sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Área Metropolitana de Lisboa: a machadada final?

A decisão agora tomada vem acentuar desigualdades em Mafra, Loures, Odivelas, Amadora, Sintra e Vila Franca do Xira que continuarão, falaciosamente, a fazer parte de uma “pseudorregião rica”.


A Comissão Europeia aprovou a criação de duas novas NUTS[1] de nível II em Portugal: Península de Setúbal e Oeste e Vale do Tejo.

No caso da primeira, que integra os concelhos a sul do Tejo da actual Área Metropolitana de Lisboa (AML), tal significa que esta região deixará de estar inserida na referida AML no âmbito do acesso aos fundos comunitários, passando a dispor de um programa regional próprio.

Acontece que esta nova realidade foi imposta de forma totalmente arbitrária pelo Governo e sem auscultação dos autarcas, quer na AML, quer na Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP).

Além disso, a mesma coloca em causa os superiores interesses das populações da zona norte da AML, mais uma vez prejudicadas nos seus legítimos anseios de desenvolvimento socioeconómico.

Os municípios da AML não são todos iguais. Pese embora esta região esteja, globalmente e do ponto de vista estatístico, em linha com a média da União Europeia (UE), a verdade é que esta concentra em si um conjunto de assimetrias socioeconómicas, verificando-se que existem municípios onde os rendimentos são muito abaixo da média da União.

Ainda que se apoie a correcção de injustiças na Península de Setúbal, a decisão agora tomada vem acentuar desigualdades em Mafra, Loures, Odivelas, Amadora, Sintra e Vila Franca do Xira, que continuarão, falaciosamente, a fazer parte de uma “pseudorregião rica”.

Esta discriminação verifica-se tanto ao nível dos municípios, como também dos agentes económicos e das instituições, os quais terão acesso a percentagens de financiamento muito mais baixas, além do que o volume total de verbas comunitárias disponíveis é significativamente inferior. Num cenário de competitividade fortemente penalizada, não será de estranhar uma eventual deslocalização de famílias e de empresas para territórios vizinhos, onde os apoios da UE e do próprio Governo são manifestamente superiores.

Em nome do princípio da coesão, só podemos exigir que problemas idênticos mereçam soluções idênticas, apelando-se à reabertura urgente do processo de reorganização das unidades territoriais na zona norte da Grande Lisboa. Não nos calaremos na defesa das nossas populações, sob pena de continuarmos sem meios para afirmar projectos e territórios.

A manter-se este cenário, será ainda caso para perguntar: qual será então o papel da AML, enquanto entidade intermunicipal capaz de agregar valor à região e de se constituir como fórum de coordenação de políticas públicas à escala intermunicipal?

Hélder Sousa Silva

Presidente da Câmara Municipal de Mafra e Vice-Presidente do Conselho Metropolitano de Lisboa

[1] Acrónimo de “Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos”, sistema hierárquico de divisão do território em regiões

sábado, 21 de janeiro de 2023

Turquia cancela visita ao país de ministro da Defesa da Suécia

A democracia turca, muito inspirada na russa

A Turquia anunciou, este sábado, o cancelamento de uma visita prevista para 27 de Janeiro do ministro da Defesa sueco ao país, após ter sido autorizada uma manifestação anti-Turquia em Estocolmo, capital da Suécia.

O objectivo da visita era tentar ultrapassar as objecções de Ancara relativamente à entrada da Suécia na NATO.

A permissão dada a um extremista de direita sueco-dinamarquês para se manifestar, este sábado, em frente à embaixada da Turquia na capital sueca suscitou a ira de Ancara.

Rasmus Paludan expressou a intenção de “queimar o Corão” em frente àquela delegação diplomática.

Demissões no Governo acumulam-se. São já 13 em nove meses

Governo continua a registar quedas de governantes – dois ministros e 11 secretários de Estado – e a fazer alterações na orgânica.

São já 13 as baixas deste Governo – entre demissões e consequentes exonerações – que soma apenas nove meses de vida, duas das quais de ministros. E os pedidos de demissão não param de cair, desde o ministro das Finanças à ministra da Agricultura. Além das exonerações, o executivo já passou por várias pequenas remodelações desde Março que fizeram com que tenha agora 60 governantes (a secretária de Estado da Agricultura, demissionária, ainda não foi exonerada) – quando tomou posse, tinha 56. À excepção de duas saídas por motivos de saúde, todas estão relacionadas com polémicas, desgaste político ou desentendimentos entre secretários de Estado e ministros.


1.    Sara Abrantes Guerreiro
A primeira demissão deste executivo foi a de Sara Abrantes Guerreiro, Ex-secretária de Estado da Igualdade e das Migrações, a 2 de Maio, apenas um mês depois da tomada de posse do Governo. A Ex-governante saiu por motivos de saúde, tendo sido substituída por Isabel Almeida Rodrigues.


2.    Marta Alexandra Fartura Braga Temido de Almeida Simões, António Lacerda Sales e Maria de Fátima de Jesus Fonseca
À frente do Ministério da Saúde desde 2018, a Ex-ministra da tutela Marta Temido sobreviveu ao desgaste do combate à pandemia de Covid-19, sendo, aliás, recorrentemente vista como a ministra mais popular do executivo nas sondagens. Mas o fecho das urgências de ginecologia e obstetrícia um pouco por todo o país acabou por levar a agora deputada do PS a apresentar a demissão ao primeiro-ministro a 30 de Agosto.
Com a Ex-ministra, saíram também, por inerência, os Ex-secretários de Estado António Lacerda Sales e Maria de Fátima Fonseca. Para a pasta entraram o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e os secretários de Estado da Saúde e da Promoção da Saúde, Ricardo Mestre e Margarida Tavares.


3. Luís Miguel da Silva Mendonça Alves
Nomeado em Setembro como secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Miguel Alves manteve-se no cargo apenas dois meses. A 10 de Novembro demitiu-se depois de ter sido acusado, nesse mesmo dia, pelo Ministério Público do crime de prevaricação.
Além da acusação, relacionada com contractos públicos realizados quando era presidente da Câmara de Caminha, o Ex-secretário de Estado encontra-se sob investigação por causa de um adiantamento de 300 mil euros que fez enquanto autarca, para pagar o arrendamento de um pavilhão multiusos que ainda não tinha sido (nem foi) construído. O cargo de adjunto do primeiro-ministro foi ocupado por António Mendonça Mendes, até então secretário de Estado das Finanças, que, por sua vez, foi substituído por Nuno Santos Félix.


4.    João Jorge Arêde Correia Neves e Rita Batista Marques
A 29 de Novembro, o ministro da Economia, António Costa Silva, demitiu João Neves, secretário de Estado da Economia, e Rita Marques, secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços. Embora o Governo não tenha apresentado explicações sobre esta remodelação, a demissão ocorreu após os secretários de Estado terem discordado publicamente da posição do ministro sobre a descida transversal do IRC.
Com a saída de João Neves e Rita Marques, que foram substituídos por Pedro Cilínio e Nuno Fazenda, respectivamente, o primeiro-ministro aproveitou para fazer uma pequena remodelação nos ministérios da Economia e das Finanças que resultou na substituição do então secretário de Estado do Tesouro e agora secretário de Estado das Finanças, João Nuno Mendes, por Alexandra Reis.


5.  Alexandra Margarida Vieira Reis
Menos de um mês depois de chegar ao Governo, a agora Ex-secretária de Estado do Tesouro foi demitida pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, a 27 de Dezembro, para “preservar a autoridade política do Ministério das Finanças”.
A decisão foi tomada após ter vindo a público que a Ex-administradora executiva da TAP recebeu uma indemnização de 500 mil euros por sair antecipadamente da companhia, em Fevereiro deste ano, apenas quatro meses antes de ser nomeada presidente do conselho de administração da Navegação Aérea de Portugal (NAV) pelo Governo. Para o lugar da Ex-secretária de Estado foi Pedro Sousa Rodrigues.


6.    Pedro Nuno de Oliveira Santos, Hugo Santos Mendes e Marina Sola Gonçalves
Seguiram-se os pedidos de demissão do ministro das Infra-Estruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, que tutela o dossier da TAP, e do secretário de Estado das Infra-Estruturas, Hugo Santos Mendes, um dia depois. No centro da decisão, também motivada pela recusa de responsabilidades do ministro das Finanças, Fernando Medina, esteve o facto de o secretário de Estado ter tido conhecimento prévio da indemnização paga a Alexandra Reis.
Marina Gonçalves A Ex-secretária de Estado da Habitação, também caiu, por arrasto, mas foi entretanto nomeada ministra da Habitação, juntamente com João Galamba, Ex-secretário de Estado da Energia, que assumiu a pasta das Infra-Estruturas.
Com a separação dos dois ministérios e a saída de Galamba do Ministério do Ambiente, juntaram-se ao Governo esta quarta-feira Hugo Pires, secretário de Estado do Ambiente, Ana Fontoura Gouveia, secretária de Estado da Energia e Clima, Frederico Francisco, secretário de Estado das Infra-Estruturas, e Fernanda Rodrigues, secretária de Estado da Habitação.


7.    Rui Manuel Costa Martinho
No mesmo dia, Rui Martinho, Ex-secretário de Estado da Agricultura, saiu por motivos de saúde, tendo sido substituído por Carla Alves.


8.    Carla Maria Gonçalves Alves Pereira
Praticamente 25 horas depois de ter tomado posse, Carla Alves demitiu-se após ser conhecida uma investigação do Ministério Público às contas bancárias da secretária de Estado demissionária e do seu marido que identificou discrepâncias entre os valores declarados e o balanço das contas. Ainda não é conhecido o nome que substituirá a Ex-governante.

Texto original base: Ana Bacelar Begonha

https://www.publico.pt/

A corrida viciada aos cargos da Administração Pública

Ser nomeado em substituição, para só depois concorrer e ganhar: foi o percurso de uma Ex-deputada do PS, um Ex-autarca, um marido de uma deputada e muitos outros.
Em 2019, acabava-se mais uma legislatura. Com o fim iminente do XXI Governo Constitucional de Portugal, os portugueses preparavam-se para ir às urnas – e vários membros de gabinetes do Executivo sondavam o mercado de trabalho. No caso de Ana Margarida de Brito Pedroso, chefe de gabinete da então secretária de Estado da Saúde Raquel Duarte, o futuro acabaria definido em Março de 2020: seria nomeada em regime de substituição para secretária-geral da Saúde, sem recorrer a procedimento concursal da Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (CReSAP). No Ministério da Justiça uns meses antes, outra chefe de gabinete recebera também uma oportunidade: Helena de Almeida Esteves, do gabinete da secretária de Estado Adjunta e da Justiça Helena Ribeiro, foi nomeada em Fevereiro de 2019 para secretária-geral adjunta da Justiça, também em regime de substituição.
Cada uma destas chefes de gabinete teve saídas diferentes durante a primeira legislatura de António Costa, mas fizeram um caminho comum: foram notadas pelo Governo vigente, nomeadas em regime de substituição e quando abre o concurso, muito depois do tempo que a lei permite – mesmo um ou quase dois anos depois – vencem-no. E nos procedimento concluídos desde 2020 analisados pela SÁBADO esta tem sido uma prática comum.

