quinta-feira, 9 de junho de 2022

OBRIGADINHO POR CELEBRAREM O DIA EM QUE BATI A BOTA

OPINIÃO

Por Luís Vaz de Camões

Meus caros filhos do heroico Luso e netos de ébrio Baco, os deuses reunidos no concílio do Olimpo informaram-me, através das asas rápidas de Hermes, que amanhã dedicam mais uma vez o feriado nacional à minha humilde pessoa e deixe-me que vos diga o agradecido que estou por esse povo, a cuja gesta dediquei toda a minha amargurada vida, ter resolvido homenagear-me celebrando o preciso dia em que bati as botas, perdendo assim a oportunidade de celebrarem, sei lá, outras datas merecedoras de euforia generalizada, como o dia em que um soldado otomano usou uma adaga para sacar-me o olho, ficando com a órbita vazia como as de uma sardinha assada na noite de São António. Obrigadinho também por juntarem o dia em festejam efusivamente a minha solitária morte à celebração das “comunidades portuguesas”, misturando assim o maior poeta da língua portuguesa com os milhões de luso-descendentes que passam as “vacanças” em Portugal e votam de quatro em quatro anos na Marine Le Pen. Isto, claro, partindo do pressuposto que misturarem o meu nome com as difusas e anónimas “comunidades portuguesas” não é uma maneira de celebrarem eu ter sido atirado, depois de morto, para uma vala comum, como um cão sarnoso. De qualquer maneira, deixo-vos outra data festiva em que se podem embebedar: o dia 16 de maio, quando, ainda na Índia, tomei liberdades com um macaco num templo hindu e contraí a varíola que me faria bater o balde um mês depois. Ou – p... da loucura! - o dia 13 de junho, quando, depois de supostamente quinar três dias antes, finalmente desisti de tentar sair do buraco para onde fui precipitada e negligentemente atirado ainda vivo. Não têm de quê. E, não se esqueçam, feliz 10 de junho! V.E.

Os 350 anos do nascimento de Pedro, o Grande, o czar que mudou a Rússia

Filho de Aleixo 1º com sua segunda esposa, Natália Naríchkina, o imperador Pedro 1º nasceu em Moscou em 9 de Junho de 1672. Membro da dinastia Romanov, ele foi um dos governantes mais proeminentes da história russa.


Embora tenha falecido aos 52 anos, Pedro 1º teve um dos reinados mais longos da história russa; no total, foram 42 anos e nove meses, de 1682 a 1725. Pedro, o Grande, como ficou mais conhecido, foi um o maior promotor de São Petersburgo, cidade que fundou em 1703 e que está intimamente ligada à sua história. Na época de sua construção, a nova capital foi erguida sobre um pântano do rio Nevá, sendo a intenção do tsar aproximar-se do Ocidente, ao abrir uma “janela para a Europa” (leia mais sobre o assunto aqui).

Durante as quatro décadas de mandato, promoveu muitas mudanças no país. A mais notável é que, em 1721, a Rússia se tornou o Império Russo, e o tsar Pedro se tornou o imperador Pedro, o Grande. Essa mudança ocorreu após a vitória na Guerra do Norte, que fez a Rússia ultrapassar a Suécia como a potência dominante na Europa Oriental. A conquista de grandes territórios na região do Báltico, o estabelecimento de uma fortaleza na região, a criação de um forte Exército e Marinha, transformaram a Rússia em uma nova força a ser reconhecida no chamado Velho Continente. A Guerra do Norte terminou em 1721, mas a chave foi a vitória na Batalha de Poltava, em 1709 – o conflito que fez da Rússia uma grande potência.

Pedro o Grande acabou se destacando sobretudo pela reorganização das fileiras do Exército russo, que ele renovou seguindo os padrões europeus da época e usando tecnologia ocidental. Foi ele também quem criou a Marinha Russa, com o sonho de tornar seu império uma potência marítima no mundo (leia mais sobre a origem da frota russa aqui).

Uma de suas características marcantes era o fascínio pelo Ocidente. Em 1697, Pedro empreendeu uma viagem de 18 meses com uma comitiva de 250 pessoas. A visita à Holanda foi a mais influente de todas. Ali adquiriu conhecimentos técnicos e aprendeu como viviam os europeus. Pedro tentou transferir os costumes ocidentais para a Rússia: obrigou homens a fazer a barba, trouxe arquitetos italianos para construir a capital e mudou a maneira de comer (veja aqui 5 mudanças que Pedro tentou aplicar na sociedade russa).

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7 principais diferenças entre o catolicismo e o cristianismo ortodoxo.

    O Grande Cisma no ano de 1054 dividiu os cristãos em igrejas ortodoxa e católica. Aqui estão as principais diferenças entre esses dois segmentos do Cristianismo.


    “O que imediatamente chama a atenção ao entrar na maioria das igrejas ortodoxas é a abundância de ornamentos dourados, relíquias sagradas, ícones, afrescos”, diz o francês Erwann, que vive na Rússia. Mas não são apenas as decorações que ajudam a diferenciar as igrejas ortodoxas das católicas. “Depois, percebe-se a ausência de bancos, que nas igrejas católicas ocupam a maior parte do espaço. Nas igrejas russas, eles geralmente estão localizados apenas ao longo da parede perto da porta de saída”, continua Erwann.

    É interessante que os bancos nas igrejas católicas tenham a ver com algumas peculiaridades da missa na igreja católica – já na missa ortodoxa, os bancos seriam inconvenientes. Abaixo explicamos essa diferença e outras mais óbvias entre o catolicismo e o cristianismo ortodoxo.

    Actualmente, existem cerca de 1,34 bilhão de católicos baptizados em todo o mundo, segundo as estatísticas fornecidas pela Santa Sé, e cerca de 220 milhões de membros baptizados da Igreja Ortodoxa Oriental, de acordo com a BBC. No caso da última, a Igreja Ortodoxa Russa é a maior igreja autocéfala (autogovernada), que compreende mais de 112 milhões de membros em todo o mundo, perdendo apenas para a Igreja Católica Romana em termos de número de seguidores. Em 2021, o Centro de Pesquisa de Opinião Pública da Rússia (VTsIOM) estimou que 66% dos russos eram cristãos ortodoxos.


    1. Líder da Igreja

        Os cristãos ortodoxos consideram Jesus Cristo como o líder da Igreja, enquanto a Igreja Católica Romana é chefiada pelo Papa, sob o título de Vigário de Cristo. Isso se baseia na ideia de que o apóstolo Pedro recebeu autoridade plena e absoluta sobre toda a Igreja de Jesus Cristo. Em seguida, Pedro se tornou o primeiro bispo de Roma, transferindo esse poder para seus sucessores e discípulos – os bispos de Roma. O status do Papa está incorporado nos conceitos de primazia papal (sobre todos os outros bispos e suas sedes episcopais) e infalibilidade papal. A Igreja Ortodoxa, ao contrário, considera todos os bispos e arcebispos meros mortais vocacionados e ordenados para realizar cerimônias religiosas.


