O COMENTADOR DO REGIME. PEDRO ADÃO E SILVA. Perdão, Pedro Cardoso Pereira!
O COMENTADOR DO REGIME. PEDRO ADÃO E SILVA. TROCA APELIDO DO PAI PELO DO AVÔ MATERNO E GRÃO-MESTRE DO GRANDE ORIENTE LUSITANO.
E O COMENTADOR
DO REGIME É…
PEDRO CARDOSO
PEREIRA!
Pedro Adão e Silva usa o apelido materno em
vez do paterno. O seu avô foi um reconhecido
maçon republicano que deixou bem carimbado
o apelido ‘Adão e Silva’. Pedro surfa a onda.
Cardoso Pereira são os apelidos
do comentador político e desportivo,
na televisão, na rádio e nos
jornais, indicado por António Costa
para comissário executivo das
comemorações do 50º aniversário
da revolução do 25 de Abril. Mas
ninguém o conhece pelos apelidos
herdados do pai, porque Pedro optou
por se fazer conhecer publicamente
pelos de sua mãe, Adão e
Silva, cujo pai foi um influente republicano
e maçon, grão-mestre
do Grande Oriente Lusitano.
O casamento entre a família
Adão e Silva e o poder não é coisa
deste século. O avô materno de Pedro
– Armando Adão e Silva – foi figura
proeminente no combate ao
salazarismo e um destacado membros
das elites burguesas de esquerda
da segunda metade do século XX.
Já Pedro Adão e Silva, pertencente
à mesma elite, é um conhecido comentador
da nossa praça. Associado
à defesa intransigente do PS, tem
plataforma pública nacional há vários
anos em sítios como o RTP,
TSF, Expresso, Sport TV e Record.
É possível que o seu apelido lhe
tenha facilitado a vida. A verdade
é que, devido à importância que o
seu avô teve nos meios revolucionários,
carregar o apelido Adão e
Silva em círculos de esquerda é
bastante diferente do que, por
exemplo, carregar o apelido Cardoso
Pereira, do pai. Para a esquerda
portuguesa, ‘Adão e Silva’ significa
status, como reconhece ao Nascer
do SOL um histórico militante
socialista e maçon.
Grão-mestre, do PS à AD
Armando Adão e Silva não foi apenas
um destacado antissalazarista.
Foi, sobretudo, um proeminente
maçon. Nasce em Lisboa em
1909 e em 1931 forma-se em Direito pela Universidade de Lisboa.
Passados quatro anos é iniciado
na maçonaria pela Loja da Liberdade
nº 197, com o nome Mestre de
Avis, mantendo-se na clandestinidade
até 1974. Em 1968, juntamente
com Luís Dias Amado, forma os
Pentágonos – células paramaçónicas
cujo objectivo era o de difundir o espírito da maçonaria junto da
juventude. Após o 25 de Abril teve
um papel importante na reorganização
do Grande Oriente Lusitano,
tendo sido também importante
no processo de devolução do Palácio
Maçónico (conquistando-o
ao PPD, que quase logrou ter ali a
sua sede). Em 1981 viria a suceder
a Dias Amado como grão-mestre
do Grande Oriente Lusitano, cargo
em que se manterá até 1984.
Também comemorou um
centenário: o da República
Em 1943, Armando Adão e Silva e
um conjunto de intelectuais de esquerda
fundam a União Democrato-
Socialista, núcleo antifascista
que mais tarde viria a fundir-se
com o Núcleo de Doutrinação e Acção
Socialista e formar a União Socialista.
Ainda nesse século, foi
uma das principais vozes a favor
da entrada de Portugal na NATO.
Em 1959 é preso – uma situação
que, dois anos mais tarde e devido
a ter sido um dos 62 signatários do
‘Programa para a Democratização
da República’, voltaria a repetir-se.