No caso da secretária-geral da Saúde Ana Pedroso, jurista dos quadros do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais, que tem saltado de nomeação em nomeação governamental desde que foi adjunta de Correia de Campos, ministro da Saúde do primeiro executivo de José Sócrates, o procedimento concursal abriu a 16 de Novembro de 2021, um ano e oito meses depois de ter assumido o cargo – muito além dos 90 dias impostos pela lei para pedir a abertura de concurso pela CReSAP após nomeação em regime de substituição. A secretaria-geral da Saúde não respondeu em tempo útil às questões da SÁBADO.

Uma pessoa, duas nomeações
No caso de Helena de Almeida Esteves, o caso é mais confuso. Um ano depois de assumir o cargo de secretária-geral adjunta em regime de substituição, subiu mais um degrau – é escolhida para secretária-geral da Justiça, uma nomeação novamente em regime de substituição, e José Brandão Pires vai para o lugar vago de secretário-geral adjunto. O concurso para secretário-geral adjunto abre em Maio de 2019, dentro dos limites da lei, mas a CReSAP teve de repetir o concurso por não haver "um número suficiente de candidatos" adequados. A repetição do procedimento só abriria quase um ano depois, em Março de 2021, mas o organismo responsável pelos concursos de direcção superior na Administração Pública chegou à mesma conclusão: "O júri constatou que no conjunto de todos os candidatos avaliados não encontrou três candidatos com mérito para constituir a proposta de designação a apresentar ao membro do Governo", lê-se no despacho da CReSAP.

"Assim, informa-se que estão reunidas as condições previstas no no 9 do artigo 19º do EPD e que, pode o membro do Governo competente para o provimento proceder a recrutamento por escolha, de entre indivíduos que reúnam o perfil definido pelo aviso de abertura", lê-se. Problema: a escolhida para secretária-geral adjunta da Justiça é Helena Tavares, que exercia já as funções de secretária-geral da Justiça em regime de substituição. À SÁBADO, fonte oficial do Ministério da Justiça garante que a situação ficará normalizada quando concluir o concurso para secretária-geral. "No despacho que a designou [secretária-geral adjunta] foi mantida a sua designação como secretária-geral em regime de substituição, uma vez que se encontrava a decorrer na CReSAP o concurso para secretário-geral. Até à conclusão do procedimento e consequente designação do cargo de secretário-geral (pelo membro do Governo) a dra. Helena de Almeida Esteves exerce, em regime de substituição, funções de secretária-geral e o dr. Jorge Brandão Pires funções de secretário-geral adjunto. Com a designação do Secretário-Geral cessarão as actuais situações de substituição", justifica. A mesma fonte acrescenta que, enquanto for secretária-geral em regime de substituições, Helena de Almeida Esteves receberá como tal – "a diferença da remuneração base de ambos os cargos é de 578,18 euros mensais." "A designação de Helena de Almeida Esteves como Secretária-Geral Adjunta teve por base a sua experiência profissional no Ministério da Justiça ao longo de mais de 30 anos, exercendo funções dirigentes neste Ministério desde 1993, factores que estiveram igualmente na origem da sua designação como Secretária-Geral em regime de substituição", concretiza a Justiça.

Nem a secretaria-geral da Saúde, nem a Justiça responderam à SÁBADO sobre os atrasos e emaranhados das nomeações de substituição. Contudo, a deputada Alexandra Leitão, Ex-ministra da Modernização do Estado e Administração Pública, admite que a legislação vigente tem problemas. "Enquanto ministra com a tutela da Administração Pública preparei uma alteração à lei dos dirigentes que, entre outras coisas, reduzia esse prazo (e permitia, por exemplo, que a própria CRESAP abrisse o concurso se o prazo fosse ultrapassado). Mas com a dissolução da Assembleia da República acabou por não ser aprovada", lamenta a antiga governante, responsável pela pasta durante o segundo executivo de Costa. "Os procedimentos concursais na Administração Pública, seja para dirigentes, seja para outros trabalhadores, devem ser simplificados para serem menos morosos, sendo que isso exige alterações legislativas."

Um exemplo de morosidade foi o processo de Vasco Hilário. Após três anos à frente da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público, foi nomeado no anterior executivo técnico especialista do secretário de Estado Adjunto e da Defesa, Jorge Sanches, a 1 de Fevereiro de 2021. Esteve lá 22 dias. A 23, é nomeado em regime de substituição director-geral de Recursos da Defesa Nacional. O concurso só foi aberto em Janeiro de 2022, quase um ano depois.

Os voos do diplomata
Os abusos inerentes ao regime de substituição, assim como o cumprimento dos prazos de abertura dos concursos, têm sido um problema. Em Outubro de 2021, durante uma audição parlamentar do presidente da CReSAP Damasceno Dias, os deputados da Comissão de Administração Pública, Modernização Administrativa, Descentralização e Poder Local referiram que desde 2019 mais de 70% dos escolhidos em procedimento concursal já tinham ocupado as funções em regime de substituição. A resolução destes problemas seria "o primeiro passo para a credibilização da CReSAP e para dar igualdade de oportunidades", concordou o líder do organismo.

Outro caso de substituição seguida de nomeação é o de Paulo Jorge Lopes Lourenço, diplomata de carreira com nomeações de adjunto diplomático na Defesa entre 2004 e 2006 (PSD e PS) e adjunto dos Negócios Estrangeiros entre 2006 e 2009 (PS). Foi quando João Gomes Cravinho substituiu José Azeredo Lopes como ministro da Defesa, em Outubro de 2018, que se tornou chefe de gabinete do novo governante. Quatro meses depois, Cravinho nomeia o seu chefe de gabinete para director-geral de Política de Defesa Nacional, em regime de substituição. A CReSAP abriu concurso e, após o júri não encontrar três candidatos adequados, o procedimento foi repetido no fim de 2020, cerca de um ano e meio depois da nomeação inicial. À segunda foi de vez: a 19 de Fevereiro de 2021, Paulo Lourenço foi incluído na lista final de três candidatos aprovados. Lá constava também Nuno Campilho, o antigo presidente de junta de freguesia de Oeiras e São Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias e Ex-candidato do PS. O escolhido foi Paulo Lourenço, nomeado ainda nesse mês. Mas que, afinal deixou o cargo a 6 de Dezembro de 2022. A Direcção-Geral da Política da Defesa Nacional, à SÁBADO, não respondeu sobre o procedimento.

Ou seja, esteve mais tempo em regime de substituição – quase dois anos – do que como dirigente confirmado pela CReSAP. Onde está Paulo Lourenço? No fim de Dezembro, tornou-se Embaixador de Portugal na Cidade da Praia, em Cabo Verde, agora com Cravinho já ministro dos Negócios Estrangeiros.

O regime de substituição é um problema por resolver, é certo, então e a proximidade dos candidatos dos partidos de poder? Pode ou não ser um factor de peso nas escolhas? À SÁBADO, o presidente da CReSAP "nada tem a comentar quanto a este ponto". "A lei dá ao membro do Governo quer a possibilidade de nomear dirigentes em regime de substituição, quer a de escolher qualquer um dos nomes que consta da shortlist. Cabe à CReSAP o papel de seleccionar três candidatos preferencialmente adequados para o exercício do cargo", frisa.

16 vezes na shortlist
Uma coisa é certa: vários dirigentes do PS e até Ex-deputados socialistas chegaram a cargos da administração pública por esta via desde 2020. Paulo Langrouva, Ex-presidente de câmara de Figueira de Castelo Rodrigo e actual vereador, foi nomeado, em regime de substituição, vogal do conselho directivo do IEFP no início de 2022. Em Setembro, foi confirmado pela CReSAP.

Também há Ex-deputados na administração pública. A CReSAP também confirmou em Julho de 2021 Carla Tavares presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego – cargo que já exercia em regime de substituição desde Janeiro de 2020.

No dia 12 de Julho de 2021, no último Verão antes de a legislatura acabar, o deputado do PS e Ex-vereador da Marinha Grande João Paulo Pedrosa foi designado para o cargo de director de segurança social do Centro Distrital de Leiria, do Instituto da Segurança Social – e renunciou ao mandato de deputado. À SÁBADO, lembra que é "funcionário do Instituto da Segurança Social há mais de 30 anos, com uma vasta a longa experiência no distrito de Leiria". "Há, talvez, 10 anos que concorro a concursos da CReSAP, tendo ficado na shortlist em, pelo menos (ao que me lembro) 16 vezes, sem nunca ter sido nomeado", afirma. E acrescenta: "Sou também, provavelmente, um dos poucos concorrentes ao nível nacional, em todas as áreas de concursos da CReSAP, que nunca foi nomeado em regime de substituição para fazer currículo." Após a experiência parlamentar, consegue um lugar de dirigente na administração pública, para o qual garante ter-se candidatado "como qualquer outro cidadão".

Quem ficou com mais um alto cargo dirigente no currículo (com regime de substituição) foi Carlos Alberto Fernandes Pinto. Nomeado vogal do Instituto de Informática da Segurança Social, IP em regime de substituição a 6 de Outubro de 2020, o concurso arrastou-se ao longo de quase um ano. O procedimento foi aberto, mas necessitou de repetição porque, de novo, não houve número suficiente de candidatos apurados pela CReSAP para propor ao membro do Governo. O concurso abriu novamente no dia 3 de Setembro de 2021 – e da lista de três foi escolhido Carlos Pinto, que já estava em regime de substituição. "A tramitação dos procedimentos concursais é da única e exclusiva competência e responsabilidade da CReSAP, pelo que só a ela deverá ser endereçada a questão do tempo decorrido na mencionada tramitação", defende-se Carlos Pinto à SÁBADO.

"Cada um com carreiras distintas"
Carlos Pinto tem várias passagens por gabinetes ministeriais e autárquicos do PS. Primeiro com o secretário de Estado da Segurança Social Pedro Marques em executivos de José Sócrates, depois na câmara de Lisboa com Fernando Medina, com uma passagem mais recente como chefe de gabinete de Cláudia Joaquim, secretária de Estado da Segurança Social do primeiro executivo de Costa.

É também marido da deputada socialista Susana Amador, Ex-secretária de Estado da Educação e Ex-presidente da câmara de Odivelas. Mas Carlos Pinto justifica a nomeação com a sua "carreira de 30 anos na Administração Pública, como jurista e dirigente, a maior parte dela no âmbito da área da Segurança Social e do Trabalho". E desvaloriza a relação com a deputada, autarca e Ex-governante socialista: "Sou efectivamente casado, não com uma Ex-secretária de Estado, mas com uma mulher há já 28 anos, numa relação de matrimónio e de partilha de vida em comum, mas cada um com carreiras absolutamente distintas e autónomas. Eu como servidor público no âmbito da Administração Pública, ela como colaboradora de organizações internacionais e de ONGs e como autarca e política. É pois manifestamente abusiva e mesmo difamatória a alegação que vem feita."