        1. Celibato para os sacerdotes

            Na Igreja Católica Romana, padres e bispos devem observar o celibato antes e depois da ordenação, enquanto os diáconos devem observá-lo apenas após a ordenação. Já na Igreja Ortodoxa Russa, os diáconos e sacerdotes devem observar o celibato somente após a ordenação, o que significa que eles podem se casar.

            No entanto, se suas esposas falecerem antes deles, diáconos e sacerdotes ortodoxos não podem se casar novamente. Também na Igreja Ortodoxa, os bispos devem ser monges, e por isso devem observar o celibato antes e depois de sua ordenação.


            1. Os padres ortodoxos usam barba

                Tradicionalmente, os padres ortodoxos usam barba, porque “os sacerdotes não raparão a cabeça, nem apararão as pontas da barba, nem farão cortes no corpo”, segundo Levítico, 21:5. Além disso, Jesus Cristo é retratado em todos os lugares como tendo cabelos compridos e barba, e todos os reis e profetas bíblicos usavam barba. Já os padres católicos não usam barba, porque o Papado está localizado em Roma, com sua cultura de barbearia.


                1. Sinal da cruz

                    Em 1570, o Papa Pio V definiu que os fiéis católicos deveriam fazer o sinal da cruz “da cabeça ao peito e do ombro esquerdo ao direito”. Além disso, o sinal é realizado com todos os cinco dedos da mão direita juntos – que simboliza os cinco estigmas de Jesus Cristo: dois nas mãos, dois nos pés e o quinto da Santa Lança (Lança Sagrada).

                    Os cristãos ortodoxos russos fazem o sinal da cruz com três dedos (polegar, indicador e médio) juntos para simbolizar a Santíssima Trindade e os dois outros dedos pressionados contra a palma para simbolizar a natureza dual (humana e divina) de Jesus. Além disso, o sinal da cruz ortodoxo é realizado do ombro direito para o esquerdo.


                    1. A Sagrada Comunhão

                        Na tradição ortodoxa, a Sagrada Comunhão é dada às crianças desde o momento do batismo. Isso se baseia em Mateus 19:14: “Deixai vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas”. Desde a infância e por volta dos sete anos, elas já podem comungar quantas vezes quiserem e sem confissão, porque acredita-se que até certa idade, as crianças não têm total responsabilidade por seus pensamentos e ações, mas ainda assim devem receber Comunhão. As crianças são levadas à confissão nas igrejas ortodoxas após os 7 ou 8 anos de idade.

                        Na Igreja Católica Romana, a primeira comunhão de uma criança geralmente acontece aos 8 ou 9 anos de idade. Os católicos acreditam que a criança não seja capaz de entender o significado do Sacramento mais cedo, não consegue distinguir o pão simples do eucarístico, nem consegue entender a diferença entre comida e comunhão.


                        1. O pão eucarístico

                            No catolicismo romano, a hóstia, pão ázimo, é usado como pão eucarístico na Sagrada Comunhão. Êxodo, 12-15:20, diz: “Não comereis nada feito com fermento. Onde quer que vivas, não deve comer pão sem fermento”.

                            Na Igreja Ortodoxa Russa, pão feito com fermento é oferecido durante a Divina Liturgia (Eucaristia), baseado em Levítico 7:13: “Juntamente com sua oferta de comunhão por gratidão, apresentará uma oferta que inclua pães com fermento”. A palavra grega para este pão, prosforon, significa “oferta”.


                            1. Diferentes interiores de igrejas

                                É possível dizer que se está em uma igreja católica ou ortodoxa apenas pelos bancos. Na tradição católica, o ajoelhamento prolongado é parte comum da oração, enquanto na tradição ortodoxa, as reverências ao chão são frequentemente feitas durante a missa. Por isso, bancos com prateleiras para ajoelhar estão presentes nos templos católicos, enquanto nas igrejas ortodoxas, o espaço central é deixado livre para que a paróquia possa fazer reverências quando necessário.

                                Também nos templos católicos, o altar fica situado na capela-mor, dividido da nave (salão, ou ala central, da igreja) por um biombo da capela-mor, mais ou menos aberto. O altar pode ser visto da nave. Nas igrejas ortodoxas, a área do santuário com o altar é separada da nave por uma iconóstase – parede de ícones e pinturas religiosas. O altar não pode ser visto da nave.

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                                Em Portugal 30% das terras têm dono por definir.

                                Onde pára o cadastro?

                                O cadastro das propriedades rústicas permanece em grande parte por realizar a norte do Tejo. Apesar do impulso dado ao Sistema de Informação Cadastral Simplificado e do Balcão Único (BUPi), em 2020, ainda só se sabe a quem pertencem 44% das terras ocupadas por floresta, pastagens e agricultura no centro e norte do país. O objectivo é chegar a 90% em 2023. Iniciado em Novembro de 2017, o BUPi conseguiu registar até agora perto de 500 mil propriedades, pertencentes a 70 mil pessoas ou entidades nos 138 municípios aderentes. Parece pouco, mas o secretário de Estado da Justiça, Pedro Tavares, defende a evolução: “Só nos primeiros cinco meses de 2022 foram concluídos 242 mil processos de identificação, que nos permitem perceber o tipo de ocupação do solo. Equivale a uma média de 60 mil por mês.” E sublinha: “Não nos podemos esquecer de que estamos a falar de uma região em que a dimensão da propriedade é o minifúndio.”

                                A plataforma permite aos proprietários de áreas inferiores a 50 hectares identificar os seus prédios rústicos e mistos de forma simples e gratuita. O sistema cruza informação de várias entidades.

                                quarta-feira, 8 de junho de 2022

                                Portugal gasta mais com salários da Função Pública do que a média europeia

                                A Comissão Europeia alerta para o peso dos salários das Função Pública, mas também para o envelhecimento e para a falta de qualificações dos trabalhadores do Estado.

                                O montante gasto por Portugal com os salários dos trabalhadores da Administração Pública está acima da média europeia, nota o executivo comunitário, no relatório divulgado esta segunda-feira a propósito do Pacote de Primavera do Semestre Europeu. Nesse documento, o órgão liderado por Ursula von der Leyen apela, assim, à racionalização da despesa associada às remunerações e do nível de emprego.

                                “A força de trabalho público tem crescido consistentemente nos últimos anos, colocando pressão na despesa pública”, começa por sublinhar a Comissão Europeia. E acrescenta: “O número de trabalhadores das Administrações Públicas atingiu máximos de uma década, no último trimestre de 2021, resultando num aumento permanente da despesa pública”.

