Iniciativa que já angariou dezenas de milhares de euros não está a ser pacífica dentro do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Sindicato diz ter dado indicações às estruturas locais para se manterem afastadas.
Um grupo de inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) do aeroporto criaram um fundo para ajudar os colegas acusados da morte do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk a pagar as despesas judiciais. A iniciativa foi tomada pouco tempo depois da detenção e acusação de Duarte Laja, Bruno Sousa e Luís Silva e, ao que a SÁBADO apurou, conseguiu angariar dezenas de milhares de euros.
Contudo, apesar da adesão, a iniciativa não escapou à polémica no SEF. Uma boa parte dos inspectores de vários departamentos contactados pela SÁBADO garantiu não ter feito qualquer contribuição e o próprio Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF (SCIF-SEF) não quis ter qualquer ligação à iniciativa.
"O sindicato tem várias estruturas locais. A Direcção Nacional deu indicações para não nos metermos nessas coisas", explica à SÁBADO Acácio Pereira, presidente do SCIF-SEF. "Todas as pessoas que participaram fizeram-no a título individual. O sindicato não o pode fazer. Há quem esteja de acordo e quem não esteja", diz. "Mesmo juridicamente não podíamos estar envolvidos. Recebia o dinheiro e depois? Nas nossas contas só entra dinheiro do sindicato. O que fizemos foi dar assistência jurídica na altura do processo disciplinar e quando foram detidos. Mas depois, por opção deles, o nosso advogado foi dispensado", conclui Acácio Pereira.
Advogados surpreendidos
A ideia de criar o fundo de apoio partiu de três inspectores colocados no aeroporto de Lisboa. Os inspectores do SEF foram contactados – a base de dados interna está disponível para todos – e foi aberta uma conta bancária em que um deles ficou como fiel depositário. Duarte Laja, Bruno Sousa e Luís Silva foram informados da iniciativa e de que poderiam requerer esse apoio.
A SÁBADO não conseguiu confirmar quantos inspectores contribuíram nem o montante exacto recolhido até ao momento, mas apurou que ultrapassou os 30 mil euros. "É uma quantia fácil de alcançar. Na altura havia cerca de 1.000 inspectores, se cada um der 50 euros chega-se aos 50 mil", diz um inspector que pediu para não ser identificado.
Os advogados dos três acusados mostraram-se surpreendidos. Maria Manuel Candal, defensora de Luís Silva, disse à SÁBADO "não ter a mínima ideia" de que esse fundo existia. "O meu cliente disse-me que usou as poupanças e teve ajuda familiar. Ele tem cumprido comigo, mas cobro preços de província, não de Lisboa", diz. "Vi que os colegas estiveram sempre a dar-lhes apoio, mas não sabia que era mais do que apoio moral."
Por sua vez, Ricardo Serrano Vieira, advogado de Duarte Laja, diz "desconhecer" a existência do fundo de apoio. "Isso nunca foi falado comigo." Já Ricardo Sá Fernandes, defensor de Bruno Sousa não se quis pronunciar sobre o assunto.
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