A sua calcorreada republicana acabaria
por juntá-lo a um grupo de
influentes opositores do regime,
composto por advogados, médicos,
maçons e republicanos, onde constavam figuras como Mário Soares,
Nuno Rodrigues dos Santos, Mayer
Garção, Mário de Azevedo Gomes,
Joaquim Bastos, Carlos Pereira, Piteira
Santos, Armando Castanheira
ou Acácio Gouveia. E é com este
grupo que, em 1960, viria a assinalar
o cinquentenário da República,
através de um almoço comemorativo
que decorreu no restaurante
Colombo, como exposto numa das
fotografias que acompanha este
texto (Adão e Silva é o segundo em
pé da esquerda para a direita). O
mesmo «grupo de republicanos»
deslocar-se-ia ainda aos Jerónimos
para depositar «ramos de flores
nos túmulos de Teófilo Braga,
Herculano, Garrett e Junqueiro
», tal como o Diário de Lisboa noticia
a 4 de Outubro de 1960.
Dá-se, portanto, a coincidência
de, em 1960, Armando Adão e Silva
ter integrou as comemorações
do cinquentenário da República
e Pedro Adão e Silva, em 2024, ser
o comissário oficial das comemorações
do cinquentenário do 25
de Abril.
Armando Adão e Silva, em
1976, integrou, com Adelino Palma
Carlos, o extinto Partido Social
Democrata Português (a razão
para a confusão entre os nomes
PPD/PSD), de onde sairia
diretamente para o Partido Socialista.
Contudo, a sua passagem
pelo PS foi sol de pouca dura: em
1978 sai e, juntamente com António
Barreto, Medeiros Ferreira,
Francisco Sousa Tavares e outros,
integra o ‘Grupo dos Reformadores’
– grupo que juntar-se-ia à
Aliança Democrática nas eleições
intercalares de 1979, acabando por eleger Armando Adão e Silva
como deputado por Aveiro.
De notar ainda que Armando
Adão e Silva foi Presidente da Associação
de Futebol de Lisboa e
membro do Conselho Jurisdicional
do Sport Lisboa e Benfica. Um
‘benfiquismo’ que Pedro Adão e
Silva perfilha, tendo sido candidato
a vice-presidente do clube pela
lista de Noronha Lopes em 2020.
Após receber a Comenda da Ordem
da Liberdade em 1980 e ser
agraciado como Grande-Oficial da
Ordem de Mérito em 1989, viria a
morrer, em Lisboa, em 1993.
O menino de ouro de Ferro
E Pedro Adão e Silva? Quem é e
como se tornou alguém tão acarinhado
dentro do PS? Um histórico
socialista explicou-nos qual foi o
seu percurso no partido, garantindo-nos que «todos têm pena» de
que ele se tenha ido embora tão
novo. Explicou-nos, por exemplo,
que a ala que o apadrinhara politicamente
foi a ala divergente da de
Mário Soares, camarada do avô
Adão e Silva. Trata-se da ala do
«sótão do Guterres»: composta
pelo próprio, Ferro Rodrigues, Jorge
Sampaio e Vitor Constâncio,
que «em nada tem a ver com a
ala maçónica republicana do
Armando» e que conspirou contra
Soares até 1985, tomando conta
do partido após a sua saída.
Explica a mesma fonte que Pedro
Adão e Silva «tem umas ascensão
meteórica mais por causa de Ferro
Rodrigues» do que pelo nome
de família: «Quando Ferro chega
a secretário-geral do PS vai buscar
dois jovens que vêm do ‘grupo
do ISCTE’: Adão e Silva e Paulo
Pedroso». Adão e Silva era apontado
como o mais «equilibrado e
ponderado», começando, por isso,
a «brilhar» no partido. Contudo,
quando Sampaio decide não antecipar
eleições e Ferro se demite,
Adão e Silva «desilude-se, sai do
PS e desiste da política».
Mas a mesma fonte acredita que
esta sua nomeação, por escolha direta
de António Costa, vai de encontro
à ideia de Adão e Silva estar
próximo do poder e, contudo,
nunca o representar. E considera
a defesa «acérrima» e «com erros» de Marcelo «estranha», ironizando
que isso talvez seja um sinal
de uma aproximação ao PSD –
fazendo, então, assim o mesmo percurso
político de seu avô.
Henrique Pinto de Mesquita
henrique.mesquita@nascerdosol.pt
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