                                Segundo os dados da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público, nos últimos três meses de 2021, o número de funcionários públicos situou-se em 733.495 postos de trabalho, mais 2% do que no período homólogo de 2020 e mais 1,3% do que no trimestre precedente. No início de 2022, esse número voltou a aumentar, atingindo, então, a marca dos 741.288 postos de trabalho.

                                Perante esta evolução, no relatório publicado esta segunda-feira, a Comissão Europeia salienta que a despesa de Portugal com os salários dos trabalhadores da Administração Pública ultrapassa a média europeia em mais de 1,3 pontos percentuais, isto é, por cá esses gastos equivalem a 11,8% do Produto Interno Bruto (PIB) enquanto a média do bloco comunitário é de 10,5%.

                                “Racionalizar a despesa com os salários dos trabalhadores públicos e os níveis de empregos, ao mesmo tempo que se assegura eficiência nos serviços públicos, é importante para salvaguardar a capacidade do Governo ajustar a despesa pública em linha com as mudanças de prioridades ou com as flutuações económicas”, defende o executivo comunitário.

                                Por outro lado, a Comissão Europeia alerta que o envelhecimento do emprego público e a insuficiência em termos de formação poderá colocar em risco as capacidades da Administração Pública.

                                “Portugal tem uma proporção inferior de trabalhadores públicos com ensino superior do que a média da União Europeia”, é realçado no relatório agora conhecido, que avisa também que há uma participação “comparativamente baixa” em acções de formação ao longo da vida.

                                O Governo tem tentado contrariar tanto o envelhecimento das Administrações Públicas, como a falta de competências, tendo prometido, por exemplo, valorizar o salário de entrada dos técnicos superiores, de modo a atrair jovens para esses cargos. Essa medida ainda não saiu, contudo, do papel.

                                https://jornaleconomico.pt/noticias/portugal-gasta-mais-com-salarios-da-funcao-publica-do-que-a-media-europeia-896520

                                segunda-feira, 6 de junho de 2022

                                Amnistia resgata refugiadas ucranianas por suspeitas de exploração laboral.

                                Em causa estão suspeitas de exploração de duas ucranianas e mais imigrantes numa fábrica no centro do país. PJ investiga casos de exploração laboral e sexual, ACT sem registo de abusos

                                “O horror era que
                                estávamos com
                                uma criança
                                pequena. Eles não
                                queriam saber
                                se estávamos num
                                país estrangeiro
                                sem saber a língua” Refugiada ucraniana

                                “Má-fé e dolo, diz Amnistia
                                Ao fim de cinco dias de trabalho, mandaram G. para casa por causa de um surto de Covid entre os trabalhadores.
                                Entretanto, ela não regressaria mais à fábrica. Através de uma amiga, conseguiu chegar à Amnistia Internacional, que resgatou a família, apoiou no alojamento e na sua deslocação para outras cidades. A AI diz que assistiu a conversas da tal cidadã ucraniana intermediária a insultar G. e a filha.
                                Relata ainda que segundo a sua tradutora, ela dizia que tinha gasto imenso dinheiro para as trazer e que “elas só queriam era viver à custa dos outros”.
                                Acusava-as ainda de virem para Portugal “viver do trabalho dos outros”.
                                Sobre o trabalho extraordinário, dizia que “era normal em todas as empresas terem de fazer horas extras”.
                                A AI entendeu assim que havia “credíveis e fundadas suspeitas, bem como fortes indícios de que se trata
                                de um caso em que os intervenientes agiram de má-fé e com dolo para com as refugiadas”; refere que a deslocação à Ucrânia “teria como objectivo final o resgate de cidadãos e cidadãs em estado de vulnerabilidade enorme com vista a uma eventual exploração laboral”. Esta organização internacional recomenda ainda a inspecção da empresa para veri ficar se existem “outras pessoas que possam estar a ser exploradas laboralmente”…

                                Público • Sábado, 4 de Junho de 2022

                                Benefícios fiscais para empresas: a grande máquina de queimar milhões.

                                Técnicos do FMI têm vindo a Portugal para ajudar a pôr cobro ao descontrolo nos mais de 400 benefícios fiscais para empresas. Em muitos, o Estado nem sabe quanto gasta.

                                Um grupo que opera funerárias que paga menos uns milhões em impostos ao abrigo de um benefício fiscal para quem está no sector financeiro. Dezenas de benefícios fiscais, concedidos a empresas, mas que ninguém – nem peritos contratados pelo Governo – sabe ao certo explicar para que servem. Centenas de empresas que poupam milhões de euros na sua factura fiscal graças a benefícios a que não têm direito, mas que ninguém verifica. “Nas empresas funciona como no caso das pessoas antes de a declaração de IRS vir pré-preenchida pelo Fisco – qualquer companhia pega no anexo dos benefícios fiscais e mete lá qualquer coisa”, explica um perito ouvido pela SÁBADO, conhecedor da realidade desta despesa fiscal, que preferiu o anonimato. “É assim porque ninguém avalia”, explica.