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Alexandre R. Malhado
https://www.sabado.pt/

SOME ‘WORDS OF WISDOM’ FOR 2023

Taken out of the ‘The Epoch Times’ during the last two weeks

The spread of communism starts when people are silenced. Free speech is the first freedom citizens lose.

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“Devotion to the truth is the hallmark of morality; there is no greater, nobler, more heroic form of devotion than the act of a man who assumes the responsibility of thinking.”

AYN RAND

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“The best remedy for those who are afraid, lonely or unhappy, is to go outside, somewhere where they can be quite alone with the heavens, nature, and God.”

ANNE FRANK

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“The truth is, once you learn how to die, you learn how to live.”

MITCH ALBOM

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“When you go in search of honey (the truth) you must expect to be stung by bees.”

JOSEPH JOUBERT

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“The best revenge is to be unlike him who performed the injury.”

MARCUS AURELIUS

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“Pleasure in any task increases the level of perfection “

ARISTOTLE

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“The sun himself is weak when he first rises and gathers strength and courage as the day gets on."

CHARLES DICKENS

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“The mind, once stretched by a new idea, never regains its original dimensions.”

OLIVER WENDELL HOLMES

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"There must be a limit to the mistakes one person can make, and when I get to the end of them, then I'll be through with them. That's a very comforting thought."

L. M. MONTGOMERY

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"Good manners will open doors that the best education cannot."

CLARENCE THOMAS

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"Kindness in words creates confidence. Kindness in thinking creates profoundness. Kindness in giving creates love."

LAO TZU

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Let’s finish with a ‘non-sense’ thought (which might be very useful to understand our government objectives):

“Mais vale um homem todavia nunca, do que sem comparação jamais. Não só porque ora essa é boa, mas também porque ainda assim até mesmo.”

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

A fábrica do populismo (Rádio Observador)

A estratégia do bloqueio do Governo, um pouco por toda a comunicação social, que acha que está a fazer escrutínio quando está a comer o que lhe põem no prato, resulta também na ocultação ou confusão.

A maioria daqueles que ajudam a fazer crescer a vaga populista que politicamente desagua na extrema-direita radical jura a pés juntos não ser populista e nada ter que ver com os partidos que se alimentam desse populismo, como o Chega. Mas não é o Chega que cresce por si, é um partido demasiado rude, sem quadros, corrupto, mas que funciona como uma rémora colada a uma baleia. A baleia cresce, a rémora viaja com ela, alimenta-se e cresce também. Mas é um subproduto, o produto é outro.

Nestes dias, o primeiro desses reforçadores do populismo tem sido o Governo. Tem escolhido mal, tem hesitado em admitir os erros, e depois, encostado à parede, tenta primeiro encontrar um bode expiatório, até acabar por se render. Não admite, rende-se. Depois tenta explicar-se e o cheiro a fraqueza, nuns casos, cobardia, nos outros, atrai os predadores. O rastro que deixa é o pasto para o populismo, e o populismo não faz distinções, alimenta-se de tudo, no meio da confusão geral. Alimenta-se de "casos e de casinhos”, porque a distinção fica diluída na sucessão de erros clamorosos e culpas sem responsáveis.
Mas existem fornecedores do alimento populista, cuja vida é facilitada pelo Governo, mas que mesmo assim ajudam a fermentar a podridão de que se alimenta o populismo. E sabem muito bem o que fazem, e estão a fazê-lo com muito mais profissionalismo do que os spin doctors governamentais. E estão a ganhar a guerra todos os dias, uma guerra inorgânica, sem regras, política até ao tutano, com objectivos e interesses definidos, e que é muito mais eficaz do que os partidos da oposição. É uma guerra que não faz eleitores para o PSD, mas para o Chega e, com esses eleitores do Chega, pretendem pôr ordem no PSD. O objectivo não é colocar o Chega no poder, ou a governar sozinho, é mesmo pôr um PSD fragilizado no poder, eventualmente aliado à IL ou mesmo ao Chega, um PSD capturado para a sua agenda de direita radical, e aos interesses que servem. Aproveitam-se da crise do partido, das ambiguidades em que se tem enterrado, dando-lhe aquilo que lhe falta, eficácia numa oposição radical, que nada tem de social-democrata.

Gravura inglesa (1889)

Os próceres da direita radical no sistema dos media, como é o caso do Observador, para quem o PSD é demasiado próximo dos socialistas, o CDS perdeu utilidade, a IL ainda é muito pequena, o Chega útil mas não frequentável, precisam do PSD, do ponto de vista da “massa de manobra” do voto e para isso precisam de um populismo forte como instrumento de pressão.

O problema, correctamente diagnosticado pela direita radical, está na margem de manobra que tem o Governo com a sua maioria absoluta, e com a grande distância do PS de uma oposição dividida e longe do poder. Por isso, o seu objectivo, bem claro no orgasmo matinal da Rádio Observador, é o bloqueio do Governo, a sua perda de prestígio, ampliando os seus tropeções e asneiras, tornando impotente o exercício da governação, enredada nas sucessivas crises. Mesmo que António Costa diga que não perde um minuto com os “casos e casinhos”, é mais que óbvio que perde mesmo muitas horas.

Mas esta estratégia tem um segundo aspecto igualmente bem pensado e melhor executado: apesar de tudo, o Governo faz algumas coisas bem, outras potencialmente com capacidade de virem a dar resultados. Eles sabem disso, e por isso a estratégia do bloqueio, disseminada um pouco por toda a comunicação social, que acha que está a fazer escrutínio quando está a comer o que lhe põem no prato, tem também um resultado de ocultação ou confusão.

Voltando de novo ao orgasmo matinal da Rádio Observador, é muito evidente como uma qualquer acção governativa pode ser tratada tanto de uma maneira como o seu contrário: o Governo gastou X, mas devia gastar Y, ou X é demais e devia gastar Y, que é menos; um dia são despesistas, noutro dia unhas de fome; num dia o controlo do défice é fundamental, noutro dia o Governo devia abrir os cordões à bolsa; nestes dias, todos os dias, as greves e manifestações que habitualmente eram intrinsecamente más, agora, são boas; até um dos casos portugueses é apresentado como sendo da natureza de “justificação” para a raiva bolsonarista, enquadrado na culpabilidade de Lula na tentativa de golpe de Estado; uma vez é porque falam, noutra porque estão calados – há apenas uma constante que nada tem que ver com escrutínio, mas com o uso político da má-fé. Não é jornalismo, é propaganda política.

A única coisa que não muda são os alvos, António Costa em primeiro lugar e os ministros que estão na lista de abate, nalguns casos os que pensam ser mais eficazes e por isso mais perigosos. E há também um grande silêncio sobre os interesses privados, quer na TAP, quer na crise hospitalar, quer no comportamento dos senhorios, quer no contraste entre os baixos salários e os lucros, quer em toda a agenda económica e social do tipo da IL.

Há um outro efeito perverso, que é deixar para o populismo a tarefa de erodir o Governo e manter o PSD capturado, impedindo uma crítica séria e reformista da governação, que é bem precisa e necessária e que nada tem que ver com isto. E como acontecerá se chegarem ao poder, vão ver como começam a falar de “populismo de esquerda” e a pôr na ordem os mesmos que agora atiçam. Com a polícia, claro.

O autor é colunista do PÚBLICO

José Pacheco Pereira

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

É este o país criado por António Costa: tenho medo que a minha mãe entre num hospital

Henrique Raposo

Sim, tenho medo que a minha mãe entre num hospital. Tenho medo que não seja atendida, tenho medo que não seja bem atendida, porque o PS muito simplesmente não geriu o SNS a pensar nos médicos e nos doentes. A gestão do SNS foi pensada por fanáticos ideológicos como Temido, porque essa é a melhor maneira de manter os empregos nas administrações disto e daquilo para os boys e girls do PS

Confesso que nunca pensei chegar a este ponto, porque nunca pensei que os socialistas portugueses fossem tão incompetentes na gestão da coisa pública. Talvez eu seja ingénuo. Nunca esperei milagres do socialismo português, pois o socialismo nunca resultou em lado nenhum, falhou sempre em todos os países, em todos os continentes. Mas, num quadro de integração europeia, também nunca pensei que iríamos cair neste abismo, do qual, confesso, não vejo saída neste momento. A herança que nos deixa a grande era socialista (pós-1995) é mesmo uma decadência sinistra. Todos os sectores, da saúde à educação, passando pela economia, dão mostras de um cansaço brutal. O socialismo do PS, acelerado pela geringonça, colocou-nos num beco.

Claro que o ponto mais assustador é o caos à Pacto de Varsóvia na Saúde. Devido às narrativas que acabam por dominar o próprio jornalismo, ninguém quis ver a tempo e horas o desastre total que foi a gestão do radicalismo de Marta Temido – um desastre só comparável à gestão do radicalismo de Pedro Nuno Santos. O radicalismo ideológico de Temido agravou as falhas estruturais do SNS, o mais socialista, o mais centralizado e burocrático de todos os serviços de saúde da OCDE.

A nossa rigidez socialista na Saúde só é comparável à espanhola – e, não por acaso, os dois países lideravam a meio de 2022 os índices de excesso de mortalidade da Europa. O resultado é um medo social sem precedentes na democracia. Sei que não estou sozinho neste medo, sei que este pavor é neste momento um padrão da sociedade portuguesa: sim, tenho medo que a minha mãe entre num hospital. Tenho medo que não seja atendida, tenho medo que não seja bem atendida, porque o PS muito simplesmente não geriu o SNS a pensar nos médicos e nos doentes. A gestão do SNS foi pensada por fanáticos ideológicos como Temido, porque essa é a melhor maneira de manter os empregos nas administrações disto e daquilo para os boys e girls do PS.

O problema do SNS não é falta de dinheiro, é de falta de gestão, é de falta de visão sobre o que é um serviço de saúde. A minha mãe era atendida por um hospital PPP que estava no topo da eficácia médica, da satisfação dos doentes e da eficácia financeira. Essa PPP foi destruída por Temido e pela extrema-esquerda sem qualquer justificação. No PCP, no BE e numa parte do PS, o ódio aos “privados” é muito superior ao respeito pelos doentes mais pobres. Agora, o hospital que era uma referência é neste momento um quadro humano (ou desumano) que só faz lembrar os filmes sobre a RDA, burocracia, caos, atrasos.

É esta a lógica socialista: destruição daquilo que está bem, destruição do que está acima da média, incapacidade para estimular aquilo que corre bem, nivelamento por baixo. Somos todos iguais na miséria e no desamparo, porque a esquerda portuguesa é reacionária, não é capaz de renovar, reformar e inovar tendo os modelos europeus como referência.

Expresso

O estado das escolas é o reflexo do estado do país

Os governos socialistas são há 30 anos os maiores e mais apaixonados promotores dos grandes grupos privados nas áreas da saúde e da educação. Não liguem ao que o PS diz. Vejam o que o PS faz.

