenterrou-se um Alcatel (telemóvel), pedaços de uma sanita, pacotes de embalagens. Estava ‘intragável’”, recorda.

Apresentou à direcção da escola um plano detalhado de recuperação do espaço. “Não foram muito cooperativos, mas nunca disseram que não”, conta. “Arranjei colegas, sensibilizei-os, fiz trinta por uma linha. Cheguei a dar aulas com uma semente, por exemplo.” Marcou-o o dia em que percebeu, por exemplo, que metade da turma não sabia o que era um pinhão. “Levei uma caixa de pinhões, descasquei um e um colega perguntou: ‘Mas isso come-se?’”

A “limpeza” do espaço deixou a comunidade escolar surpreendida. “Fiquei extremamente desagradado porque os jovens empenharam-se”, refere Luís Pires, professor de Português e director de turma de Guilherme no ano lectivo passado. Chegou a falar com o director de curso da área deles para saber mais, mas não obteve resposta. “Projectos como este vão ao encontro do que o próprio Ministério da Educação quer. No sentido de os miúdos não só aprenderem de forma desgarrada, mas apoiá-los de forma concreta”, explica Luís Pires.

Conseguir aguçar a curiosidade dos colegas de escola para a importância de plantas e insectos em todo o ecossistema foi uma das grandes vitórias de Guilherme. Por norma, vê jovens da sua idade com os olhos presos aos ecrãs dos telemóveis, desligados da natureza e do ambiente à sua volta. “Não sou uma pessoa social”, confessa, “costumo ficar no meu cantinho a fazer”.

O activismo que conhece é o de “pôr as mãos na terra” e passar conhecimento. “Tentar fazer com que as pessoas se liguem mais na natureza é o que tem de se fazer para o ponto de viragem.”

Foi isso que aconteceu com Mirissa da Silva, 17 anos, colega de turma de Guilherme. “Aprendi a dar valor à natureza. Eu não fazia isso”, conta. “Não havia outro lugar onde eu tivesse esse incentivo, foi neste projecto da escola”, confessa. “Fiquei triste porque o Guilherme lutou muito para construir aquele espaço. Quando saíamos mais cedo, ele ia para lá sozinho, dava o máximo para ter o projecto feito.”

“Foram dois anos de muito trabalho”, insiste o pai de Guilherme. “Ele chegou a casa encharcado, queimado do sol, sujo. Desde muito jovem que vê o filho dar uma atenção desmedida ao mundo natural que o rodeia: “Os olhos dele são incríveis, vêem coisas que eu não vejo, só com uma lupa.” Mas nem sempre isso foi positivo. Noutras escolas, foi muitas vezes o “esquisito, o estranho”, que chegou a ser “achincalhado” por ter explicado que o que havia nas pedras da praia eram algas e não musgo.

Na Escola Secundária D. Pedro V, Guilherme começava a sentir-se valorizado. O antigo director de turma destaca o espírito de liderança do aluno, que dava “palestras sobre animais, plantas e ecossistemas”. Na acta de uma reunião final de conselho de turma ficou até registado um louvor à turma e a Guilherme pelo empenho no projecto de conservação.

“Há alunos que acabam por ter um insucesso escolar porque não se sentem bem. Parece que só existe Português, Física, ou Matemática e se calhar até podíamos ter excelentes biólogos. A escola não puxa vocações”, nota Eduardo Ramos. “Aquilo de que muita gente às vezes tem medo eu transformo em curiosidade. Não sei o que é, vamos tentar descobrir”, diz Guilherme.

Um “visionário não entendido”

A par da recuperação do espaço físico, Guilherme criou a ACEV — Associação de Conservação dos Espaços Verdes, que, apesar de ainda não estar constituída formalmente, já tem trabalho feito: 181 espécies de flora autóctone listadas no projecto de conservação e mais de 360 espécies de animais identificadas e partilhadas na plataforma iNaturalist, que reúne registos de uma comunidade de mais de um milhão de cientistas e naturalistas.

No ano passado identificou mesmo uma nova espécie de insecto para a fauna portuguesa, a Nemausus sordidatus. O feito ficou registado num artigo científico que escreveu em parceria com o curador de entomologia do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.

“Este ano, possivelmente, conseguiríamos chegar às 600 espécies”, diz Guilherme, desolado com o cenário que agora tem à frente. A frustração levou-o a detalhar os estragos num minucioso relatório, que na altura enviou à prima Sandra Antunes, bióloga especializada em ecologia. “Estação 1.1, Secção C: Vegetação totalmente cortada, cobertura vegetal raspada; Estação 1.2: Destruição de flora rara, com ecologia muito específica e dos locais adjacentes.”

“Precisamos desesperadamente destes pequenos espaços verdes”, defende Sandra Antunes. “Para o nosso bem-estar e por causa das alterações climáticas. Dependemos da biodiversidade, os insectos proporcionam serviços do ecossistema valiosos, que se tivéssemos de os pagar… Como a polinização”, explica. “Na China já há pessoas com pincéis a polinizar plantas. Não é isto que queremos.”

“Aquela escola destruiu um local de aprendizagem”, diz-nos o biólogo David Avelar. “É um contributo gratuito e voluntário de um jovem que não está a ser valorizado. Há escolas que pagam para ter este tipo de projectos.”

David Avelar foi um dos fundadores da Horta da Faculdade de Ciências e coordena o projecto FCULresta, uma minifloresta urbana que substituiu um relvado no espaço da faculdade. É ele quem nos fala de um movimento educativo que tem ganhado força na Europa, o Inquiry-Based Science Education, que privilegia a experiência directa como base da aprendizagem da ciência.

E a procura é muita, afirma David Avelar, que recebe na FCUL vários pedidos de apoio a projectos de promoção de espaços verdes e biodiversidade em contexto escolar. “Não conseguimos dar resposta a todos.” No projecto de Guilherme, diz o investigador, “foi o aluno que o fez de forma autónoma, sem saber que o estava a fazer de uma forma tão avançada. O Guilherme é um visionário não entendido”.

“A escola é um local de aprendizagem, ponto”, assevera Guilherme. “Mas é para aprender sobre tudo.” Fala em “luto” quando se refere ao que perdeu. “Foi um bocado de mim que se foi, ficou um buraco que não sei como se enche.” No dicionário não encontra palavras que descrevam o que sente.

No dia em que viu o espaço destruído telefonou à mãe, mas não conseguiu falar. As últimas semanas têm sido passadas a “recuperar um projecto de recuperação”, a fazer novas plantações, a reconstruir o pequeno lago que servia plantas e animais, a controlar plantas invasoras que entretanto apareceram.

