Conta a história que, há quase uma década, Pedro Passos Coelho e António José Seguro, líderes dos dois maiores partidos portugueses, haviam firmado um pacto de entendimento relativamente a matérias estruturais para o país, nomeadamente na saúde, educação, justiça e economia. Seria um memorando conjunto, a vigorar para vários anos, independentemente de quem governasse em determinado momento. Dois estadistas a colocarem o país à frente de interesses pessoais ou partidários e, sobretudo, a salvo das pressões de cada momento.
António Costa, depois de espetar a faca nas costas de Seguro, perdeu as eleições. Mas a sua ânsia de poder e as suas metas pessoais levaram-no a fazer um pacto com uma esquerda polarizada, mas com um propósito único: impedir que Passos Coelho, democraticamente eleito, governasse. Não havia uma ideia para Portugal, não havia um plano conjunto, não havia uma estratégia a longo prazo. Apenas e tão só o desejo de poder firmado num compromisso de votarem favoravelmente os orçamentos que os socialistas viessem a apresentar. Fossem eles quais fossem!
Não havendo almoços grátis, Costa pagou esse preço bem alto, tendo, sucessivamente, que ceder a bandeiras que não eram as suas, mas reivindicadas por comunistas e bloquistas, de forma “ad hoc” e com elevado ruído mediático. Sob a capa das aparências e os jargões habituais, o Portugal dos telejornais e capas de revista dava saltos quânticos em matéria de igualdades, de liberdades, de solidariedade e de assistencialismo social. Mas Portugal não é um romance, nem um item meramente estatístico e cá habitam pessoas reais. Daquelas que têm problemas e contas a pagar. Os socialistas, quer pelo agrilhoamento permitido, quer por manifesta incompetência, quer porque reféns de uma visão ideológica irrealista, perpetuaram uma governação ao sabor das reivindicações do momento e da crueza das sondagens. Governaram sempre em função do momento e nunca em função do futuro, sem rumo ou estratégia, mas de forma garantística e interesseira – no sentido de garantirem os votos que lhes permitiriam continuar no poder. Apenas e só!
Portugal hoje navega sem rumo e com o futuro hipotecado por várias gerações…
Exemplo disso é a recente política de habitação. Os socialistas foram incapazes de antecipar as consequências de diversas políticas erradas que, pomposamente denominaram como visionárias. Interessa aos socialistas – e a toda a esquerda que se alcandora nos pequenos poderes territoriais – que Portugal se mantenha dividido, polarizado, onde continuem a pontificar presidentes de junta, empresas públicas, organismos de supervisão, observatórios e tantos outros, sem poderes efectivos, com orçamentos deficitários, inúteis na sua essência e interdependentes entre si, quer administrativa, quer burocrática, quer financeira, quer politicamente, mas que permitam encostar uns tantos aparelhistas e manter uma aparente prova de vida (basta ver o que o PS pretende, uma vez mais, fazer com as uniões de freguesias, revertendo o modelo, sem que se vislumbre qualquer benefício ou efeito prático da medida, que não garantir mais uns quantos lugares pagos pelo erário público). Esta falta de autonomia, aliada ao centralismo puro e duro, sem precedente na restante Europa civilizada, faz com que Lisboa e Porto, tudo concentrem e sequem o resto do país. Estas duas cidades (mais a inevitável periferia), concentram cerca de 70% da população portuguesa. Operando a lei da oferta e da procura, não será difícil de perceber que os preços da habitação disparem para níveis incomportáveis pela maioria dos portugueses. A falta de empregos, de oportunidades, de transportes, de investimentos âncora, resulta no êxodo das pessoas para a capital ou para a invicta, onde a oferta habitacional escasseia… Fácil é culpar o movimento especulador e o investimento estrangeiro e, uma vez mais, “inventar” uma legislação à pressa, mascarando que o Estado está atento aos problemas e dispõe das soluções adequadas. Ora, nem uma coisa, nem outra!
16/03/2023
https://jornaldiabo.com/destaque/volta-seguro-estas-perdoado/#
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