O PS dirige o país desde 1995, com excepção de dois curtos períodos em que o PSD chegou ao poder em circunstâncias precárias, primeiro em 2002 e depois em 2011. Desde Cavaco Silva que a direita não consegue apresentar um programa de Governo em condições economicamente favoráveis, razão pela qual foi sendo enxotada para a oposição após legislaturas episódicas e austeras de três ou quatro anos. Henrique Raposo chamou a isto “a grande era socialista (pós-1995)”. É um bom nome. E qual é o resultado dessa “grande era socialista”, nas áreas fundamentais do Estado, como a saúde e a educação? Está bem à vista: uma degradação brutal das condições do SNS e da escola pública e um impressionante crescimento do ensino e da saúde privados.

Já o disse várias vezes, mas vale sempre a pena repetir, a ver se entra: os governos socialistas são há 30 anos os maiores e mais apaixonados promotores dos grandes grupos privados nas áreas da saúde e da educação (excepção feita aos desgraçados com contractos de associação, atropelados no tempo da "geringonça"). Não liguem ao que o PS diz. Vejam o que o PS faz. Eis os resultados das suas políticas: 400 mil alunos em escolas privadas que, de ano para ano, aumentam o seu domínio no ranking escolar (há três anos consecutivos que não existe uma única escola pública no top 30); e mais de três milhões de portugueses com seguros de saúde, o que obviamente deu origem a uma explosão de hospitais privados, que crescem como cogumelos nas grandes áreas urbanas.

Convém lembrar aos mais distraídos, ou a quem nunca perdeu a fé no Partido Socialista (em geral, acumulam), que o Estado português oferece esses serviços gra-tui-ta-men-te aos seus cidadãos. E ainda assim, mesmo com a possibilidade de gastar zero euros em hospitais e ensino, há centenas de milhares de pais, e milhões de portugueses, que ao mesmo tempo que suportam uma das mais altas cargas fiscais da OCDE, fazem o sacrifício extra de pôr os filhos na escola privada e de investir num seguro de saúde. A isto António Costa chama um “Estado social forte” e “imprescindível”.

Caros professores em luta: António Costa obteve maioria absoluta há menos de um ano. Não fui eu que votei nele. Não sei se há quem pense que a luta dos professores, ou a luta dos médicos, ou a luta dos enfermeiros, é apenas uma questão sectorial, independente da estratégia (ou falta dela) do Governo para o país. Não é. Isto anda tudo ligado. A escola pública já teve professores a mais, agora tem professores a menos; já foi uma auto-estrada de progressões na carreira, agora é um engarrafamento de professores estagnados; já teve uma falta de exigência obscena quanto à sua avaliação, agora parece que os afoga em burocracia. Tudo vai balançando sem sentido entre um extremo e outro, ditado pelas políticas centralistas do Ministério da Educação.

Ironia das ironias: quando o Governo aposta na autonomia das escolas e numa maior participação dos municípios, são os professores que dizem “não”. Porquê? Porque temem que o nepotismo e a pequena corrupção manchem a contratação dos professores. Perante as últimas dez capas do Correio da Manhã, quem sou eu para os desmentir? Donde, de um lado, temos um país que não suporta mais centralismo; do outro, o receio de que a ausência de centralismo traga mais corrupção. O impasse é total. E é por isso que jamais se resolverá o grande problema da gestão das escolas sem primeiro se resolver o gigantesco problema da gestão do país.

João Miguel Tavares

O autor é colunista do PÚBLICO

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Marina Gonçalves: de girl de Caminha a ministra

Currículo: filha de um socialista local, próxima de dois políticos de Caminha, o Ex e o actual presidente da câmara, Ex-JS e percurso nos gabinetes.

Não há na história do PS muitos militantes que tenham conseguido uma ascensão tão fulgurante como a de Marina Gonçalves, 34 anos, de Seixas do Minho. Logo em Setembro de 2020 e longe de prever que o melhor ainda estava para vir, o assombro fê-la desabafar que "não esperava" que Pedro Nuno Santos lhe confiasse a Secretaria de Estado da Habitação. Desde que este amigo e confesso mentor a recrutou para adjunta, passaram-se apenas 7 anos até chegar a ministra. Uma curta carreira em que toda a experiência profissional é feita ao serviço do PS, exceptuando um périplo fugaz pela advocacia.

De onde vem Marina? Na terra de origem, fontes contactadas pela SÁBADO atribuem a ascensão de Marina Gonçalves ao "poder extraordinário", na expressão de uma delas, do seu pai - o advogado Manuel Carlos Falcão - de "influenciar" escolhas e decisões no aparelho socialista ao nível regional. É conhecido por ser muito discreto. Foi o primeiro suplente da candidatura do PS à Câmara de Caminha nas últimas autárquicas, tendo sido ali vereador e membro da Assembleia Municipal (AM) quando os socialistas estavam na oposição. Mas, em 2009, integrou as listas conjuntas do PS e PSD pelas quais acabaria eleito, como primeiro suplente, para o sempre disputado Conselho Superior do Ministério Público. Para trás ficavam os tempos animados em que o pai de Marina emprestou voz a um quinteto musical chamado "Seca Adegas".
É, de resto, no escritório de Carlos Falcão que trabalhava Rui Lages, o actual presidente da Câmara de Caminha, antes de ser escolhido, aos 27 anos, para adjunto do gabinete de Eduardo Cabrita, em 2015. Até 2017, o percurso académico e profissional de Marina Gonçalves e do actual autarca é muito semelhante. Estudam juntos, têm a mesma idade, estão ambos em Lisboa e são namorados.
Por esta altura, já Miguel Alves - "um homem iluminado", no entender de um socialistas do vale do Âncora - tem regressado a Caminha para disputar a Câmara ao PSD. Os três jotas, Rui Lages, Miguel Alves e Marina Gonçalves, são amigos e confidentes e não fazem segredo disso, surgindo juntos nas mais diversas iniciativas onde, por vezes, Xavier Gonçalves, o único irmão de Mariana, marca também presença, apesar de preferir o escutismo à política.
Rui Lages regressará a Caminha mais tarde para ocupar o lugar de vereador no executivo de Miguel Alves, cuja saída para secretário de Estado Adjunto de António Costa - cumpria já o terceiro mandato - leva o seu número dois na autarquia a assumir os destinos conturbados da câmara, a braços com o polémico pagamento antecipado de 300.000 euros de rendas por um pavilhão que não existe.
Dos três amigos de sucesso de Caminha, um, Miguel Alves, caiu com esse caso; outro, Rui Lages, foi promovido a presidente de câmara; e Marina Gonçalves foi promovida a ministra na sequência da saída de Pedro Nuno Santos, num caso com semelhanças com o que fez cair Miguel Alves.


A ascensão meteórica
A nova ministra "é um produto do aparelho socialista", diz um conterrâneo da jovem governante que conhece bem os bastidores da política alto-minhota. O facto de não ter "nenhuma experiência de vida" é também sublinhado. Mas, contrapõe uma amiga de longa data que aceitou falar à SÁBADO, "assumiu o cargo pela vontade que tem de mudar a vida das pessoas".
"Obcecada pelo PS", na voz de um crítico da terra, é na JS que Marina Gonçalves dá os primeiros passos na política, chegando a Secretária Nacional. Depois, tudo acontece muito rápido. Da Escola Básica e Secundária Sidónio Pais, em Caminha, sai para a Faculdade de Direito da Universidade do Porto, em 2006. É também ali que, quatro anos depois, inicia o mestrado em Direito Administrativo, cujas provas defende em Outubro de 2013. Mas leva já dois anos a viver em Lisboa, onde acumula já os afazeres académicos com a assessoria jurídica do Grupo Parlamentar do PS e o estágio na Ferreira de Almeida, Luciano Marcos & Associados. Graduada mestre e com a com a obtenção da cédula profissional, em Novembro de 2013, abandona aquela sociedade logo no mês seguinte. A aposta é na ligação ao Grupo Parlamentar.
Mas tudo se precipita com a rejeição do programa do governo de Passos Coelho. Pedro Nuno Santos é designado Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e Marina Gonçalves, que conhecia da JS, acaba escolhida para adjunta do seu gabinete, o que a leva a suspender a inscrição na Ordem dos Advogados poucos dias depois. Depressa se tornariam "amicíssimos", conta à SÁBADO fonte próxima da ministra. "Tive o privilégio de crescer politicamente e de aprender com ele durante estes anos", diria em 2020, numa entrevista a O blog do Vilas - o Vilas (Luís Vilas Espinheira) é um amigo do irmão. Em sete meses foi eleita membro efectivo da Comissão Política Nacional (Junho de 2016) e secretária nacional da JS (Janeiro de 2017), e depois para a AM de Caminha. Em Março de 2018, Pedro Nuno Santos promove-a a chefe de gabinete, e mantêm-na depois nessa função no Ministério das Infra-estruturas e Habitação. A ascensão no aparelho socialista é confirmada nas legislativas de 2019, ao estrear-se como deputada eleita pelo círculo de Viana do Castelo. Assume, então, uma das vice-presidências do Grupo Parlamentar, mas quase não aquece o lugar porque, menos de um ano depois, Pedro Nuno Santos promove-a a secretária de Estado, cargo que mantém após as legislativas antecipadas do ano passado. Até ser agora nomeada ministra.

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/marina-goncalves-de-girl-de-caminha-a-ministra

Uma história de aflição.

José Sócrates

Ex-primeiro-ministro

O antigo primeiro-ministro e arguido na Operação Marquês critica o Ex-camarada António Costa por, tal como André Ventura, “presumir a culpa” do presidente demissionário da Câmara de Espinho, preso preventivamente por suspeitas de corrupção. E diz que o PS está a atacar “com mais violência” do que a oposição os governantes que se viram obrigados a demitir-se na sequência de vários escândalos. Para Sócrates, estamos a caminho de uma “República Penal

Diz o líder da extrema-direita que a prisão do Presidente da Câmara de Espinho é uma vergonha. Em resposta, o primeiro-ministro apressa-se a concordar – quando um político é preso, diz ele, todos os outros se sentem envergonhados. Como só temos vergonha da culpa, não da inocência, o que os dois estão a dizer é que presumimos a culpa de quem é preso. E pronto, assim dito, com a solenidade do que é dito no Parlamento, a República muda de natureza - deixamos de presumir a inocência, agora presumimos a culpa. Nem direito a defesa, nem direito a julgamento, nem sentença transitada em julgado. O Estado português, segundo o primeiro-ministro e o líder da extrema-direita, já não precisa de acusar, já não precisa de provar, já não precisa de julgar - basta prender e presumir a culpa. A República a caminho de uma República penal.