Quando as aulas começaram, os colegas apressaram-se a tirar fotografias com o telemóvel. “Não queriam acreditar”, conta Guilherme. “Ao início era uma zona destruída, ficou uma zona agradável para se estar, bonito, com diversidade de plantas e insectos. Estava a ficar bué giro”, diz Mirissa. “Dava orgulho saber que fiz parte disso.”


Alerta CM: chantagem do Império – ‘Página Um’

Rishi Sunak ou Liz Truss: um destes nomes será o sucessor de Boris Johnson É UMA HISTÓRIA VELHA COMO O MUNDO:

Em muitos momentos ‘intermitentes’ da história do mundo é a FORÇA que impera, diga a lei o que diga (onde é que eu já ouvi uma frase parecida, construída precisamente com o mesmo ‘conhecimento’ da nossa língua?). Ih ih ih…

Eis um dado que pode ser importante para a análise do artigo anexo (ou talvez não):

O autor do artigo anexo é engenheiro de desenvolvimento de software na empresa EcarX (na Suécia) que is transforming vehicles into seamlessly integrated information, communications and transportation devices. It is shaping the interaction between people and cars by rapidly advancing the technology at the heart of smart mobility.

Talvez ele não saiba (claro que sabe, claro que sabe, mas não se importa) mas a empresa é ...CHINESA.

E a reputação e o historial das empresas chinesas leva-nos a estar descansados relativamente a ‘BIG BROTHER IS WATCHING YOU’, quer estejamos a falar em 5G ou em software para veículos automóveis, NÃO É?

M

Mas o artigo é interessante de ler.

Desejo-vos um bom fim-de-semana!


António Franco Preto 24-09-2022

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Enquanto vou conduzindo para a Suécia (sim, sou um emigrante old school que ainda não se converteu aos aviões), vou pensando nesta coisa dos bluffs políticos.

Não precisamos deles para vender jornais e fazer Alertas CM, mas depois exigimos que o bluff seja mesmo bluff, porque o contrário atrapalha-nos mais a vida.

Confusos? Também eu. Mas vamos aqui pensar em círculo como se estivéssemos numa reunião dos A.A.

Quando Putin disse que a NATO se estava a aproximar do quintal, ninguém quis saber, porque, obviamente, ele não teria coragem de largar uns mí­sseis. Afinal, a Rússia estava decrépita e refém de uma pequena economia…

Reparem que nesta discussão importa pouco o que é propaganda ou realidade. Até se dá de barato a argumentação utilizada, que todos percebemos ser apenas uma desculpa para um braço-de-ferro entre impérios. Ou vá, um I’m back à disputa do domínio mundial, versão Kremlin.

O que quero para já reter desta conversa é que ele, Putin, avisou que as negociações da Ucrânia com a NATO teriam consequências. E tiveram. Julgo que ao fim de sete meses, milhares de mortos, uma pazada de refugiados e várias taxas de juro depois, podemos todos concluir que aquele lunático não estava a brincar.

Agora, enquanto se prepara um referendo para anexação de partes do Donbass que, já todos vimos, fará parte da narrativa seguinte de “ataques em solo russo” para justificar o uso de armas nucleares, volta a história do bluff.

Ouvi ontem na CNN, RTP e SIC, diversos analistas com uma ideia comum: Putin não terá coragem de despejar uma bomba atómica. Até ouvi, de boca um pouco mais aberta, que, quando muito, faria umas explosões nucleares controladas. Umas cargas mais pequenas, pelo desprezo da descrição, ali umas coisinhas de carnaval sem aquele cheiro a bufa.

Não sou grande jogador de póquer e não arrisco análises sobre intensidades de bluffs, mas fico sempre espantado com a ligeireza com que se julgam as palavras de um gajo que já não tem nada a perder. Ou que, como provam estes sete meses, não é grande jogador de cartas e parece não ter grande vontade para recuar.

Se ele diz que a Rússia tem o maior arsenal nuclear do Mundo (é factual esta parte, espero não estar a dar uma grande novidade), e que o usará em caso de ataque em território nacional (que daqui a umas semanas terá uma parte do Donbass), porque insistimos nós na conversa do bluff? Ainda não morreu gente suficiente?

Putin disse no seu discurso à Nação que, caso o Ocidente continuasse a fornecer armas à Ucrânia, o conflito tenderia a escalar e passariam ao nível de armamento seguinte. A corja de velho encabeçada por Biden disse logo que, tudo bem, ele que venha que a NATO continuaria a fornecer a Ucrânia. O que se percebe.

O cheiro a churrasco de uma ogiva em Kiev, em princí­pio, não atrapalha o aroma de um barbecue em Washington e, nesse sentido, Biden até vê com bons olhos pedrada da grossa no Leste europeu. Isso transformado em venda de armas, energia para a Europa ou, até, enfraquecimento do contrapoder russo, é Chopin para os ouvidos do Biden. Mas em piano, note-se, não violino como o Santana Lopes pensava existir… 

Li uma crónica com um argumento que me pareceu também fazer sentido. Dizia que não podemos ceder à chantagem do nuclear porque, desde Fevereiro, sempre esteve em cima da mesa e, seguindo esse raciocínio, estarí­amos sujeitos a que qualquer potência nuclear invadisse territórios quando bem lhe apetecesse. Concordo, em absoluto. Agora, o Alerta CM aqui é que (rufem os tambores!) já é assim que o Mundo funciona. Estão a ver essa parte?

Quando os Estados Unidos decidem invadir o Afeganistão porque uns sauditas lhes rebentaram dois prédios, fazem-no porque… podem. Quem é que se vai meter em frente daquele arsenal e dizer: “olha­, tentem antes o diálogo!”.

Se os israelitas carregados de armas nucleares ocupam territórios há 70 anos é porque, lá está, têm poder bélico para isso.

Se os kosovares arranjaram um paí­s podem agradecer a uma “força de defesa”, por acaso também nuclear, que bombardeou os sérvios (pela paz, eu sei!).

A guerra civil na Sí­ria terminou quando uma potência nuclear entrou no conflito e a outra, que apoiava os rebeldes, achou melhor recuar.

A Líbia derrubou o regime quando um exército mais poderoso invadiu o território sem que ninguém lhe fizesse frente.

O Tibete deixou de ter voto na matéria quando um dos maiores exércitos do Mundo achou que era tempo de anexar.

Os curdos não conseguem definir fronteiras porque ninguém se atreve a confrontar um exército com o poderio do turco.

Ou seja, em resumo, desde o império romano, passando pelo Alexandre o Grande, vikings, os mongóis no século XIII e a armada invencível espanhola, no século XXI ainda é a força que dita leis.

