Associação espanhola diz que basta electrificar 200 quilómetros de via férrea na Extremadura para pôr Sevilha a três horas e meia de Lisboa. Basta aproveitar as infra-estruturas já existentes.
Não é preciso mais alta velocidade, nem milhares de milhões de euros de investimento, nem décadas de obras, para conseguir que o comboio ligue Lisboa a Sevilha em três horas e meia.
A Associação Cívica Cidade de Badajoz debruçou-se sobre os projectos ferroviários em curso nos dois lados da fronteira e diz que basta electrifi car e melhorar ligeiramente o traçado da velha linha que liga Mérida a Los Rosales (Sevilha) para que Portugal e a Extremadura fiquem muito mais próximos da Andaluzia.
A abordagem é pragmática e resulta da constatação de que a linha Évora –Badajoz, em construção, vai ter velocidades próximas dos 300km/h e que, no curto prazo, o troço Pinhal Novo-Évora será modernizado para velocidades de 200km/h. Isso permitirá que de Lisboa até Badajoz o comboio passe a demorar apenas 1h35 e para Mérida 1h55.
De Mérida para sul é que a situação é mais complicada. Um velho caminho-de-ferro corre durante 204 quilómetros desde aquela cidade até Los Rosales, nos arredores de Sevilha, em via única, com velocidades que por vezes não passam dos 60km/h e com um troço final bastante sinuoso para atravessar a Sierra Norte de Sevilla.
Mas a Associação Cívica Cidade de Badajoz sublinha que entre Mérida e Guadalcanal o traçado é feito em planície, com longas rectas, pelo que é fácil, com a electrificação, dotá-lo para patamares de 150/160 km/h. De Guadalcanal até Los Rosales, dizem que “intervenções simples podem aumentar a velocidade acima dos 100km/h”. Uma velocidade baixa que seria depois compensada por uma solução que é um verdadeiro ovo de Colombo: daí até Sevilha a velha linha é paralela à secção final da linha de alta velocidade Madrid-Sevilha, pelo que bastaria instalar um intercambiador (que permite adaptar os rodados do comboio a uma bitola diferente) para que os 34 quilómetros finais fossem percorridos a 250km/h na linha do Ave (Alta Velocidade).
Contas feitas, este estudo que resulta de uma iniciativa cidadã, diz que é possível pôr Lisboa a duas horas de Mérida, duas horas e meia de Zafra e três horas e meia de Sevilha.
Tudo isto, aproveitando os investimentos em curso e já programados, bastando acrescentar-lhe a electrificação e melhoria do troço que liga Mérida a Sevilha. O documento diz que “a electrificação de um quilómetro de via férrea custa em média 500 mil euros, pelo que o custo estimado de electrificar Mérida–Los Rosales seria de 102 milhões de euros, mais 10 milhões para instalar o intercambiador.
“O Estado espanhol teria de investir menos de 0,01% do seu orçamento anual [456 mil milhões de euros em 2021] durante um período de dois a três anos para revolucionar o transporte ferroviário no Sudoeste e ligar
três regiões com uma população de mais de 19 milhões de pessoas e que recebem um total de 60 milhões de turistas por ano”, diz o estudo. E sublinha que este é um custo adicional mínimo (face ao que já está em curso ou programado), tendo em conta os benefícios que traz. E esses benefícios estendem-se para todo o Sul de Espanha, muito além da simples ligação Lisboa–Sevilha.
Com um único transbordo, Lisboa ficaria a menos de quatro horas de Córdova, cinco horas de Granada e de Jerez de la Frontera e a cinco horas e 50 minutos de Granada. O documento releva que entre Lisboa e Sevilha e entre Lisboa e Málaga há quase 60 voos semanais e que “uma boa relação ferroviária tornaria possível dispensá-los em grande medida”. E recorda o óbvio: “Uma ligação ferroviária é muito mais amiga do ambiente, conveniente e útil para uma maior proporção da população e do território.”
Contactado pelo PÚBLICO, Alejandro Vargas, da Associação Cívica Cidade de Badajoz, diz que já enviou o estudo preliminar para o Adif (Administrador de Infra-estruturas Ferroviárias espanhol) e para o Governo português, mas que ainda não obteve resposta.
Este activista reconhece que esta proposta não está alinhada com aquilo que tem sido a política espanhola para a ferrovia, assente sobretudo na alta velocidade em detrimento da rede convencional. “Espanha tem-se centrado em conectar Madrid com as principais cidades em alta velocidade, mas é suposto que comecem agora a ligar outras zonas e a dar mais atenção à ferrovia convencional. Não estamos a pedir uma obra faraónica, mas sim uma intervenção bastante simples com uma enorme relação custo-benefício”, conclui.
Carlos Cipriano - Publico
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