O Presidente da Câmara é companheiro político do primeiro-ministro, o que torna tudo ainda mais difícil para o primeiro. Para este último, o primeiro-ministro, se não há escrúpulos com a Constituição, também não haverá com a decência pessoal. O respeito pela dignidade do outro, seja ele quem for, que impõe ouvir primeiro o que o visado tem a dizer em sua defesa, já não vem ao caso. Naquele partido fazem-se agora condenações sumárias. Quando no governo, o partido socialista parece já não reconhecer as garantias constitucionais nem os limites ao poder estatal. Nem o valor supremo da liberdade individual na ordem penal. O princípio geral do direito democrático de aguardar o julgamento em liberdade é lentamente substituído pela excepção da prisão preventiva, justificada, na maior parte dos casos, por motivos absolutamente fúteis, falsos e enganosos.
O discurso que se ouviu no parlamento não só não respeita os direitos fundamentais como não respeita também os mais básicos deveres de cidadania que todos temos uns para com os outros. E muito menos os deveres de camaradagem, palavra que já significou alguma coisa naquela organização política. Naquele momento do debate a única coisa que parece interessar é o cálculo, a carreira e o instinto de poder. E a covardia política, já agora. Esta última convenientemente disfarçada de “superior interesse do partido”. E, no entanto, seria tão fácil usar a correcção e a seriedade. Bastaria lembrar a presunção de inocência, bastaria lembrar que é preciso esperar para ouvir o que o visado tem a dizer, bastaria lembrar que tendo sido alguém preso, compete agora ao Estado, aos órgãos penais do Estado, a responsabilidade de apresentar as provas da conduta criminosa.
Vem, aliás, a propósito lembrar que na operação “teia”, três anos depois das prisões de presidentes da Câmara (as prisões são de Maio de 2019) o Estado ainda não apresentou nem as provas nem as acusações contra os arguidos. Não apresentou nada, a bem dizer, a não ser a habitual campanha televisiva de difamação dos principais visados. O flagrante abuso do poder judicial seria escandaloso em qualquer outro país democrático, mas o jornalismo português insiste em normalizá-lo, lembrando todos os dias que tem a última palavra quando se trata de considerar o que é e o que não é escandaloso. Mas regressemos ao episódio parlamentar para concluir que, bem vistas as coisas, o evento apenas ilustra a mudança de cultura política. Já houve alturas em que naquele partido nenhum fim social era considerado legítimo se não respeitasse os direitos e garantias constitucionais. Nenhum interesse colectivo seria aceitável se implicasse o sacrifício do princípio de presunção de inocência, base do direito moderno. Parece que não mais. No mesmo momento em que aplaudem o seu líder os deputados socialistas enterram também a sua Declaração de Princípios: “O Partido Socialista considera primaciais a defesa dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos”. As palmas dos deputados homenageiam um outro sucesso – o da extrema-direita. Bravo.
Depois vem a resposta aos casos do dia – o questionário. O Governo está tão assustado que vale tudo para sair dali. Se for preciso perde-se também a dignidade da política, se é que esta ainda conserva alguma. Mas vamos por partes. Primeiro, todos aqueles que há uma semana foram defendidos passam agora a ser atacados com mais violência do que a da oposição. Desta forma não podem acusar o partido, visto que os “camaradas” são ainda mais brutos do que os outros, os da oposição. Mas já vem aí a grande reforma que pretende aplacar a fúria mediática - o inquérito prévio. Para quem não quer fazer figura de parvo, as perguntas têm o evidente significado de presumir a desonestidade da política, colocando-a de joelhos perante a opinião pública. Parece que a ideia inicial era partilhar a averiguação prévia com o Presidente, mas que este não quis. O que resta é uma história de aflição na qual um primeiro-ministro está disposto até a negociar a natureza do regime – a responsabilidade do Presidente no questionário tornaria os ministros responsáveis também perante ele próprio. Manter-se no cargo parece ser é a única coisa que importa.

No dia a seguir, mais informações. As suspeitas de que o pior foi pensado são absolutamente e completamente confirmadas – a indagação prévia de futuros membros do governo foi proposta ao Ministério Público, quem mais? Vitória total da corporação – o direito de veto político, finalmente. Não a responsabilidade de governar, mas o poder de dizer quem pode e quem não pode entrar no jogo político. Não mais ser o garante da legalidade democrática, mas, em última análise, transformar-se no “grande avaliador” da política e da qualidade dos membros do governo – tudo isto, claro está, em substituição do Parlamento e em violação do princípio da separação de poderes. Mas nada disso parece vir ao caso, o que interessa é que se alguém se portar mal, se aplicar políticas das quais discordemos, tirar-lhe-emos o alvará e pronto. No fundo, no fundo, regressaríamos ao antigo regime e aos atestados de bom comportamento moral e cívico passados pelas autoridades. Lembram- se da declaração feita à polícia política por um antigo Presidente? Lá chegaremos, mais tarde ou mais cedo. Ou mais cedo do que tarde. Para já, ficámos a saber que a intenção do primeiro-ministro era sujeitar futuros governantes a responder a inquéritos policiais antes de exercerem funções. Sim, inquéritos policiais, visto que a autonomia de investigação das policias foi há muito eliminada pelo Ministério Público que agora escolhe os chamados órgãos de polícia criminal de acordo com critérios de obediência e de servilismo. Segundo os jornais, que são quem manda, quem investiga são os procuradores – eles investigam, eles acusam e, no futuro, eles julgarão, dispensando os tribunais e os juízes independentes, que só atrapalham. A República a caminho de uma República penal.

Expresso

CEO INDIANO

.Quem é o não. 1 CEO na Índia?
Mukesh Ambani, CEO da Reliance Industries. Uma das pessoas mais ricas do mundo, Ambani transformou o negócio da família em uma empresa da Fortune 500.
.Quantos CEOs são da Índia?
30% das empresas da Fortune 500 têm indianos como CEO. De acordo com um estudo de 2015, um terço de todos os engenheiros do Vale do Silício (EUA) são da Índia e 10% dos CEOs de empresas de alta tecnologia do mundo são indianos.
.Qual indiano se tornou recentemente CEO?
Arvind Krishna, que assumiu o cargo de CEO da IBM em Abril de 2020 e o cargo de presidente em Janeiro de 2021. & Laxman Narasimhan, CEO da Star Bucks
.Quem é o CEO mais jovem da Índia?
Radhika Gupta. Aos 33 anos, Radhika é a CEO da Edelweiss, colocando-a na lista de jovens executivos da elite indiana.
.Quem é o CEO nº 1 do mundo?
Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, ficou em primeiro lugar no ranking global da revista CEOWORLD em todos os sectores em 2020. Ele é seguido pelo chefe da Microsoft, Satya Nadella, outro CEO indiano que lidera uma das principais empresas do mundo.
.Por que os principais CEOs são indianos?
Os índios têm experiência em lidar com diversas origens e mentalidades, o que faz parte da cultura do país. Isso torna o CEO indiano um líder diversificado, versátil e tolerante.
.Quem é o CEO mais bem pago do mundo?
Elon Musk, CEO da SpaceX e Tesla.
.Quantos principais CEOs indianos dirigem empresas em todo o mundo?
Sundar Pichai, Alfabeto; Satya Nadella, Microsoft; Parag Agarwal, Twitter; Leena Nair, Chanel; Shantanu Narayen, Adobe Inc; Arvind Krishna, IBM; Sanjay Mehrotra, Tecnologia Micron; Nikesh Arora, Palo Alto Networks e Viswas Raghavan, CEO do JP Morgan. na Europa, Oriente Médio e África.
.Qual país tem mais mulheres CEOs?
Os EUA ocupam o primeiro lugar com 4490 CEOs de 2,69 empresas, embora apenas 431% sejam mulheres. Os CEOs indianos mostram uma diversidade marginalmente melhor, com o país ocupando o segundo lugar entre os 1.67 principais países do mundo com o maior número de CEOs de tecnologia do sexo feminino.
.Quem são os CEOs indianos nos EUA?
Sundar Pichai: CEO, Google LLC & Alphabet INC., Arvind Krishna - CEO, IBM Group, Satya Nadella - CEO, Microsoft, Shantanu Narayen - CEO, Adobe Inc. e Ajaypal Singh Banga - CEO, Mastercard.
.Quem é o chefe do Google?
Desde 2019, Sundar Pichai é CEO do Google e da Alphabet, aproveitando o sucesso dos fundadores da empresa, Sergey Brin e Larry Page.
.Quem é a primeira mulher CEO indiana?
Indra Nooyi (nascida Krishnamurthy; nascida em 28 de Outubro de 1955) é uma executiva de negócios indiana-americana e Ex-presidente e CEO da PepsiCo.
.Quem é a CEO feminina mais jovem da Chanel?
A gigante dos cosméticos nomeou Leena Nair como CEO global, tornando-a a mais jovem e primeira CEO do sexo feminino após seu mandato de 30 anos na Unilever.
.O CEO é o mesmo que o proprietário?
Um CEO é um título que tem a ver com função, não com propriedade. Em termos jurídicos, este último é alguém que tem em seu nome a quase totalidade ou a totalidade das acções da empresa.
.Qual é o trabalho de um CEO?
O CEO é responsável por gerenciar as operações da empresa, incluindo delegar e direccionar agendas, impulsionar a lucratividade, gerenciar a estrutura organizacional da empresa, estratégia e comunicação com o conselho.
.Quem é o CEO mais bem pago da Índia?
Os CEOs indianos mais ricos são: Mukesh Ambani (Reliance Industries), CP Gurnani (Tech Mahindra), SN Subrahmanyan (Larsen & Toubro), Rajesh Gopinathan (Tata Consultancy Services), Pawan Munjal (Hero Motocorp), Rajiv Bajaj (Bajaj Auto), Sunil Mittal (Empresas Bharti)
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Sobre a Global Indian
Global Indian – a Hero's Journey é uma publicação online que mostra as viagens de indianos que foram para o exterior e tiveram um impacto na Índia.

Essas jornadas visam inspirar e motivar os jovens a aspirar a ir além de onde nasceram num espírito de aventura e descoberta e voltar para casa com novas ideias, capital ou rede que tenha algum impacto na Índia.




https://www.globalindian.com/pt/story/indian-ceo/

Unicórnios


Os unicórnios portugueses e mundiais


https://www.startupranking.com/top/portugal

Muito lá de casa: uma introdução ao nepotismo lusitano.

Todos estes casos são diferentes, mas sobre todos eles recai a temível pergunta: será que não havia ninguém mais competente?

João Miguel Tavares

Olhem para o mundo do futebol e dêem-me exemplos de pais, filhos e irmãos que tenham sido, todos eles, extraordinários jogadores. Não me estou a referir a pais, filhos e irmãos que tenham jogado futebol de forma profissional. Isso há muitos. Estou a pedir exemplos de absoluta excelência a saltar de uma geração para outra. Temos quantos? Lembro-me de Cesare e Paolo Maldini, no Milão. Os irmãos Laudrup, se quisermos ser generosos.

Agora olhemos para o mundo da arte e façamos o mesmo exercício. Pintores que tenham sido tão geniais quanto os seus pais? Escritores da mesma família que tenham ganho o Nobel da Literatura? Irmãos músicos que partilhem o mesmo número de discos de ouro? Não há – ou, se houver, são cisnes negros, eventos inesperados e de raríssima probabilidade.

Todos nós sabemos a razão porque isso acontece: são profissões, como aqui referi a propósito da decadência futebolística de Cristiano Ronaldo, “furiosamente, impiedosamente, incansavelmente meritocráticas”. É por isso que gostamos tanto delas. As famílias são magníficas a dar amor e consolo. Não são magníficas a reproduzir génios, ou sequer a garantir que pai, filho e irmão são igualmente excelentes no desempenho de uma mesma profissão.