Espero continuar no domínio do banal e não estar a trazer novidades a ninguém. Portanto, quando se diz que não vamos ceder à chantagem do nuclear a minha resposta é, vamos. Vamos pois. Aliás, não temos feito outra coisa ao longo dos séculos. Manda quem a tem maior, neste caso ogiva.

Claro que me poderiam dizer: “ó Tiago, mas o Putin é um imperialista do pior, bem pior do que os outros a que já nos habituámos a obedecer e não podemos deixar passar; há que ficar na miséria e torrar tudo na Ucrânia”. Ora, vam’lá a ver: pessoalmente, o Putin mete-me tanto asco como qualquer parceiro europeu que lhe andou a apertar a mão (ou que ainda apertam dentro da União Europeia, seria engraçado discutirmos isso um dia). E as guerras criadas pelo imperialismo russo prejudicam-me tanto como as guerras financiadas ou criadas pelo império americano.

As tangas que usam para as invasões são essencialmente as mesmas, embora o marketing americano seja melhor. Por exemplo, no Iraque, estivemos ali até à última para saber se apareciam as armas de destruição maciça ou não. Parecia o fim de uma novela na TVI e aquela incerteza de quem casa com quem.

Já o disse várias vezes que se tiver que abdicar da minha vida, pelo menos quero escolher a causa. E se o objectivo é empobrecer e comprometer o futuro de uma geração para libertar outros povos e mostrar solidariedade, então, se não se importam, eu gostaria de começar por quem sofre opressão não há sete meses, mas sim há 70 anos.

Querem os poderes mundiais continuar a combater uma guerra até ao último ucraniano, paga pelo endividamento dos europeus? Muito bem. Suspendam os pagamentos dos créditos bancários e metam as taxas de juro no… ia escrever aquela palavra com duas letras, a primeira um C e a última a quinta vogal do abecedário, mas isto é um jornal de respeito.

Já nos basta a inflação e a perda de salários reais que, como qualquer economista vos dirá em 75 palavras e termos técnicos, corresponde ao empobrecimento geral das populações.

Portanto, se chegamos aqui praticamente de joelhos, sugeria que, quando outro maluco fala em bombas nucleares, façam o favor de não usar metáforas com jogos de casino como se isto fosse lá longe.

Não é. Nem longe e, provavelmente, nem bluff.

Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

10 curiosidades sobre o Mosteiro de São Vicente de Fora.

1 – Coração e Vísceras dos Reis debaixo do chão

A partir do reinado de D. Pedro II, institucionalizou-se a prática de embalsamamento dos corpos dos monarcas, que visava preservar o corpo após a morte e implicava o retirar dos órgãos internos. Por uma questão de respeito aos monarcas falecidos, evitava-se o descarte dos órgãos. Em vez disso, o coração e as vísceras de alguns reis e consortes da dinastia de Bragança foram guardados em vasos de porcelana chinesa e enterrados no chão da Capela dos Meninos de Palhavã, onde ainda hoje se encontram. As análises realizadas aos intestinos de D. João VI, revelaram que o rei morreu envenenado por arsénico.

2 – Santo António estudou no Mosteiro de São Vicente de Fora

Antes de ser monge franciscano, Santo António de Lisboa foi um Cónego Regrante de Santo Agostinho, ordem monástica que habitou o Mosteiro de São Vicente de Fora. Nascido em frente à Sé de Lisboa, onde iniciou os seus estudos, Fernando de Bulhões, futuro Santo António, foi para São Vicente de Fora para se dedicar a uma vida de oração. Contudo, a proximidade da família e dos amigos levaram a que o Santo fosse para Coimbra, para ter menos distracções. Hoje, no Mosteiro, encontra-se a Capela de Santo António que está a marcar o lugar onde se pensa ter sido a sua cela.~

3 – Erros históricos no painel de azulejos da Conquista de Lisboa aos Mouros

A sala da Portaria do Mosteiro ostenta uma magnífica colecção de azulejos da autoria do mestre Manuel dos Santos. O painel mais impressionante e detalhado retracta a conquista da cidade de Lisboa aos Mouros por D. Afonso Henriques no ano de 1147. No entanto, Manuel dos Santos, que fez os azulejos no século XVIII, desconhecia como era a realidade no tempo do primeiro rei de Portugal e acabou por cometer uma série de erros: pintou a Sé de Lisboa, quando ela ainda não existia, e galeões a transportar cruzados. Para além de tudo, D. Afonso Henriques surge trajado como cavaleiro da Época Moderna, segurando um escudo com o brasão de armas de Portugal…antes deste existir. No tempo de D. Afonso Henriques, o símbolo de Portugal não era ainda o escudo, mas sim uma cruz azul sobre fundo branco.

4 – Túmulos descobertos por debaixo do chão da Sacristia

O soalho da Sacristia do Mosteiro é extremamente frágil, isto porque assenta sobre um antigo cemitério medieval.Foram descobertos túmulos antropomórficos esculpidos em pedra e virados a nascente, conforme a tradição. Pensa-se que terão pertencido aos cruzados que auxiliaram D. Afonso Henriques na conquista da cidade de Lisboa aos mouros.

5 – Uma protecção muito especial contra terramotos

O Mosteiro de São Vicente de Fora não sofreu muitos danos com o terramoto de 1755. O tecto da Sacristia foi das poucas coisas que ruiu, na sequência da queda de uma cúpula no cimo da igreja. Por esta sala ter sido das poucas partes afectadas, quando foi ré-decorada recebeu uma pintura muito especial. Trata-se da pintura “A Virgem com o Menino e os Santos” da autoria de André Gonçalves. O santo em maior destaque que se encontra a oferecer uma coroa à Virgem, é São Francisco de Borja, o santo que em Portugal é o protector contra terremotos. Foi pintado propositadamente para proteger a Sacristia contra catástrofes futuras.

6 – O Liceu Gil Vicente foi fundado no Mosteiro

Depois da extinção das ordens religiosas em 1834, o Mosteiro, já sem monges, teve vários usos, desde serviços administrativos até arquivos municipais. Em 1915 foi aqui fundado o primeiro liceu da República portuguesa: o Liceu Central de Gil Vicente, um dos mais prestigiados de Lisboa, que só iria abandonar o Mosteiro em 1949, quando mudou de instalações.

7 – A maior colecção de azulejos barrocos do país

O Mosteiro de São Vicente de Fora alberga a maior colecção de azulejos barrocos de Portugal e a segunda maior do mundo.São azulejos in situ, isto é, no seu local original, e correspondem às várias fases da azulejaria barroca portuguesa, desde o século XVII ao século XIX. O primeiro inventário foi feito em 1912 e contava com 120 mil azulejos, estimando-se que já cerca de 20 mil se teriam perdido ao longo dos tempos. Hoje desconhece-se o seu número exacto, mas estima-se que sejam mais de 100 mil.