                                Todos os anos o Estado deixa de receber centenas de milhões de euros por causa de vantagens fiscais concedidas a empresas e particulares: os benefícios fiscais. Em 2020, ano de pandemia, foram 2,3 mil milhões de euros; em anos anteriores, com a economia a funcionar em pleno, o valor superou 3 mil milhões. A receita que o Estado deixa de ter quando concede um benefício fiscal – se, por exemplo, dá uma dedução fiscal a uma empresa que contrata jovens e desempregados de longa duração – não é um mal em si. “A receita perdida é o preço que o legislador aceita para ter um resultado positivo, extrafiscal, com aquele benefício”, explica o fiscalista João Espanha. “Para saber se esse resultado é positivo é preciso que exista a avaliação posterior sobre o efeito do benefício – no caso do incentivo ao emprego, por exemplo, são as empresas maiores e já com capacidade para contratar que o aproveitam”, diz.
                                O problema tem duas frentes: por um lado, a multiplicação de benefícios sem justificação, nem avaliação posterior; por outro, a ausência gritante de controlo sobre a sua execução no terreno. Um relatório publicado em 2019, a pedido do Governo, deu uma ideia mais precisa do descontrolo na primeira frente do problema: os peritos contabilizaram ao todo 542 tipos diferentes de benefícios fiscais (diminuíram desde então, mas continuam a ser perto de 500), espalhados por vários impostos. Além da quantidade de incentivos, que torna mais complexo o controlo da despesa fiscal, os peritos não conseguiram encontrar “função definida” para 127 benefícios – ou seja, não conseguiram perceber para que servia cerca de um quarto dos apoios em impostos concedidos pelo Estado. Entre os restantes que tinham uma função atribuída, a maior parte estava na categoria genérica “Assuntos Económicos – outros”.
                                Quatro anos depois de ter dito que queria rever este estado de coisas, o Ministério das Finanças diz que está mais perto de o conseguir fazer. A ajudar estão duas instituições que fizeram parte da troika: a Comissão Europeia, que tutela o financiamento a que Portugal se candidatou para fazer esta reforma; e o Fundo Monetário Internacional (FMI), cujos técnicos estão a trabalhar com peritos dentro e fora da Autoridade Tributária para desenhar um modelo de avaliação e controlo dos benefícios fiscais. Os técnicos do FMI – que, segundo apurou a SÁBADO, ficaram surpreendidos com o grau de descontrolo existente – têm feito reuniões em Lisboa. “O FMI está a aprimorar o modelo de avaliação dos benefícios fiscais”, explica António Mendonça Mendes, que atribui à pandemia uma parte do atraso na reforma. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais indica à SÁBADO que até ao fim do ano haverá um modelo novo, assim como uma unidade técnica de política fiscal, que funcionará nas Finanças e que terá a missão de avaliar cada medida antes, durante e depois de ser atribuído o benefício.
                                A poupança é para devolver
                                Mendonça Mendes diz que o que o erário público conseguir poupar nesta despesa servirá para baixar impostos ou para reafectar em despesa em áreas carenciadas. Para já, os técnicos portugueses e os do FMI estão a olhar para três que incidem no imposto sobre os lucros das empresas (IRC), estando o Governo a recorrer a peritos do Centro de Estudos Fiscais e de universidades para avaliar os que vão sendo renovados e que foram “criados sem estudo e não tiveram avaliação posterior”, diz o secretário de Estado.
                                A julgar pelos estudos e documentos feitos sobre a matéria, a futura entidade de controlo terá, em conjunto com o Fisco, muito trabalho. Além da avaliação económica de cada benefício há a questão das falhas no controlo sobre quem recebe o quê. O relatório de 2019 apontava que o Estado não sabia, por exemplo, quanto gastava em quase 50% dos benefícios fiscais no IRC. O Tribunal de Contas, que todos os anos insiste na urgência de rever o modelo, aponta no parecer à Conta Geral do Estado de 2020 que não viu informação sobre o custo de quase metade dos benefícios fiscais.
                                Esta opacidade convive com a quase total falta de controlo. Numa auditoria feita em 2014 à despesa com benefícios fiscais, o Tribunal de Contas encontrou um volume de 490 milhões de euros por quantificar e irregularidades variadas (numa amostra aleatória superior a 300 milhões de euros as irregularidades valiam quase 13%).
                                Numa passagem do contraditório a que tem direito nestas auditorias, a Autoridade Tributária reconhecia que estava a quantificar a despesa fiscal de IRC com base “em montantes declarados pelos contribuintes [empresas] relativamente aos quais não é possível verificar a sua veracidade” – ou seja, com base no que as empresas diziam, sem verificar. Uma falta de controlo que, no caso dos contribuintes individuais, sujeitos a maior escrutínio, acabou há anos.

                                Bruno Faria Lopes

                                Sábado

                                quinta-feira, 2 de junho de 2022

                                Expulsão do talento jovem pela esquerda.

                                Desde o início do século já emigraram mais de um milhão de portugueses de todas as classes sociais, todos em idade produtiva e, sobretudo, jovens qualificados. No entanto, a nossa esquerda, gananciosa pelo esforço alheio, não aprende; insiste em aumentar impostos. Quer espantar ainda mais talento e capital humano de Portugal até não restar nenhum português da nova geração qualificada. Quer afugentar os filhos e netos de todos dos portugueses, até só cá ficarem, sozinhos e solitários, os avós que votam na esquerda, enganados pela comunicação social ao serviço dessa esquerda antifuturo e antijuventude. Qualquer dia, os avós, ludibriados além dos descendentes, até a sua reforma vêem voar, pois não fica cá ninguém disposto a trabalhar para pagar tanto imposto. A esquerda está a matar a galinha de ovos de ouros do capital humano e talento português. O PS e o seu professor ideólogo, o BE, estão a destruir Portugal esbanjando alegremente e aumentando irresponsavelmente os nossos impostos.

                                A expulsão de talento jovem português acontece, em parte significativa porque, em valores iguais de salário, a percentagem de impostos portugueses sobre o rendimento é o dobro da dos outros países europeus e com muito menos serviços do Estado em troca.  A maior parte das empresas bem-sucedidas esforça-se por atrair e reter talento e capital humano, porque sabe que isso leva ao aumento da eficiência e maiores ganhos financeiros. O mesmo se passa com os países bem-sucedidos, a América nunca prosperou tanto como quando importou talento qualificado. Por exemplo, no período da Segunda Guerra Mundial, em que muitos cientistas europeus vieram para os EUA. Pelo contrário, quando se perde talento e capital humano, os países, tal como as empresas, sofrem. Há historiadores económicos que argumentam que o declínio dos impérios português e espanhol aconteceu, em parte, porque estes países expulsaram os seus judeus no final do século XV. Ora, este era um grupo que, no geral, era muito qualificado e votado ao estudo de várias áreas técnicas. Em contraste, a Holanda que recebeu esse talento rejeitado e desaproveitado pelos países ibéricos, além de vindos de outros locais também menos tolerantes, começou a crescer muito por essa altura, inventando o capitalismo e as corporações modernas, tornando-se no país rico e bem-sucedido que ainda é hoje. Um país capitalista que, basicamente, sustenta países socialistas e bloquistas, mal sucedidos e mal governados que expulsam talento aumentando impostos. Portugal anda, assim, sempre de joelhos e mão estendida a pedir dinheiro à Holanda. Até ver, porque qualquer dia até a Holanda se cansa de enviar para cá esmolas. O custo de vida está a aumentar por toda a Europa e podem, por isso, cortar nas esmolas lusas.

                                Claro que nunca ouvimos estas verdades dolorosas, sobre como somos saqueados fiscalmente comparativamente aos outros povos europeus. No que toca a impostos ou outros assuntos, as televisões mentirosas, que cá dizem que são especialistas em verdades e são contra notícias falsas, estão povoadas de políticos e amigos de políticos. Estas põem notícias encomendadas a amigos a meio da noite, assim que há problema com qualquer governante ou deputado socialista e é preciso limpar a imagem de deputados, membros do Governo ou governantes. Da mesma maneira, arranjam maneira de torturar as estatísticas até estas dizerem que pagamos os mesmos impostos. Isto quando a realidade é que quem ganha cá 44 mil euros anuais paga 45% de taxa anual de IRS, enquanto no Reino Unido só pagaria 20%. Quem ganha pouco mais de 10 mil euros tem uma taxa normal de 23%, enquanto no Reino Unido esta é de 0%. Todos cá pagam muito mais que noutros países. Por isso os jovens fogem a sete pés.

