terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Marina Gonçalves: de girl de Caminha a ministra

Currículo: filha de um socialista local, próxima de dois políticos de Caminha, o Ex e o actual presidente da câmara, Ex-JS e percurso nos gabinetes.

Não há na história do PS muitos militantes que tenham conseguido uma ascensão tão fulgurante como a de Marina Gonçalves, 34 anos, de Seixas do Minho. Logo em Setembro de 2020 e longe de prever que o melhor ainda estava para vir, o assombro fê-la desabafar que "não esperava" que Pedro Nuno Santos lhe confiasse a Secretaria de Estado da Habitação. Desde que este amigo e confesso mentor a recrutou para adjunta, passaram-se apenas 7 anos até chegar a ministra. Uma curta carreira em que toda a experiência profissional é feita ao serviço do PS, exceptuando um périplo fugaz pela advocacia.

De onde vem Marina? Na terra de origem, fontes contactadas pela SÁBADO atribuem a ascensão de Marina Gonçalves ao "poder extraordinário", na expressão de uma delas, do seu pai - o advogado Manuel Carlos Falcão - de "influenciar" escolhas e decisões no aparelho socialista ao nível regional. É conhecido por ser muito discreto. Foi o primeiro suplente da candidatura do PS à Câmara de Caminha nas últimas autárquicas, tendo sido ali vereador e membro da Assembleia Municipal (AM) quando os socialistas estavam na oposição. Mas, em 2009, integrou as listas conjuntas do PS e PSD pelas quais acabaria eleito, como primeiro suplente, para o sempre disputado Conselho Superior do Ministério Público. Para trás ficavam os tempos animados em que o pai de Marina emprestou voz a um quinteto musical chamado "Seca Adegas".
É, de resto, no escritório de Carlos Falcão que trabalhava Rui Lages, o actual presidente da Câmara de Caminha, antes de ser escolhido, aos 27 anos, para adjunto do gabinete de Eduardo Cabrita, em 2015. Até 2017, o percurso académico e profissional de Marina Gonçalves e do actual autarca é muito semelhante. Estudam juntos, têm a mesma idade, estão ambos em Lisboa e são namorados.
Por esta altura, já Miguel Alves - "um homem iluminado", no entender de um socialistas do vale do Âncora - tem regressado a Caminha para disputar a Câmara ao PSD. Os três jotas, Rui Lages, Miguel Alves e Marina Gonçalves, são amigos e confidentes e não fazem segredo disso, surgindo juntos nas mais diversas iniciativas onde, por vezes, Xavier Gonçalves, o único irmão de Mariana, marca também presença, apesar de preferir o escutismo à política.
Rui Lages regressará a Caminha mais tarde para ocupar o lugar de vereador no executivo de Miguel Alves, cuja saída para secretário de Estado Adjunto de António Costa - cumpria já o terceiro mandato - leva o seu número dois na autarquia a assumir os destinos conturbados da câmara, a braços com o polémico pagamento antecipado de 300.000 euros de rendas por um pavilhão que não existe.
Dos três amigos de sucesso de Caminha, um, Miguel Alves, caiu com esse caso; outro, Rui Lages, foi promovido a presidente de câmara; e Marina Gonçalves foi promovida a ministra na sequência da saída de Pedro Nuno Santos, num caso com semelhanças com o que fez cair Miguel Alves.


A ascensão meteórica
A nova ministra "é um produto do aparelho socialista", diz um conterrâneo da jovem governante que conhece bem os bastidores da política alto-minhota. O facto de não ter "nenhuma experiência de vida" é também sublinhado. Mas, contrapõe uma amiga de longa data que aceitou falar à SÁBADO, "assumiu o cargo pela vontade que tem de mudar a vida das pessoas".
"Obcecada pelo PS", na voz de um crítico da terra, é na JS que Marina Gonçalves dá os primeiros passos na política, chegando a Secretária Nacional. Depois, tudo acontece muito rápido. Da Escola Básica e Secundária Sidónio Pais, em Caminha, sai para a Faculdade de Direito da Universidade do Porto, em 2006. É também ali que, quatro anos depois, inicia o mestrado em Direito Administrativo, cujas provas defende em Outubro de 2013. Mas leva já dois anos a viver em Lisboa, onde acumula já os afazeres académicos com a assessoria jurídica do Grupo Parlamentar do PS e o estágio na Ferreira de Almeida, Luciano Marcos & Associados. Graduada mestre e com a com a obtenção da cédula profissional, em Novembro de 2013, abandona aquela sociedade logo no mês seguinte. A aposta é na ligação ao Grupo Parlamentar.
Mas tudo se precipita com a rejeição do programa do governo de Passos Coelho. Pedro Nuno Santos é designado Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e Marina Gonçalves, que conhecia da JS, acaba escolhida para adjunta do seu gabinete, o que a leva a suspender a inscrição na Ordem dos Advogados poucos dias depois. Depressa se tornariam "amicíssimos", conta à SÁBADO fonte próxima da ministra. "Tive o privilégio de crescer politicamente e de aprender com ele durante estes anos", diria em 2020, numa entrevista a O blog do Vilas - o Vilas (Luís Vilas Espinheira) é um amigo do irmão. Em sete meses foi eleita membro efectivo da Comissão Política Nacional (Junho de 2016) e secretária nacional da JS (Janeiro de 2017), e depois para a AM de Caminha. Em Março de 2018, Pedro Nuno Santos promove-a a chefe de gabinete, e mantêm-na depois nessa função no Ministério das Infra-estruturas e Habitação. A ascensão no aparelho socialista é confirmada nas legislativas de 2019, ao estrear-se como deputada eleita pelo círculo de Viana do Castelo. Assume, então, uma das vice-presidências do Grupo Parlamentar, mas quase não aquece o lugar porque, menos de um ano depois, Pedro Nuno Santos promove-a a secretária de Estado, cargo que mantém após as legislativas antecipadas do ano passado. Até ser agora nomeada ministra.

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/marina-goncalves-de-girl-de-caminha-a-ministra

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