Aliás, nem sequer costumam ser excelentes a manterem-se ricos. É por isso que no mundo dos negócios se fala da “third generation rule” – ou “a maldição da terceira geração” –, que diz que só um terço das empresas familiares sobrevivem à passagem para a segunda geração, e que após a terceira apenas uma ridícula percentagem consegue manter o império. Os Espírito Santo que o digam.

Em qualquer universo altamente competitivo, o nepotismo é uma tragédia. E é por isso que o pobre cidadão português – que mesmo que não saiba isto em teoria sabe com certeza na prática – se contorce todo quando vê esta abundância de pais, filhos, irmãos, mulheres e maridos a governar a pátria e seus infinitos afluentes.

A última semana foi dominada pelas relações afectivas: tivemos a notícia da companheira de um antigo secretário de Estado e porta-voz do PS que agora assumiu o cargo de directora jurídica da TAP (antes ocupado pela mulher do actual ministro das Finanças); tivemos a notícia do companheiro da secretária de Estado da Protecção Civil que assumiu o cargo de coordenador da Protecção Civil do Barreiro (nomeado pelo presidente da câmara de quem a secretária de Estado foi mandatária nas últimas eleições); e, para desenjoar do PS, tivemos a notícia de que a empresa da mulher do líder parlamentar da Iniciativa Liberal foi contratada pelo partido para prestar serviços de consultoria.

Todos estes casos são diferentes, mas sobre todos eles recai a temível pergunta: será que não havia ninguém mais competente? Será que, logo por coincidência digna de cisne negro, a pessoa certa e mais-que-perfeita para o lugar haveria de ser o companheiro de uma pessoa politicamente exposta, para usar um termo que está na moda?

Claro que não somos só nós. Os Estados Unidos estão cheios de dinastias políticas (Kennedy, Bush, Clinton), e o sexto presidente (John Quincy Adams) era filho do segundo (John Adams). Mas não costuma correr bem. Neste momento, o filho do primeiro-ministro é presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique. Deixo-lhe aqui a triste notícia: as estatísticas da meritocracia são terríveis para filhos com a mesma profissão de um pai famoso. Quanto mais alto se sobe, menos provável é que se mereça lá estar.

O autor é colunista do PÚBLICO


sábado, 14 de janeiro de 2023

Salários de deputados.

As remunerações, no ano de 2022 – vencimentos mensais e despesas de representação mensais, consagradas em Lei são as seguintes:

Deputado em exclusividade 3861.05€ – 5% + Despesas de representação 386.11 (se não= 0)

Em Espanha, cujo nível de vida é superior ao de Portugal.

Según los datos disponibles en el Portal de Transparencia del Congreso, un diputado tiene un sueldo base de 3.050,62 euros brutos al mês al que se suman las "ayudas, franquicias e indemnizaciones por gastos que sean indispensables para el cumplimiento de su función", según el Artículo 8.2 del Reglamento del Congreso de los Diputados.

Ou seja: o deputado espanhol tem de base menos 617,38€!!!

Em Espanha, la Mesa del Congreso aprobó esta semana su Presupuesto para 2023, que incluye la previsión de subir el sueldo de los diputados un 3,5%.

A titulo de curiosidade:

¿Cuál es el sueldo de un senador en Argentina?

Según datos del Directorio Legislativo, hasta fines del 2021, el sueldo en dólares en Argentina de los legisladores era u$s 2511 = 2711.88€

y en Bolivia u$s 3283. = 3 545,64€

No Brasil u$s 6686 = 6 077,34

No Chile u$s 9726. =  10 504,08€

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

A sucessão de Ricardo Costa, na SIC, será Bernardo Ferrão.

Ao ver e ouvir ontem a “entrevista” de Bernardo Ferrão ao Luís Montengro, recordou-me muito jornalistas do tempo do PREC, em que de repente todos eram anti-fascista e todos revolucionários, filiados no PCP e UDP, etc. e os moderados, poucos eram PS. Com dificuldades varias apareceram pelos anos 80 meia dúzia de jornalistas, que eram mais á direita e até fundaram o jornal novo, etc..

A entrevista foi como a de um cão raivoso, a atacar uma vitima, mas ainda na fase embrionária.

Luís Montenegro teve de chamar a atenção por mais de uma vez, ao dito “jornalista” Bernardo Ferrão, para lhe dar tempo de resposta,  não insinuar, sobre assuntos que feriam a sua honorabilidade, etc.…

Posto isto leva-me a seguinte opinião:

-Ricardo Costa vai sair de director de programas, para um lugar qualquer acima, e quem irá ser o escolhido será Bernardo Ferrão.

-Repare-se que este BF, tem “subido” dentro da SIC, sempre na sombra do RCosta.

- Neste momento BF já é director-adjunto de informação, a par com José Gomes Ferreira (que o era há bastantes anos e sozinho nesse cargo).

- BF apresenta o Expresso da Meia-Noite, na SIC Notícias, e o Polígrafo SIC. O Expresso da Meia-Noite começou com o Ricardo Costa e BF como apparatchik, durante algum tempo, até sentirem que o dito BF já estava suficientemente conhecido, para ficar ele como cabeça de cartaz e Ângela Silva, como partner. Quanto ao Poligrafo é meritório, mas a sua fundação começou mal com Fernando Esteves, como fundador.

- o poligrafo tem verdades e as verdades que BF quer, pois tem o costume de “inventar” questões com base nas redes sociais, que a existirem foi ele ou alguém por ele que as lá colocou, pois de resto não é assim.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Seis gráficos que explicam a riqueza dos políticos

Há dois anos que o Ministério Público não detecta problemas nas 328 declarações de rendimentos e património de governantes, autarcas e deputados, mas a SÁBADO encontrou centenas de falhas e omissões, incluindo declarações nunca entregues e a estranha prática do Tribunal Constitucional de rasurar o nome das mulheres dos ministros.

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Mais presidentes de câmara, menos ministros e secretários de Estado. Quando em 2018 a SÁBADO fez pela primeira vez um ranking da riqueza dos políticos com base nas declarações entregues pelos próprios no Tribunal Constitucional (TC), no top 30 estavam apenas quatro autarcas. Cinco anos depois, quase duplicaram: são agora sete, espalhados por todo o País. Em sentido contrário, o Governo passou a ser composto por pessoas menos abonadas. Em 2018, um terço do top 30 (seis secretários de Estado e quatro ministros) vinha do Governo. Hoje, esse peso caiu para metade. O primeiro ministro é o mesmo, António Costa.

Nestas contas está Pedro Nuno Santos, que deixou de ser ministro durante a produção deste artigo, e de quem somámos uma riqueza pessoal de €393.070, ainda que não tivesse sido possível apurar o valor patrimonial (que não deverá ser de monta) dos 50% que possui de um imóvel rústico. Não são tidos em conta também os valores dos seus dois automóveis (um Land Rover Defender, de 2020, e um BMW 325, de 1987), bem como da sua mota Ducati, de 2018. Ainda assim, de notar que Pedro Nuno Santos deverá reassumir o seu lugar de deputado no parlamento.
Pela mesma razão, também está ainda nestas contas o seu secretário de Estado Hugo Santos Mendes, que se demitiu igualmente e que tem um património de €376.180. Pelo contrário, não está incluída Alexandra Reis, Ex-secretária de Estado do Tesouro, que não tinha entregado no TC a sua declaração – tomou posse a 2 de Dezembro e tinha 60 dias para o fazer. Na declaração, que ainda terá de entregar (os políticos são obrigados a preencher a declaração quando entram e quando saem de funções), Alexandra Reis tem de incluir os €500 mil da polémica indemnização da TAP que motivou a sua queda, bem como a de Pedro Nuno Santos e de Hugo Santos Mendes.

Regressando ao top 30, referência ainda para os deputados, que continuam a ter a mesma proporção de há cinco anos (50%) e a pertencer aos mesmos partidos (PS e PSD), com excepção de um elemento da Iniciativa Liberal (tal como em 2018 havia um do CDS).
No total, foi possível apurar uma riqueza de €76.708.895 nos 328 políticos analisados (governantes, deputados, presidentes dos governos regionais e autarcas das principais cidades do País). Em média, cada um tem €255 mil de riqueza, que se pode traduzir em imóveis, participações sociais, depósitos ou activos financeiros.
Destes 328 políticos, há 21 cuja riqueza é zero, ou seja, não têm casas em seu nome, não têm acções ou empresas, nem aplicações financeiras e contas à ordem que ultrapassem os limites de saldo obrigatórios para declaração – até 50 salários mínimos nacionais (€32.250). Entre estes 21 há deputados do PSD, PS, Chega, IL e PCP, além de Isabel Almeida Rodrigues, secretária de Estado da Igualdade e Migrações. No campo oposto, há 11 políticos com mais de 1 milhão de euros em património.
Por diversas razões, este valor global de €76,7 milhões de euros é apenas um ponto de partida para se ter uma ideia da riqueza dos políticos portugueses. Nestas contas não é considerado o valor comercial actual dos carros, motas, aeronaves e barcos, que também têm de ser declarados ao TC.
Por outro lado, os políticos não são obrigados a declarar contas à ordem com saldo inferior aos já referidos 50 salários mínimos nacionais, embora alguns o façam. Também não são obrigados a declarar os activos das empresas de que são sócios, bem como os recheios das suas casas, nomeadamente as obras de arte – a não ser que se considere que tais bens estão incluídos na rubrica da declaração chamada “Outros Elementos do Ativo Patrimonial”, que ninguém preenche (com uma exceção, como veremos mais à frente neste artigo).
Sobretudo, os políticos não têm de declarar quanto valem as casas e terrenos que possuem. Apenas alguns indicam o valor patrimonial tributário. Para este artigo, esse foi o principal assunto dos 244 emails que a SÁBADO enviou para tentar preencher lacunas de informação. À maior parte deles não recebemos resposta.
Em resultado (sobretudo) dessa falta de indicação de valores patrimoniais, houve 91 declarações que considerámos incompletas, ou seja, não foi possível apurar a totalidade da riqueza do político em causa. A estes devem somar-se as 29 declarações em que não foi possível apurar qualquer valor, de todo, por falta de informação.
Um exemplo das 91 declarações incompletas é a do primeiro-ministro, cujos valores patrimoniais de três apartamentos não foi possível apurar. Refira-se que António Costa, que vive numa casa arrendada na freguesia de Benfica, em Lisboa, prepara-se para se mudar para o apartamento que comprou a poucas centenas de metros, no condomínio Fábrica 1921, ainda em fase de acabamento. Costa declarou ao tribunal que o T1 lhe custou €276.050 em planta, tendo adiantado, a título de sinal, €248.445.
Marcelo Rebelo de Sousa, que também vive, há largos anos, numa casa arrendada, não tem imóveis em seu nome. O Presidente da República declarou apenas €140.311 em contas e aplicações financeiras, bem como um Mercedes.
Augusto Santos Silva, segunda figura do Estado, presidente da Assembleia da República, tem um património de €148.626, sendo a maior parte referente a imobiliário com a mulher. Em produtos bancários declarou €42.411, além de três automóveis (Opel Corsa, Toyota Corolla e Toyota Yaris).
Luís Montenegro, líder do PSD desde maio, não é político em funções, não tem declaração recente entregue. A declaração do seu antecessor, Rui Rio, que abandonou a política, não foi considerada para este artigo. Ao contrário da de Jerónimo de Sousa, que saiu da liderança do PCP e do parlamento há poucas semanas, no fim de novembro. O comunista é um dos 21 políticos com património zero.