                                O PS e o Bloco, tal povo unido, a partir de 2015 trouxeram de novo a festa socrática de 2005-2011. Esta nova festa socrática já dura agora há mais tempo que a outra durou. Reverteram todas as reformas económicas e éticas baseadas na meritocracia que nos fariam prosperar. Nos últimos sete anos voltámos aos vícios do nepotismo e cunhas por todo o lado e afundámo-nos ainda mais, em últimos da Europa em quase todos os índices do Eurostat, incluindo o poder de compra paritário. Por causa do socialismo e do bloquismo unidos, para não mencionar o comunismo, somos já mais pobres que os antigos países comunistas. Solução da nossa esquerda? Aumentar ainda mais os impostos para ficarmos, em relação aos outros europeus, com salários ainda mais baixos em termos líquidos do que já são em termos brutos.

                                Recentemente vimos num vídeo da Iniciativa Liberal, Mortágua, do BE, respondendo – parecendo-nos a espumar de inveja – dizendo que se Elon Musk vivesse cá taxava-o muitíssimo. Pelos vistos, fustigava-o alegre e pateticamente com ainda mais impostos do que ela já paga. Ora, este empreendedor americano só num ano pagou 10 mil milhões de euros em impostos nos EUA, além de lá criar muitas boas empresas, como a “Tesla”, “Space X” ou “PayPal”, com milhares de empregos qualificados e bem pagos. Isto porque, ao contrário dos políticos de esquerda portugueses, é brilhante e útil à sociedade do seu país e humanidade em geral. Já a muitíssimo menos útil Mortágua, se Musk vivesse cá e estivesse sujeito à patetice gananciosa da nossa poderosa esquerda confiscadora, ainda o quereria taxar mais. Por ela, tirava-lhe tudo o que pudesse em impostos, proclamando, convencida e ridiculamente, que isso seria uma ideia inteligente e de justiça social. Resultado? Musk e outros empreendedores brilhantes e esforçados nunca virão para Portugal. Não montarão no nosso país a sua empresa “Tesla”. Não haverá cá justiça social só fuga social, porque não há bons empregos. Só há políticos de esquerda inúteis e medíocres, espantadores de gente empreendedora, inteligente e esforçada, cujo resultado é mais de um milhão de portugueses emigrados desde que o socratismo-socialismo-bloquismo ideológico conquistou o poder.

                                Os portugueses jovens não estão para ganhar muito pouco comparativamente aos outros europeus, além de, ainda por cima, pagarem muito mais impostos que outros europeus por esse baixo salário. Não estão para aturar o saque fiscal socialista e da esquerda caviar contra os portugueses. Fogem dos nossos políticos de esquerda, sequiosos de impostos sobre quem trabalha e cria riqueza. Quem não conhece quer jovens recém-licenciados, quer profissionais muito experientes a emigrarem? A fugirem do aterrador regime fiscal socialista baseado na extorsão fiscal pornográfica contra quem ganha tão pouco comparativamente com os outros europeus, mas cá é insultado como rico, sendo torturado com uma taxa fiscal de quase metade do ordenado, sem contar com a segurança social.

                                A nossa esquerda odeia ricos e quer-nos todos pobres e miseráveis, sem empregos qualificados ou, se os tivermos, a sermos tão híper-taxados que nos sentimos saqueados e emigramos logo, mal acabemos o curso universitário, para criar riqueza lá fora, contribuindo para sociedades sem políticos saqueadores de esquerda, afugentadores desmiolados do talento e do capital humano empreendedor e qualificado.

                                Portugal tem todas as potencialidades intrínsecas para ser um dos melhores e mais prósperos países do mundo, desde o sol das nossas praias à segurança dos nossos brandos costumes, passando pela herança gastronómica e arquitectónica. Além disso está no centro do mundo ocidental, na ponta oeste da Europa mais perto da América, com voos fáceis e baratos de toda a Europa ocidental do norte e os mais rápidos vindos dos EUA. No entanto, tudo isso é desbaratado pelos nossos péssimos e medíocres políticos no Governo, obcecados apenas com uma coisa: saquear o suor do esforço dos outros com impostos.

                                Pedro Caetano

                                https://jornaldiabo.com/

                                quarta-feira, 1 de junho de 2022

                                Fazer mais e melhor do que Cavaco Silva.

                                O antigo primeiro-ministro dá os parabéns a António Costa pela maioria absoluta, recorda as suas maiorias e as reformas que promoveu nesses governos e diz esperar que este executivo ainda faça melhor.


                                Aníbal Cavaco Silva 01-Junho-2022


                                “Faço parte de uma geração que se bateu contra uma maioria existente que, tantas vezes, se confundiu com um poder absoluto”


                                (Primeiro-Ministro António Costa no discurso de tomada de posse do XXIII Governo)


                                1 Senhor PRIMEIRO-MINISTRO: quero começar por lhe pedir desculpa pelo atraso com que o felicito publicamente pela conquista da maioria absoluta nas eleições de 30 de Janeiro. Foi uma vitória da sua pessoa como líder do PS. Somos agora colegas no que à conquista de maiorias absolutas diz respeito.

                                É certo que beneficiou dos erros do PSD e da benesse do PCP e do BE ao chumbarem o orçamento do Estado para 2022, mas ninguém lhe pode tirar o mérito. Como se recorda, também eu beneficiei de uma benesse na conquista da primeira maioria, em Julho de 1987: a aprovação pela Assembleia da República da moção de censura ao governo apresentada pelo PRD.

                                Quanto à conquista da minha segunda maioria, tendo obtido 50,6% dos votos, talvez V. Exa. reconheça que se deveu à obra realizada pelo governo. Estou, aliás, convicto de que o senhor Primeiro-Ministro é capaz de fazer mais e melhor com a sua maioria absoluta e não tem qualquer razão para ter complexos.

                                Contudo, penso, modestamente, que no tempo das minhas maiorias absolutas foram dados alguns passos que abriram novas perspectivas à sua geração e que facilitam agora a tarefa do seu governo. Receio que, na excitação da tomada de posse, se tenha esquecido de que vários desses passos resultaram do diálogo e do consenso com o seu partido.

                                2 Como é sabido, depois de um forte combate eleitoral entre dois grandes partidos apodera-se do derrotado um certo ressentimento que o leva a fugir ao diálogo construtivo com o partido vencedor. Foi o que aconteceu com o PS nas três eleições legislativas que tiveram lugar durante o meu mandato como líder do PSD.

