As más e as boas notícias mostram como vai a nação. Primeiro, o Conselho de Finanças Públicas (CFP) alerta para uma inflação persistente e para uma forte desaceleração do consumo. O CFP é o organismo independente que tem por missão escrutinar a trajectória das contas públicas e monitorizar a evolução macroeconómica no país e mostra-se preocupado. Além da inflação, o impacto da subida das taxas de juro decididas pelo Banco Central Europeu (BCE) vai encolher o consumo das famílias durante todo o ano. Não há volta.
A boa notícia, é que o país vai voltar a registar excedente orçamental ainda antes do final da legislatura, antecipa também aquele organismo. O défice deste ano pode ficar abaixo do que prevê o ministro das Finanças. A entidade, presidida por Nazaré Costa Cabral considera que as contas públicas estão mais ou menos bem encaminhas, apesar das muitas incertezas que ensombram o caminho durante todo o presente ano.
Nas novas previsões, o défice público de 2023 deverá ficar nos 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB), abaixo dos 0,9% referidos pelo ministro das Finanças, Fernando Medina. Depois, deverá cair para um défice de apenas 0,1% do PIB em 2024 e, no ano seguinte, transformar-se num excedente público de 0,1%, o segundo da História da democracia portuguesa (o primeiro aconteceu em 2019, com Mário Centeno nas Finanças). Resta agora saber o que pretende o governo fazer com estas boas notícias, se prefere ajudar os que mais precisam ou continuar a olhar para a tabela de excel.
A propósito de más e boas notícias, vejamos também as contas da TAP: os lucros atingiram 65,6 milhões de euros em 2022, antecipando as metas definidas por Bruxelas em dois anos. Os resultados operacionais dispararam e as receitas bateram recordes. Boas notícias numa companhia em reestruturação, com uma CEO demitida, uma privatização a caminho e funcionários que continuam com cortes salariais mais dois anos.
Resta saber agora o que vai a TAP fazer com tão bons resultados? Apenas embelezar a noiva para que surjam noivos interessados no processo de privatização? Ou, finalmente, acabar com os cortes salariais, que já foram de 25% e passaram neste ano aos 20%?
A forma como as Finanças e a TAP vão usar as boas notícias ditará se querem continuar a alimentar a contestação, nas ruas e dentro da companhia, ou se preferem seguir a via da paz social, valorizando trabalhadores e contribuintes, que já aguentaram os anos difíceis da pandemia e um ano de guerra e agora estão a braços com uma tempestade inflacionista, qual tsunami. A decisão está na mão de cada uma das entidades.
Directora do Diário de Notícias
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