terça-feira, 26 de outubro de 2021

AS MAGNAS E FUNDAS QUESTÕES DA CICLOVIA, DA MOBILIDADE, DA ENERGIA E ESSAS COISAS ASSIM.

HÁ OU NÃO HÁ 200 QUILÓMETROS DE CICLOVIAS EM LISBOA? SEM SABER ISTO NÃO COMPRO UMA BICICLETA, MAS SE SOUBER TAMBÉM NÃO COMPRO.

Uma das coisas que se tornou central na política de Lisboa — e estou em crer que das principais cidades do país (nas aldeias anda-se de bicicleta à falta de melhor) — é a questão das bicicletas. Hoje em dia,a bicicleta tornou-se para a política autárquica o que a política laboral é para o Orçamento do Estado: não tem nada a ver, mas qualquer votação depende disso; qualquer coligação, ainda que pontual, tem de levar isso em conta; e quem não fala do assunto é um labrego do tamanho da légua da Póvoa.

Sendo eu uma pessoa hodierna, e não daqueles que classificam o veículo de duas rodas movido a força de pernas como “o único em que a besta puxa sentado” (o que não deixa de ser verdade), entro na discussão com muita garra, muito querer, lateralizando, triangulando e em profundidade, tal qual um comentador de futebol deve fazer.

Vamos por partes: a bicicleta é amiga do ambiente, dizem-nos.

Pois bem, já tentei ver a página de uma e de outro no Facebook e não cheguei a qualquer conclusão que permita retirar essa  conclusão. Mais: a bicicleta nunca pediu amizade, sequer, ao ambiente. Foi por isso que me perdi no Facebook e estive mais de duas horas a ver a página da professora doutora Raquel Varela, onde descobri que ela tem uma polémica em marcha, ou uma discussão, ou lá o que for, com a não menos professora doutora Fernanda Câncio. No caso da citada Raquel, ela é visiting fellow na Universität Basel; no caso da referida Fernanda, tem um clube de fãs que gostam de “uma cronista de qualidade”. Claro que os fãs gostam de cronistas de qualidade, como caso a doutora fosse cançonetista, como o Toy, o Emanuel ou, vá lá, o Tony Carreira, teria igualmente fãs que gostam de cantores de qualidade.

Voltando ao assunto que aqui me traz — mas, já se sabe, isto de bicicleta vai sempre mais devagar — devo dizer que, não tendo encontrado provas de que as ditas bicicletas sejam amigas do ambiente, embora não tivesse encontrado provas que o neguem (como no caso das dras. Varela e Câncio), decidi entender por mim próprio qual o motivo das ciclovias. E, embora passasse seis horas e um quarto a pensar, não imaginei outra resposta, salvo esta: os autarcas, representantes eleitos de um concelho ou de uma cidade, querem que nós andemos de bicicleta. Andemos para todo o lado, até, no caso de Lisboa, porque 200 quilómetros de ciclovias dá para ir a muito sítio.

Assim sendo, enchem-se as cidades e vilas de ciclovias, e os peões amontoam-se nos passeios, à beira do ataque cardíaco, sempre que passa um tipo com uma trotineta que parece, pela velocidade, o F1 do Lewis Hamilton, e engarrafando os carros, a quem tiraram uma faixa para rodarem. É curioso, até, que os carros parados e engarrafados tenham mais emissões de gases perigosos para o ambiente do que a deslizarem, mas isso será um problema que se resolverá.

Do que não há dúvida, nem sequer metafísica, é que as bicicletas não emitem nenhum gás menos próprio. Nem sequer são como os carros eléctricos, que, apesar de não emitirem gases prejudiciais, gastam imensa energia na mineração e fabricação de pilhas, que, obviamente, é uma coisa não amiga do ambiente. Não é o caso das biclas. Estas não têm na sua produção nada de especial que afecte o planeta. Paradas, tal como os camiões a diesel, não são factor de preocupação para o ambiente. Porém, quando se colocam em andamento, o caso muda de figura. Desde logo porque a ‘besta que puxa sentada’ emite muito mais dióxido de carbono; à medida que pedala vai ficando ofegante e ao fim de 500 metros já arfa. Ora isso aumenta substancialmente a emissão de CO2. Acresce que os seres humanos, tal como todos os animais, são emissores de outros gases com efeito de estufa, como o CH4, mais conhecido por metano e, ainda mais, por palavras e alegorias que não vou escrever aqui, num local onde nada é emitido, salvo bom senso, inteligência, alegria e bastante falta de modéstia.

Tendo isto em conta, é preciso saber se o dr. Moedas, que no início da semana tomou posse como presidente da edilidade da Câmara de Lisboa, se dispõe ou não a completar os 200  quilómetros de ciclovias prometidas pelo seu antecessor; e se na Avenida Almirante Reis, onde mais oposição existiu à colocação das magníficas ciclovias, estas vão continuar, vão ser mudadas ou vão ser retiradas. São problemas fulcrais para Lisboa. Claro que também há a pobreza e a fome, os impostos, a questão do aeroporto, a habitação digna, a reabilitação urbana, mas quem anda de bicicleta pelas ruas já não tem tais problemas.

COMENDADOR MARQUES DE CORREIA

Expresso

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