                                Foi, por isso, necessária muita persistência da parte dos meus governos para estabelecer alguns consensos importantes com o seu partido. Sublinho-os seguidamente apenas como estímulo para que o seu governo faça mais e melhor.

                                Destaco, em primeiro lugar, as revisões constitucionais de 1989 e de 1992 que acompanhei de perto e em que me envolvi directamente. Na primeira, era líder do PS Vítor Constâncio e na segunda António Guterres.

                                Lembra-se certamente que a parte económica da Constituição que então vigorava não era compatível com o desafio da integração europeia. Mas já não sei se teve conhecimento da intensidade e da profundidade do diálogo entre os representantes do PS e do PSD tendo em vista alcançar o indispensável consenso.

                                Quando nos últimos anos observava o nível de crispação partidária e a rudeza da linguagem nos debates entre os responsáveis políticos na Assembleia da República, mais vinha à minha memória a cordialidade, a urbanidade e o respeito mútuo que sempre imperou nas minhas múltiplas reuniões com os líderes dos partidos da oposição (Vítor Constâncio, Jorge Sampaio, António Guterres, Adriano Moreira, Freitas do Amaral, Álvaro Cunhal, Carlos Carvalhas, Ramalho Eanes e Hermínio Martinho) e a dignidade e o sentido do interesse nacional que marcou a cerimónia em que eu e o líder do PS assinámos o histórico acordo político de revisão constitucional.

                                Recordo-lhe também que as posições do meu governo nas complexas negociações do Tratado de Maastricht tiveram o apoio do PS, fruto do diálogo permanente mantido com o seu líder.

                                Lembro-lhe ainda que, fruto do espírito de diálogo com a oposição, foram aprovadas com o voto favorável do PS a Lei de Bases do Sistema Educativo que aumentou a escolaridade obrigatória de 6 para 9 anos, a nova Lei das Finanças Locais, a Lei da Autonomia Universitária, a primeira Lei de Bases do Ambiente, a Lei do Mecenato Cultural, a Lei de Segurança Interna, os novos Códigos Penal e das Sociedades Comerciais, o Código do Procedimento Administrativo e a Lei de Bases dos Transportes Terrestres.

                                3 Quero também lembrar-lhe o intenso, profundo e frutuoso diálogo dos meus governos de maioria absoluta com os parceiros sociais. Foram assinados quatro acordos de concertação social e só não foram assinados mais dois porque o líder do seu partido coagiu e pressionou a UGT, como o líder da central sindical publicamente reconheceu.

                                Pelo que observei nos seis anos de governo da “geringonça”, V. Exa. considera certamente um exagero o meu entusiasmo e valorização do diálogo e da concertação social. Sendo meu desejo que faça mais e melhor, recordo que ela muito contribuiu, no tempo dos meus governos, para a redução da inflação, o aumento real dos salários e das pensões, a elevada taxa de crescimento da economia e para a aproximação do país ao nível médio de desenvolvimento da UE como nunca mais voltou a acontecer, como o atesta a informação internacional disponível. Acrescento apenas que, ao contrário do que V. Exa. recentemente referiu numa entrevista, não defendo a desregulação do mercado de trabalho. Leu mal o meu artigo.

                                4 Uma das reformas que gostaria de ter feito em consenso com o PS, e que foi uma das mais marcantes das minhas maiorias absolutas, foi a abertura da televisão à iniciativa privada e a liberalização da comunicação social. O PS, surpreendentemente e não sei com que intenções, revelou-se contra o fim da anacrónica situação em que o Estado português detinha o controlo total ou quase total de cinco jornais diários e de um jornal desportivo e em que, no sector da radiodifusão, só a Rádio Renascença lhe escapava. Espero que, hoje, V. Exa. reconheça que era um quadro redutor da liberdade de expressão e informação e atrofiador da sociedade civil.

                                Para o PS era então estranho que o governo quisesse afastar o Estado de um instrumento tão susceptível de influenciar a opinião pública e importante para a preservação do poder. O senhor Primeiro-Ministro sabe que nunca tive jeito ou apetência para a arte de sedução dos jornalistas e que, ainda hoje, muitos deles não gostam de mim, o que nada me incomoda. Esta é uma área em que V. Exa. é, e continuará a ser, muito melhor do que eu.

                                5 A reforma fiscal de 1989, que instituiu o IRS e o IRC, substituindo sete impostos sobre o rendimento então existentes, levada a cabo pelos meus governos, foi uma outra que gostaria de ter realizado em consenso com o PS. Apesar de ter sido preparada por uma comissão de reconhecida competência técnica e do intenso diálogo e de toda a informação disponibilizada às forças políticas e sociais, o PS decidiu agarrar-se à ideia falsa de que as pessoas iriam pagar mais impostos e ficar fora da reforma.

                                Sendo o actual sistema de impostos caracterizado pela iniquidade, ineficiência económica e pela brutalidade da sua carga para o nosso nível de desenvolvimento, estou certo de que V. Exa. atuará melhor do que eu no diálogo com os partidos e organizações sociais e deixará na história da fiscalidade portuguesa uma marca reformista que ultrapassará em muito a dos meus governos de maioria absoluta.

                                6 Imagino que, hoje, o senhor Primeiro-Ministro, tenha dificuldade em perceber porque é que o PS se opôs à aprovação, em 1987, da nova lei de gestão hospitalar, e, em 1990, da Lei de Bases da Saúde que abriu à iniciativa privada a prestação de cuidados de saúde e que se manteve em vigor durante 29 anos, resistindo a cinco governos do PS, seguramente por a considerar uma boa lei.

                                Face à deterioração da qualidade dos serviços prestados pelo Serviço Nacional de Saúde durante o tempo do governo da “geringonça”, estou certo de que ao seu governo de maioria absoluta não faltará a coragem para fazer mais e melhor do que foi feito pelos meus governos na área da saúde.

                                7 Em relação à reprivatização de 38 empresas públicas levada a cabo pelo meu governo de maioria absoluta, tendo 70% da receita obtida pelo Estado sido destinada à redução da dívida pública, que, em geral, contou com a oposição do seu partido, estou certo de que V. Exa., um europeísta, pensa, agora, “ainda bem que o fizeram”, embora, em público, lhe custe reconhecê-lo. São coisas da vida partidária.

                                Tratou-se de uma reforma estrutural da maior relevância, tornada possível pela eliminação do princípio da irreversibilidade das nacionalizações na revisão da Constituição de 1989.

                                Pressuponho, como é óbvio, que V. Exa. não esqueceu que, em resultado das nacionalizações de 1974 e 1975, o sector público empresarial português tinha uma grandeza sem paralelo na Europa comunitária e acumulava prejuízos gigantescos, um fardo enorme para consumidores e contribuintes e um obstáculo à recuperação económica.