8 – O lugar original das Fábulas de La Fontaine

Entre os muitos azulejos do Mosteiro, destaca-se a colecção permanente das Fábulas de La Fontaine: trata-se de 38 painéis de azulejos, cada um contendo uma fábula do autor francês do século XVIII. Muitos visitantes questionam sobre a proveniência dos painéis expostos. A verdade é que os claustros dos Mosteiro de São Vicente de Fora já foram fechados no passado. A revestir a parede interior encontravam-se os painéis com as fábulas de La Fontaine. São 38 painéis pois os claustros contam com 40 arcos, sendo que dois estavam abertos para circulação das pessoas, e os outros 38 estavam então fechados e revestidos no interior com estes painéis.

9 – D. Maria I e D. Pedro IV não estão no Panteão Real dos Bragança

O Mosteiro de São Vicente de Fora alberga o Panteão Real dos Bragança, última dinastia reinante em Portugal. Desde o fundador da dinastia, D. João IV, ao último rei de Portugal, D. Manuel II, passando por várias consortes, infantas e infantes, os únicos monarcas desta dinastia que não se encontram aqui sepultados são D. Maria I, que se encontra na Basílica da Estrela, mandada erguer por ela mesma, e D. Pedro IV, cujos restos mortais repousam em São Paulo, no Brasil.

10 – De fora das muralhas de Lisboa

O nome completo do mosteiro, Mosteiro de São Vicente de Fora, suscita sempre curiosidade. Porquê “de Fora”? Esta expressão remete-nos para a fundação do próprio mosteiro, há 873 anos atrás. Após conquistar a cidade de Lisboa aos mouros no ano de 1147, D. Afonso Henriques mandou erguer este mosteiro para cumprir a promessa que havia feito antes da tomada da cidade. A escolha do lugar para a construção da igreja e mosteiro recaiu sobre onde havia sido montado o acampamento de cruzados germânicos que auxiliaram o primeiro rei de Portugal. Por ficar do lado de fora das muralhas da cidade, o mosteiro recebeu a expressão “de Fora” no seu nome, que perdurou até aos nossos dias.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Inflação para Totós

Nossa majestade não vai duplicar as receitas dos seus cofres, apenas vai impor o maior aumento de impostos alguma vez visto em toda a história da nossa república.

Durante muitos anos, no reino de sua majestade, nunca se tinha ouvido falar em inflação. Podia acontecer num ano o preço do pão subir, porque tinha sido um ano mau para a produção de trigo, mas já o preço do vinho baixava, porque o ano tinha sido bom para a produção de uvas, enquanto que o preço das hortaliças e da fruta se mantinha, pois não tinha havido nada de anormal que afectasse a sua produção. Ou seja, os aumentos dos preços de uns bens eram compensados pelas diminuições dos preços de outros.

Mas eis que há dois anos sua majestade decide fazer uma troca de todas as notas e moedas que as pessoas tinham, por notas e moedas muito mais bonitas e modernas. E para incentivar toda a gente a fazer a troca, decidiu dar duas coroas ‘novas’ (é o nome da moeda) por cada coroa ‘antiga’ que as pessoas tinham. Num único dia, toda a gente trocou o dinheiro antigo pelo novo e toda a gente passou a ter o dobro das coroas que tinha – todas as pessoas ficaram com o dobro do dinheiro que tinham. No dia seguinte, quando foram ao mercado fazer compras, toda a gente pensou que ia poder comprar o dobro do pão, do vinho e das hortaliças e das frutas.

Só que… a quantidade de pão, de vinho e de hortaliças não aumentou para o dobro; continuava igual aos dias anteriores. Então o que fizeram as pessoas fazer com o dobro do dinheiro? Guardaram o que obtiveram a mais? Claro que não; o que aconteceu foi que, como todas as pessoas passaram a ter o dobro do dinheiro, e tanto os vendedores como os compradores sabiam disso, imediatamente os preços passaram também para o dobro e tudo ficou na mesma. Aliás, tudo excepto os preços, que passaram para o dobro. As pessoas passaram a ganhar o dobro das coroas, mas quando iam às compras também gastavam o dobro das coroas.

Bem, todas as pessoas, não. Ao ver que os preços aumentaram para o dobro, sua majestade decidiu não aumentar os ordenados dos seus funcionários, dizendo que se o fizesse, os preços iriam aumentar ainda mais. Consequência? Todos os funcionários de sua majestade ficaram a poder comprar só metade daquilo que compravam, porque ganhavam as mesmas coroas e os preços tinham duplicado. Assim, sua majestade aproveita para cobrar o dobro dos impostos aos seus súbditos (os preços e os rendimentos aumentaram para o dobro, lembram-se?), mas em vez de pagar o dobro dos vencimentos, vai poder esbanjar este aumento de receitas noutras despesas.

A história dos súbditos de sua majestade não acaba aqui. Há um ano, algo de estranho aconteceu fora do reino que levou os preços da electricidade a aumentar imenso. Ora, o vinho e os cereais não precisam de electricidade para serem armazenados, mas as hortaliças e as frutas precisam, o que veio encarecer estes produtos. Foi a vez de os vendedores de hortaliças e frutas aumentarem o preço daquilo que vendem. Mas como as pessoas continuavam com as mesmas coroas, quando iam comprar hortaliças e frutas gastavam mais coroas do que anteriormente, ficando com menos coroas para comprar pão e vinho. O que levou os vendedores de pão e vinho a baixar os preços para poderem vender o que tinham. Ou seja, tal como no início da história, uns preços subiram, outros desceram, mas não houve inflação. Só houve inflação quando sua majestade aumentou a quantidade de dinheiro.

Porém, algumas pessoas que vendem pão e vinho, vendo que pouco ganham ou que até vão ter prejuízo, começam a pensar se não terão que mudar de vida. O mesmo acontecendo com os produtores de hortaliças e fruta que não conseguem aumentar os preços de venda de forma a cobrir o aumento dos custos. E é aqui que pode estar um problema que pode contribuir para mais inflação: não o aumento do preço da electricidade, mas a diminuição daquilo que é produzido. Ou seja, não aumenta a quantidade de coroas, mas diminui a quantidade de produtos que podem ser comprados. Consequência? Aumento dos preços, ou seja, inflação.

E que pode sua majestade fazer para combater a inflação? Obrigar as pessoas a entregar-lhe algumas coroas pode agravar a situação. A alternativa deve passar por diminuir o impacto do aumento do preço da electricidade, atacando o problema na sua origem. Se o aumento do preço da electricidade for de curto prazo, assim que voltar ao seu curso normal, os apoios concedidos são retirados; se o aumento persistir durante alguns anos, pelo menos dá algum tempo para que os produtores dos vários bens possam ir adaptando-se à nova realidade.

