Felizmente a prepotência tem limites. Senão, estaríamos todos tramados. Em Portugal é fácil uma pessoa ir-se enchendo de pompa e importância até ficar tão inchada que a única maneira de não explodir de bazófia é algum agente da arraia-miúda lhe fazer o favor de lhe tirar o pipo.
Os portugueses são pródigos na prestação deste serviço: quanto mais inaccionada a auto-estima, mais profunda é a alfinetada. Dantes chamava-se “tirar o pipo”, mas também se dizia “ligar à terra”, uma metáfora bem achada, porque a chamada à realidade é feita para impedir a autodestruição do aparelho vaidoso.
A melhor história de todas foi contada em 1987 pelo senador Al Gore, com o senador Bill Bradley sentado ao lado dele, com cara de poucos amigos, adivinhando talvez que aquela história iria para sempre ser associada ao nome dele.
Ou então era bruxo e sabia que no ano 2000 iria disputar com Gore a nomeação para candidato do Partido Democrata à presidência dos EUA — e perder.
Gore e Bradley estavam num banquete onde Bradley ia fazer o discurso de honra.
Vendo que um empregado estava a distribuir doses de manteiga, Bradley pediu-lhe mais uma. O empregado respondeu: “Desculpe, mas é uma dose de manteiga por pessoa.”
“Mas eu preferia ter duas, se não se importa”, disse Bradley. O empregado, taxativo, insistiu: “Lamento, mas é só uma dose por pessoa.” Aí, Bradley mudou de estratégia: “Se calhar, não está a ver quem eu sou: sou Bill Bradley, fui jogador profissional de básquete, fui campeão mundial e agora sou senador do estado de New Jersey.”
O empregado: “Se calhar, o senhor também não sabe quem eu sou.” Bradley mostrou-se interessado: “Pois não, não estou a ver — quem é o senhor?” E o empregado respondeu “Sou o gajo que manda na manteiga.”
Miguel Esteves Cardoso – Publico
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