                                Com certeza que também não se esqueceu da importância da aprovação da nova Lei de Bases da Reforma Agrária que estabilizou o direito de propriedade e exploração da terra, sem o que a agricultura portuguesa não conseguiria adaptar-se aos mecanismos da Política Agrícola Comum (PAC). Lembra-se do coletivismo agrícola que imperava no Alentejo em que existiam 330 unidades colectivas de produção?

                                8 Dirá o senhor Primeiro-Ministro que a falta de apoio do PS a algumas das reformas se deveu à inabilidade ou à insuficiência de diálogo dos meus governos e a erros por mim cometidos. É provável que tenha alguma razão. Costumo dizer: “nobody is perfect”.

                                Sendo conhecida a sua vontade de fazer reformas e habilidade no diálogo com o maior partido da oposição no sentido de as concretizar, estou certo que, com o seu governo de maioria absoluta, tudo correrá na perfeição.

                                Nenhum partido, nenhuma organização sindical, empresarial, social, cultural ou ambiental se queixará de falta de diálogo e de abertura do governo para aceitar as suas propostas; as reformas que o país urgentemente necessita serão feitas em clima de toda a tranquilidade política e a decadência relativa do país em termos de desenvolvimento será revertida.

                                As revistas internacionais deixarão de classificar Portugal como “uma democracia com falhas” e os articulistas deixarão de acusar o seu governo de “bullying”, assédio ou asfixia da democracia e de que, para os socialistas, o Estado é deles.

                                Parafraseando a afirmação de V. Exa. no discurso de tomada de posse direi: “Faço parte de uma geração que se bateu contra a estatização da economia, a atrofia da sociedade civil e a queda do poder de compra dos portugueses e que se orgulha de ter contribuído para dar um passo significativo na aproximação do país ao nível médio de desenvolvimento da UE”.

                                Agora, retirado da vida política activa mas preservando os meus direitos cívicos, estou certo de que, encerrada a fase da “geringonça”, o seu governo de maioria absoluta fará mais e melhor do que as maiorias de Cavaco Silva.

                                Observador

                                sábado, 28 de maio de 2022

                                A insustentável leveza de um País de brandos costumes

                                A verdade, esse conceito abstracto, que já serviu de base a milhares de tratados filosóficos, só existirá quando formos capazes de romper com os tabus que impedem tantas publicações de contarem as histórias que realmente movem o nosso País.

                                Todos os dias recebemos denúncias de corrupção e actos de profunda imoralidade entre servidores públicos. Mas mais de 80% pedem-nos anonimato, o que diz muito sobre a nossa democracia.

                                Em pleno século XXI, prevalece o medo. O sentimento claro de que falar com a comunicação social poderá ser sinónimo de represálias.
                                E o que há de mais dramático na vida de alguém do que perder um emprego, num País que empobreceu drasticamente durante a pandemia? Num País que, segundo o FMI, é - ao nível de vida per capita - ultrapassado por países como Porto Rico, Polónia e Hungria?
                                Em Portugal, preferimos ver telenovelas e fechar os olhos à realidade. Porque a realidade diz-nos que vivemos ainda numa espécie de feudo no qual a maioria dos portugueses finge aceitar, em silêncio, regras profundamente incorrectas, como por exemplo, o facto de um presidente de câmara só realizar avenças com amigos ou manter uma pensão de viuvez apesar de já ter contraído novo relacionamento e estar, legal e moralmente, impedido de receber esse dinheiro que provém directamente do erário público.
                                Mas em cada município, as verdades inconvenientes chegam-nos sempre através de uns poucos corajosos que se dirigem a alguns jornalistas, cada vez menos, sempre precedidas de uma frase que já se tornou quase um slogan para nós: "Posso confiar que fica apenas entre nós?"
                                Pergunto-me quanto tempo vai perdurar este medo que nos impede de pôr fim ao que chamo intoxicação do País?
                                A verdade, esse conceito abstracto, que já serviu de base a milhares de tratados filosóficos, só existirá quando formos capazes de romper com os tabus que impedem tantas publicações de contarem as histórias que realmente existem.
                                Na SÁBADO, estamos a fazer esse esforço para dar voz a quem não tem voz. E rompermos de vez com todos os tabus que nos impedem de sermos um País mais moderno e mais justo.


                                A tristeza que invadiu as novas gerações
                                Pela primeira vez, o Ministério da Educação decidiu publicar um estudo sobre a Saúde Psicológica e o Bem-estar entre alunos e professores. Os resultados são perturbadores.
                                Um terço dos alunos apresentam sinais de sofrimento psicológico e metade dos professores também. O problema agrava-se entre os alunos mais velhos. Entre aqueles que serão os homens e as mulheres de amanhã.
                                E a conclusão é simples: não nos bastava termos empobrecido e, em simultâneo, termos sido, enquanto País democrático, incapazes de vencer os cancros de um sistema político profundamente corrompido, e ainda temos uma nova geração ferida pela angústia.
                                Não podemos criar filhos tristes. Mas para isso, o exemplo tem de partir de nós.
                                Sempre defendi lideranças fortes a partir do exemplo. E esta fórmula aplica-se a tudo: a quem lidera um país, uma organização ou uma família.
                                Nunca fui, nem serei, uma profeta da desgraça, mas os dados que temos, obrigam-nos a falar verdade e a agir colectivamente.
                                Há várias soluções para inverter este ciclo aparentemente vicioso que nos deixou reféns de uma vida que não escolhemos e nos atropela para onde quer que vamos.
                                Urge combater a corrupção, dar motivos de alegria aos nossos jovens, incentivos aos professores, jornalistas e a todos aqueles que acordam a pensar em quão melhor seria viver na Alemanha ou nos Estados Unidos da América.
                                No meio de tudo isto, podemos sempre pensar nos horrores que nos chegam há quase três meses de guerra na Ucrânia. Retermos essas imagens e proceder àquele exercício simplista de "há quem esteja pior do que nós". É verdade. Mas não é esse o exercício certo. Simplesmente porque é matematicamente incorrecto.
                                Nunca podemos nem devemos moldar as nossas expectativas pelo limite mais baixo. Não são essas as metas que nos fazem crescer.

                                Sandra Felgueiras

                                Para onde?

                                Há quem alimente a ilusão de que a vida se assemelha a uma estrada, os avisos a anteceder as curvas perigosas, os declives anunciados em percentagens, os cruzamentos assinalados, nos miradouros sempre bela a paisagem.