No Bloco de Esquerda, Catarina Martins tem um património de €12.200, sem contar com o valor dos seus três imóveis – não respondeu ao email da SÁBADO sobre essa dúvida. A deputada bloquista, que é dona de um Skoda Fabia Break, de 2011, devia €74.825 à CGD. André Ventura, do Chega, tem apenas declarado um depósito à ordem com €72.462. Rui Tavares, do Livre, tem €36.002 de valor patrimonial tributário da sua casa, além de um Citroën C3, de 2007. E deve €193.683 aos bancos. Inês Sousa Real, do PAN, tem uma riqueza declarada de €82.011, que se resume à copropriedade de dois imóveis. Em contraste, tem €256.651 em passivo bancário. A deputada declarou que o marido tem participação em três empresas – Inês Sousa Real já foi sócia em duas delas, de produção de frutos vermelhos, o que motivou polémica em 2021 devido às alegadas práticas de cultura intensiva dessas empresas.
Nenhum destes líderes partidários chega perto do da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, que é o 18º mais rico, com um património apurável de €809.861, ainda que deva €791.095 aos bancos. Cotrim, que está demissionário da IL, tem três automóveis declarados (Mercedes, Ford e BMW). Rui Rocha, candidato a suceder-lhe, tem um património de €238.630 (e um Audi A3) – deve €81.847 aos bancos. Carla Castro, também candidata, tem €167.140 de património pessoal e €332.587 de dívidas bancárias.

Maridos e mulher apagados

Cinco anos depois de a SÁBADO ter feito pela primeira vez este levantamento dos rendimentos e património que os políticos declaram ao Tribunal Constitucional (TC), tudo se mantém igual quanto ao preenchimento das declarações e ao seus acesso público. Os políticos continuam a poder preencher os formulários à mão, por vezes com caligrafia cerrada, ou em letra miudinha, ou de forma tão ténue que parecem escritos a lápis.
O acesso às declarações só pode ser feito presencialmente na sede do tribunal, em Lisboa, mediante um pedido prévio e após marcação para data possível dentro da agenda do TC, tendo o interessado acesso apenas a fotocópias dos originais (o que dificulta ainda mais a leitura de algumas declarações) expurgadas à mão pelos funcionários do Tribunal dos dados pessoais dos políticos.
Esse expurgo de dados pessoais pode ir ao limite de serem rasurados os nomes dos cônjuges. Por exemplo, quem for ao TC consultar a declaração de Fernando Medina de 29 de julho de 2022 não consegue saber quem é a sua mulher, porque o nome está rasurado. Academicamente, se não se souber o nome da mulher de um ministro (ou de um presidente de câmara) não se consegue saber, por exemplo, se é sócia de alguma empresa, que por sua vez pode ser contemplada com a adjudicação de um contrato pelo ministério (ou pela câmara) do marido, o que pode ser uma clara violação da lei (no caso a 52/2019, que regula o exercício de funções por titulares de cargos políticos e altos cargos públicos).
Também estão rasurados pelo TC os cônjuges dos ministros António Costa Silva, Elvira Fortunato, Catarina Sarmento e Castro, João Cravinho, João Costa e Helena Carreiras.
A SÁBADO pediu uma justificação ao TC, que respondeu que está a “aplicar a Lei 52/2019, nomeadamente a alínea a) do nº2 do artigo 17º”. Esta alínea diz que “não são objeto de consulta ou acesso público os seguintes elementos da declaração: a) Dados pessoais sensíveis como a morada, números de identificação civil e fiscal, números de telemóvel e telefone, e endereço eletrónico”. Ou seja, além dos exemplos dados na lei, o Tribunal Constitucional engloba ainda na expressão “dados sensíveis” o nome dos cônjuges dos ministros.
Outra questão prende-se com a filosofia do preenchimento, que é autodeclarativo (ou seja, os políticos declaram o que querem, sem necessidade de fazer prova com documentos). E a fiscalização apresenta falhas – por exemplo, é possível que um autarca, um ano depois de passado o prazo legal, ainda não tivesse apresentado a sua declaração e apenas o tivesse feito depois de a SÁBADO perguntar o que se estava a passar.
Aconteceu com Isilda Gomes, que a 26 de setembro de 2021 foi eleita para o seu terceiro mandato em Portimão. Tendo 60 dias, por lei, para apresentar a sua declaração de rendimentos, património, interesses, incompatibilidades e impedimentos, não o fez. Em outubro de 2022, quando a SÁBADO pediu pela primeira vez ao TC a sua declaração mais recente, foi-nos entregue uma que datava de 2017.
Após vários emails de insistência, a autarca ligou-nos para justificar o lapso, prometendo que enviaria dias depois por escrito, por email, o que aconteceu. Assim fez, no dia 19 de dezembro de 2022: “A declaração já se encontra no Tribunal Constitucional, tendo sido preenchida online. Quanto às razões que me levaram a não a apresentar, prende-se com o facto de no mês seguinte à minha tomada de posse termos vendido uma moradia, por força da morte do meu marido. Acontece que como perdi o meu filho mais velho, o herdeiro é o meu neto, que é menor. Isso obriga a pedir uma autorização ao tribunal para se poder efetivar a venda. O pedido deu entrada no tribunal em dezembro de 2021. Como esperava que o processo fosse rápido, faria a declaração com a informação correta. Fui aguardando e o facto é que a partir de uma determinada altura, acabei por me esquecer.”

O mesmo aconteceu com o presidente da câmara de Viana do Castelo, mas neste caso parece não haver desfecho ainda. A última declaração de Luís Nobre é de 2017, informa-nos o Tribunal Constitucional, das várias vezes que perguntámos nos últimos meses. Ou seja, falta a de 2021 (recorde-se que, como os políticos só têm de apresentar declarações quando cessam funções e tomam posse, os autarcas só o fazem de quatro em quatro anos).
Enviámos um email no dia 9 de dezembro a Luís Nobre, de que não houve resposta. No dia 19, depois de termos confirmado de novo junto do TC que nada havia atualizado, ligámos para a câmara e insistimos. Na tarde desse dia, a secretária respondeu por email: “O senhor presidente encarrega-me de informar que até ao presente, tem as declarações todas submetidas, não se encontrando nada em falta.” Em resumo, o autarca diz que entregou no Tribunal Constitucional, mas este garante que nada recebeu.

As declarações que não existem
Estas situações estendem-se aos deputados, que tomaram posse a 29 de março de 2022 e tinham até fim de maio para declarar os seus rendimentos, interesses e património. Por exemplo, Graça Reis, do PS, não tem declaração entregue desde 2019, informou-nos o TC.
Também não tem endereço de email no site do parlamento, pelo que alertámos o líder da bancada socialista, Eurico Brilhante Dias, e pedimos que lhe reenviasse o nosso email. “Essas questões devem ser enviadas à Comissão de Transparência [da Assembleia da República]. Eles podem esclarecer”, disse-nos o deputado de volta, a 28 de novembro. Respondemos-lhe que a responsabilidade da declaração era dos próprios deputados e pedimos de novo que reencaminhasse o email. Não sabemos se o fez, nem obtivemos qualquer esclarecimento de Graça Reis. O TC referiu-nos que foi notificada da falta.
Tal como foi Tatiana Homem de Gouveia, deputada do PS, sem declaração entregue. Pedimos ao líder parlamentar que lhe reencaminhasse o nosso email. Sem resposta. Outro exemplo, a deputada socialista Rosa Isabel Cruz, também sem endereço eletrónico atribuído. A 30 de novembro pedimos a Eurico Brilhante Dias que reencaminhasse as nossas questões à deputada, que declarou contas bancárias sem referência a qualquer montante, bem como 2.240 ações, mas nenhuma referência ao seu valor de mercado, assim como quatro imóveis sem valor patrimonial. Não obtivemos resposta. Outro caso na bancada do PS: Martina Jesus. Declarou 10 imóveis, mas não está referido em que cidade e qual o seu valor patrimonial. Sem email, pedimos a Brilhante Dias que fizesse a ponte. Sem resposta. A assessoria de imprensa do grupo parlamentar do PS não conseguiu em tempo útil esclarecer os casos.
Os barcos e os terrenos-mistério
Devido a estas omissões, Martina Jesus e Rosa Isabel Cruz fazem parte das 91 declarações que considerámos incompletas. Luís Nobre, Tatiana Homem de Gouveia e Graça Reis pertencem a outra categoria, a das declarações inexistentes.A dificuldade em obter este tipo de dados não é extensível a todos. No Governo, por exemplo, vários ministros e secretários de Estado prontificaram-se a esclarecer à SÁBADO dúvidas com os seus apartamentos (onde ficam e o respetivo valor patrimonial). E não só. Pedro Nuno Teixeira, secretário de Estado do Ensino Superior, declarou 278 mil ações de várias empresas cotadas (cujo nome é rasurado pelo TC), mas sem valor atribuído. “O valor a 25/11/2022 era de €139.712,96”, respondeu-nos.
Pedro Nuno Teixeira tinha ainda uma singularidade: foi o único entre 328 políticos a identificar no património um valor em obras de arte (€65.000) e em livros (€45.000). Perguntámos-lhe o que era e porque o fez. Respondeu o gabinete: “Foi meramente uma preocupação de transparência. Os livros foram comprados ou oferecidos ao longo de muitos anos. A maioria relaciona-se com a atividade de docente universitário e investigador (desde 1995). Os demais são literatura e ensaio em várias áreas. Nenhum deles tem individualmente um valor monetário significativo e o Secretário de Estado não possui livros raros ou com valor significativo no mercado bibliófilo. Quanto às obras de arte, foram compradas ou oferecidas ao longo dos anos. Não possui nenhuma obra de valor particularmente elevado, sendo a maioria serigrafias ou gravuras, cujo valor monetário individual é pouco significativo. Incluem-se ainda alguns quadros e duas tapeçarias.”