Atenção que qualquer semelhança com o que está a acontecer em Portugal é pura coincidência.

Somos uma república e não uma monarquia; em dois anos, a quantidade de dinheiro não duplicou, apenas aumentou 19%; neste ano e no próximo, os preços não duplicam, apenas aumentam 17%; e os funcionários públicos não sofrem um corte de 50% nos vencimentos, apenas de 14%. Ah, e nossa majestade não vai duplicar as receitas dos seus cofres, apenas vai impor o maior aumento de impostos alguma vez visto em toda a história da nossa república.

Mário Queirós

Observador

A DESONESTIDADE ESTÁ GENERALIZADA – ATÉ NO … XADRÊZ!

Sven Magnus Øen Carlsen - 31 anos - é um grande mestre de xadrez norueguês, campeão mundial de xadrez clássico desde 2013; foi campeão mundial de xadrez rápido em 2014, 2015 e 2019 e campeão mundial de xadrez ‘blitz’ nos anos de 2009, 2014, 2017, 2018 e 2019.

Nunca nenhum jogador de xadrez teve o ranking numérico que ele tem/teve (uns 2.882 pontos, o que quer que isso seja….eh eh eh). Dizem dele, numa só frase: JÁ GANHOU TUDO O QUE HÁ PARA GANHAR NO XADRÊZ.

Como o seu título mundial só é colocado em disputa a cada dois anos (nessa ocasião ele defronta, numa série de 12 partidas, o vencedor dum torneio de 8 candidatos, que jogam contra contra todos, ‘a 2 voltas’ como no futebol…éh éh éh) Carlsen ocupa o seu tempo a participar em vários torneios de XADRÊS (que normalmente ganha) e em torneios de xadrez ‘rápido’ e xadrez ‘blitz – ultra rápido’(que actualmente se disputam ‘on-line’, por motivos económicos).

Num desses torneios de xadrez rápido, perdeu recentemente um jogo com um americano (Hans Niemann – 19 anos – 49º do ranking mundial com 2.680 pontos).

Carlsen withdrew from the tournament the next day, announcing his decision in a cryptic tweet containing a vídeo o Portuguese football manager José Mourinho saying:

"If I speak, I'm in big trouble, and I don't want to be in big trouble."

E mais ninguém lhe conseguiu arrancar uma palavra sobre o assunto.

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Acontece que o americano (não obstante a sua tenra idade) parece ser um vigarista emérito, tendo sido apanhado a fazer batota no xadrez on-line (!). Em sua defesa, diz que já não o faz – mas essa não parece ser a opinião do campeão mundial Carlsen.

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Num torneio de xadrez rápido actualmente em curso (16 concorrentes, que jogam todos contra todos, para depois, os 8 primeiros se defrontarem 2 a 2, a ‘eliminar’) Carlsen teve que jogar contra Niemann.

Foi o jogo mais rápido de sempre (mesmo para xadrez rápido foi…’muita rápido’! éh éh éh):

O americano começou, movendo um peão, Carlsen moveu um cavalo, o americano moveu outro peão e Carlsen abandonou (perdendo o jogo e colocando-se ‘off-line’). E nada mais disse.

Neste momento terminou a fase de ‘todos contra todos’ e Carlsen ficou ‘de longe, em 1º’ (não obstante a sua derrota com o americano…que foi a sua única derrota). Seguem-se agora partidas entre os 8 melhores (a eliminar) até se apurar o vencedor do torneio.

Pode acontecer que o americano consiga encontrar Carlsen nas partidas a eliminar. Ninguém sabe o que Carlsen fará.

Mas o americano Hans Niemann não parece estar em bons lençóis…éh éh éh!

O torneio acaba no domingo e chama-se ‘The Julius Baer Generation Cup’ on-line chess.

O XADRÊZ É DIFERENTE DA POLÍTICA…OS ALDRABÕES NÃO TÊM SEMPRE SUCESSO .

A culpa e a incompetência

Não há anteriores governos, nem guerra, nem pandemia que justifiquem o estado de coisas. Nada justifica a incompetência, a falta de visão e a ausência de sentido prático da vida.


Em Portugal, o início do ano lectivo é um desastre.

É normal.

Há dezenas de anos que se sabe que as aulas começam mal.

Que há horários por preencher.

Obras por acabar.

Professores precários a mais.

Professores obrigados a viajar dezenas de quilómetros ou a mudar de residência.

Alunos sem professores ou com programas incompletos.

Alunos sem manuais à disposição e sem cantinas capazes de funcionar.

E alunos obrigados a percorrer, todos os dias, muitos quilómetros.

Este ano, mais uma vez, há milhares de “furos” nos horários e nos programas.

É normal.

Há dezenas de anos que se sabe que as condições de alojamento dos estudantes universitários são deficientes, caras e pouco confortáveis.

Há dezenas de anos que se sabe que a oferta de quartos pelas entidades públicas, as universidades, os institutos, as autarquias ou o ministério, é reduzida e muito insuficiente.

Já se sabia isto há trinta anos, quando os estudantes eram 150.000.

Continua a saber-se agora, que são mais de 400.000 e com uma situação infinitamente mais grave, de molde a que muitos estudantes deixem de estudar, que muitos candidatos desistam e que muitas famílias renunciem a essa possibilidade.

Nas últimas décadas, os progressos do ensino superior foram colossais. Isso pode medir-se em números de estudantes, de professores, de cursos, de licenciaturas e de doutoramentos.

E também em acesso das mulheres às carreiras docentes e à investigação.

Mas não tenhamos dúvidas que se poderia ter ido muito mais longe, que alguns ensinos poderiam ser de muito mais qualidade e que os cursos poderiam ser muito mais exigentes para a ciência.

Que outros ensinos poderiam ser mais virados para a vida prática, a empresa e o emprego.

Que a desigualdade social poderia ser menor e que o mérito poderia ser um critério nas regras de acesso e de progressão.

Que muitas pessoas poderiam chegar aos estudos superiores se tivessem o benefício de uma acção escolar com meios e mais eficiente.

Mais uma vez, as autoridades consideram que o medíocre é aceitável, o mau é passageiro, o suficiente é uma utopia e o bom é impossível.

Cada um pensa que o seu ano, este ano, é melhor do que os anos dos outros, os anos anteriores.

Todos se contentam com a mediocridade e convidam os cidadãos a fazer o mesmo.

É tanto assim que se acha aceitável que ainda haja milhares de situações como as acima descritas.

Ano após ano, a situação oscila entre o mau e o péssimo, facilmente se considera o medíocre como razoável.

Nunca é bom nem muito bom.

