sexta-feira, 4 de junho de 2021

Fomos gozados mais uma vez.

Depois do Governo britânico ter retirado Portugal (incluindo Açores e Madeira) da lista verde do corredor aéreo, Francisco Moita Flores reagiu e escreveu um texto:

«Há cerca de três semanas, a Inglaterra abriu o corredor verde, integrando Portugal e as praias nacionais ao turismo inglês. Os responsáveis portugueses bolsaram alegria e promessas de um Verão radiante, promissor, prenho de felicidade para quem tanto sofreu com a pandemia. E a notícia foi reforçada com outra boa nova: O nosso primeiro poderia homenagear, mais uma vez, os profissionais de saúde, com uma final da Champions. Disputada por duas equipas inglesas. Entrámos, assim, no esplendor da luz perpétua. O generoso Reino Unido abria mãos de uma final entre dois dos seus clubes mais importantes e ofereceu-a gentilmente à cidade do Porto».

«A Ministra de Estado e da Bolha tranquilizou os mais desconfiados de tanta generosidade. E vendeu-nos graciosamente, a teoria dos adeptos e hooligans, viajando em bolhas. A mais antiga Aliança do Mundo aí estava a funcionar. Como é bom manter as amizades, diziam alguns. E foi aquilo que se viu. Hordas de bêbados invadindo uma das mais belas cidades do Mundo e com razão. Nós cedemos-lhe o espaço público porque estávamos (e estamos) sujeitos ao confinamento. Nem aos nossos jogos de futebol podemos assistir. Seja futebol de graúdos ou de miúdos, quem não arranjar um contentor do lixo, sobre o qual espreite de longe os seus filhos ou a equipa da sua eleição, fica em casa, caladinho, piando baixinho, deleitado com o nosso Almirante que corre o País a dar milhares de vacinas por dia».

«Para calar os poucos indignados com a história da desigualdade entre ingleses e portugueses em terras lusas, ontem o chefe anunciou mais um passo no desconfinamento. Foi dia de grande euforia para muitos, Portugal no rumo certo!, para fechar a boca de vez àqueles que não encarneiram. Hoje, a besta deu um coice. Afinal, Portugal abre um pouco mais e a Inglaterra fecha o corredor verde. Os turistas tão desejados obrigados a quarentena que, afinal, o nosso País não é seguro. Percebe-se o drible. Abriu para que fosse possível oferecer outra final da Champions aos profissionais de Saúde. Fecha-se porque a homenagem está feita. Uma bondade do Magnífico Império Britânico para esta coloniazita insignificante. Do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, iluminado entre iluminados, nem uma palavra até agora. Mais uma derrota das muitas que sofreu mas que sempre aceitou com o seu dom carismático: a pesporrência».

O escritor e marido da actriz Filomena Gonçalves considera que «fomos gozados mais uma vez»: «Ao longo de séculos que a velha Britania nos goza e, na volta, acha que até gostamos. Mas que nos pregou um valente par de cornos com esta manobra, lá isso… Agora, vai ser o contra-ataque governamental. Os regimentos de propaganda em acção. As companhias de comentadores na linha da frente. E já se sabe. A vitória de ontem, hoje transformada em derrota, que os melhores de todos nós, irão transformar numa gloriosa jornada do Chefe e da grande família que nos governa. Boa Saúde para Todos!»

Francisco Moita Flores

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