Outro exemplo, Bernardo Ivo Cruz. O secretário de Estado da Internacionalização declarou uma “embarcação de recreio”. Pedimos ao seu gabinete que nos esclarecesse, porque a referência era vaga e tanto poderia ser um iate de luxo ancorado em Monte Carlo, ou outra coisa. Era outra coisa: “Trata-se de um veleiro de 8 metros de 1973, comprado em segunda mão em 2007 e de momento atracado na doca seca do Seixal.”
De referir que, além do governante, só dois políticos declaram possuir barcos, ambos deputados do PSD: João Moura e Rui Cristina.
Menos claro, apesar das várias insistências, foi o presidente da câmara municipal de Sintra, Basílio Horta, cujo património, como se pode ver nos rankings, se destaca dos demais. Na globalidade, o autarca é o mais rico dos políticos portugueses e na tabela específica do património imobiliário apenas é ultrapassado, por pouco, pela deputada Mónica Quintela. Mas se Basílio Horta esclarecesse um pormenor, estaria também aí em primeiro. Trata-se de um “prédio urbano” no Algarve (Albufeira) e “três terrenos urbanos” num dos concelhos mais caros e ricos do País (Cascais), todos detidos em copropriedade com a mulher. Quanto valem? Basílio Horta não o revelou na declaração ao TC, ao contrário do que fez relativamente aos outros imóveis que possui.
Numa troca de emails com a SÁBADO, começou por responder: “Relativamente a estes imóveis [prédio e terrenos] foi apresentada, oportunamente, contestação aos valores patrimoniais, estando em curso a respetiva tramitação no âmbito da autoridade tributária.” Porque o fez? “Decorreu da desadequação da solução então preconizada pela administração tributária.” Concluímos então que o senhor presidente não quer revelar os valores dos terrenos e do prédio? “A vossa conclusão não é correta, pois eu não posso indicar um valor que ainda não está fixado.” Como é que o senhor presidente contesta o que não está fixado? Não houve mais respostas.

O que é feito da Entidade?
Em 2019, a criação da Entidade para a Transparência – que é “um órgão independente que funciona junto do TC e tem como atribuição a apreciação e fiscalização da declaração única de rendimentos, património e interesses dos titulares de cargos políticos e altos cargos públicos” – poderia ajudar a esclarecer estes problemas e dúvidas. Nunca saiu do papel.
Porquê? “Porque o Tribunal Constitucional nunca fez finca-pé ao parlamento”, diz à SÁBADO Paulo de Morais, presidente da Associação Frente Cívica. A sua tese é que “a Entidade para a Transparência tem o problema de estar sob a ilharga do TC”: “Grande parte dos seus juízes são nomeados pelo parlamento e por isso o Tribunal é reverente. A maior parte dos deputados não querem que a Entidade para a Transparência funcione e o Tribunal não quer fiscalizar quem os nomeia.” Paulo de Morais diz que a Entidade é “um nado-morto, foi feita em ano de eleições [2019], e para não funcionar”.
Um dos motivos para que a Entidade nunca tenha saído do papel é a sede. “O Governo inscreveu no Orçamento despesa para a En- tidade, mas o Tribunal Constitucional andou a escolher um sítio que tinha de ser digno – porque tinha de ser digno, não podia ser num prédio normal”, diz à SÁBADO Nuno Cunha Rolo, presidente da associação Transparência e Integridade. “O Tribunal sempre achou inadequadas as várias propostas vindas do Governo. Só que a Entidade para a Transparência é um órgão administrativo, não é um órgão de soberania. Porque é que não pode ser num prédio?” Paulo de Morais, por sua vez, acha que tudo “não passa de uma desculpa, porque o Estado tem milhares de edifícios”.
A 8 de novembro o TC terá dado início ao processo. Em comunicado, anunciou que o plenário de juízes “aprovou a possibilidade de instalação provisória da Entidade para a Transparência em espaço a arrendar na cidade de Coimbra”. O TC garantiu também que “até ao final do corrente ano” iria “proceder à nomeação da Direção da Entidade”. O que não aconteceu. Questionado no dia 28 de dezembro, o Constitucional respondeu à SÁBADO que “estão em curso as diligências necessárias para que, em breve, sejam conhecidos os detalhes relativos ao funcionamento da Entidade da Transparência – tanto no que toca às instalações como à composição da sua direção”.
Outro motivo para o atraso foi o salário do presidente. Segundo noticiou o
Observador em outubro de 2022, o presidente do TC, João Caupers, enviou uma carta em junho de 2021 ao presidente da Assembleia da República (Ferro Rodrigues na altura) onde dizia que seria “apropriado” que a Entidade fosse presidida “por um magistrado” e que tal era a condição para lhe dar “indispensável independência”. Problema: os estatutos da Entidade não preveem que o presidente possa ter a remuneração de origem. “Consideradas as diferenças remuneratórias em causa, isto vale por dizer que nenhum magistrado aceitará, previsivelmente, exercer ali funções” escreveu Caupers na carta, reproduzida pelo jornal. O presidente do Constitucional sugeria a Ferro Rodrigues, a quem tratava na carta por “estimado amigo”, que a lei fosse alterada, o que não aconteceu.
A este propósito Nuno Cunha Rolo realça que a lei não diz que o presidente tem de ser um juiz e não entende esta judicialização de certas funções. “Colocar um juiz como gestor… Noutros países não vemos juízes a dirigir estas entidades. Um juiz é um técnico, decide sobre aquilo que lhe entregam. Ou então temos a sorte de ser escolhido alguém com conhecimentos da administração pública, com liderança, com mundividência.”
Paulo de Morais faz uma crítica semelhante, mas relativa à Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados, que é composta por deputados, que assim se autofiscalizam. “A comissão devia ser composta por pessoas de fora do parlamento, ou mista, como acontece em Inglaterra. Ou como acontece nas comissões de ética das universidades.”
MP: zero problemas em 2020 e 2021

Enquanto a Entidade para a Transparência não nasce, quem dentro do TC faz a fiscalização das declarações são os magistrados do Ministério Público (MP) ali alocados. No artigo de 2018 da SÁBADO eram citados os relatórios-síntese do MP, que discriminavam certo tipo de ações tomadas. Por exemplo, em 2017 foram pedidos “304 esclarecimentos” aos políticos sobre as suas declarações. Mais importante: “Há a registar a participação, através do envio da respetiva certidão, de 24 ocorrências: 14 relativas à cessação de funções, 6 relativas a início e cessação de funções e 1 relativa a início de funções. Em resultado (…) foram julgadas pelos tribunais administrativos, com decisão transitada em julgado, um total de 20 ações: 19 procedentes (16 inibições para o exercício de cargo, 2 perdas de mandato e 1 inibição) e 1 improcedente.”
No relatório mais recente do MP, de 2021, esta segunda parte não existe. Nem no de 2020. O gabinete de imprensa da Procuradoria-Geral da República esclareceu à SÁBADO a razão: “Nos anos 2020 e 2021 não foram propostas quaisquer ações. Com efeito, tem-se verificado por parte dos titulares de cargos políticos um cumprimento mais rigoroso das obrigações declarativas bem como tempestividade no suprimento de deficiências ou esclarecimento de dúvidas suscitadas pelas declarações.”
Por todo o exposto, não é surpresa que o GRECO (Grupo de Estados Contra a Corrupção, estrutura do Conselho da Europa), continue a avaliar negativamente a forma como Portugal previne e combate a corrupção em relação a deputados, juízes e procuradores.
No último relatório, de 2021, saudou a criação em 2019 da Entidade para a Transparência (que não funciona ainda), bem como do Código de Conduta dos Deputados, que regula por exemplo que ofertas podem receber, embora o GRECO realce que “o âmbito dos contactos permitidos entre os deputados e terceiros não foi devidamente abordado”. Mais: “Nem o Código nem o Estatuto dos Deputados estabelecem sanções para atos indevidos, o que põe em dúvida a eficácia do mecanismo de fiscalização.”

Marco Alves Com Diogo Machado, Íris Fernandes e Raquel Lito



Soma do património imobiliário, das participações sociais em empresas e de contas e ativos financeiros. Valores de 2021, exceto autarcas (2020) e presidentes de governos regionais (2019).


https://www.sabado.pt/sabado-interactivo/detalhe/seis-graficos-que-explicam-a-riqueza-dos-politicos

Catarina e a beleza de calar fascistas

Em nome da suprema protecção da vida humana e do bem-estar social, as democracias tornam-se menos democráticas.

Vocês conhecem-me: nunca resisto a escarafunchar uma boa ferida. Vamos falar outra vez da invasão do Capitólio e dos edifícios dos Três Poderes? Houve uma reacção quase unânime ao meu último artigo, seja de gente que habitualmente discorda de mim, seja de gente que costuma concordar. A esmagadora maioria dos leitores considerou bárbara e abstrusa a minha proposta de que num sistema democrático a polícia deve ter a possibilidade de usar força letal para suster a invasão das sedes do poder executivo, legislativo ou judicial, como ameaça tornar-se moda.

A regra dos leitores é esta: se a multidão está desarmada, a polícia não pode disparar. Ou seja, se na próxima manifestação nas escadarias da Assembleia da República a polícia se mostrar incapaz de controlar a multidão com bastões e gás lacrimogéneo, aconselha a suprema defesa da vida humana que as autoridades se afastem e aguardem reforços enquanto o Palácio de São Bento é saqueado e vandalizado. O mesmo em relação ao Palácio de Belém: após garantida a segurança do Presidente da República, a polícia deve sacar não das pistolas mas dos telemóveis, esperar que a invasão se desvaneça, e depois fazer como no Brasil: analisar a urina e as fezes deixadas no local para identificar os criminosos.

Há um lado de radicalismo humanista nesta tese que é bonito de ver – sem ironias. São pessoas que embora odeiem bolsonaristas defendem que é preferível deixar destruir o Palácio da Alvorada de cima a baixo e atirar pela janela o mobiliário dos Niemeyer do que perder uma só vida humana – mesmo que seja a vida de um “fascista”. Adoraria subscrever essa tese, não fosse o meu duplo receio acerca das ameaças que recaem sobre os sistemas democráticos.

Receio 1: a ultrapassagem das linhas vermelhas. Foi o tema do último artigo e não me vou repetir. Noto apenas que a legítima defesa está prevista na lei, tanto para proteger as pessoas como o património. Essa legítima defesa necessita de ser proporcional, e o ponto é mesmo esse: pelos vistos, ninguém atribui importância vital – é mais uma constatação do que uma crítica – à defesa dos símbolos da democracia, ainda que na invasão do Capitólio tenham morrido cinco pessoas, incluindo um polícia e uma manifestante baleada pelas autoridades.

Receio 2: a limitação progressiva das liberdades políticas em nome da defesa da vida humana. Sendo as invasões inaceitáveis, como podem elas no futuro ser impedidas, para evitar a violência e o risco de derramamento de sangue? Não falta gente a dar a receita. A priori, colocando cercas ou até ilegalizando tudo o que cheira a direita radical, com o argumento de travar a ascensão de novos Trumps e Bolsonaros. A posteriori, permitindo que o poder executivo alargue as suas competências e autoridade para averiguar não só quem invadiu edifícios, mas todos os seus financiadores e colaboradores, numa vasta investigação aos “terroristas” e seus cúmplices.

Tantas tentações perigosas. Em nome da suprema protecção da vida humana e do bem-estar social, as democracias tornam-se menos democráticas, já que toda a dissensão mais vocal e todas as ideias que nos repugnam passam facilmente a ameaças intoleráveis. Para evitar pegar em armas contra o “povo”, colocamos os “deploráveis” e as suas tristes ideias atrás da cerca sanitária, amarrando as suas bocas para proteger os seus corpos. Vivos, mas caladinhos. Como dizia o outro, duas vezes sequestrado por manifestantes, é uma coisa que me chateia, pá.

joão Miguel Tavares

O autor é colunista do PÚBLICO