Nem sequer suficiente.

Ou antes, satisfatório, para as autoridades, é quando se pode demonstrar que “este ano” estamos melhor do que no “ano passado”.

A ideia de que a maior parte das deficiências do início de ano escolar se podem tratar ou evitar faz parte das utopias que já nem sequer se desejam.Há anos, talvez dezenas, que o Serviço Nacional de Saúde revela insuficiências notórias.

Muitos serviços e centros de saúde acabam por praticar a desigualdade, mesmo sem querer, mesmo sem saber.

Faltam médicos e especialistas em numerosos serviços e centros de saúde. Faltam médicos de família para centenas de milhares de cidadãos.

Faltam ainda mais enfermeiros.

Muitos médicos e enfermeiros deixam o SNS para os hospitais privados.

Muitos outros deixam o país para o estrangeiro.

A formação de médicos está sempre aquém do necessário.

As condições de acesso para pacientes e doentes são muitas vezes, mesmo muitas, deploráveis e inaceitáveis.

As filas de espera para consultas e cirurgias, mas também para exames e análises, são enormes, de semanas a meses.

A eficiência das urgências é muitas vezes abaixo dos critérios mínimos.

As condições de espera nas salas, nas recepções e nos corredores são geralmente miseráveis de desconforto para quem está aflito ou inquieto.

Também aqui, na saúde pública, se fizeram melhoramentos enormes!

Temos números de médicos muito satisfatórios, entre os mais elevados da Europa.

Tanto a despesa pública como a privada não cessam de aumentar.

Mesmo assim, as filas de espera são inacreditáveis, sobretudo num país com números elevados de médicos e enfermeiros.

Mesmo assim, há serviços que fecham por falta de pessoal.

Mesmo assim é possível acontecer o que está agora diante de nós: todas as semanas, todos os meses, maternidades e hospitais anunciam a suspensão de nascimentos e de internamentos de urgência!

É esta uma das mais escabrosas situações existentes na saúde em Portugal ou em qualquer sector da vida social, perante a qual dirigentes políticos e sanitários são capazes de alegar com problemas estruturais e causas longínquas, recusando as suas responsabilidades e ficando satisfeitos com qualquer melhoria, mesmo provisória, mesmo temporária, mesmo insignificante.Saúde e educação!

Dois bons exemplos, talvez os melhores, do que é a incapacidade de gestão, a deficiência de previsão, a falta de planeamento e a ausência de espírito prático e realista.

Os governos sucedem-se na elaboração de estratégias a longo prazo, de planos integrados, de reformas estruturais, de políticas sustentáveis e de programas de recuperação e resiliência, assim como na criação de grupos de acção, de conselhos consultivos e de observatórios, todos de enorme sabedoria, mas sem qualquer noção das responsabilidades, de sentido prático e de espírito realista.

Sabe-se que a gestão, boa ou má, é quase sempre também uma questão política.

O tratamento das questões de saúde e de educação depende muito das opções políticas, da ideia que se deve ter do público e do privado, do centralismo ou da autonomia, da política ou da tecnocracia, da ciência ou do social.

Mas, a partir de ideias esclarecidas, de programas aceites, de leis aprovadas e de enquadramento definido, é a capacidade de gestão responsável que surge no primeiro plano.

Na educação e na saúde, sobretudo nos casos referidos, nas filas de espera, na desigualdade social, na ausência de equipamentos, na descoordenação de instituições, na falta de pessoal e na absurda incapacidade de previsão e planeamento, o estado actual é deplorável. Sem desculpas.

Não há anteriores governos, nem guerra, nem pandemia que justifiquem o estado de coisas.

Nada justifica a incompetência, a falta de visão e a ausência de sentido prático da vida.

Público, 17.9.2022

António Barreto


Arriscam-se a ver ‘por um canudo’ o ‘subsídio anual’ que o governo sucialista dá aos ‘amigos’…


terça-feira, 20 de setembro de 2022

Um Chefe neste estado

Em vez de Isabel II, temos Segundo Marcelo. É esse o seu cognome, porque passa a vida a comentar insignificâncias.

José Diogo Quintela

Como português, não posso dizer que tenha ficado impressionado com as imagens das cerimónias fúnebres da Rainha Isabel II. Ver a quantidade incrível de pessoas disponíveis para ficarem 13 horas numa fila, ao frio e à chuva, só para passarem perto de uma defunta e voltarem para casa de mãos a abanar, só é estranho para quem não costuma recorrer ao nosso SNS.

(Mesmo o percurso que o caixão da monarca fez pelo Reino Unido – de Balmoral para o palácio de Holyroodhouse, daí para a catedral de St Giles, depois para Buckingham, Westminster e, finalmente, para Windsor – fez lembrar o périplo de uma grávida portuguesa hoje em dia até encontrar um hospital que a aceite).

O que terá levado tantos milhares de britânicos a deslocarem-se de propósito a Londres, só para assistirem ao funeral de Isabel II? Homenagem, como os comentadores avançam? Não creio. Julgo que vieram foi certificar-se que a sua Rainha está mesmo morta e que nunca mais os voltará a fazer passar vergonhas, como sucedeu ao longo dos últimos 70 anos.

Até o silêncio sepulcral durante o cortejo fúnebre, sem que alguém se atreva a proferir um som, deve-se ao medo irracional de acordar a falecida. Os ingleses estão aterrorizados com a hipótese de Isabel II voltar a ocupar o lugar de Chefe de Estado, com a falta de jeito que sempre a caracterizou.

A sua sobriedade, a ausência de intervenção na vida política britânica, a imparcialidade, a modéstia, a contenção, tudo isso deixou traumas profundos num povo que gostava de ter tido uma Rainha mais espampanante. Por exemplo, digamos que havia eleições numa Ex-colónia inglesa, vamos supor o Zimbabué, com grandes irregularidades eleitorais a beneficiarem o partido no poder desde a década de 70. Imaginemos que a Rainha visitava o país e dava uma entrevista. Quer dizer, não era bem uma entrevista, eram umas declarações à queima-roupa mal lhe estendiam um microfone à frente. Nesse depoimento, alguém acha que a Rainha ia ter a presença de espírito para comparar as dúvidas sobre a legitimidade de umas eleições organizadas por uma ditadura, com a discussão política dentro do partido democraticamente eleito para governar o Reino Unido? Reconhecemos em Isabel o à vontade para largar ali duas ou três larachas de grande impacto institucional? Claro que não. A Rainha não teria esse jogo de cintura. Na improbabilidade de agraciar os jornalistas com algumas palavras, o mais certo seria a Rainha limitar-se a cumprimentar as pessoas, evitando meter-se em assuntos sobre os quais, acharia ela, enquanto representante máxima de um país, se deveria abster de comentar. E perdendo a oportunidade de, através de uma comparação estapafúrdia, propiciar bons momentos televisivos aos perplexos públicos zimbabuense e britânico.

