quarta-feira, 25 de agosto de 2021

“PSP e GNR têm muito mais problemas do que o SEF.”

O que este Sr., não refere é as práticas abusivas sobre estrangeiros, que não se queixam ás autoridades (porque o SEF é uma); este Sr. não refere práticas discriminatórias sobre os turistas/imigrantes; sobre a corrupção; etc. É curiosamente tendencioso os números apresentados, pois compara a natureza da PSP e GNR que basicamente actuam a nível nacional e aí a propensão dos lesados é diferente, (embora se saiba que os portugueses não são de apresentar queixas, pois tem medo de represálias!!!) com o SEF, que trata basicamente com estrangeiros e putativos imigrantes, que tem medo e sabem que podem ser barrados por qualquer coisa…

Há advogados que tem medo de falar, sobre o que passam os seus clientes, principalmente no aeroporto. Vi isso, tal como todo o país viu, num programa de TV, sobre o caso de Lhor!


Opinião

De: Acácio Pereira - Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF (SCIF SEF).

O recente relatório de actividades de 2020 da Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) vem somar mais razões de peso para impedir a intenção de António Costa de destruir o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), fundindo-o com a PSP, com a GNR e com a Polícia Judiciária no que respeita às funções policiais. A razão é simples: tanto a GNR como a PSP têm muito mais práticas de abuso de autoridade, discriminatórias, violentas e violadoras dos deveres de conduta referenciadas do que o SEF.

A tentativa de destruição do SEF teve origem na total incapacidade do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, de gerir politicamente o episódio hediondo da morte de Ihor Homeniuk no aeroporto de Lisboa. Perante um incidente tão grave, Eduardo Cabrita e a então directora Nacional do SEF nada fizeram durante oito longos meses: quando essa inação se tornou intolerável perante a opinião pública e a posição de Eduardo Cabrita passou a ser politicamente insustentável, o primeiro-ministro fugiu em frente procurando destruir um serviço especializado nos domínios da imigração, fronteiras e asilo para salvar a cabeça do ministro.

O problema desta fuga para a frente é, em primeiro lugar, o prejuízo que causa ao país por meras razões de (má) táctica política.

Mas torna-se ainda mais insustentável quando pretende transferir competências para forças e serviços que têm muitos mais problemas de ilegalidade na sua actuação e de direitos humanos – sem comparação! – do que o serviço que se pretende destruir. Como toda a gente sabe, a morte do cidadão ucraniano foi um episódio isolado e absolutamente singular. Mesmo que se lhe junte a meia-dúzia de queixas não provadas e que ficaram caladas durante anos e a que os órgãos de comunicação deram enorme projecção mediática em 2020, ficamos com a escala dos problemas de um serviço que, antes da pandemia, lidava pessoalmente com mais de 20 milhões de pessoas por ano. É necessário que se tenha a noção real de que nenhuma outra polícia ou serviço público interage com um volume de pessoas desta dimensão!

Para ser exacto e citar os números expressos na página 11 do relatório de 2020 da IGAI: a GNR teve 335 ocorrências denunciadas e certidões extraídas; a PSP 530, e o SEF 58, das quais 35 são relacionadas com tempos de espera em atendimentos para questões documentais nas instalações de todo o país.

O que se passa na GNR e na PSP é de outra natureza, essa expressa no volume, recorrência e persistência de ocorrências.

– Mortes: na GNR, 1; na PSP, 1; no SEF, 1.

– Ofensas à integridade física: na GNR, 69; na PSP, 126; no SEF, 1.

– Crimes contra a liberdade pessoal e sexual: na GNR, 4; na PSP, 6; no SEF, 0.

– Práticas discriminatórias: na GNR, 1; na PSP, 12; no SEF, 0.

Ou seja: aquilo que no SEF foi episódico e único, na PSP e na GNR é estrutural.

Não faz por isso sentido entregar a gestão dos riscos de segurança associados às redes de tráfico de seres humanos que exploram imigrantes em Portugal, bem como a gestão de fronteiras, a forças que, para além de não terem qualquer know-how de prevenção e combate a este tipo de crime ou experiência na protecção das suas vítimas, têm no seu modo corrente de actuação problemas graves de direitos humanos.

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