                                E então, iludidos pela própria ingenuidade, há os que se julgam capazes de na estrada, como na vida, indicar aos outros o melhor percurso, prever as curvas, os obstáculos, aconselhar paragens e cuidados. Pena perdida. Muito pouco, quase nada, valem os avisos e as boas intenções dos que nos querem proteger. Para a vida tão-pouco há mapas, instruções ou programas, mesmo à luz do dia cada passada é dada no escuro, nunca se sabe se virar à direita é melhor do que à esquerda, se seguir em frente é erro.

                                Felizmente vamos andando, cegos de olhos abertos, contentes de que as pernas nos levem, iludidos de que sabemos para onde.

                                Patrão da Barca: J. Rentes de Carvalho

                                Descendências

                                Desmiolado, indiferente às conveniências, dinheiro no bolso, o emigrante tem o mau hábito de no mês de Agosto visitar as berças, e com os seus barulhentos costumes, música pimba, dialecto franciú, ir perturbar o sossego da boa gente que alegremente dispensaria o confronto anual com aquela desagradável versão de si própria.

                                O português tem isso: se julga pertencer à classe média baixa, média média, média alta, superior ou olímpica, é logo atacado de amnésia e nojo, os outros tornam-se-lhe gentinha, "pobrezinhos", passa a sofrer da mais miserável forma de racismo e discriminação: a que se volta contra aqueles a que pertence.

                                Vou lendo aqui e ali queixumes e desdéns, sugestões de que o emigrante vá passar férias a outro lado, não perturbe a serenidade, não venha com o seu barulho e jactância recordar a simpleza e condição humilde de que todos descendemos, mesmo os que se julgam nobres e melhores. Que o não são. Julgam-se.

                                Patrão da Barca: J. Rentes de Carvalho

                                Uma morte pouco natural…

                                Estou a “aproveitar-me” da infeliz morte de um rapaz para atacar a “tauromaquia”? Estou, porque o rapaz foi morto por um touro, num espectáculo público de responsabilidade da autarquia, inseguro, violento, com animais que são selvagens pela sua natureza, empurrados por uma multidão que os assusta e os ameaça. Como é que querem que não se faça essa ligação?

                                …mas pelos vistos demasiado natural. A responsável pelo espaço público onde ela se deu, pelo jogo da morte que a provocou, chamou-lhe um "incidente" como se fosse um "acidente". O comunicado do município da Moita é uma obra-prima de hipocrisia. Houve um "trágico incidente". Sim, onde, como, de que forma? Nada. Não há a mais pequena referência à largada de touros no programa das festas. Ao rapaz caiu-lhe um meteorito em cima. A câmara "lamenta o sucedido e apresenta as mais sentidas condolências à família". Esta é a fórmula habitual nos EUA sempre que alguém entra num supermercado ou numa escola e começa a disparar indiscriminadamente. Os políticos americanos, em particular os republicanos que querem tudo menos discutir o controlo das armas, "oferecem as suas orações" e dizem mais ou menos o mesmo. Depois, o final - sim, não há mais nada no comunicado - conclui:

                                A autarquia, em estreita colaboração com as autoridades competentes, está a acompanhar as averiguações às causas deste incidente.


                                Eu gostava de saber o que é que há mais para saber sobre o "incidente", com o testemunho de centenas de pessoas, que viram o rapaz morrer. Se calhar a culpa é do touro.


                                A esquerda taurina
                                A câmara é de maioria PS, com um primeiro secretário do BE. A composição inclui 12 socialistas, 9 membros da CDU, 1 do PSD, 1 do CDS, 1 do BE, e 2 independentes, ou seja, é uma câmara de esquerda, mais de esquerda é impossível. Pelos vistos, a "tauromaquia", a combinação da violência contra os animais, do machismo, da ocupação de espaço público por jogos da morte, com gladiadores espontâneos e turbas ululantes, ali muda de valores e de cor política.


                                O "aproveitamento" de uma morte
                                Estou a "aproveitar-me" da infeliz morte de um rapaz para atacar a "tauromaquia"? Estou, porque o rapaz foi morto por um touro, num espectáculo público de responsabilidade da autarquia, inseguro, violento, com animais que são selvagens pela sua natureza, empurrados por uma multidão que os assusta e os ameaça. Como é que querem que não se faça essa ligação?


                                Críticas de "Bruxelas" ao Orçamento do Estado português de 2022
                                "Bruxelas" é uma entidade obscura de burocratas, muitos deles Ex-políticos nos seus países, quase sempre de partidos da direita, e que manda em nós, em particular nas nossas políticas orçamentais. A Assembleia da República perdeu esse poder, sem os portugueses terem sido alguma vez consultados directa e explicitamente sobre esta castração do parlamento português numa das suas funções essenciais de soberania. Mais uma vez, "Bruxelas" veio criticar o Orçamento proposto para 2022 e, como também é habitual, Mário Centeno duplicou as críticas com o eco do mesmo pensamento.
                                Todas as críticas são politicamente relevantes, não são uma observação "técnica". Embora já com mais moderação - porque o original da troika resultou mal -, o sentido é o mesmo: corte das despesas em salários e subsídios como principal mecanismo do controlo do défice. "Bruxelas" torce o nariz aos aumentos da função pública, aos apoios ao preço da electricidade, e mesmo ao "apoio social único de 60 euros concedido em Abril de 2022 para as famílias de baixos rendimentos mais vulneráveis ao aumento dos preços".
                                Um dos rastos da troika e dos governos do PSD, PS e CDS, "troikianos", com uma considerável interiorização na comunicação social e numa espécie de "pensamento único", foi a ideia de que "quem não tem dinheiro não tem vícios" e como nós não temos dinheiro, os salários, subsídios aos mais pobres e o combate público à pobreza são os "vícios".
                                Sim, é necessário equilibrar o orçamento, a questão não está na austeridade em si, está no alvo dessa austeridade e isso "Bruxelas" não deixa discutir porque atingiria interesses intangíveis como os da banca.
                                Uma exposição com intenção "cívica" não pode ser paga
                                Com grande surpresa verifiquei que a primeira exposição organizada no âmbito das comemorações do 50º aniversário do 25 de Abril sobre o movimento estudantil no Museu da História Natural e da Ciência tem entradas pagas. Uma coisa é pagar o Museu, que tem excelentes exposições e cuja melhoria considerável nessa área mais que justifica o bilhete, mas a exposição sobre o movimento estudantil é de outra natureza e não tem qualquer sentido ser paga. Se o problema é o trajecto interior, com alguma programação e esforço seria possível isolá-la do resto das exposições. A exposição foi realizada com dinheiros públicos, numa actividade comemorativa de uma data com significado cívico, e o que "expõe" é em grande parte a história da resistência estudantil constitutiva do 25 de Abril. Não devia ser paga, devia ser oferecida.
                                Texto escrito segundo o anterior acordo ortográfico

                                José Pacheco Pereira