É por nunca mais terem de aturar a sisuda reserva institucional da sua monarca que os ingleses estão aliviados. Talvez agora lhes calhe em sorte um Rei mais descontraído que faça insinuações sobre consumos de substâncias ilícitas por parte de militares hospitalizados, ou, ao arrepio da Constituição, dê instruções públicas ao Governo, ou recomende aos seus súbditos que se esforcem para não adoecer em Agosto. Alguém que não se esconda atrás, nem de normas arcaicas sobre a separação de poderes, nem de conceitos reaccionários como sentido do Estado, e se pronuncie livremente sobre desacatos em feiras agrícolas, o papel da oposição, um certame internacional dedicado à informática, colonoscopias do próprio, o desempenho de secretários de Estado ou a táctica da selecção nacional de futebol.

É essa a grande vantagem do republicanismo sobre a monarquia. Uma Rainha não se escolhe, atura-se. Já um Presidente, é seleccionado, pelas suas qualidades, de entre o escol. Em vez do circo das charretes, missas cantadas, vénias, soldadinhos de chumbo, pajens de calções de veludo, temos a seriedade de um representante eleito pelo povo. Em vez de Isabel II, temos Segundo Marcelo. É esse o seu cognome, porque passa a vida a comentar insignificâncias. “Segundo Marcelo, o acidente na descida do viaduto Duarte Pacheco deveu-se a uma mancha de óleo na via da direita que, agravada pela chuva miudinha que se fez sentir às primeiras horas do dia, se transformou numa mistela escorregadia que prejudicou a travagem do pesado que se dirigia ao Marquês de Pombal. Não há, de acordo com o Presidente, indícios de excesso de velocidade”.

https://observador.pt/

uma forma original de enriquecer.

O caso que opôs o juiz Francisco Marcolino ao Estado português no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (cf. aqui) é um caso exemplar da corrupção que grassa no sistema de justiça português.

Em 2010, o juiz Marcolino era juiz do Tribunal da Relação do Porto quando se candidatou ao lugar de inspector judicial na sua cidade natal, Bragança, em regime de comissão de serviço - um lugar onde lhe competia avaliar os juízes do tribunal da cidade.

O Conselho Superior da Magistratura (CSM) atribuiu-lhe o lugar, só que o juiz Marcolino se esqueceu de comunicar ao CSM um pequeno detalhe que terá motivado o seu interesse pelo lugar. É que no tribunal de Bragança ele era o autor de vários processos judiciais contra várias pessoas e ficava agora numa situação inaceitável de conflito de interesses, a saber, ele iria avaliar os juízes que julgavam os casos em que ele próprio era parte.

Um dos seus irmãos [o mais novo, com quem ele mantinha um diferendo por causa do seu avião] e uma juíza [Paula Sá, identificada no processo pelas iniciais de dois dos seus outros apelidos, Ramos Nunes, com quem ele mantinha um diferendo por questões de avaliação judicial] fizeram queixa ao CSM.

E o CSM nomeou um inspector para inspeccionar o inspector Marcolino.

O inspector do CSM confirmou que o inspector Marcolino se aproveitava da sua situação para pressionar os juízes em Bragança. No momento da inspecção, o juiz Marcolino tinha nada menos do que oito processos judiciais a correr contra terceiros no tribunal de Bragança.

Vários juízes já tinham pedido escusa dos processos envolvendo o inspector Marcolino para não correrem o risco de decidir contra ele e serem penalizados por ele nas suas carreiras. E havia um caso em que um juiz decidiu a favor do inspector Marcolino, atribuindo-lhe uma indemnização de 25 mil euros. Naturalmente, este juiz teve boa nota na avaliação do inspector Marcolino.

O juiz Francisco Marcolino tinha descoberto uma forma original de enriquecer através do sistema de justiça - pôr acções judiciais por tudo e por nada a quem lhe aparecesse pela frente, com os respectivos pedidos de indemnização, e depois usar a sua condição de inspector judicial para pressionar os juízes a decidirem a seu favor.

O inspector do inspector Marcolino concluiu que o juiz Marcolino tinha violado o seu dever de lealdade ao esconder do CSM informação relevante para a sua nomeação como inspector judicial em Bragança e também concluiu que ele tinha violado o seu dever de reserva ao pronunciar-se publicamente sobre a sua colega, a juíza Paula Sá.

O inspector Marcolino foi condenado pelo CSM a pagar uma multa, suspenso por seis meses das funções de inspector judicial e mandado regressar ao Tribunal da Relação do Porto, fazendo surgir uma nova originalidade na justiça portuguesa, desta vez da parte do CSM, a saber: o juiz Marcolino não era competente para julgar juízes, mas continuava competente para julgar cidadãos, que passaram a ser uma espécie de carne para canhão nas mãos do juiz.

O juiz Marcolino recorreu da decisão do CSM para o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), o qual negou qualquer razão ao juiz Marcolino, e confirmou a decisão do CSM.

Não confiando nem no CSM nem no STJ, o juiz Marcolino pôs um processo no TEDH contra o Estado português - na realidade, contra duas das mais altas instâncias da justiça portuguesa, o CSM e o STJ. O juiz Marcolino, sendo juiz de um tribunal superior do país, mostrava assim que ele próprio não confiava na justiça portuguesa, deixando no ar a pergunta legítima: Como é que o cidadão comum há-de confiar?

O juiz queixava-se de que, em todo o processo, lhe tinham sido violados, nada mais nada menos, que  os seguintes direitos: o direito a um processo equitativo (artº 6º da CEDH, cf. aqui); o direito à liberdade de expressão (artº10º); o direito à protecção da vida privada (art 8º); o direito a um duplo grau de jurisdição (artº 2º do Protocolo nº 7 anexo à CEDH); o direito à legalidade (artº 7º); o direito a um recurso efectivo (artº 13º); e o direito à não-discriminação (artº 14º). Claro que, a todas estas queixas, o juiz Marcolino acrescentava um sólido pedido de indemnização a ser-lhe pago pelo Estado português.

O juiz Marcolino esqueceu-se que Estrasburgo não é Bragança - uma das diferenças sendo que em Estrasburgo não há caciques -, e o TEDH, em Junho de 2021, numa decisão por unanimidade de sete juízes, rejeitou todas as queixas do juiz Marcolino. Dos muitos direitos de cuja violação o juiz Marcolino se queixava, o TEDH não lhe reconheceu nem um.

Neste momento do processo (Junho de 2021) aquilo que sobressaía era a falta de julgamento (para dizer o mínimo) do juiz Marcolino, uma falta de julgamento que não é uma falta menor num juiz de um tribunal superior do país - o Tribunal da Relação do Porto onde, além de juiz-desembargador, o juiz Marcolino desempenhava também as funções de presidente da primeira secção criminal.

O juiz punha processos por atacado aos seus conterrâneos (mas não só aos seus conterrâneos, cf. aqui) com o objectivo de enriquecer ilicitamente através dos respectivos pedidos de indemnização.  O juiz candidatara-se ao lugar de inspector judicial do tribunal da sua cidade natal para poder pressionar os juízes a decidirem a seu favor, e sem ter informado o CSM da situação de conflito de interesses em que se encontrava. O juiz falava mal em público da sua colega Paula Sá, que o denunciou. O juiz ameaçara com uma pistola o irmão mais novo que também o denunciou (cf. aqui). O irmão mais novo queixou-se mesmo ao CSM de ter sido agredido pelo juiz e pelo outro irmão, ficando com a cara num estado lastimável (cf. aqui). O juiz recorreu para o Supremo das sanções que lhe foram impostas pelo CSM e o Supremo virou-lhe as costas. O juiz recorreu depois para o TEDH que também lhe virou as costas. Enfim, o juiz não confiava nas decisões das mais altas instâncias da justiça portuguesa de que ele próprio fazia parte.

Tanta falta de julgamento (para dizer o mínimo) num juiz-desembargador - a segunda mais alta categoria da magistratura -, é impressionante. Mas a maior falta de julgamento viria a ocorrer este mês e não foi do juiz Marcolino.

Na realidade, em face deste currículo invejável, a que se acrescenta o facto de ele ser publicamente conotado com o partido do Governo (cf. aqui) - e muito provavelmente só por isso -, este mês, o juiz Marcolino foi promovido pelo CSM à mais alta categoria da magistratura - a de juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça (cf. aqui).

Posted by Pedro Arroja

Fernando de Medina Maciel Almeida Correia

Há muitos problemas, mas…

- Manuel Salgado é o principal suspeito? "Isso é confirmado pela própria PJ".  20 Abril, 2021 TSF

O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina


- Câmara de Lisboa enviou, por e-mail, os nomes, moradas e outros dados pessoais de três organizadores de uma manifestação anti-Putin à embaixada russa em Lisboa e ao Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia. 10 de Junho de 2021 Publico.

Um aldrabão compulsivo, que tudo fará para se manter no poder, custe o que custar!

“Aproximou-se do Partido Socialista aquando dos Estados Gerais para uma Nova Maioria, iniciativa de António Guterres, em 1995. Nos anos seguintes, já depois da vitória de Guterres nas legislativas, participa no Conselho Nacional de Educação. Inicia a sua vida profissional em 1998, como economista num instituto do Ministério do Trabalho, até que o ministro Eduardo Marçal Grilo o chama para consultor do Grupo de Trabalho do Ministério da Educação na Presidência Portuguesa da União Europeia, em 1999. É daí que vai, um ano depois, para o gabinete de António Guterres. Primeiro como assessor para as áreas da Educação e da Ciência, depois com a Economia, até à demissão do primeiro-ministro e líder socialista, em 2002. Em 2003 ingressou como economista na Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.

Em 2005, com o regresso do PS ao governo, José Sócrates nomeou-o Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, sendo Ministro do Trabalho José Vieira da Silva, onde se dedicou à reforma da Formação Profissional, à reforma do Código do Trabalho, ao primeiro Acordo de médio prazo sobre a evolução do salário mínimo nacional e ao lançamento e coordenação do programa Novas Oportunidades.[1][1] Contrariando expectativas que, dentro e fora do PS o catapultavam para Ministro após as eleições legislativas de 2009, transitou com Vieira da Silva para o Ministério da Economia onde assumiu a Secretaria de Estado da Indústria e Desenvolvimento com responsabilidade de gestão dos fundos comunitários.

Eleito deputado em 2011 nas listas do PS de Sócrates foi vice-presidente do grupo parlamentar do PS,[1] sendo líder da bancada Carlos Zorrinho. Durante esse período integrou a Comissão de Acompanhamento da Troika, representando a oposição socialista junto do Ministro das Finanças Vítor Gaspar.[1]

Em 2013 o então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, incluiu Fernando Medina, como número dois, na lista para a autarquia da capital, convite esse que foi interpretado como um sinal de que o presidente não ficaria até ao fim, visando assegurar que o leme de Lisboa continuaria em mãos socialistas (uma vez que o até aí número dois, Manuel Salgado, sendo oriundo da Esquerda, não era (nem é) militante do PS). Ao aceitar o convite, manifestou o seu afastamento face ao líder do seu partido, António José Seguro, e ao líder da bancada parlamentar, Carlos Zorrinho.[1]

Tal como se especulava, António Costa viria a abandonar o mandato como presidente da Câmara de Lisboa — na sequência da sua eleição para secretário-geral do PS — e Medina assumiu o cargo de presidente da Câmara Municipal de Lisboa a 6 de Abril de 2015.[1]

Em 2017, Fernando Medina vence as eleições autárquicas e consagra-se novamente como Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, embora não obtendo a maioria absoluta, com 42% dos votos. Fez depois uma coligação com o Bloco de Esquerda.[5] Entre 2017 e 2021 foi presidente do conselho metropolitano da Área Metropolitana de Lisboa.

Em 2020, a mandado do Governo Português, foi intermediário das negociações com os grevistas de fome do movimento "Sobreviver a Pão e Água".[6]

Em Junho de 2021, Medina enfrentou pedidos de demissão como resultado da decisão de sua administração, em Janeiro de 2021, de compartilhar com as autoridades russas as informações pessoais de pelo menos três dissidentes russos baseados em Lisboa. Medina respondeu rejeitando sua renúncia e, em vez disso, desculpando-se pelo que ele descreveu originalmente como um "erro burocrático".[8] Posteriormente, as autoridades municipais admitiram que desde 2011 a prefeitura de Lisboa compartilhava regularmente informações pessoais de activistas de direitos humanos, incluindo nomes, números de identificação, endereços de residência e números de telefone de vários regimes repressivos, incluindo Angola, China e Venezuela. O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, qualificou a prática como "profundamente lamentável", e declarou que todos merecem que os seus direitos fundamentais sejam respeitados num país democrático.[9]

A 30 de Março de 2022, tomou posse como ministro das Finanças do XXIII Governo Constitucional.

É casado com Stéphanie Sá da Silva (filha do antigo ministro da Agricultura Jaime Silva), jurista, que foi directora jurídica da TAP (2014-2022). Curioso emprego da mulher…

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